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Seguindo em Frente | Capítulo 48 (Último Capítulo)


A seguir

Seguindo em Frente - Capítulo 48 - ( Último Capítulo )

+16 ( Contém Violência, Sexo e Linguagem Imprópria )


Cena 01 - Apê de Vicente - Sala - Manhã - Ao som de instrumental 'Eternamente' - Eduardo Queiróz


A campainha começa a tocar insistentemente.

Vicente: Já vai. Nossa, quem tá tocando dess jeito...

Ao abrir a porta, Vicente se surpreende ao ver Antônio.

Vicente: Pai!!!

Antônio está com os olhos vermelhos e segurando o caderno nas mãos, vai entrando no apartamento, vendo Samuca em pé mais ao fundo.

Antônio para em sua frente, deixando Vicente sem entender nada.

Antônio: Obrigado!!!

Sem cerimônias, Antônio se ajoelha diante de Samuca e olha para cima, no fundo dos seus olhos.

Antônio: Por favor, me perdoa!!!

Com as mãos unidas e chorando, Antônio volta a repetir.

Antônio: Por favor, eu suplico, me perdoe.

Samuca fica totalmente sem ação, nem mesmo nos momentos que odiou aquele homem, quando brigaram, ele imaginou uma cena como aquela. O todo poderoso empresário, ali, de joelhos aos seus pés, implorando seu perdão.

Antônio: Me perdoe, me desculpa por tudo que fiz. Eu errei, já reconheci meus erros faz tempo, mas depois de hoje, acho que só posso fazer isso, me ajoelhar diante de você.

Vicente apenas observa, estático, sem saber que atitude tomar.

Samuca: Por favor, pare com isso.

Olhando para Antônio, Samuca se lembra quando fez o mesmo com ele, se jogando aos seus pés, implorando para ver Bruno na UTI.

Por um momento sente uma satisfação, mas logo se recompõe.

Samuca: Levante-se, por favor.

Antônio: Não, lhe devo isso. Preciso do seu perdão.

Vicente: Por favor tio, vem comigo.

Antônio resiste, mas Vicente consegue tirá-lo do chão.

Samuca não quis permanecer ali e vai para o quarto.

Vicente: Calma, pai.

Antônio: Meu filho me amava, ele nunca me odiou. O meu menino....

Vicente: Claro que ele te amava, se eu que o conheço há poucos anos, o amo como se fosse meu pai, imagina ele então.

Antônio: Eu errei tanto...

Vicente: Mas nunca é tarde para recomeçar. Pai, a vida deu uma segunda chance para todos nós. Acho que está na hora de aproveitarmos e superar de vez as mágoas do passado.

Antônio: Eu o humilhei tanto e justo ele me deu a maior felicidade que eu poderia ter, me deu a paz de espírito que eu não tinha desde a morte do meu Bruno. Porque ele fez isso? Ele poderia me deixar carregar essa amargura para sempre.

Vicente: O Samuca fez isso porque ele é um cara fantástico. Acho que não foi á toa que ele entrou no caminho meu e do Bruno.

Antônio: Será que um dia ele me perdoará ?

Vicente passa a mão no ombro de Antônio.

Após isso, vai falar com Samuca no quarto.

Samuca está na janela, com os olhos vermelhos.

Vicente: Meu amor...

Samuca: Eu sempre sonhei em vê-lo se ferrando, mas agora... Não sinto nada. Não consigo nem me vangloriar com isso.

Vicente: É porque você não é assim. Não adianta querer sentir raiva, você é um cara bom, meu amor.

Vicente o abraça, beijando seu rosto.

Samuca: Eu não sou bom. Se você soubesse as coisas que passam em minha mente... A tempestade que é.

Vicente: São as atitudes que nos moldam! E eu sinto muito orgulho de você. O que você fez não tem preço, foi de uma nobreza sem tamanho. Nem tente querer ser mal, ruim, você não irá conseguir nunca.

Samuca o olha, sério.

Antônio ainda está na sala, quando Vicente volta do quarto com Samuca.

Agora mais calmos, eles podem conversar melhor. Antônio não tem outra coisa em mente, se não o perdão de Samuca.

Antônio: Obrigado por me entregar isso.

Samuca: Só fiz o que meu coração mandou.

Antônio: Porque tivemos que passar por tanta coisa para nos aceitarmos ? Me perdoe, Samuca.

Samuca: Vamos apenas tentar esquecer as coisas ruins do passado.

Antônio: Eu nunca vou conseguir pagar esse gesto.

Samuca: Não precisa pagar nada.

Antônio estende a mão para Samuca, que fica olhando sem reação.

Samuca olha para Vicente e timidamente estende a mão, apertando a mão do sogro.

Antônio aperta a mão de Samuca, o abraçando em seguida.

Antônio: Obrigado, obrigado.

Meio sem jeito, Samuca coloca as mãos nas costas do sogro, juntando seus rostos num abraço.

Antônio chora emocionado, enquanto Samuca permanece calado e sério.

Vicente, que só presencia, se aproxima dos dois, os abraçando também.

Vicente: Me orgulho tanto de vocês!

Aquele abraço triplo teve plateia, Teresa e Flora chegam a tempo de presenciar aquela cena.

Flora não entende, mas Teresa fica em êxtase.

Flora: Quero abraçar também.

Samuca: Oi meu amor. - Diz, se afastando e a pegando no colo.

Flora: Oi moço.

Antônio: Olá, menina.

Vicente: Nem vi vocês chegarem.

Teresa: Vou fazer um café para nós.

Antônio: Obrigado, mas estou de saída.

Vicente: Fica, pai.

Antônio: A Helena está me esperando. Posso levar ?

Samuca: Claro que sim, esse caderno é seu.

Antônio e Samuca ainda estão um pouco sem graça e antes que alguma situação nova apareça o empresário sai.

Teresa: Aconteceu o que estou pensando ?

Vicente: Sim mãe, estou tão feliz.

Flora: Eu também estou feliz tio.

Vicente: Tá todo mundo feliz minha gatinha.

Samuca: Que bom, agora que o show acabou vamos comer que eu tô com fome! - Diz, tentando acabar com o assunto.

Teresa e Vicente se entreolham, sorrindo.


Cena 02 - Casa de Marina - Manhã - Ao som de instrumental 'Escorpión' - Alex Sirvent


O fogo avança pelo quarto de Marina. Uma fumaça preta se espalha por toda a casa.

Hanna está caída no chão, morta na cozinha em meio a uma poça de sangue.

Marina acorda tossindo, caída no último degrau da escada.

Ela sente uma forte dor fina em sua barriga e se arrasta pelo chão, atordoada e sem muita força para se levantar.

Com a vista embaçada, ela vê Viriato em pé próximo a ela com uma pá ensanguentada em mãos.

Marina: Me ajuda...

Viriato mantém uma expressão séria no rosto.

Ele larga a pá e se ajoelha até ela, passando a mão por seu cabelo.

Marina começa a chorar, sentindo falta de ar.

Marina: Me ajuda, me tira daqui... Estou perdendo meu filho!

Viriato sorri.

Viriato: Isso não vai acontecer. - Afirma, a pegando no colo.

