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Seguindo em Frente - Capítulo 47 - ( Penúltimo Capítulo )
+16 ( Contém Violência, Sexo e Linguagem Imprópria )
Cena 01 - Rua - Fim de Tarde - Ao som de instrumental 'Winds of Capadocia' - Alexandre de Faria
Vicente sai do prédio, indo para um estacionamento que fica em frente.
O trânsito naquela rua é bem intenso e olhando os carros passarem, fica esperando uma oportunidade para atravessar a rua.
Samuca desce do táxi e logo avista o seu namorado, ainda na porta da loja, olhando para os lados.
Heitor está com a cabeça no volante e quando a levanta disposto a ir embora, vê Vicente a vários metros de distância, atravessando a rua.
Guiado pelo ódio, Heitor liga seu carro, acelerando com tudo, indo para cima de Vicente.
Samuca, que está do outro lado da rua, fica em pânico ao ver aquele veículo em alta velocidade indo à direção do seu amor.
Ele não acredita no que vê: Como há 10 anos atrás, o passado se repete no presente.
Samuca: VICENTE!!! - Grita em vão, pois ele não escuta.
Ele olha para o carro, e em seguida para Vicente.
Heitor sorri.
Antônio também está saindo do prédio e corre para a rua quando escuta o barulho de uma freada.
Só dá tempo de se ver o corpo caindo no chão e os gritos de pânico do outro lado da rua.
Antônio: NÃO, NÃO!!!
Antônio corre desesperado para o meio da rua, os dois rapazes estão naquele asfalto, um desacordado com marcas de sangue pelo corpo e o outro aos prantos chorando compulsivamente.
Antônio: Meu Deus!!! De novo não. Alguém chame uma ambulância.
Rapidamente a rua fecha e várias pessoas se aglomeram entre eles.
A equipe de resgate logo chega, iniciando os primeiros procedimentos.
Antônio faz questão de ir junto com Vicente na ambulância, não querendo sair do lado dele um só momento.
Cena 02 - Casa de Teresa - Sala - Fim de Tarde
O telefone começa a tocar e Teresa atendeu rapidamente, esperando ser seu filho Henrique.
Teresa: Oi, quem ? Oi, Seu, Antônio.
Enquanto escuta Antônio do outro lado da linha, Teresa vai ficando pálida, já mostrando seu nervosismo.
Teresa: O que ? Hospital ? O que aconteceu com o Vicente ? Meu Deus!!! Eu vou indo pra aí! - Fala, desligando nervosa e pegando sua bolsa.
Cena 03 - Escola - Pátio - Fim de Tarde - Ao som de instrumental 'Ação da Vida' - Iuri Cunha
Mirella está com o corpo encurvado, com os braços estendidos, esperando Flora aceitar seu abraço.
Mirella: Vem com a titia.
Flora fica olhando pensativa para a loira, mas não aceita seu abraço.
Flora: Eu não gosto de você. O tio me ensinou a não sair com pessoas que não conheço.
Mirella: Anda logo sua peste, me obedeça.
Flora: Vai embora sua bruxa feia.
Mirella se irrita e resolve apelar para a força.
Mirella: Vou lhe mostrar o que a bruxa faz com crianças como você.
Mirella gruda no braço de Flora, a segurando forte, fazendo a menina se debater.
Flora: Me solta!!!
Mirella: Pare de escândalo e venha comigo.
Flora enfia a boca na mão da dela, deixando a marca de seus dentes, completando com um chute na canela. Mirella se retrai no mesmo instante, sentindo uma grande dor na mão direita.
Mirella: Sua peste, o que você fez!!! Agora vou lhe dar um corretivo.
Mirella se transforma, deixando seu olhar perverso dominar seu rosto, levantando a mão para agredir Flora, que assustada se encolhe toda.
Com a mão para o alto, prestes a estapear a garota, sente o gelado daquela argola de metal se fechando em volta do seu pulso.
Ainda com a mão para o alto, se vira para o lado, olhando Henrique, que em um gesto rápido, prende seu outro pulso com a algema.
Mirella: O que é isso ?
Mirella olha para seus pulsos, se debatendo, enquanto Henrique a massacra com o olhar.
Ao ver o pai, Flora corre até ele, abraçando sua perna.
Mirella: O que você pensa que está fazendo Henrique, tire essas algemas de mim.
Vitória e Marta correm até eles, já chamando a atenção de outras pessoas, que olham curiosos.
Henrique: Eu não consigo acreditar que você seria capaz de machucar uma criança. Que espécie de monstro você é?
Vitória: Minha filha!!!
Vitória corre e abraça Flora, a pegando no colo.
Mirella: Não é nada disso, só estávamos brincando.
Flora: Mentira papai, a bruxa queria bater em mim.
Henrique se aproxima ainda mais dela, agora segurando forte em seu braço.
Henrique: Faça o que quiser comigo, mas pense um milhão de vezes antes de tocar num fio de cabelo da minha filha.
Mirella: Filha ? Sua filha ???
Henrique: Você não sabe do que sou capaz de fazer pra defender minha filha, sua bandida.
Vitória coloca Flora no chão e parte pra cima de Mirella, estapeando seu rosto.
Mirella: Sua cachorra, vou acabar com você.
Vitória: Quem vai acabar com você sou eu!
Vitória dá outro tapa em Mirella, a atirando no chão.
Ia partir pra cima dela novamente, mas Marta a segura, por causa de Flora, que assiste toda a cena.
Flora: Prende ela papai, ela não é boazinha.
Mirella: Me solta Henrique, a brincadeira acabou.
Henrique: Mas quem está brincando aqui ? Você está presa.
Mirella: Presa ?
Henrique: O juiz emitiu sua prisão preventiva, já ia te caçar, mas quem diria que iria lhe encontrar logo aqui. Agora vou incluir tentativa de seqüestro em sua ficha, que já não é das mais limpas.
Mirella: Me solta, tire essa droga do meu pulso. Eu não fiz nada, eu sou inocente, vou negar tudo até o fim.
Henrique: Isso não é mais problema meu, agora você vai resolver com a justiça.
Henrique a levanta e a conduz até a rua, mas antes passam por um corredor de pessoas que assistem toda aquela cena, tirando fotos pelo celular e xingando.
Mirella olha em volta, se sentindo humilhada.
Mirella: Isso é um absurdo, eu sou advogada, eu vou processar todos vocês.
Henrique: Fique a vontade.
Mirella, já em pânico e no desespero resolve dar sua última cartada. Aproximando seu rosto no de Henrique, começa a apelar.
Mirella: Por tudo que já vivemos juntos, Henrique... Podemos resolver isso de outra maneira, sempre nos demos tão bem. Já se esqueceu dos meus beijos ? Da minha pele na sua... Eu tenho dinheiro e...
Henrique não a espera terminar de falar, e já nervoso, vai até a parte de trás da viatura abrindo o porta malas.
Henrique: Coloque ela na gaiola.
Policial Alves: É pra já, Seu Henrique!
Mirella: Ali atrás ? Por favor, Henrique. Isso é humilhação.
Henrique: O que você acha que uma bandida merece ? Não pretendo facilitar em nada pra você.
Mirella se debate toda e grita enquanto os dois a colocam no porta malas, enquanto as pessoas ao redor formam uma pequena multidão gritando “bandida” “safada” e outros elogios nada simpáticos.
Deitada e com o rosto colado no vidro, ela vê Henrique, Vitória e Marta e mais aquela multidão toda vaiando.
Achando que é tudo uma brincadeira, Flora ainda teve tempo de mostrar a língua para ela, vibrando com todo aquele espetáculo.
O Policial Alves arranca com o carro, seguindo até a delegacia.
Flora: Você prendeu a bruxa papai ? Ela queria me levar.
Henrique: Ninguém vai te levar, o papai vai te proteger sempre.
Henrique se ajoelha no chão, dando um abraço apertado na filha, sentindo suas mãozinhas acariciando seu rosto.
Vitória: O que faz aqui, Henrique ?
Henrique: Tive um dia de cão hoje e a única coisa que eu queria era abraçar a minha princesa. Quando vi aquela bandida com ela, fiquei louco.
Vitória: Obrigada!!!
Vitória o abraça, mantendo seu corpo junto ao dele.
Henrique: Não vou deixar nada de mal acontecer com nossa filha e nem a você.
Flora vibra ao ver os pais juntos e se junta a eles, sendo beijada pelos dois.
Cena 04 - Igreja - Fim de Tarde
Os convidados assistem atentamente a cerimônia de casamento.
Rosinha e Miguel estão ajoelhados no altar, enquanto ela sente um leve incômodo por notar a expressão séria de seu noivo.
Dona Benedita assiste a tudo, orgulhosa de sua neta.
Dona Graça, espiando no fundo, balança a cabeça negativamente.
Dona Graça: Não é possível, esse nasceu pra ser corno mesmo! - Cochicha.
Padre: Maria Rosa dos Santos. Aceita Miguel Brandão como seu legítimo e fiel esposo, para amá-lo e respeitá-lo. Na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, todos os dias de sua vida até que a morte os separe ?
Rosinha: SIM! Mil vezes sim, eu aceito! - Responde, empolgada e sorrindo.
Padre: Miguel Brandão. Aceita Maria Rosa dos Santos como sua legítima e fiel esposo, para amá-la e respeitá-la. Na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, todos os dias de sua vida até que a morte os separe ?
Miguel: Não.
Rosinha sorri, achando se tratar de uma brincadeira.
O padre se surpreende com o que escuta.
Todos os convidados fazem cara de espanto.
Rosinha: Não pode brincar agora, meu amor. Seu Padre, faça a pergunta novamente, por favor. Ele é cheio de gracinhas mesmo, rs.
Miguel se levanta.
Miguel: Nem se dê ao trabalho, padre. Eu não vou me casar com essa mulher!
Rosinha fica sem reação.
Os convidados cochicham entre si.
Dona Graça sorri.
Dona Benedita sente um mal estar.
Miguel encara Rosinha, com um olhar de ódio.
Cena 05 - Hospital - Noite
Teresa entra como um furacão na recepção do hospital, dando de cara com Antônio e Helena, que também tinham ido para lá.
Teresa: Cadê meu filho ? O que aconteceu com o Vicente ?
Antônio: Por favor Dona Teresa tente ficar calma, ele precisa muito de nós agora.
Teresa: Não quero ficar calma, eu quero ver meu filho.
Com o coração apertado e como já conhece o hospital, Teresa corre para a sala dele.
Ao entrar, dá de cara com o filho, sentado, com uma aparência lastimável.
Ao ver a mãe, Vicente se joga nos braços dela, caindo no choro.
Teresa: Meu filho.
Vicente: Mãe, o Samuca...
Teresa: Calma meu querido, eu estou aqui.
Vicente: O Samuca me salvou.
Cena 06 - 2 Horas Antes - Rua - Fim de Tarde - Ao som de instrumental 'Escravidão' - Eduardo Queiróz
Samuca já havia acordado com um pressentimento ruim após ter um pesadelo e depois de ter brigado com a mãe, ficou pior ainda.
Sentindo algo ruim em relação a Vicente ele liga para seu amor, querendo vê-lo o mais rápido possível. Vai até a loja e ao sair do táxi já enxerga Vicente atravessando a rua.
Samuca: Vicente!!!
Samuca grita, mas ele nem escuta. Andando totalmente distraído, Vicente nem percebe que Heitor vêm com tudo em sua direção.
Ao notar que o motorista é Heitor, Samuca fica em pânico, gritando para Vicente.
Samuca: VICENTE! CUIDADO!!!
Ele olha para o carro, e em seguida para Vicente.
Heitor sorri.
Samuca não pensa duas vezes.
Corre o máximo que pode, atravessando a rua, disposto a dar até mesmo a sua vida para proteger o seu amor.
Totalmente fora de si e se corroendo dos piores sentimentos, Heitor aperta o pé acelerando o quanto pode, disposto a acabar com Vicente.
Ao ver que Samuca se atirou para salvá-lo, Heitor desperta do ato insano que está prestes a cometer e joga o carro para outra direção, freando.
Samuca empurra Vicente com tudo pra fora da rua, mas a lateral do carro ao fazer a curva bate contra ele, o jogando longe.
Samuca cai no chão com a testa sangrando.
Vicente: NÃO, NÃO!!!
Antônio sai da loja no momento do acidente, presenciando tudo e correndo para ampará-los.
Antônio: Meu Deus!!!
Desorientado, Vicente corre até o corpo de Samuca, entrando em desespero.
Vicente: Meu amor, fale comigo.
Samuca olha pra ele e dá um leve sorriso ao ver que seu amado está bem.
Sua testa está com um enorme ferimento que não para de sangrar.
Samuca: Eu te amo... - Declara, falando com dificuldade.
Vicente: Não fala!
Samuca: Eu morreria de novo pra salvar você, Vicente...
Vicente: Você não vai morrer, meu amor. Eu tô aqui!
Vicente segura a mão dele.
Samuca: Eu tô com sono... - Diz, fechando os olhos.
Vicente: Não, não dorme, meu amor. Fica comigo!
Antônio: Calma meu filho... Alguém chame uma ambulância!
A vontade de Vicente é de pegar o corpo do seu amor e levá-lo no colo, correndo para o primeiro hospital que encontrasse, mas como médico, sabia que não poderia mexer nele.
Vicente: Seja forte, minha vida!
Vicente passa suas mãos trêmulas de leve pela testa de Samuca, em prantos.
Vicente: Por favor meu amor, não me deixe, vai ficar tudo bem. Não me abandone, por favor. Eu não sei viver sem você.
Vendo o desespero do filho, Antônio não diz nada, apenas se ajoelha ao seu lado e o abraça.
Vicente: Porque você fez isso ? Por quê ? Eu prometo, vai ficar tudo bem.
A equipe de socorro chega, mas como Vicente está visivelmente alterado, é impedido de ajudar no resgate.
Samuca é colocado em uma ambulância e em outra vai Antônio e Vicente. Como estava muito nervoso, os médicos lhe deram um calmante, para poder tratar das pequenas escoriações em seu braço.
Vicente: Cadê ele ?
Médico: Ele está sendo tratado e levado para o hospital, você precisa se manter calmo, pois também se machucou. Antônio está impressionado demais, mesmo tendo divergências com Samuca, esse momento lhe traz péssimas lembranças, pois é a segunda vez que passa por algo assim.
Antônio: Vai ficar tudo bem filho, os médicos estão cuidando dele.
Vicente aperta as mãos de Antônio, olhando para ele com os olhos cheios de lágrimas.
Vicente: Ele me salvou.
Antônio: Eu sei. - Diz, o abraçando.
Samuca é levado direto para a emergência em estado delicado.
Vicente, mesmo ainda sob efeito do calmante, vai acompanhando a maca, segurando nas mãos de Samuca.
Sônia: Calma Doutor, ele receberá o melhor.
Vicente: Eu quero entrar.
Sônia: Calma, você não está em condição, só iria atrapalhar o trabalho dos médicos.
Cena 07 - Igreja - Noite
Rosinha: Que brincadeira é essa, Miguel...
Miguel: Não tem brincadeira nenhuma. O quanto você acha que eu sou idiota ?
Ayla entra na igreja, caminhando calmamente até o altar.
Rosinha olha pra ela, assustada.
Padre: O que está acontecendo aqui ?
Ayla: O que está acontecendo é que essa mulher aí é uma destruidora de lares!
Todos os convidados começam a cochichar, surpresos.
Ayla: E me perdoem por estar dentro de uma igreja. Mas essa cretina não passa de uma prostituta que faz tudo por dinheiro! Entrou na minha casa, se fez de minha amiga e na primeira oportunidade se deitou com o meu marido na minha própria cama!
Dona Benedita: Não, isso é mentira. A minha neta jamais faria isso!
Ayla: Então a senhora não conhece a neta que tem.
Rosinha: Isso é mentira, você não vai conseguir acabar com o meu casamento. Você não tem vergonha de mentir assim na casa de Deus ?
Ayla sorri: Meu Deus... Como você pode ser tão cínica ? Sonsa, fingida, hipócrita!
Rosinha se vira até Miguel, chorando.
Rosinha: Meu amor, não acredite nisso. É tudo mentira! - Diz, o beijando.
Miguel a afasta.
Miguel: Saia de perto de mim. Cê quer saber como eu descobri a verdade ? Eu te conto.
Rosinha começa a chorar mais ainda, nervosa.
Padre: Parem já com isso, respeitem a casa de Deus!
Dona Benedita sente uma queda de pressão e se senta em um assento, enquanto o padre e mais alguns convidados a abanam.
Miguel: Eu te ofereci tudo. E mesmo assim você inventou que queria continuar na casa do Mohamed até o casamento, e isso foi no mínimo muito estranho... Mas até aí, tudo bem. O problema foi que quando você me beijava, eu sentia um perfume. O mesmo perfume que o patrão usa! E olha, eu achei que fosse loucura da minha cabeça. É, loucura. Afinal eu te via como uma santa, uma mulher de bem, honesta! Aí foi quando a Ayla marcou aquela reunião ontem contando sobre o flagrante. O meu estômago revira só de imaginar!
Rosinha: Eu te contei toda a verdade, ele me estuprou. Eu fui a vítima, você não entende...
Miguel: PARA! Para de mentir, chega. Você acha mesmo que eu seria trouxa a esse ponto ? O corno conformado ? Sua prostituta barata!
Ayla: Vagabunda!
Dona Graça: Pistoleira, meretriz, quenga!
Ao som de Amores Distantes - Rodolpho Rebuzzi e André Sperling
Rosinha olha ao seu redor, se sentindo humilhada e sendo massacrada por todos os lados.
Alguns filmam, enquanto outros dão risadas.
O Padre apenas se benze, abismado com a baixaria.
Rosinha: Vocês todos vão pagar caro. Isso não acaba aqui!
Ayla: Isso, deixa cair a sua máscara!
Dona Benedita se levanta, com dificuldade.
Dona Benedita: Minha neta... Então é verdade... Você... Você se deitou com o homem dessa moça... Ela tá falando isso, porque ela tá falando isso ? É verdade ? - Pergunta, com a voz embargada.
Rosinha encara sua vó, sem saber o que dizer.
Dona Benedita se aproxima dela, pegando em seu ombro.
Dona Benedita: Fala, minha neta. Isso tudo é verdade ? Diz que não é, você não faria algo assim... Você é uma santa, a minha netinha que sempre me deu muito orgulho! Que eu pegava no colo quando você era pequenininha... Aquela menininha que sempre foi... Minha menin... - Diz, trêmula.
Rosinha: Sim. É verdade, agora eu não tenho mais porque esconder mesmo.
Dona Benedita sente uma dor no peito com o que escuta.