Ele anda com ela em direção ao porão.

Marina tosse muito, se sentindo mal.

Com a moça nos braços, ele vai descendo a escada daquele lugar frio e escuro aonde a fumaça não chega.

Marina volta a fechar os olhos, agoniada.


FLASH BACK

"João: Fique à vontade. Você falou que é de onde mesmo ?

Viriato: De muitos lugares. Eu estou sempre de mudança! Mas agora acho que encontrei o lugar certo. Gosto desse clima!

João sorri, mesmo sem entender o jeito excessivamente misterioso do jardineiro.

João: Aqui é bom mesmo. Mas agora vou te deixar fazer o seu trabalho!

Viriato: Tem um buraco na parede. Perto do seu porão, é pequeno. Mas pode entrar criança ou animal!

João: Eu nunca reparei. Mal entramos lá, minha esposa não gosta muito daquele lugar então nem usamos!

Viriato: Mesmo assim é bom arrumar. Mais tarde eu faço isso pro senhor!

João: Agradeço!

João entra em sua casa.

Viriato continua mexendo nas flores, e em seguida olha em direção ao lugar onde o buraco está, com uma expressão séria."

FIM DO FLASH BACK


Do lado de fora da casa, João e Sol chegam de carro e se apavoram ao ver o andar superior em chamas.

João: Mas o que...

Sol: A Marina, ela tá lá dentro!


Marina abre os olhos.

Ela olha ao redor, sentindo um cheiro fétido, a deixando mais agoniada ainda.

Ela está em um lugar frio e escuro, e ao olhar para o lado toma o maior susto de sua vida.

Hanna está morta com os olhos abertos, como se olhasse diretamente para ela.

Marina grita e se levanta com dificuldade, mas tropeça em algo e cai no chão novamente.

Ao olhar para trás, ela percebe que escorreu em um mão estendido no chão, de algo coberto por uma lona preta cheio de moscas em volta.

Chorando de desespero e pavor, ela cobre seu nariz com um braço e com o outro ela se aproxima da lona para ver o que é.

Ela toca aquele plástico escuro, enquanto as moscas voam de um lado para o outro, fazendo um zumbido insuportável.

Ao puxar a lona, ela solta um grito de horror com toda força que há em seus pulmões, enquanto cai para trás, chorando.


As chamas se espalham pelo corredor e pela escada.

João e Sol andam pela casa, em busca de sua filha, até que escutam um grito.

Sol: É ela, é ela!!! De onde veio ?

João fica em silêncio, tentando identificar de onde veio o grito.


Marina está caída no chão, olhando para aquela imagem horrível a sua frente, como se tivesse sido completamente paralisada pelo medo.

João chega atrás dela, todo afobado, enquanto puxa sua filha para fora daquele lugar.

Ele também se assusta com o que vê logo mais adiante, no canto daquele porão.

Marina fecha seus olhos, enquanto as lágrimas caem.

Ela segura sua barriga o tempo todo.


Cena 03 - Presídio - Noite - Ao som de instrumental Loneliness Tensa - Iuri Cunha


Sabendo que não pode manter Mirella presa por mais dias, Henrique resolve colocar ainda mais fogo naquela fogueira.

Mirella está em sua frente com um uniforme da cadeia e algemada, sentada bem em frente a mesa dele.

Mirella: Você sabe que não pode me manter aqui por muito tempo. Eu conheço muito bem os meus direitos. Eu vou sair daqui e vou processar todos vocês! Você não tem prova nenhuma contra mim.

Henrique: Vai processar mesmo ? E o que mais pretende fazer ? Tenho a noite toda pra escutar seus planos para o futuro. - Responde, irônico, deixando ela mais mais irada.

Henrique começa a fazer várias perguntas e Mirella responde sempre com um desaforo.

Mirella: Só vou falar em juízo.

Henrique: Como vocês usavam a loja do Sr. Antônio para lavar o dinheiro do roubo de carga ?

Mirella: Eu não tenho nada a ver com essa loja. Quem trabalhava lá era o Heitor.

Henrique: Você conhece esses dois homens ?

Henrique mostra uma foto para Mirella, que engole a seco.

Henrique: Esses dois morreram na troca de tiros durante a operação. O engraçado foi que numa das conversas que gravamos, com autorização judicial, um deles mencionava seu nome e seu telefone. Acho bom você colaborar, sua situação não é das melhores... Apesar de ser uma advogadazinha medíocre, acho que você consegue avaliar como está sua real situação.

Mirella: Eu não conheço esses dois, eu não tenho nada a ver com essa quadrilha. Eu falei com eles uma única vez, quando emprestei um dinheiro ao Heitor. O plano era fazer o Samuca se encontrar com eles e tirar fotos, para mostrar ao Antônio. O Heitor quem planejou tudo. Ele estava com medo do Antônio aceitar o Samuca quando descobrisse que ele e o Vicente estavam juntos. Então forjou tudo isso, só para sujar a imagem do Samuca, caso ele oferecesse algum perigo.

Henrique: Então deixa eu ver se entendi. Você afirma que não tem nada a ver com isso e que o Heitor e esses homens eram velhos conhecidos.

Mirella: Exatamente, esses bandidos eram grandes parceiros do Heitor. Ele usava a empresa do tio para contrabandear mercadorias, fez isso por anos.

Mirella se vira para trás, acompanhando Henrique e leva um susto ao ver Heitor também algemado, na porta, ao lado de dois policiais.

Heitor: Vagabunda, desgraçada. Vou acabar com você, sua vadia!

Heitor vai pra cima dela mas é contido pelos policias.

Heitor: Não pense que vai se safar dessa e me deixar ferrar sozinho.

Mirella: Você fez tudo isso sozinho, eu estou limpa.

Henrique: Pelo visto teremos uma noite longa. Nós três vamos nos divertir muito essa noite!


Cena 04 - Mar Aberto - Manhã


Mohamed está sem camisa e de óculos escuros, pilotando uma lancha enquanto Rosinha toma um banho de sol de biquíni.

Ela ajeita a parte de cima, deixando à mostra a marca do bronzeado, enquanto nota que está sendo observada por ele.

A moça sorri, se sentindo vitoriosa.


FLASH BACK

"Ayla: Você ainda me ama ?

Mohamed: Eu nunca deixei te amar!

Ayla: Foi o que imaginei. Então queria que você soubesse que há um jeito de reatarmos o nosso casamento!

Os olhos de Mohamed brilham com o que escuta.

Mohamed: E o que seria então ?

Ayla: Depende do sacrifício que você esteja disposto a fazer para que isso aconteça! - Responde, com um olhar misterioso."

FIM DO FLASH BACK


Mohamed desperta de suas lembranças.

Em silêncio ele anda até Rosinha, e se senta do lado dela.

Rosinha: E aí, meu amor. Curtindo esse paraíso ? Pois eu estou.

Mohamed continua em silêncio.

Rosinha: Estar aqui, só eu e você, no meio desse mar quase infinito... Poderíamos até morrer aqui que ninguém saberia!

Mohamed fecha seus olhos, como se pensasse em algo.

Ela se levanta e se senta de frente e ele, pegando em seu rosto.

Rosinha: Ei, eu sei como você deve tá se sentindo agora. Tá, vai. Eu sei que você gostava daquela mulher. Mas eu te farei feliz de uma forma que você nunca foi! Eu e o nosso bebê! - Afirma, pegando a mão dele e colocando em sua barriga.

Mohamed olha para a barriga dela, com uma expressão séria.

Rosinha: Nós três aqui nesse lugar... Hein... Vai dizer que não tá gostando!

Mohamed tenta dar um sorriso e a abraça.

Rosinha se aconchega em seus braços, sorrindo.

A todo momento imagens de Ayla vêm na mente do empresário, que não consegue relaxar um só momento.


Cena 05 - Casa de Marta - Tarde - Ao som de When You Got a Good Thing - Lady Antebellum


Henrique vai visitar sua filha, e após deixá-la brincando na sala, conversa com Vitória na varanda.

Vitória: Você tá com uma cara...

Henrique: Tive uma noite agitada e o pior foi ter que soltar a Mirella!

Vitória: O que ? Mas isso é um absurdo.

Henrique: Fazer o que né ? A lei manda, eu só obedeço. Mas eu ainda pego ela! Mas falando em pegar...

Henrique olha para os lados, se certificando que ninguém está vendo, e vai até Vitória, a agarrando e beijando seu pescoço.

Henrique: Que saudade, meu amor.

Vitória: Pare Henrique, aqui não, alguém pode ver!

Henrique: Vamos contar pra todos que estamos juntos.

Vitória: Melhor não.

Henrique: Tem certeza que não ? - Provoca, beijando sua orelha.

Vitória: Me larga, mas que coisa.

Henrique: Você fica muito sexy vestida assim de executiva.

Vitória: Ah é ? Não gostos de policiais.

Henrique: Será que não ?

Henrique dá um beijo em seus lábios. Vitória não resiste e abraça o rapaz, se entregando a aquele beijo.

Se empolgam tanto e quando se dão conta já é tarde demais, Flora tinha entrado na varanda e flagrado os pais, dando um grito e levando as mãos na boca.

Henrique: Filha!!!

Flora sai correndo, indo para o quarto e deixando os dois em pânico, como se tivessem cometido um crime terrível.

Vitória: Viu o que você fez ?! - Reclama, indo atrás da filha.

Os dois entram no quarto.

Henrique: Oi, filha.

Vitória: A gente pode falar com você ? O que você viu lá na sala...

Flora: Eu não vi nada.

Henrique: Filha, eu e a mamãe...

Flora: Eu já sei papai, vocês estão namorando né ?

Henrique fica enrolando, falando e falando, mas Flora nem dá bola, ela é apenas uma criança, mas não boba.

Flora: Vocês estão namorando sim, eu tô muito feliz. A mamãe e o papai estão namorando!!!

Vitória: Agora pronto, a cidade toda vai saber!

Flora: Vocês vão casar ? O papai vai morar com a gente ?

Henrique dá risada.

Henrique: O que ? Eu e a Dona Marta na mesma casa ? Vai sair morte.

Vitória o cutuca.

Flora: Papai, quero 3 irmãozinhos.

Henrique: O papai vai te dar uma creche inteira.

Flora: Beija a mamãe, papai.

Vitória: Flora!!!


Cena 06 - Apê de Vicente - Quarto - Tarde - Ao som de instrumental 'Escravidão' - Eduardo Queiróz


Samuca: Não precisava ter vindo.

Marta: Eu queria muito te ver! Como você está ? Tá se recuperando bem ? - Pergunta, se sentando na cama ao lado dele.

Samuca: Eu estou bem. Diga logo o que veio fazer aqui!

Marta: Vim ver o meu filho querido, meu filho que eu tanto amo.

Marta segura na mão de Samuca, com os olhos marejados.

Samuca tenta se afastar, mas não teve jeito, sabia que aquele momento iria acontecer mais cedo ou mais tarde.

Samuca: Você me ama ? Descobriu isso quando ? Hoje de manhã ?

Marta: Eu entendo sua raiva....

Samuca: Não é raiva. É mágoa, rancor, amargura. Me deixe sozinho.

Marta: Não, Samuca. Sinto meu coração cortar quando você fala assim.

Samuca: E tudo o que você já me disse ? Não cortou o meu ?

Marta: Eu carreguei você por nove meses na minha barriga. Você sempre foi o sonho do seu pai. Quando fiquei grávida da sua irmã, ele ficou eufórico achando que seria um menino... Sua irmã que não me escute falando isso, mas ele adorou sua irmã, mas no fundo sempre ficou esperando por você. Quando casamos éramos muito pobres, mas ralamos muito, eu trabalhei até o nono mês de gravidez. Tanto eu quanto seu pai, não medimos esforços para dar o melhor pra vocês e sua irmã.

Samuca: Eu só queria uma única coisa e isso eu nunca tive.

Marta: Não me julgue meu filho. Eu fiz tanto por vocês mas fracassei. Eu fiz tanto, achando que era o certo. Eu errei tanto, mas errei tentando acertar.

Marta não consegue segurar a emoção e deixando o choro vir, abre seu coração para o filho.

Marta: Eu só queria que você não sofresse e pensando assim eu fui a pessoa que mais lhe fiz sofrer. Seu pai nos deixou muito cedo e eu tentei fazer de você o filho que ele gostaria de ter. Pelo menos eu achava isso. Você sempre foi um menino amado e realmente não sei quando tudo foi mudando, nos afastando. Eu só queria ter uma filha perfeita. Ver você e sua irmã bem casados, com um bom emprego.

Samuca: Você me fez sofrer tanto. Não foram uma, nem dez vezes, foram centenas de vezes que eu chorei em silêncio na minha cama. Você sempre foi intolerante, preconceituosa... Sempre me quis mal.

Marta: Não, não. Isso nunca. Eu disse coisas horríveis, mas jamais que iria querer que um pedaço meu sofresse. Eu fiquei com tanto medo de te perder nesse acidente. Fiquei com tanto medo de você ir embora e eu nunca conseguir dizer... Dizer que te amo meu filho!!! Dizer o quanto você é importante pra mim.

Samuca: Mãe...

Marta: Me perdoe por eu nunca ter lhe aceitado. Me perdoe por eu ter te deixado sozinho quando o Bruno morreu. Me perdoe por tudo que fiz de ruim e por tudo de bom que deixei de fazer. Me perdoe por tudo mais que tiver que perdoar, meu filho. Eu seria capaz de dar a minha vida por você e por sua irmã. Nunca duvide do meu amor por você.

Marta abraça Samuca, beijando sua cabeça e seu rosto, misturando suas lágrimas as dele.

Marta: Sua mãe te ama e sempre estará ao seu lado. Que não seja tarde pra você ouvir isso.

Samuca também abraça a mãe, encostando sua cabeça entre seu peito, sentindo os braços dela o abraçarem.

Samuca: Eu sofri muito mãe. Se você soubesse a quantidade de vezes que eu quis esse abraço. Um abraço, um afago, um beijo, um olhar de compreensão. Eu me senti tão sozinho.