Rosinha: Eu sou uma vagabunda, uma meretriz, uma prostituta barata como disseram aqui. É tudo verdade!
Dona Benedita começa a chorar, com a mão no peito.
Dona Benedita: Não...
Rosinha: Mas eu fiz isso por nós, vó... Pra te dar uma vida melhor, se esqueceu de todas as vezes que a gente não tinha o que comer ? Desde que o vovô e o meu pai nos abandonou. Os homens sempre nos usaram e nos abandonaram... Eu tava cansada disso. Eu tinha um plano em mente, que era a de me casar com esse otário e manter uma relação com o outro ao mesmo tempo. Ia arrancar o máximo de dinheiro que conseguisse, pra poder dar uma vida confortável pra nós duas!
Dona Benedita começa a soluçar de tanto chorar.
Dona Benedita: Não... Isso não pode ser verdade... Meu Deus... - Murmura, se sentindo mal.
Rosinha olha para Miguel e Ayla, que a encara com desprezo.
Rosinha: E esse plano ainda está de pé, minha vó. Pois se todos aqui se acham espertos o suficiente, eu ainda tenho uma cartada final. Eu estou grávida... Grávida do Mohamed. E isso vai me prender pra sempre a ele!
Efeito sonoro grave toca em cena.
Rosinha: Eu vou dar a ele o filho que você nunca pode dar, sua velha nojenta! - Dispara, olhando no fundo dos olhos de Ayla, que fica incrédula.
Miguel fica com os olhos vermelhos, denunciando um choro que está por vir.
Rosinha limpa suas lágrimas e dá um sorriso, se sentindo vitoriosa.
Subitamente, Dona Benedita cai no chão, sendo amparada por uma pequena multidão.
Rosinha se assusta.
Rosinha: Vó ? - Chama, correndo até ela e a apoiando em seus braços.
Dona Benedita: Minha... Minha neta... Você não é assim...
Rosinha: Vó...
Dona Benedita: Diz que é mentira, diz. Só pra tua vó partir em paz. Pede perdão pra essas pessoas... Por... Por ter destruído a vida delas!
Rosinha: Que isso, vó. Levanta daí!
Dona Benedita faz uma expressão de dor e segura o seu peito com força.
Dona Benedita: Aaaiii. Eu sinto queimar!
Rosinha começa a chorar, desesperada.
Rosinha: ALGUÉM CHAMA UMA AMBULÂNCIA! - Grita, implorando por ajuda.
Dona Benedita segura nas mãos de sua neta.
Dona Benedita: Eu... Eu te amo, minha netinha. Eu vou embora com a... Com a imagem que eu sempre tive de você. Um anjo! - Diz, erguendo seu braço e passando os dedos no rosto de Rosinha, que chora.
Rosinha: Vó... Vozinha, não me deixe, pelo amor de Deus... Você é tudo que tenho, o meu alicerce. Não me abandona não, não me deixe sozinha, não!!!
Dona Benedita sente uma forte dor, como se o seu coração estivesse virando do avesso e sendo furado com pregos enferrujados.
Ela aperta a mão de sua neta com força, e dá o seu último suspiro.
Rosinha: NÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOO!!!!
Miguel e Ayla assistem a tudo, horrorizados e com pena.
Rosinha chora desesperada sob o corpo de sua vó, inconsolável.
Abraçada a aquele corpo, ela grita com toda força que há em sua garganta.
Todos os convidados olham chocados para aquela cena.
A câmara, em um take visto de cima, vai se distanciando lentamente, enquanto Rosinha chora e balança o corpo de sua vó, tentando inutelmente acordá-la.
Cena 08 - Hospital - Noite
Dr. Rogério: Com licença. Dr. Vicente, podemos conversar ?
Antônio ao olhar para o médico, lembra-se no mesmo instante dele.
É o mesmo médico que cuidou de Bruno, quando ele foi atropelado.
Vicente: Como ele está ? Eu quero vê-lo.
Dr. Rogério: Claro, mas antes tenho que lhe deixar a par da situação. O impacto contra o corpo dele foi muito forte. Tudo o que poderia ser feito, foi feito. Ele recebeu o melhor tratamento possível, agora só depende dele. Ele pode acordar em minutos, horas, dias, meses... Assim como nunca. Você como médico entende o que eu digo.
Ao ouvir aquilo Vicente sente uma náusea, um aperto no peito.
Desorientado, Vicente sai daquele quarto totalmente atordoado, correndo para fora, como se precisasse de ar.
Ele corre tanto até parar no jardim, onde cai de joelhos, chorando desesperado.
Vicente: Por favor meu Deus, salve o meu amor. Não permita que nada de ruim aconteça a ele.
Vicente está com a cabeça no chão, suplicando em voz alta até que sente alguém lhe abraçando.
Antônio envolve seu corpo e como se fosse uma criança, coloca a cabeça do filho em seu peito, fechando seus braços.
Antônio: Ele é forte, ele vai sobreviver.
Cena 09 - Casa de Marta - Sala - Noite
Com muito custo Henrique consegue distrair Flora, brincando com ela e suas bonecas.
Henrique: Vou a chamar a mamãe pra brincar com a gente.
Na varanda, Vitória se assusta ao receber uma ligação de Helena.
Vitória: O que ? O Samuca ? Ai meu Deus. Eu vou pra aí!
Henrique: O que foi, Vitória ?
Vitória: O Samuca. Ele foi atropelado, ele está morrendo, Henrique!
Henrique abraça Vitória, olhando para Flora, que está na porta, assustada.
Cena 10 - Hospital - Noite - Ao som de Você não me Ensinou a te Esquecer - Caetano Veloso
Mais calmo, Vicente vai até a UTI, em silêncio, disposto a ver o seu amor.
Sônia: Vai dar tudo certo, doutor.
Vicente não responde nada, colocando a máscara na boca, vê Sônia voltando com uma pequena bolsa.
Sônia: Esses objetos estavam com ele.
Vicente: Obrigado.
Vicente olha por alto, vendo o celular e a carteira e mais no fundo um brilho dourado.
Ele puxa aquele colar de ouro, passando os dedos no pingente, lembrando-se do dia do seu aniversário.
Vicente pega a corrente e coloca no pescoço, unindo com a que já usava.
Ainda emocionado, entra naquela sala, indo até o fundo, no último leito.
Samuca está deitado em uma cama, nu, com um lençol cobrindo sua cintura.
Há vários tubos ligados em seu corpo e um aparelho emitindo um barulho, indicando os batimentos cardíacos.
Em sua cabeça uma grande faixa, cobrindo o ferimento.
Vicente: Meu amor.
Vicente fica perto do seu rosto, dando um beijo em sua cabeça, passando os dedos de leve em suas mãos e rosto.
Vicente: Você vai sair dessa, vamos superar tudo isso juntos. Eu te amo tanto Samuca, tenho tanto medo de lhe perder. Demorei tanto pra te encontrar e não vou te perder agora.
Samuca continua intacto, dormindo profundamente.
Vicente: Meu amor, se tiver me ouvindo, lute. Volte pra nós, pra mim! Eu preciso tanto de você. Eu que prometi sempre cuidar de você, mas você quem me salvou. Eu não sei mais viver sem você...
Sônia está mais ao fundo da UTI, mas pode ver Vicente ao lado da cama de Samuca.
A cena é igual a que viu há anos atrás, mas com Samuca no lugar de Vicente, chorando por Bruno, que lutava para sobreviver.
Vicente se despede, beijando novamente sua cabeça, passando a mão no peito nu dele. Ao sair dá de cara com Flora que pula no colo do tio, o abraçando.
Flora: Tio, o Tio Samuca está doente ? Ele vai morrer ?
Vicente: Não meu amor, ele não vai não, sabe por quê ? Porque nós dois precisamos dele e ele tem cuidar de nós.
Flora: Tio, salva ele.
Vicente não diz nada, apenas abraça a sobrinha, voltando a ficar emocionado. Vitória pega a filha, que não parava de chorar, tentando em vão acalmá-la.
Helena: Tudo por causa do Heitor...
Antônio: A que ponto chegamos ? Como não vi que o Heitor estava tão desequilibrado.
Helena: Henrique, coloque a polícia da cidade inteira na rua, mas jogue esse marginal na cadeia, é o que ele merece.
Henrique: Eu prometo, vou fazer justiça. A Mirella já esta presa, agora só falta o Heitor.
Antônio: As contas dele foram bloqueadas, acho muito difícil ele ir longe.
Ao som de Efeito Borboleta instrumental - Tristeza
Antônio fica o tempo todo acompanhando Vicente, sempre de longe, esperando um sinal dele, para atendê-lo quando fosse preciso.
Vendo o sofrimento dele foi inevitável não repensar em todas as suas atitudes. A primeira coisa que lhe veio a cabeça foram as incansáveis brigas com Samuca, principalmente a que teve, quando o impediu de ver Bruno na UTI.
FLASH BACK
"Antônio vê Samuca com uma máscara, pronto pra entrar.
Antônio: Mas pra onde você pensa que vai ? Eu não permito que esse marginal veja meu filho!
Em lágrimas, Samuca implora pra ele.
Samuca: Por favor, não me nega isso. Não seja cruel a esse ponto!
Antônio: Cruel ? Meu filho está entre a vida e a morte!
Sônia: Me desculpa, mas não vou poder autorizar sua entrada.
Samuca se ajoelha aos pés de Antônio.
Samuca: Por favor!