Marta aperta ainda mais o filho em seu peito, sentindo o coração cortar, ao ouvir tudo aquilo.

Marta: Eu te amo Samuca, eu sou sua mãe, sua família.

Samuca não consegue olhar para a mãe, ficando apenas abraçado ao seu peito, sentindo que um nó tinha saído de sua garganta.

Marta não larga do filho por nenhum momento, até ele adormecer em seus braços, como fazia quando era criança.

A câmera vai se afastando aos poucos, e a imagem dos dois lentamente vai ficando desfocada, até a cena escurecer.


Cena 07 - Ao som de Paradise - Coldplay

Paisagens - As Semanas se Passam - Imagens aéreas de São Paulo mostram um clima fechado e nublado - Os carros vêm e vão


Cena 08 - Estrada - Tarde


Samuca se muda para seu escritório, que fica ao lado do consultório de Vicente e apesar de estarem um próximo ao outro, durante o dia quase não conseguem se ver, pois estão sempre ocupados.

Aos poucos suas vidas vão voltando ao normal. No final do dia iam embora juntos e naquele dia em especial Vicente muda o trajeto, levando Samuca até um bairro, parando em frente a um loteamento.

Samuca: Porque parou aqui ? Que lugar é esse ?

Vicente fica em silêncio.

Samuca: Humm, está safado hein meu gostoso, vai querer transar nesse mato ? Delícia!

Vicente: Acho que a batida na sua cabeça deixou você tarado.

Samuca: Não tenho culpa se eu tenho um namorad... Quer dizer, um maridão gostoso como você.

Vicente: Será que posso falar agora, Seu Samuca.

Samuca: Fala, meu lindão.

Vicente: O que achou ?

Samuca: Do terreno ? Achei bem legal. É um bairro próspero, seguro, bonito e o terreno é até grandinho.

Vicente: O que você acha dele ser nosso ? De construímos nossa casa aqui ?

Samuca abre um sorriso enorme, ficando eufórico.

Samuca: Você tá brincando ? Sério meu amor ?

Vicente: São as últimas unidades.

Samuca: Será que conseguimos comprar ? Será que dá tempo ? Qual o preço ? E se fizéssemos um empréstimo ? Podemos.....

Vicente: Eiiiiiiiiiiiiii, se controla aí. Sabia que você ficaria assim.

Samuca: Desculpa é que fiquei empolgadão mesmo, se conseguirmos comprar....

Vicente: Pois é. Pega meu celular no porta luva.

Samuca abre o porta luva e a primeira coisa que veio a sua mão são alguns papéis.

Samuca: O que é isso ?

Vicente: É a escritura desse terreno, aliás do nosso terreno, onde será nossa futura casa.

Samuca: Vicente, você não...

Vicente: Desculpa amor, eu sei que deveria te chamar pra escolher comigo, mas não resisti, ele é nosso.

Explodindo de felicidade, Samuca abraça seu marido.

Samuca: Eu te amo.

Vicente: Eu também te amo meu amor.


Cena 09 - Em Algum Lugar do Nordeste - Manhã - Ao som de Preciso me Encontrar - Cartola


Imagens aéreas mostram um pequeno paraíso paradisíaco, com alguns pescadores com uma grande rede às margens do Rio São Franscisco.

Algumas mulheres lavam suas vestes no rio, enquanto algumas crianças brincam pela areia ao redor.

As águas do rio balançam suavemente com o vento, enquanto o sol ilumina as ondas que se formam.

A câmera vai seguindo um dos pescadores, que está usando um chapéu na cabeça para se proteger do sol.

Ele anda devagar até a cabana onde vive próximo dali, e ao entrar joga os peixes em um balde. Mas o que lhe interessa mesmo são as pedras preciosas que veio junto com o alimento e cascalho do rio.

Ele pega uma das pedras na mão, olhando de perto, pensativo.

A câmera pela primeira vez mostra o seu rosto.

Efeito sonoro grave toca em cena ao revelar o rosto de Bruno, levemente envelhecido e com alguns cabelos grisalhos. Sua barba está grande e no seu rosto algumas rugas de expressão se formam ao redor de seus olhos.

Olhando para a pedra, ele a fecha em suas mãos e fecha seus olhos, respirando fundo. Ele se levanta e a guarda dentro do seu colchão, junto a centenas de outras pedras preciosas e uma foto antiga de Samuca entre elas, um pouco deteriorada pelo tempo porém visível.

Em seguida, Bruno volta para seus afazeres, em seu trabalho diário como pescador.

Um casal em um pequeno barzinho ali perto o observa enquanto bebem uma cachaça.

Mulher: Eita que a pesca hoje foi é boa! Pescador que nem o Zé Ninguém não tem!

Homem: Esse homem deve ser um milagre do rio. Apareceu aqui do nada, sem nem saber o próprio nome, mas trazendo fartura pra todos. E o dia que ele se for, vai ser que nem quando chegou. Fazendo história nesse sertão!

Enquanto eles falam, a câmera vai acompanhando Bruno, enquanto ele se afasta cada vez mais, entrando no rio e desaparecendo em seguida.

O sol reflete na câmera, deixando a imagem totalmente branca.







Cena 10 - Ao som de Shape of You - Ed Sheeran - Paisagens - Algum Tempo se Passa


Flora: Anda papai, corre.

Flora fala desesperada no telefone, deixando Henrique ainda mais nervoso na linha.

Samuca: O que Vicente ? Hoje ? Estou indo pra aí! Você não tá me escondendo nada né ?

Vicente: Claro que não, o Henrique já tá vindo pra cá.

Henrique para o carro, saindo desesperado, enquanto Marta pega algumas bolsas.

Henrique: Eu te levo no colo.

Vitória: Eu consigo ir a pé e fique calmo, se não eu que vou ficar nervosa.

Flora segura na mão da mãe, enquanto entram no hospital.

Vicente logo aparece, com uma cadeira de rodas.

Vicente: Está com muita dor ?

Vitória: Um pouco só, mas acho que a bolsa estourou.

Vicente: Seu obstetra já está preparando o centro cirúrgico.

Antes de acompanhar o médico, Flora se aproxima, dando um beijo na barriga da mãe.

Samuca chega quase junto com Teresa e muito nervoso vai até a sala de Vicente.

Vicente: Vai querer assistir ?

Samuca: Não, não tenho coragem, estou nervoso demais.

Vicente: Se acalme amor. Vai dar tudo certo, eu vou acompanhar o parto.

Vicente se aproxima de Samuca, beijando sua testa e lhe dando um abraço.

Henrique também prefere ficar esperando, ao lado da filha, que está em êxtase.

Flora: Meu irmãozinho já nasceu ?

Teresa: Calma minha querida, seu irmãozinho ou irmãzinha está quase chegando.

Apesar de não ser obstetra, Vicente acompanha a cesariana, que corre sem problemas.

Vitória está acordada e com Vicente ao seu lado, se emociona quando escuta o choro do bebê.

Vicente leva a mão até o rosto, tentando contêr a emoção, olhando para aquele pedacinho de gente.

Médico: É um menino.

Sônia pega o bebê e mostra a Vitória, que dá um beijo no rostinho do garoto.

Em seguida mostra para Vicente, que está todo emocionado, com os olhos cheio de lágrimas.

Vicente: Ele é lindo.

Sônia leva o bebê para a limpeza.


Ao som de instrumental Movimento de Outono - Alexandre Guerra


Após a cirurgia Vitória vai para o quarto e Vicente vai dar a notícia a todos.

Henrique: Fala mano.

Marta: Como ela está ?

Teresa: E o bebê ?

Olhando para Samuca, Vicente parece o homem mais feliz do mundo ao dar aquela notícia.

Vicente: Os dois estão bem. É um menino, um rapagão!!!

Samuca também se emociona, abraçando seu amor.

Samuca corre para o berçário, mas fica frustrado, não dava pra ver o bebê pelo vidro.

Vicente: Calma amor, ele já vai para o quarto.

Samuca: Ele é bonitão mesmo ?

Vicente: Lindo, um anjinho.

Um tempo depois, Sônia entra no quarto, com o bebê no braço, levanto até Vitória, que o amamenta.

Samuca, Vicente e Flora entram no quarto, ansiosos para vê-lo.

Sônia: É um lindo menino, saudável e forte.

Flora fica encantada, olhando para ele, passando o dedo nos dedinhos dele.

O tão esperado momento está prestes a acontecer.

Chamado Samuca e Vicente para mais perto, Vitória beija a testa do garoto e o entrega a eles.

Vitória: Peguem.

Vicente pega o garoto no braço, dividindo ele no colo com Samuca.

Sônia: Vocês dois não quiseram saber o sexo.

Flora: Eu sabia que ia ser menino.

Vitória: Sabia como ?

Flora: Um anjo me contou.

Vicente: Ainda bem que só compramos roupa amarela, branca e verde.

Samuca dá a mão para Vicente.

Samuca: Leandro! Vai ser esse o nome dele.

Vicente: Nosso filho. Eu nem tô acreditando!

Flora: É meu irmãozinho.

Samuca: Sim meu amor, seu primo irmãozinho.

Vicente deixa o filho com Samuca e se aproximando da cama, segura nas mãos de Vitória, agradecendo por tudo.

Vitória: Obrigado, Vitória. Obrigado por realizar o nosso sonho. Obrigado por ser a nossa barriga solidária.

Vitória: Eu também estou muito orgulhosa. Serei uma tia mãe e retribuirei todo amor que o Samuca sempre teve com minha filha!

Flora: Posso pegar meu irmãozinho, tio ?

Samuca: Claro, minha princesa.

Flora se senta no sofá e Samuca coloca o filho no colo da garota.

Flora fica encantada, dando um beijo na bochecha de Leandro.


Cena 11 - Presídio - Manhã


Disfarçadamente, em um canto maus afastado do pátio onde os presos tomam banho de sol, Heitor entrega um envelope com dinheiro para um dos policiais, que olha em volta e guarda rapidamente dentro de seu uniforme.

Policial: Está debaixo do seu colchão. Hoje, durante o almoço, eu estarei responsável pelo plantão!

Heitor: Então é seguro mesmo ?

Policial: Claro que é. Agora mete o pé, vai!!!

Heitor volta para sua cela.

Ele olha para sua cama, e instintivamente puxa o colchão, vendo um uniforme enrolado em um plástico.

Heitor sorri, satisfeito.


Cena 12 - Apartamento de Mohamed - Manhã


Rosinha está temperando uma salada quando sente uma sensação estranha.

Ela nota o chão molhado e fica paralisada por alguns segundos.

Mohamed, que está lendo um jornal sentado à mesa, olha de canto, percebendo o que está acontecendo.

Rosinha: A bolsa... Ai, Meu Deus, eu tô nervosa! - Diz, largando os talheres na pia.

Mohamed se levanta, pálido.

Mohamed: Está sentindo dor ?

Rosinha: Não, por enquanto não. Acho que só tô nervosa mesmo. Nosso filho vai nascer!!!

Mohamed: Esperei muito por esse momento.

Rosinha: E eu então ?

Mohamed: Consegue tomar um banho enquanto eu preparo a sua bolsa ?

Rosinha: Claro, eu vou rapidinho...

Mohamed: Não demora.

Rosinha anda devagar até a suíte.

Mohamed a observa se afastar, e em seguida pega seu celular.

Ele faz uma ligação.

Mohamed: A bolsa estourou. Vai ser agora. Esteja no hospital em 30 minutos, já deixei tudo preparado... Por favor, seja rápida!


Cena 13 - Rua - Tarde - Ao som de Que País é Esse ? - Legião Urbana


Vestido de policial, Heitor cruza a saída daquele presídio.

O sol brilha forte no céu.

Suor escorre por sua testa.

Ele anda até o meio da rua, e em seguida olha para trás e dá uma banana para aquele lugar.

Heitor: Que todos vocês vão para o raio que os parta! Eu venci, mais uma vez. Porque no final eu sempre venço! Ninguém me pega, nem a morte! - Ao terminar de falar, ele escuta uma buzina e vê um caminhão de carga vindo com tudo em sua direção.

Heitor: Porra...

O caminhão o atropela violentamente, com todas as rodas passando por cima de seu corpo e o transformando em carne moída caída no asfalto.

Sangue espina para todos os lados.

O caminhão freia.

Braços, pernas, medula espinhal, vísceras e tripas estão para todos os lados.

No meio de uma das rodas, está a cabeça de Heitor, pendurada e com os olhos abertos.

Ele pisca duas vezes, antes de fechar seus olhos para sempre.


Cena 14 - Hospital - Tarde


Rosinha senta na cadeira de rodas, enquanto Mohamed com uma máscara cirurgica a conduz até a sala de parto.

Ansioso, ele olha para todos os lados, como se buscasse alguém.

Os dois entram na sala.

Rosinha começa a chorar.

Rosinha: Eu estou nervosa, tô sentindo um pressentimento ruim!

Mohamed a conforta.

Mohamed: Eu estou aqui, meu amor. Nada de ruim irá te acontecer! - Afirma, a olhando nos olhos e apertando sua mão.

Rosinha se acalma mais, porém continua tensa.

Enfermeira: Podem ficar tranquilos, foi uma gravidez tranquila e o bebê já está na posição certa. Ele vai nascer grande e saudável, não há com o que se preocupar!

Rosinha sorri, em meio às lágrimas.

Mohamed parece tenso, enquanto segura o ombro dela.


Cena 15 - Hospital - Sala de Vicente - Tarde


Em sua sala, Vicente abraça Samuca, beijando seus lábios e mostrando toda sua felicidade.

Vicente: Parabéns papai!!!

Samuca: Parabéns papai!!!

Vicente: Parece um sonho.

Samuca: Não é meu amor, agora somos uma família. Ele será o menino mais amado desse mundo. Ele é tão petitico, miudinho, indefeso... Será que ele vai chorar no primeiro dia na escolinha? A Flora foi super de boa... Vou ter que ir mais a feira, não vou dar nada industrializado a ele... Aquele colchão que você comprou, é marca boa ? Pode dar uma alergia nele... E será que os outros garotos vão ser amigos dele ? E se fizerem bullying com ele ? E... ?