Antônio: Nem que você se arraste nesse chão, aqui você não entra.
Antônio empurra Samuca com os pés, que cai pra trás. Ele dá as costas e sai, deixando Samuca ali, caído no chão, pior do que já estava. Se é que isso ainda era possível."
FIM DO FLASH BACK
Antônio: O que eu fiz Meu Deus!!!
Uma onda de culpa volta a invadir seu peito.
Antônio sempre culpou Samuca pela morte do filho, mas agora vê que ele seria capaz de dar a sua vida para salvar a de Vicente e se pudesse, teria feito o mesmo com Bruno.
Na recepção, Flora dorme no colo de Henrique.
Teresa: Finalmente ela deu um cochilo...
Vitória: Com muito custo, ela quer ver o tio de qualquer jeito mas ela não pode entrar. Pior que saímos na correria e minha mãe nem está sabendo do que aconteceu. Eles brigavam tanto, nem sei como contar.
Teresa: Fique aqui cuidando de sua filha, eu vou até a sua casa.
Vitória: A senhora ?
Teresa: Sim, será uma conversa entre mães, nessas horas todas as mágoas e brigas são irrelevantes!
Henrique deixa Flora com Helena e se levanta, bravo.
Vitória: Onde você vai ?
Henrique: Vou para a delegacia, se o Heitor está escondido em algum lugar, a Mirella com certeza deve saber, e ela vai falar nem que eu...
Vitória: Não precisa disso, eu posso estar enganada mas acho que sei onde ele está.
Henrique: Então me fale, vou pra lá agora.
Antônio que está próximo, escuta toda conversa, insistindo para ir junto.
Antônio: Se você sabe onde ele está, então eu vou junto.
Henrique: Não acho boa idéia, tio.
Antônio: Eu vou Henrique, você querendo ou não.
O dia já estava amanhecendo, Vicente ficou a madrugada toda em pé, com a mão no peito o tempo todo, segurando as correntes que estão em seu pescoço.
Cena 11 - Casa de Marta - Sala - Manhã
Marta acorda e só então se dá conta que Flora é Vitória não dormiram em casa. Já ia ligar para a filha quando a campainha toca.
Teresa: Bom dia.
Marta: Bom dia, a senhora aqui!!! Posso ajudar ?
Cena 12 - Cemitério - Manhã
Toda de preto e com profundas olheiras, Rosinha acompanha o caixão de sua vó até o seu destino final, lugar de descanso eterno.
Sem mais forças para chorar, ela se ajoelha na terra e joga uma pequena e delicada rosa branca sob o caixão.
Rosinha: De onde você estiver, me perdoe Vó. Eu errei, mas foi querendo dar uma vida melhor pra nós duas... E agora não há mais como voltar atrás. Não depois disso! Eu vou até as últimas consequências!
Cena 13 - Arredores do Asilo - Manhã
Enquanto isso do outro lado da cidade, Henrique está dentro de um carro, vigiando o endereço passado por Vitória.
Antônio: Mas afinal, que lugar é esse ?
Não demora e logo viram o carro de Heitor, parando mais a frente.
Henrique: Bingo, você já era.
Cena 14 - Casa de Marta - Sala - Manhã
Marta: Veio falar sobre a Vitória ? Ela está na sua casa ? Deveria ter deixado um recado, ela sabe como detesto isso, fico preocupada.
Teresa: Desculpe, Dona Marta, mas posso entrar ?
Marta não diz nada, apenas abre o portão e a conduz pra dentro de casa.
Teresa: Sim, eu passei a noite com a Flora e a Vitória, elas estão bem.
Marta: Aquela louca tentou pegar minha neta a força.
Teresa: Mas o Henrique já deu um jeito nela, ele não vai deixar nada de ruim acontecer com nossa menina.
Marta: Está tudo bem mesmo ? A senhora quer me dizer algo ? Olha, não é porque o seu filho e a Vitória tiveram uma filha, que vão poder ficar nesse vai e vem, sumir sem dar notícias, eu não vou aprovar isso.
Teresa fica esperando uma melhor oportunidade para contar o motivo de sua visita, mas vendo que isso não existia, resolve contar na lata.
Marta: Aconteceu alguma coisa e não estou sabendo ?
Teresa: Aconteceu sim.
Marta: O que aconteceu com a Flora ? Aquela mulher apareceu novamente...
Teresa: Se acalme, a Flora e a Vitória estão bem. Eu estou aqui por causa do Samuca.
Marta: O que ? O que ele aprontou ? Se veio aqui me cobrar por causa da briga que tivemos, acho melhor a senhora....
Teresa não dá chance de Marta continuar a falar, a interrompendo.
Teresa: Ele sofreu um acidente na noite passada.
Marta arregala os olhos, percebendo o olhar de preocupação de Teresa ao falar.
Marta: Acidente ? O que aconteceu com o Samuca ?
Teresa começa a falar, não entrando muito em detalhes, contando apenas o ocorrido, mas sem omitir o estado do genro.
Teresa: Ele estava atravessando a rua, um carro o pegou em cheio. O resgate veio rápido, mas é com muita tristeza que digo isso...
Marta: Meu filho morreu ?
Teresa: Não, mas seu estado é complicado, é grave.
Teresa permanece falando, mas Marta parece ter entrado em outra dimensão. Com os olhos marejados e as mãos tremendo, fica olhando fixamente para um ponto qualquer.
Teresa: Ele está em observação. Passamos essa noite no hospital, estamos todos abalados, mas por Jesus, ele não irá virar as costas para nós nesse momento, eu tenho fé. Eu sei que a qualquer momento ele vai reagir e acordar daquele coma!
Marta: Meu filho!!!
Marta ignora a mulher e se senta no sofá, chorando descontrolavelmente.
Teresa segura sua mão, tentando acalmá-la.
Marta: Tivemos uma briga horrível ontem. Eu só quis proteger meus filhos. Eu nunca desejaria algo de ruim a eles.
Teresa: Claro que não, tenho certeza disso.
Marta: Eu pedi tanto a ele, mas ele sempre achava que o criticava.
Teresa: Não é hora pra pensar essas coisas, ele precisa é que nós nos unimos e que rezemos muito pra ele sair dessa.
Marta: É um castigo isso, meu Deus!!!!
Marta não para de chorar, na verdade seu choro não é apenas pelo acidente, mas sim por culpa, amargura, raiva e vários sentimentos negativos acumulados ao longo dos anos.
Sua vontade é ir no mesmo instante para o hospital, mas foi acalmada por Teresa, que ficou o tempo todo ao seu lado.
Cena 15 - Hospital - Manhã
As horas se passam e Samuca continua estável, sem apresentar nenhuma melhora ou piora em seu quadro. Enquanto isso, para os amigos e família, só resta rezar e controlar a ansiedade.
Flora: Mamãe, o tio vai morrer ?
Vitória: Claro que não, minha filha.
Flora: Porque não posso ver ele ?
Helena: Ei, não fica assim. O Tio Vicente vai curar o dodói dele.
Vitória: Viu, ela tá certa, você não confia no Tio Vicente ? Lembra quando eu ensinei você a rezar? Então, feche os olhinhos e peça para o papai do céu não deixar nada de ruim acontecer com ele.
Flora senta numa poltrona e juntando suas mãos fecha os olhos, fazendo suas orações em silêncio.
Cena 16 - Arredores do Asilo - Manhã - Ao som de instrumental 'Be Best' - Rodolpho Rebuzzi e Mú Carvalho
Henrique está a poucos metros de distância quando vê Heitor estacionar seu carro, descendo com várias sacolas e entrando naquele asilo.
Antônio: Mas o que ele veio fazer aqui ?
Henrique passa o rádio e pede que o local seja cercado, mas sem fazer muito estardalhaço, com medo de espantá-lo.
Heitor: Bom dia!!!
Mário: Bom dia filho, você aqui a essa hora, nem é horário de visitas.
Aquele velho, deitado na cama, sorri para Heitor, ao vê-lo em pé a sua frente.
Heitor: Eu vim me despedir, vou viajar.
Mário: Viajar ? Você vai pra onde ?
Heitor anda de um lado para o outro, suando, parecendo estar muito nervoso.
Heitor: Talvez eu não volte nunca mais.
Mário: Está me assustando filho, você fez alguma coisa de errada ? Se está passando por algum problema, peça ajuda a seu Tio Antônio...
Heitor: Aquele porco nojento me odeia.
Mário: Mas eu não entendo.
Heitor: Pare de falar, não vê como estou nervoso ?
Mário: Só quero lhe ajudar.
Heitor: Então me arranje um avião e 15 milhões de euros. Só assim pra me ajudar. Só vim me despedir mesmo, vou dar um jeito de mandar dinheiro para pagar esse asilo. Até logo pai.
Mário: Heitor, espere.
Aquele homem velho faz um movimento como se quisesse abraçá-lo, mas Heitor prefere ignorar.
Heitor: Eu tenho que ir, aquele verme do Antônio tá na minha cola.
Heitor mal termina de falar, abrindo a porta, dando de cara com o tio.
Heitor: Você ? O que tá fazendo aqui ?
Antônio: Você não vai a lugar algum.
Antônio vai entrando no quarto, ficando surpreso ao ver o ex cunhado deitado na cama.
Antônio: Mário ? É você ? Quando vou parar de me surpreender com você, Heitor ?
Mário: Olá, Antônio. A quanto tempo!
Antônio: Então seu pai é vivo até hoje ? Porque nunca nos disse que ele tinha reaparecido ?