Vicente começa a bufar, vendo que Samuca delira com seus absurdos, dizendo umas 30 frases por segundo.

Vicente: Samuca...

Samuca: Será que na formatura dele, ele vai preferir sair com os amigos ou ficar com a família ? Eu queria que ele fosse engenheiro, mas se seguir a carreira do outro pai dele, também vou ficar feliz. Mas isso, se ele não tiver que servir o quartel primeiro, porque daí...

Vicente: Ai meu paizinho querido, daí-me força!!! SAMUCA!!!

Samuca: O que ?

Vicente: Volta pra Terra.

Samuca: Mas...

Vicente: Não tem mais, nem menos, sossega aí!

Samuca olha pra ele e começa a rir. Vicente não se contém e ri também, todo bobo.


Samuca está sentado numa poltrona, aguardando o horário de visitas, quando Flora se senta ao seu lado.

Flora: Tio...

Samuca: Oi meu amor.

Flora: Tio, agora que você tem o seu neném, você não vai gostar mais de mim ?

Samuca fica sério no mesmo instante, olhando para o rostinho aflito de Flora.

Samuca: Que isso meu amor, nunca mais diga isso. O tio sempre vai gostar de você. Sempre, sempre, sempre. O tio agora tem um neném, mas no coração do tio tem espaço pra você, pra ele, pro Tio Vicente... Você não é minha princesinha?

Flora: Eu sou.

Samuca: Então, toda princesa precisa de um principezinho. O tio ama você muito, muito de montão. E agora eu quero um beijo.

Flora abre um sorrisão, pulando no colo de Samuca, segurando sua cabeça e o enchendo de beijos por todo o rosto.

A tarde foi de visitas. Todo mundo querendo ver e presentear o pequeno Leandro, que mal veio ao mundo e já é amado por todos.

Helena e Antônio chegam, trazendo um presente para o garoto.

Vicente: Lindo ele, não é pai ?

Antônio: Sim, é um garotão lindo.

Helena e Antônio se olham, felizes pelo filho.


Cena 16 - Hospital - Tarde - Ao som de instrumental 'November' - Max Richter


Segurando nas mãos de Mohamed, Rosinha faz toda força possível, enquanto as lágrimas descem.

Um choro de bebê se ouve.

Mohamed chora, emocionado.

Enfermeiro: É um meninão!!!

Mohamed: Meu filho...

O enfermeiro coloca o bebê no colo de Rosinha, que chora.

Rosinha: Nosso filho. Ele é tão lindo!

Mohamed olha para uma enfermeira, que está em pé na porta, assistindo a tudo atentamente.

Uma lágrima escorre do olho dela, que têm uma máscara cobrindo seu rosto.

O enfermeiro pega novamente o bebê para realizar a limpeza, enquanto os médicos saem da sala.

Rosinha: Eu quero o meu filho...

Mohamed: Calma, meu amor. Eles só vão limpá-lo. Em breve ele estará em seus braços de novo! - Diz, sorrindo.

O enfermeiro entrega o bebê para a outra enfermeira, que o pega cuidadosamente em seus braços.

Rosinha continua sentindo uma sensação estranha.

Mohamed: Não se preocupe. Eu irei acompanhar tudo! - Afirma, enquanto beija a testa dela e caminha junto com a enfermeira até a porta.

Mohamed coloca a mão nas costas da enfermeira, enquanto caminham juntos.

Deitada na cama, Rosinha os observa saindo, ainda um pouco dopada da anestesia.

A enfermeira olha para trás, enquanto abaixa levemente sua máscara.

Rosinha: Não... Não...

Por baixo daquele uniforme, está Ayla, que caminha rapidamente com Mohamed e o bebê.

Rosinha tenta se levantar, quase sem forças, mas é contida pelo enfermeiro.

Rosinha: Eles... O meu filho, eles vão levar!

Enfermeiro: Calma, já já ele estará de volta. Pode não pode se estressar agora!

Rosinha: Você não entende, eles estão levando o meu filho embora!


Mohamed e Ayla andam rapidamente pelos corredores, tentando não levantarem suspeitas, até chegarem no estacionamento.

Um segurança os encara de longe, desconfiado.

Mohamed e Ayla caminham até o carro, onde entram rapidamente.

Mohamed: Fez tudo que eu mandei ?

Ayla: Claro que sim. O jatinho já está nos esperando... Porém não peguei muitas malas. Lá a gente compra tudo de novo, dinheiro é o que não falta!

O segurança continua os observando.

O enfermeiro corre até ele.

Ayla: Vamos sair daqui, rápido!

Mohamed arranca com o carro em alta velocidade.

Ayla protege o bebê em seus braços, ansiosa.

Enquanto dirige, Mohamed pega a mão de sua mulher e a beija.

Mohamed: Orlando que nos espere. Eu, você e nosso filho!!!

Ayla sorri, em êxtase.

Imagens aéreas vão mostrando o carro se distanciando cada vez mais, até cruzar a estrada e desaparecer para sempre de vista.


Cena 17 - Alguns Anos se Passam - Vicente havia se tornado diretor do hospital onde trabalha, tendo como braço direito sua grande amiga, a enfermeira Sônia.

Samuca também se deu bem trabalhando sozinho, mas diminuiu um pouco sua carga de trabalho, para cuidar do filho.

Samuca: Vicente, vai demorar ?

Vicente: Não meu amor, mas pode ir jantando com o Leandro!

Samuca: Já estou com saudade.

Vicente: Agora sou diretor desse hospital, tenho que ser o primeiro a chegar e o último a sair.

Samuca: Só não esquece da sua família, hein!!!

Vicente: Jamais, nunca vou deixar meus dois gatões de lado.

Samuca: Vou desligar, seu filho está muito quieto, deve estar aprontando.

Vicente: Beijão.

Samuca: Te amo.

Samuca começa a procurar o filho, indo para o quarto.

Samuca: Leandro ? Cadê você filho ?

Está passando pelo corredor, quando escuta a voz do seu filho.

Samuca: O que esse menino tá aprontando agora...

Entrando em seu quarto, já sente a água em seus pés e ao chegar no banheiro teve a visão do caos.

Era água pra todo lado, com espuma até no teto.

Samuca: Mas que bagunça é essa ?

Leandro: Oi papai.

Leandro havia colocado o cachorro debaixo da ducha e começou a dar banho nele, usando todos os potes de xampu que encontrou pela frente.

Leandro: Papai, o Dexter estava sujo, estou dando banho nele.

Samuca: Eu não tô acreditando nisso, moleque!!!

Leandro olha com aquela carinha de cachorro sem dono, sorrindo para Samuca.

Leandro: Papai, perdoa eu!


Leandro sempre espera Vicente chegar para depois dormir, mas muitas vezes o sono fala mais alto.

Está dormindo no colo de Samuca, mas desperta quando escuta a voz do seu outro pai.

Leandro: Papai!!!

Vicente: Oi filhão.

Vicente pega o filho no colo, erguendo seu corpo para o alto.

Leandro: Papai eu estou de castigo. Até apanhei, mas não fiz nada.

Vicente: Ah é ? Porque será que não acredito em você hein ?