Mário: O que está acontecendo ? Porque estão brigando ?
Heitor: Sai da minha frente, você não vai me impedir de sair daqui.
Antônio: Você tem idéia do que fez ? Não basta ter me roubado ? Você tinha que desgraçar com a vida de todo mundo, inclusive com a sua ? O Samuca está entre a vida e a morte no hospital por culpa sua.
Heitor: Eu não atropelei ninguém, não foi culpa minha.
Antônio: Você provocou toda aquela situação. Você se envolveu com as piores pessoas, com bandidos, por quê ?
Você era meu braço direito na loja, era uma pessoa da minha total confiança e todos esses anos você nos enganou. Não vou lhe perdoar nunca, não depois de tudo que você fez. Você me fez brigar com meu filho por conta das suas intrigas. Você consegue imaginar o quanto me martirizo por isso? Responda, por quê ? Porque tanto ódio.
Heitor larga suas coisas no chão, se aproximando de Antônio.
Heitor: Quer saber mesmo por quê ? O porquê de tanto ódio ? Eu odeio você e toda sua família. Eu tenho nojo de vocês, da sua casa, daquela sua loja!
Mário: Não fale assim filho.
Heitor: Eu sempre fui tratado como o sobrinho rejeitado. Minha mãe morreu e esse velho me abandonou.
Antônio: Isso é mentira, eu sempre lhe dei tudo...
Heitor: Era pouco, tudo que você me deu sempre foi pouco. Tudo era para o Bruno, ele era o mais engraçado, o mais carinhoso, o mais legal, o mais inteligente, mais bonito, mais tudo. Eu sempre ralando, e aquele filhinho de papai sempre ganhando tudo.
Antônio: Heitor, ele era meu filho. Por mais que eu pudesse fazer por você, ainda assim o carinho por meu filho sempre ia ser maior, mas isso não significa que eu e a Helena te desprezássemos.
Heitor: Essa é outra vaca, no fundo nunca gostou de mim, sempre me engoliu. Heitor faça isso, faça aquilo. Eu sempre tive que ser o competente enquanto o Bruno vivia em festas, se divertindo. E não bastava tudo isso, ainda era gay e mesmo assim você estava disposto a aceitá-lo, ele e o Samuca! Fiz sim a caveira dos dois para o senhor e não pense que me acusando agora irá diminuir sua culpa.
Antônio: Você fez tudo isso por inveja, mas que monstro você se tornou. Eu reconheço sim meus erros, mas nunca fiz nada que prejudicasse alguém. Você me roubou, tentou matar o Samuca, você não vai escapar da cadeia.
Heitor: O Senhor não vai me ajudar? Acabou de dizer que sempre fez tudo por mim e vai me entregar pra polícia.
Antônio: Você precisa pagar por tudo que fez.
Heitor pega sua mala, disposto a sair dali antes que Antônio chame a polícia, iniciando uma grande discussão.
Heitor: Me larga.
Antônio: Você não vai sair daqui, você precisa responder por seus crimes.
Os dois se encaram e antes que entrasse em luta corporal, Mário começa a passar mal.
Mário: Meu peito... Alguém me ajude.
Antônio fica numa encruzilhada, mas faz o que sua razão manda, soltando Heitor e indo acudir Mário.
Heitor sai correndo, mas ao chegar à rua vê várias viaturas paradas.
O sol brilha forte no céu.
Policial: Parado, mãos para o alto. - Ordena, com a arma apontada.
Vendo que está cercado e sem ter mais nada a perder, Heitor corre até seu carro, sendo perseguido por alguns homens. Já está ligando a ignição do carro quando sente a ponta gelada do cano de um revólver bem no meio de sua nuca.
Lentamente vai virando a cabeça até dar de cara com Henrique, que está no banco traseiro, empunhando a arma em seu rosto.
Henrique: Fim da linha pra você.
Henrique sai do carro, abrindo a porta do motorista e dando ordens a ele.
Henrique: Não vou nem lhe dar o trabalho de dizer quais os crimes por qual você está sendo preso, a lista é enorme.
Heitor: Por favor, Henrique. Vamos conversar.
Henrique: Saia, você vai fazer companhia pra sua comparsa.
Henrique está sem um pingo de paciência e segurando seu braço, o puxa com toda força para fora do carro.
Henrique: Comece a rezar para o Samuca se safar, pois se não....
Heitor: Espero que ele acabe igual o Bruno, vegetando em cima daquela cama, só lamento seu irmão não ter sido atropelado também.
Henrique fecha a mão direita e sem pensar duas vezes, acerta um soco no rosto de Heitor, que o faz cair no chão.
Henrique: Esse é pelo Samuca.
Heitor: O que você fez ? - Pergunta, levando as mãos ao rosto.
Henrique o espera se levantar e novamente acerta outro murro.
Henrique: Esse é por meu irmão.
Alguns policiais chegam e impedem Henrique de bater ainda mais nele. Antônio aparece a tempo de vê-lo sendo colocado na viatura, algemado.
Heitor olha para os dois com ódio, enquanto seu rosto sangra.
Cena 17 - Hospital - Tarde - Ao som de Amores Distantes - Rodolpho Rebuzzi & André Sperling
Marta chega no hospital, agitada.
Marta: Cadê o meu filho ???
Vitória: Calma mãe, ele está estável. Ele vai sair dessa! O Samuca é forte. Sempre foi...
Marta: Eu quero ver ele. Agora!
Vitória: Daqui a pouco o horário de visitas começa.
Marta: Mas...
Vitória abraça sua mãe, tentando passar conforto.
Helena: O Antônio acabou de ligar, prenderam o Heitor!
Vitória se anima.
Vitória: Pelo menos uma boa notícia.
Enquanto todos conversavam, Marta fica pelos cantos.
Ela sai discretamente, indo para a capela do hospital e se ajoelhando diante do altar, pede pela recuperação do filho.
Marta: Me perdoe meu Deus, eu fracassei como mãe. Eu só quis o bem dos meus filhos. Não posso ter errado tanto assim. - Diz, se lamentando, enquanto reza. Em seus últimos contatos com o filho, só se lembra de brigas, discussões e acusações.
Vicente ainda se sente sem chão. Sem saber a quem recorrer, vai até a capela do hospital, entrando todo afobado e se ajoelhando no primeiro banco que vê, olha para uma imagem no altar.
Vicente: Meu Deus, o Senhor já fez demais por mim nessa vida. Acho que não tenho o direito de lhe pedir mais nada. Mas por favor, salve o Samuca, faça com que ele resista e saia dessa. Eu te suplico, salve o meu amor, não o leve embora. Se for preciso eu dou a minha vida, mas traga ele de volta! Por favor Meu Deus, não me abandone.
Vicente soluça de tanto chorar e só desperta quando sente alguém tocar a sua mão. Como há 10 anos atrás, a história insiste em se repetir.
Marta repete o mesmo gesto que Teresa teve com Samuca, quando ele pedia pela recuperação de Bruno.
Vicente: Já era pra ele ter acordado!
Marta: Vamos rezar, vamos pedir.
Vicente olha para a sogra.
Sua vontade é de dizer mil desaforos, por tudo que ela sempre fez contra Samuca, mas aquele momento não pede isso, mas sim união, independente de tudo que já tinha acontecido.
Os dois dão as mãos e olham para frente. Marta fecha os olhos, falando baixinho enquanto Vicente tenta dizer algo, mas é impedido pelo choro.
Vicente fica olhando para o altar, até Marta se afastar e sua mãe o ampará-lo.
Teresa: Vamos para a casa, filho.
Vicente: Não vou sair daqui mãe.
Teresa: Você está exausto, cansado e com sono, não comeu nada.
Vicente: Isso pouca importa.
Teresa: Se você quer ajudá-lo, você precisa estar bem.
Vicente: Mãe, eu estou com medo.
Teresa: Oh meu filho.
Teresa abraça o filho como se ele fosse um menino.
Vicente quer se manter firme, mas está cada vez mais desolado. Sua mãe insiste tanto até que ele aceita ir embora, na verdade seus planos é apenas trocar de roupa e voltar o mais rápido possível para o hospital.
Cena 18 - Empresa de Mohamed - Tarde - Ao som de instrumental 'Carolina' - Eduardo Queiróz
Mohamed está sozinho em seu escritório, com a cabeça baixa e um copo de whisky em mãos.
Rosinha entra em sua sala.
Rosinha: Eu disse que vinha. Cá estou eu!
Mohamed levanta sua vista e olha para a moça, parada na porta e com óculos escuros no rosto.
Mohamed: O que quer, Rosa.
Rosinha: Temos que conversar, não. Ou já esqueceu de tudo que tivemos. O que passou não dá pra ser apagado assim, num passe de mágicas. Principalmente agora!
Mohamed: Por sua culpa meu casamento acabou. Você me seduziu, me tentou de todas as formas possíveis!
Rosinha: Em nenhum momento eu coloquei uma arma na sua cabeça. Você é tão responsável quanto eu! Mas eu não vim aqui falar sobre isso, afinal o que passou, passou. Não há mais volta!
Mohamed: O que quer, Rosa ? Diga e vá embora de uma vez por todas, por favor...
Rosinha: Não tem como, meu amor. - Responde, se aproximando dele.
Rosinha: Nossos destinos agora se pertencem. Estamos unidos pra sempre!
Mohamed: O que está falando ? Ficou louca de vez ?
Rosinha tira seus óculos e pela primeira vez sorri, enquanto passa a mão em sua barriga.
Rosinha: Eu não estou louca. Pelo contrário, nunca estive tão lúcida quanto agora. Eu vou te dar um filho, Mohamed. Eu vou realizar o sonho que você sempre teve, vou te tornar um homem de verdade, completo e realizado como sempre desejou!
Mohamed olha pra ela, espantado.
Mohamed: Você...
Rosinha: Sim, meu amor. Eu estou grávida!
Os olhos de Mohamed brilham, enquanto olha para a barriga da moça.
Cena 19 - Hospital - Corredor - Tarde
Vicente vai até sua sala para pegar suas coisas, até ser chamado por seu colega, Dr. Gustavo.
Dr. Gustavo: Oh meu amigo, cheguei agora e fiquei sabendo. - Diz, o abraçando.
Dr. Gustavo: Pode contar comigo em tudo que precisar. Se eu tivesse aqui, teria cuidado ele, imagino o quando deve ter sido desgastante pra você.
Vicente desfaz o abraço, mudando sua feição e empurrando o médico até derrubá-lo no chão.
Dr. Gustavo: O que é isso cara!
Vicente: Tire essas mãos de mim. Só estamos nós dois aqui, pode tirar esse máscara de bom moço.
Dr. Gustavo: O que é isso Vicente, só quero te ajudar, mas entendo que está assim por tudo que aconteceu com o Samuca.
Vicente: Não ouse se aproximar dele, seu pilantra! Você acha mesmo que eu não sei quem você é ? Não sou tão idiota o quanto pensa. Eu sei que você que armou pra que eu assinasse aquelas receitas.
Dr. Gustavo olha pra ele, assustado.
Vicente: Não tenho como provar nada, mas não se aproxime de mim e muito menos do Samuca, pois juro que sou capaz de arrebentar você!
Vicente sai, deixando o Dr. Gustavo no chão, indo para a casa com a mãe.
Cena 20 - Mansão de Hanna - Exterior - Tarde
Henrique e Alves batem na porta.
Henrique: Se essa moça não tem culpa não tem porque ela ter mentido em seu depoimento sobre o desaparecimento do Luan!
Alves: Por mim prendemos ela logo agora!
Henrique: Mas é exatamente isso que vamos fazer!
Atrás de uma moita, perto dali, Hanna assiste a tudo, assustada.
Hanna: Eu não vou levar culpa por algo que não fiz! - Afirma, baixinho.
Hanna: A Marina que me aguarde. Ela sim deve saber aonde o Luan está!
Cena 21 - Casa de Marina - Tarde - Sala de Jantar
Viriato está conversando com Sol, João e Marina.
Viriato: Eu tava conversado com Tonho do mercado ali debaixo. Ele falou que a polícia esteve lá... E parece que aquela moça, a tal da Hanna, deu um álibi errado.
Sol: Como assim ?
Viriato: Ela falou que estava no mercado no dia do desaparecimento do Luan. Só que a polícia foi lá checar as câmeras de segurança e não a viram lá em momento algum!
Marina: Mas porque ela faria isso...
Viriato: Porque deve ter culpa. Não se preocupem não, patrões. Quando pegarem essa moça, em breve sabermos a verdade! - Afirma, tranquilizando a família.
Marina sente um aperto no peito, nervosa.
Cena 22 - Paisagens - Ao som de instrumental Adágio da Espera - O Dia Amanhece
Cena 23 - Hospital - Manhã - Ao som de instrumental Adágio da Espera
Flora está dormindo no sofá, na sala de Vicente, acordando toda assustada.
Flora: Tio Samuca!!!
Vendo que está sozinha ela abre a porta e fica circulando pelos corredores, andando de uma ala até a outra.
Vicente está sentado em um degrau, em frente ao jardim, perdido em seus pensamentos. Seus olhos estão fechados, mas as lágrimas insistem em sair.
Foram grandes momentos juntos com Samuca: Desde quando o salvou com o carro batido, naquela estradinha deserta, até namorarem e terem uma vida de casados.
Ele está distraído, voando em seus pensamentos, até sentir as mãos de Flora segurando as suas.
Flora: Tio, eu sonhei com o Tio Samuca!
Vicente não diz nada, apenas fica olhando a menina falar.
Flora: Ele estava na praia, ele e o moço bonito da foto. Ele estava com uma roupa branca, sempre sorrindo. Tio, traz ele pra gente de novo!
Vicente acaricia o rostinho da sobrinha, segurando uma lágrima com seu polegar.
Teresa: Filho!!!
Vicente olha para trás, se levantando do banco e indo até sua mãe.
Teresa: Estava te procurando.
Vicente: O que houve, mãe ?
Teresa está com os olhos vermelhos, tentando segurar o choro.
Teresa: Fique calmo, você precisa...
Vicente: O que aconteceu com o Samuca, mãe ?
Flora corre para junto do tio, segurando em sua mão esquerda, apertando bem forte.
Vicente: Ele... Não, não...
Vicente já começa a chorar, nem dando chance da mãe responder.
De mãos dadas com Flora, sai correndo daquele jardim.
Teresa: Espere, Vicente!!! Volte aqui!!!
Teresa tenta em vão acalmar o filho, mas nem têm tempo de agir, ele e Flora já haviam virado o corredor e sumido de suas vistas.
Com sua mão sendo segurada forte por Flora, sai em disparada por aqueles corredores, sentindo apenas as lágrimas descerem sem parar de seus olhos.
A cada passo dado era como se seu fôlego fosse acabar, o medo do que iria encontrar quando chegasse ao quarto de Samuca era algo indescritível.
Entrando na ala onde Samuca está internado, passa voando pela sala de espera, nem notando que Marta e Vitória também estão muito agitadas.
Sônia: Doutor, eu...
Sônia também é ignorada e parando em frente à porta do quarto, sem ter tempo de pensar em seus medos, mete a mão na maçaneta entrando com Flora.
Vicente fica paralisado, em pé na porta, totalmente sem ação.
Flora que está segurando forte em sua mão, solta no mesmo instante, correndo até a cama de Samuca, subindo em uma cadeira até alcançar sua altura.
Vicente leva as mãos até o rosto, sentindo as pernas bambas e com os olhos encharcados, enquanto olha para seu amor.
Flora abraça Samuca, enrolando os braços em seu pescoço e ficando com a cabeça em seu peito, o apertando bem forte.
Samuca está com o corpo levemente encurvado e fica encarando Vicente, com o olhar um pouco assustado, depois de ter passado dois dias desacordado.
O silêncio predomina no quarto, sendo quebrado por Vicente, que muito emocionado, vai andando até o seu namorado.
Vicente: Meu amor. Você não me deixou. Você voltou pra mim!
Não agüentando mais, Vicente abraça Samuca, colando seu rosto ao dele, dividindo espaço com Flora.
Vicente: Meu amor.
Vicente desfaz o abraço, agora olhando para Samuca, segurando carinhosamente seu rosto.
Vicente: Eu sabia que você voltaria pra mim. Nosso amor é mais forte que tudo.
Samuca: Vicente...
Vicente abre um enorme sorriso, ao ouvir a voz do seu amor. Aqueles dias de agonia pareciam ter durado séculos e ouvir a voz de Samuca novamente o faz sentir uma alegria absurda.
Samuca: O que houve ? Sinto tanta dor na cabeça...
Samuca parece confuso, a sua frente está Vicente emocionado e em seu peito sua sobrinha, abraçada a ele, como se tivesse sido colada a seu peito.
Samuca: Porque estou aqui ? Espera... Aquele carro!!! Você está bem ?
Vicente: Eu estou bem.
Samuca: Ele tava indo pra cima de você...
Samuca fica agitado, quando se lembra que Heitor tentou atropelar Vicente.
Vicente: Tá tudo bem, acabou. Você salvou minha vida, mas agora eu que vou cuidar de você!
Flora: Eu te amo tio.
Samuca: Eu também te amo meu amor... Eu amo vocês dois!
Flora: Eu sonhei com você e com o moço bonito.
Samuca sorri.
Samuca: É mesmo ? Eu também acho que sonhei com isso.
Os três ficam ali, abraçados, quase perdendo a noção do tempo.
Ao saírem do quarto, são bombardeados de perguntas.
Marta: Como ele está ?
Vitória: Podemos vê-lo ? Ele tá bem mesmo ?
Vicente: Calma gente. - Responde, sorrindo e dizendo o que todos esperam ouvir a dias.
Vicente: Ele tá bem sim, muito bem. Ele foi forte.
Todos comemoram, sentindo-se aliviados depois de toda tensão sofrida nos últimos dias.
Teresa: Eu só queria te dar essa boa noticia, mas você saiu correndo, com aquele desespero. Mas agora passou, vamos continuar rezando pra que ele se recupere por completo.
Vicente: Ele vai se recuperar sim, vou fazer de tudo pra isso.
Vitória leva Flora embora, mas o restante permanece ali, esperando a oportunidade para visitá-lo.
Cena 24 - Hospital - Quarto - Noite - Ao som de The Departure - Max Richter
Samuca está descansando, meio que cochilando e despertando o tempo todo. Em um momento quando se vira, dá de cara com Marta que está sentada numa cadeira ao lado dele.
Samuca: Mãe ?
Marta: Samuca, que bom que está bem, você...
Samuca: Veio jogar outra praga ?
Marta: Não fale assim.