Vicente não abria mão de dar atenção ao filho, mesmo depois de um dia cansativo. Brincava no chão, jogava bola, montava algum brinquedo, contava uma história, tudo com a maior paciência, até esperar o filho cansar.

Vendo que Leandro já tinha capotado no sono novamente, só então vai dar carinho ao outro homem de sua vida.

Vicente: Como você está ?

Samuca: Cansado. Esses dias que tirei pra descansar, seu filho me sugou.

Vicente: Estou muito ausente não é ?

Samuca: Claro que não, é só fase, daqui a pouco ele cresce.

Samuca coloca o filho no quarto e ajuda Vicente a tomar um um banho, preparando um lanche pra ele em seguida.

Vicente: Adoro quando você cuida assim de mim.

Samuca: Olha doutor, acho que você dá mais trabalho que o Leandro!

Vicente: Mas você adora.

Os dois ficam namorando na cama e Samuca aproveita para ganhar um colo, acariciando o peito do seu amor, enquanto recebe um cafuné nas costas.

Vicente: Samuca, o Leandro tá acabando com seus cabelos, tá te deixando careca, suas entradas estão mais largas.

Samuca: E você, que já esta com a barba cheia de fios brancos.

Vicente: É charme.

Vicente beija Samuca, esfregando sua barba no pescoço dele, o deixando todo arrepiado.

Aquele momento é interrompido pelo choro de Leandro no outro quarto.

Vicente: Deixa que eu vou ver.

Vicente abre a porta e Leandro já está no corredor, invadindo o quarto e chorando.

Vicente: O que foi filhão ?

Leandro: Pai, tem um monstro no meu quarto. Ele é grandão assim.... E disse que ia me comer.

Vicente: Hum, monstro ? Tô sabendo.

Samuca: Vicente, vai lá matar ele.

Vicente: Deixa com o papai.

Vicente dá uma piscada pra Samuca e vai para o outro quarto, fingindo que falava com alguém.

Simulando uma luta, faz muito barulho, voltando para o quarto todo ofegante.

Vicente: Pronto, matei ele. Agora meu principezinho pode voltar para o quarto.

Todo manhoso, Leadro já havia entrado no colo de Samuca, fazendo-se de desentendido e sem a mínima pretensão de sair daquela cama.

Samuca: Acho que vamos dormir nós três juntos, Vicente.

Leandro: Vamos fazer cabana pai ?

Samuca: Nada disso, é pra dormir e você está de castigo. Esqueceu do que aprontou hoje ?

Leandro: Papai, porque a Flora não veio hoje ?

Samuca: Filho, ela mora na casa dela, ela só vem de vez em quando.

Leandro: Porque você não pega ela pra ficar com a gente ?

Samuca: Não pode, ela tem a mamãe e o papai dela.

Leandro: Fala pra eles dar ela pra gente!

Samuca acha graça: - Você queria que eu desse você para os outros ?

Leandro: Não.

Vicente: Então. Agora cadê meu beijo de boa noite ?

Leandro beija os dois pais, e com as baterias finalmente esgotadas, adormece, parecendo um anjinho, nem lembrando de longe aquele garoto endiabrado.


Quando não ficava na casa de Teresa, Samuca deixa o filho na casa da mãe e às vezes até na casa de Antônio.

Leandro apronta por onde passa, não poupando nem mesmo a avó.

Samuca: Poxa, demoraram!!!

Vicente: Estava escutando um sermão da sua mãe.

Samuca: Porque ?

Vicente: Pergunta para o seu filho aí.

Leandro: Eu não fiz nada papai.

Vicente: Ele prendeu sua mãe no banheiro e ela ficou horas gritando até sua irmã chegar e abrir a porta.

Samuca: Você fez isso filho ?

Leandro: A Flora tava na escola e não tinha ninguém pra brincar comigo, daí eu fui brincar com a vovó. Mas aí eu perdi a chave e ela ficou gritando. Ela ficou bem nervosa, mas eu adoro a Vovó Marta! Eu vou ficar de castigo ?

Vicente: Dessa vez não, mas não pode fazer isso.

Vicente queria dar uma dura no filho, mas estava fazendo de tudo para segurar o riso. Sua vontade era de gargalhar, só de pensar na sogra trancada e gritando.

Mas chocados mesmo, eles ficaram quando foram buscar o filho na casa de Antônio e encontraram o todo poderoso empresário de quatro no chão da sala e o filho em cima dele, brincando de cavalinho, com Flora e Helena rindo e tirando fotos dos dois.

Vitória e Henrique também se acertaram, formando uma linda família ao lado de Flora. Henrique se firmou como delegado de polícia, enquanto Vitória a principal diretora da rede de lojas de Antônio.


Cena 18 - Casa de Marina - Jardim - Manhã - Ao som de instrumental 'Partidas e Reencontros' - Alexandre Guerra


Marina está sentada em um banco do jardim de sua casa, enquanto seu filho Jonatas brinca no balanço.

Doméstica: Licença, Dona Marina. Chegou essa carta pra senhora!

Marina pega a carta.

Doméstica: Com licença! - Diz, se retirando.

Marina olha para aquela carta, que não tem remetente.

Enquanto se balança, Jonatas se distrai vendo uma borboleta amarela que pousa em seu braço.

Estranhando, Marina abre aquela carta e começa a ler.


"Olá, Marina.

Bom, como eu posso começar essa carta... A verdade é que nem eu mesmo sei. Eu imagino que você possa ter muitas dúvidas, e isso é algo perfeitamente natural. Depois de tudo o que aconteceu com você, é um milagre que tenha conseguido seguir em frente.

Bom, primeiramente eu gostaria de dizer algo que pode não ser fácil para você, mas não há outra forma de amenizar isso. Eu sou o pai do seu filho. Eu, Viriato, o jardineiro que trabalhou há mais de dez anos para a sua família. Como isso é possível, você deve estar se perguntando, já que mal nos falávamos.

Eu te dopei com remédios fortes por várias e várias noites, durante anos. E fiz amor com você incansáveis vezes... Você com certeza deve ter desconfiado, mas sequer poderia ter imaginado que era isso, não é mesmo ? Que era eu desde o início. Que fui eu quem plantou essa sementinha em sua barriga. Ah, e a propósito, sua mãe não estava louca quando achava que a casa era assombrada. Não tinha assombração alguma, era eu desde o início perturbando a sua família. Sim, eu tinha a cópia da chave. O porquê que eu fiz isso ? Porque eu gosto de entrar na vida das pessoas e brincar com elas como se eu mesmo decidisse seus destinos. É o que eu faço a minha vida inteira, a cada emprego que eu arrumo. Mas com você foi diferente. Você eu amei de verdade, e como sabia que nunca te teria, eu mesmo dei um jeito nessa situação. Eu fiz você me ter! E só Deus sabe o ciúme que eu sentia daquele franguinho que era seu noivo. Mas dei um jeito nele também. Gostaria de ser uma mosquinha pra ver a sua cara agora, enquanto lê essa carta. E gostaria também que toda vez que você olhasse para o seu filho - O nosso filho, você se lembrasse de mim. De todas as vezes que eu te estuprei com toda vontade que tinha, como minha puta particular e você sequer sabia... Toda vez que olhar para ele, se lembre de mim. O pai do seu filho!