Samuca: E como quer que eu fale ? Estraguei seus planos novamente né ? Não morri. Você ainda continua tento um filho viado, não é isso que me disse ?
Marta: Isso não é verdade, eu rezei tanto por você, eu...
Samuca: Você rezou por mim ou por você ? Pois se eu morresse, você iria carregar essa culpa não é ? Por favor, vai embora daqui.
Marta: Mas eu sou sua mãe, eu...
Samuca: Você nunca agiu como uma mãe. Você sempre me fez sentir inferior, culpado por ser gay. Minha vida teria sido tão mais fácil se você tivesse ao meu lado. - Diz, com os olhos marejados.
Marta: Pra mim também não foi fácil. Eu só quis dar o melhor pra você e a sua irmã. Eu carreguei aquela casa nas costas depois que seu pai morreu, não pense que pra mim as coisas foram fáceis.
Samuca: Eu nunca lhe pedi nada, não queria nada de dinheiro. Eu só queria que você fosse minha mãe. Mas a cada dia que passava eu só sentia vontade de me afastar de você. Mas graças a Deus hoje eu que não preciso mais de você... Eu tenho uma pessoa que me ama, que cuida de mim, que quer o meu melhor e você é que está aí sozinha e se está assim, é porque plantou isso.
Marta também começa a chorar, não conseguindo mais falar com o filho.
Samuca: Vai embora daqui, eu te libero de me visitar.
Marta: Você está errado, quando tiver os seus filhos você verá que não é tão simples assim educar.
Samuca: Quando eu tiver os meus filhos eu vou amá-los, não serei só pai deles, serei amigo.
Vicente: O que está acontecendo aqui ? - Pergunta, entrando no quarto.
Vicente: O que você fez com ele ? Vai embora daqui.
Marta chora e se aproxima do filho, beijando sua cabeça.
Marta: Fique bem. - Diz, se retirando.
Vicente se aproxima de Samuca, que tenta segurar, mas acaba chorando.
Ele abre seu coração, mas no fundo prefere que nada daquilo tivesse acontecido. Na verdade queria é ter uma família unida e feliz.
Vicente: Calma amor, se acalme.
Samuca: Vamos embora daqui. Vamos pra outra cidade, só eu e você, longe de tudo.
Vicente: Ei, não vamos a lugar nenhum, nós temos nossa casa e como já lhe disse, seremos muito felizes juntos. Nada e nem ninguém irá nos atrapalhar.
Cena 25 - Mansão de Antônio - Sala de Jantar - Noite
Antônio está sentado à mesa com Helena.
Antônio: Ele acordou ?
Helena: Sim, ele acordou, ele tá ótimo.
Helena: O Vicente tá tão feliz, tão radiante. Ele salvou a vida do nosso filho e conseguiu se salvar.
Antônio: Pelo menos uma ótima notícia.
Helena: E na loja ?
Antônio: Falei com o Henrique. A polícia conseguiu rastrear as contas do Heitor. Ele nos roubou uma fortuna.
Helena: Meu Deus.
Antônio: Vamos conseguir recuperar esse dinheiro, mas teremos que usá-lo todo para pagar os impostos que o Heitor sonegou. Talvez precisemos nos desfazer de alguns bens.
Helena: Faça o que tiver que ser feito, vamos dar a volta por cima.
Antônio: Obrigado. Se eu não tivesse seu apoio, não sei o que faria.
Helena: Nós vamos superar mais essa, juntos.
Cena 26 - Ao som de Paradise - Coldplay
Paisagens - Samuca tem alta e passa a se recuperar em casa - Os dias se passam
Cena 27 - Apartamento de Mohamed - Sala de Estar - Manhã
Mohamed abre a porta e se espanta ao ver que é Ayla.
Mohamed: A-ayla ? Você aqui...
Ayla entra e olha ao redor.
Ayla: Até que você tá se virando bem aqui sozinho.
Mohamed: Senta, fica a vontade. Quer uma água, um suco...
Ayla: Não vim aqui pra isso.
Mohamed: E pelo que foi então ? - Pergunta, curioso.
Ayla: Você ainda me ama ?
Mohamed: Eu nunca deixei te amar!
Ayla: Foi o que imaginei. Então queria que você soubesse que há um jeito de reatarmos o nosso casamento!
Os olhos de Mohamed brilham com o que escuta.
Mohamed: E o que seria então ?
Ayla: Depende do sacrifício que você esteja disposto a fazer para que isso aconteça! - Responde, com um olhar misterioso.
Cena 28 - Casa de Marina - Quarto - Noite
Marina está em seu quarto, sentada na cama. Inquieta o dia inteiro, ela tenta ligar para os seus pais que estão na igreja, mas ninguém atende.
Ela fica irritada e descalça, coloca o celular para carregar.
Um estouro se ouve e ela toma um susto.
O carregador começa a dar algumas faíscas, que sobem para a cortina, iniciando um incêndio.
Marina: Ai, Meu Deus!!!
Ela vai andando pra trás, assustada.
As chamas começam a se espalhar rapidamente pelo quarto.
Marina sente uma forte dor em sua barriga e quando olha para seu vestido branco, nota uma mancha vermelha de sangue descendo para suas pernas.
Ela começa a chorar, assustada.
Disfarçada e com um capuz, Hanna anda pela calçada e para em frente a casa de Marina.
Hanna: Eu não vou aceitar ser presa. Você vai ter que falar tudo que sabe, Marina! - Afirma a si mesma.
Hanna: Que cheiro é es... Mas o que é aquilo ? - Pergunta-se, ao notar as chamas no andar superior.
Instintivamente, Hanna atravessa a casa e abre a porta dos fundos, entrando pela cozinha.
Hanna: Tem alguém aí ? - Pergunta, assustada.
Ela anda devagar pela casa, e ao dobrar o cômodo para ir até a sala é supreendida por Viriato, que está com uma enorme pá na mão.
Hanna: Quem é você ?
Viriato bate com toda a força de seu corpo com a pá na cabeça de Hanna, que cai morta instantaneamente no chão, com os olhos abertos.
Sangue escorre de sua testa, formando uma poça ao redor de sua cabeça.
Com a pá ensanguentada no chão, Viriato olha para o topo da escada logo acima, com um olhar demoníaco.
Marina sai do quarto e anda pelo corredor, desorientada e inalando aquela fumaça preta que se espalha pelo ambiente.
Ela chega no topo da escada.
Marina: Alguém... Alguém me ajuda... - Murmura, sem forças.
Tonta, a moça sente suas vistas escurecerem e seu corpo inteiro fica dormente.
Ela cai no chão e sai rolando pela escada abaixo, caindo de cara pro chão.
A câmera foca em seu corpo caído.
O sangue continua descendo por suas pernas.
Cena 29 - Apê de Vicente - Quarto - Noite
Vitória: Posso entrar ?
Samuca: Claro, entra aí.
Vitória: Sabe, eu estou feliz demais por você está conosco novamente. Não seria justo com nenhum de nós se a história se repetisse.
Samuca: Se eu pudesse, eu também teria salvo o Bruno!
Vitória: Eu sei disso. E por falar nele, eu queria te dar isso.
Vitória retira da bolsa vários cadernos, com algumas folhas soltas, entregando a Samuca.
Vitória: Isso estava com o canalha do Heitor, que eu encontrei no asilo onde o pai dele mora. Eu ia entregar a você no dia do acidente, mas nem deu tempo, aconteceu aquela fatalidade. Em um primeiro momento achei que deveria entregar ao Seu Antônio, mas acho que isso pertence a você.
Samuca: O que tem escrito aqui ?
Vitória: Nada demais, mas para quem conviveu com o Bruno, tem muita coisa importante.
Samuca: Obrigado.
Vitória dá um beijo em Samuca e vai embora, o deixando sozinho. Samuca fica olhando os cadernos, sem coragem de abrir.
Após ela sair, Vicente entra no quarto.
Vicente: Finalmente a Flora dormiu. Essa menina parece um furacão! Ei, o que foi ? Que carinha é essa ?
Samuca: Ela me entregou isso.
Vicente olha sobre a cama e rapidamente já deduz o que é.
Vicente: É o que estou pensando ?
Samuca: Sim, são os cadernos. Se você quiser, eu não leio. Sei lá, eu guardo, jogo fora.
Vicente: Eu estou seguro do amor que você sente por mim, jamais iria lhe impedir de ler isso. Vou colocar a Flora na cama!
Ao som de In This Shirt - The Irrepressibles
Vicente sai do quarto e sentindo uma nostalgia, uma grande saudade, Samuca começa a folhear aquelas folhas, reconhecendo no mesmo instante a letra de Bruno e alguns desenhos. Não sabia se tinha uma ordem por data e pega o primeiro que vê.
Abrindo uma página qualquer, a primeira coisa que vê é uma poesia e passando mais algumas folhas, vê alguns desabafos.
"Bruno: Ellen, você tem razão. Escrever sobre meus sentimentos me faz ficar mais leve. Que saudade de você garota, não vejo a hora de você voltar para o Brasil."
"Bruno: O Samuca está desconfiado, mas não vou contar a ele, quero fazer uma surpresa. Acho que vai ser o melhor final de semana da minha vida, praia, sol e tudo isso ao lado do meu namorado!"
Em outro caderno....
"Bruno: Hoje está fazendo mais um mês que eu e o Samuca estamos juntos. Obrigado Meu Deus por me dar essa felicidade, por ter colocado esse cara fantástico em minha vida."