Com amor, Viriato. O homem da sua vida."


Marina termina de ler aquela carta.

Um muito de sentimentos como náusea, desespero e revolta passam por sua mente.

Ela começa a chorar compulsivamente, em pânico, enquanto olha Jonatas mais a frente, que sorri inocentemente para ela.

Marina o olha, enjoada, e se levanta imediatamente.


Enquanto isso, em Portugal, Viriato chega com suas malas em uma enorme mansão com uma piscina na frente.

Ele é recebido por um casal de meia idade, Mônica e Flávio, e por Rita, a filha adolescente deles.

Flávio: Seja vem vindo, fez uma boa viagem ?

Viriato: Maravilhosa. Só de ter tido a chance de ser o caseiro de uma casa como essa... Qualquer viagem cansativa vale muito a pena!

Flávio: Que bom. Venha, vamos te mostrar a casa.

Viriato sorri, enquanto os acompanha.

Ele olha de canto para Rita, notando os seios e as pernas da jovem.

Viriato fica sério, mergulhando em seus pensamentos mais sombrios.


Cena 19 - Mar Aberto - Tarde - Ao som de Roda Gigante II - Marcelo Mira


Enquanto isso, em algum lugar do mundo....

Aquele iate luxuosíssimo rasgava o mar, se perdendo naquela imensidão.

Debaixo daquele sol brilhante, se servindo de mais uma taça de champanhe, Mirella escuta seu nome ser gritado mais ao fundo.

Mais linda e loira do que nunca, Mirella cruza aquele barco, indo até onde está um senhor já na casa dos 70 anos de idade.

Mirella: Me chamou tigrão ?

Velho: Senta aqui no meu colinho, minha tigresa!

Sensualmente, Mirella se senta em cima dele.

Velho: Tá gostando do passeio ?

Mirella: Adorando!!! Só acho uma pena sua família me odiar, achar que só estou interessada em seu dinheiro. Fico tão mal com isso, sabe! Será que eles não entendem que nosso amor é puro, verdadeiro ? Por isso não quero mais voltar ao Brasil.

Velho: Esquece eles, minha tigresa!

Mirella: Meu tigrão. Sinto que minha vida começou de verdade, quando lhe conheci. Senti aquele arrepio e só então pude entender o que é o amor de verdade. Você foi o segundo homem que tive em minha vida, eu te amo tanto!

Velho: Também te amo, minha galega!

Aquele velho começa a passar suas mãos enrugadas no corpo dela, mordendo seus ombros.

Prendendo a respiração e tentando não transparecer o nojo, Mirella o beija de língua, enquanto passa a mão pelo short dele.

Mirella: Tigrão tarado, foi só um aperetivo viu, quero sentir toda sua potência e sua pegada a noite, meu garanhão.

Velho: Se prepare então, essa noite vou lhe dar uma canseira, será a melhor da sua vida.

Mirella olha para aquele velho com seu olhar sedutor.

Mirella: Digo o mesmo. Hoje você terá uma noite maravilhosa e quero que você aproveite como se fosse a última de sua vida!

Mirella abraça aquele rico velho e indefeso, dando uma piscada para o piloto da lancha, um homem todo forte, sarado e tatuado.

Em seguida ela pisca para a câmera sorrindo.


Cena 20 - Praia Deserta - Manhã - Ao som de Another Love - Tom Odell


Samuca, Vicente, Flora e Leandro chegam à casa de praia de Antônio, para passarem as férias juntos.

O sol brilha forte no céu.

A água está azul e cristalina, e a areia branca e limpa, como se fosse um sonho.

Samuca usa uma roupa branca, descalço, sentindo apenas a areia quente em seus pés.

Olhando para o mar, ele se vira vendo Vicente se aproximando, sorrindo.

Os dois levam Leandro para ver o mar pela primeira vez, e molham os pés dele na água.

O menino fica fascinado ao ver aquelas águas sem fim, sumindo no horizonte.

Flora brinca na água, feliz, sob o olhar atento dos tios.

As crianças se esbaldam em seu paraíso particular. Correm, se lambuzam de areia e fazem castelinhos.

Vicente abraça Samuca e fica assistindo eles se divertirem.

Vicente: Já faz um tempo que quero te perguntar isso. Samuca, você é feliz ?

Samuca se solta do seu amor, ficando de frente a ele, olhando no fundo dos seus olhos. Os dois usam a corrente dourada no peito, que brilha com os raios de sol refletido sobre elas.

Antes de dizer algo, Samuca olha para a praia, vendo Flora e Leandro correndo na areia, e em seguida olha novamente para Vicente.

Com um sorriso no rosto, responde a pergunta do seu amor.

Samuca: Sou sim, sou o homem mais feliz desse mundo. Você me fez o cara mais feliz desse mundo, Vicente! Você me mostrou a felicidade novamente, quando me salvou.

Vicente sorri como um bobo, ficando todo emocionado.

Vicente: Eu também sou muito feliz, sou o cara mais feliz desse mundo. Obrigado por me dar seu amor.

Samuca não esperava, mas depois de anos juntos, Vicente lhe daria ali, a maior prova de amor de sua vida.

Segurando nas mãos de Samuca, ele a leva até seu peito, repousando-a em seu coração.

Samuca sente aquele coração pulsar em sua mão, sob aquele pêlos macios.

Vicente: Quando você sentir saudade dele, me abrace. E quando sentir saudade de mim, me abrace também.

Samuca sorri, emocionado. Jamais esperaria um gesto como esse.

Samuca: Já lhe disse que te amo doutor ?

Vicente: Não sou doutor, sou seu marido.

Samuca: É meu amor. Eu te amo, meu amor.

Vicente: Eu te amo muito, Samuca.

Os dois dão um selinho bem calmo e se abraçam.

Vicente se afasta.

Vicente: Agora vem. Vamos entrar na água!

Samuca: É pra já!

Os dois correm para o mar. Um joga água no outro, mergulhando, rindo e se divertindo.

Após um tempo, Samuca e Vicente já estão cansados enquanto Flora e Lendro vendem disposição.

Vicente: Ei, vamos tirar uma foto.

Flora: Adoro tirar foto.

Samuca: Vem, Leandro!

Samuca e Vicente se sentam um ao lado do outro, enquanto Flora senta com Leandro em seu colo.

Leandro faz uma careta, enquanto Flora fazia uma linda pose, segurando o irmão.

Vicente e Samuca se olham, os dois felizes e realizados com a linda família que formaram.

Vicente ergue o braço para cima, posicionando o celular.

Com a outra mão segura o rosto de Samuca, que não para de rir, beijando sua bochecha e rindo junto com ele, enquanto olha para a câmera.

Registraram naquela foto, mais um dos inúmeros momentos felizes que tiveram em suas vidas.


Imagem de Samuca, Vicente, Flora e Leandro congela em um efeito preto e branco, ficando fixo na tela por longos segundos.


FIM ?


Se encerra na música de abertura Sem Limites - Fábio Jr.


2023 - DNA

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