"Bruno: Pra mim era só uma festa, mas quem diria que ali estava um pedaço meu, o sentido da minha vida."
Algumas folhas depois...
"Bruno: Não aguento mais essa pressão, porque nossas famílias fazem isso ? Poxa, será que não entendem que só quero ser feliz ?"
Samuca lê tudo aquilo, sentindo o coração apertar seu peito, emocionado. Pegando outro caderno, continua folheando, lendo o que acha mais importante.
"Bruno: Hoje é o dia, essa festa na casa do Luan vai bombar, tomara que a Marina aceite ir, apesar da sua voz no telefone. Acho que deve ter acontecido alguma coisa com aquele namorado misterioso dela. E essa noite o Samuca não perde por esperar, vou pedí-lo em casamento!"
"Bruno: Estou muito feliz, apesar de tudo que descobri do Heitor, isso não tem a menor importância agora. Hoje é o dia mais importante da minha vida, estou dando um grande passo. Eu e o Samuca estamos indo embora juntos, vamos começar uma vida nova, longe de tudo e de todos, será só nós dois. Amo tanto você Samuca, com certeza nada dará errado, nosso amor é mais forte que tudo, ultrapassa qualquer barreira, qualquer obstáculo."
"Bruno: Foi muito difícil me despedir da minha mãe, ela não sabe de nada, mas é melhor assim. Apesar de tudo que enfrentamos juntos, só tenho a dizer “Obrigado Meu Deus”."
"Bruno: Mesmo com tantas brigas e desentendimentos, hoje eu posso dizer que fui e sou o cara mais feliz desse mundo e mesmo que algo me prive de ficar ao seu lado, eu dou um jeito, mas nunca lhe deixarei sozinho meu amor, vou estar sempre contigo. Com toda certeza desse mundo, posso afirmar, a vida valeu muito a pena.
Eu te amo, Samuca!"
Samuca termina de ler aquele trecho, aos prantos, com o rosto inchado de tanto chorar. Na verdade ele soluça, tamanho a sua emoção ao lembrar-se de momentos importantes de sua vida.
Vicente, que está em pé, na porta a um bom tempo, vai até ele e não diz nada. Apenas o abraça forte, demonstrando todo seu afeto. Samuca leva sua mão até o peito do seu amor, sentindo seu coração pulsar e tendo seu corpo envolvido pelos braços de Vicente, acomoda sua cabeça em seu tórax, molhando seu peito com suas lágrimas, até cair no sono.
Samuca só acorda no dia seguinte, ainda emocionado pelo que leu, mas visivelmente mais calmo por fora.
Ele vai até a sala, dando de cara com Flora e Teresa tomando café.
Flora: Tio, dormiu bem ?
Samuca: Sim, minha princesa. Cadê o Tio Vicente ?
Teresa: Ele saiu, mas não demora, eu só vim mesmo ver se vocês precisam de algo.
Samuca: Vou aproveitar que a senhora está aqui e vou pedir um favor.
Sabendo que Vicente seria contra ele sair ainda se recuperado, Samuca aproveita sua ausência e mesmo com os apelos de Teresa, não recua. Troca de roupa rapidamente e pega um Uber na rua.
Cena 30 - Escritório de Antônio - Manhã
Antônio: O que ? Quem ? Sim, peça pra entrar.
Antônio se levanta ficando cara a cara com Samuca.
Antônio: Que surpresa, fico feliz por saber que se recuperou.
Samuca: Obrigado. Olhando pra essa sala, lembro do dia que vim trabalhar aqui, quando o Bruno me arranjou aquele estágio.
Antônio: Faz tanto tempo isso.
Samuca: Sim. Lembro também do dia que vim aqui e joguei sua mesa no chão.
Antônio não sabe onde o genro quer chegar, mas prefere não criar caso.
Antônio: Algumas coisas fazemos, mas... Acho que nossos erros servem para aprendermos e não repetirmos no futuro.
Samuca: Concordo com o senhor.
Antônio: Obrigado por salvar a vida do Vicente.
Samuca: Se eu pudesse, também teria salvo a do Bruno. Não sinto a menor obrigação de qualquer coisa com o senhor, mas acho que seu filho gostaria que eu tomasse esse gesto.
Antônio: Não estou entendendo.
Samuca: Estou fazendo pelo Bruno, acho que é o que ele queria que eu fizesse.
Samuca estende a mão entregando um dos cadernos a Antônio.
Antônio: O que é isso ?
Samuca: Isso lhe pertence. - Diz, virando as costas e saindo da sala, deixando o empresário sem entender nada.
Antônio fica olhando aquele caderno e sem entender começa a folheá-lo, reconhecendo a letra de Bruno. Lê algumas coisas sem nexo, músicas e poesias, até que algo lhe chama a atenção.
Ao som de In This Shirt - The Irrepressibles
"Bruno: Hoje contei a ele sobre mim e o Samuca, ele agiu da pior maneira possível, mas acredito que com o tempo ele acabe nos aceitando."
"Bruno: Está cada dia mais difícil em minha casa. Meu pai sempre foi meu ídolo mas hoje é a pessoa que mais me faz sofrer."
"Bruno: Minha vontade hoje é de morrer, tive um final de semana maravilhoso com o Samuca, mas meu pai estragou tudo. Pela primeira vez ele me bateu. Ainda sinto o calor de sua mão em meu rosto... Dói tanto, mas no coração."
"Bruno: O que já estava ruim, ainda pode piorar. Meu pai não vai pagar mais minha faculdade, ao menos que eu deixe o Samuca. Novamente ele destrói os meus sonhos. Eu lembro da felicidade dele quando eu passei no vestibular e hoje ele me faz sentir essa tristeza, mas não tem problema, isso foi só um obstáculo. Nada irá me separar do Samuca, nunca irei abrir mão dele, só estou adiando esse sonho."
"Bruno: Hoje no café da manhã meu pai me humilhou mais uma vez, na frente do Heitor, me comparando com ele, me fazendo me sentir inferior. Se ele soubesse o que descobri sobre meu primo..."
"Bruno: Confrontei o Heitor nessa tarde e o safado confirmou tudo o que eu já desconfiava e ainda disse que conta tudo sobre mim a meu pai. Por isso meu pai tá sempre alerta, é por causa desse sem vergonha."
"Bruno: Porque meu pai age assim ? Queria tanto odiá-lo. Toda vez que brigamos eu sinto tanta raiva dele, tanto ódio, mas depois quando passa a raiva me dá uma culpa. Eu juro que queria odiá-lo mas não consigo, eu amo muito meu pai. Queria que ele me entendesse e que um dia olhasse o Samuca com outros olhos e ver que ele só me faz feliz."
"Bruno: Estou indo embora amanhã com o Samuca, mas queria tanto um abraço dele, dizer pai “Eu te amo” e receber de volta “Eu também te amo Bruno”. Vou embora, mas minha mãe e meu pai estarão sempre em meu coração. A vida nos levou para caminhos diferentes, mas vocês sempre serão meu ídolos e você pai ainda terá muito orgulho do seu filho, pois eu tenho muito orgulho em tê-lo como pai. Eu estou partindo, mas nunca deixarei de amar vocês. Mãe, pai. Eu amo vocês."
Assim como Samuca, Antônio termina de ler aquelas frases aos prantos.
Antônio: Eu também te amo filhinho, te amo muito. Sinto muito orgulho de você. O pai sempre te amou, eu errei mas sempre te amei... Obrigado meu filho, você também me amava meu filho querido.
Antônio chora compulsivamente, deixando suas lágrimas caírem sobre aquelas folhas antigas.
Como num passe de mágica, ele sente aquela tonelada que estava sobre suas costas há 10 anos, sumirem.
Cena 31 - Apê de Vicente - Sala - Manhã
Teresa aproveita que Vicente voltou e sai com Flora.
Vicente está impaciente com o sumiço de Samuca, que pra variar havia esquecido o celular em casa.
Samuca sai da loja e antes de voltar para a casa, passa no cemitério, deixando uma rosa sobre o túmulo de Bruno.
Após ele sair, a câmera foca naquele túmulo, onde um vento frio beija aquele mármore suavemente.
Vicente: Bonito hein, posso saber onde estava ? Será que não vou poder lhe deixar sozinho nem por um minuto ?
Samuca: Desculpa, precisava fazer algo importante. Me dá um abraço ?
Vicente ainda está nervoso, mas vendo seu amor ali na sua frente, vai se rendendo, o abraçando.
Vicente: Só fiquei preocupado amor.
Sanuca: Eu sei, você tá certo.
Vicente: Mas me conte o que houve.
Samuca nem têm tempo de começar a falar. A campainha começa a tocar insistentemente.
Ao som de instrumental 'Eternamente' - Eduardo Queiróz
Vicente: Já vai. Nossa, quem tá tocando dess jeito...
Ao abrir a porta, Vicente se surpreende ao ver Antônio.
Vicente: Pai!!!
Antônio está com os olhos vermelhos e segurando o caderno nas mãos, vai entrando no apartamento, vendo Samuca em pé mais ao fundo.
Antônio para em sua frente, deixando Vicente sem entender nada.
Antônio: Obrigado!!!
Sem cerimônias, Antônio se ajoelha diante de Samuca e olha para cima, no fundo dos seus olhos.
Antônio: Por favor, me perdoa!!!
Imagem de Samuca congela em um efeito preto e branco, ficando fixo na tela por longos segundos.
Continua...
Se encerra no refrão de I Way Down We Go - Kaleo
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