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Seguindo em Frente | Capítulo 05


Novela criada e escrita por

Igor Fonsêca


A seguir

Seguindo em Frente - Capítulo 5 +14


Cena 01 - Rodoviária - Tarde - Ao som de Adágio in G Minor - Tomaso Albinoni


O ônibus chega na plataforma. Os passageiros vão entrando e Samuca olha para os lados, na esperança de ver Bruno todo suado, de tanto correr devido ao atraso.

Samuca: Cadê você, Bruno!

Motorista: Você vai entrar ?

Sem saída, Samuca diz que não. As lágrimas já descem involuntariamente.

O coração dele se acelera ao ver o ônibus partindo.

Samuca: Você prometeu que não ia me abandonar, você prometeu! - Diz, sentado em um banco da plataforma. Apesar de ter perdido o ônibus, ele continua esperando.

Aquela tarde fria aos poucos vai acabando. Samuca estava quase adormecendo sentado, quando escuta seu nome sendo chamado. Ele olha pra frente e se levanta, surpreso.

Samuca: Você ?

Samuca tenta se recompor, e limpa algumas lágrimas que insistem em cair de seus olhos.

Samuca: Porque você está aqui ?

Luan não faz uma boa cara.

Samuca: Cadê o Bruno ? Ele desistiu de mim ? - Pergunta, aflito.

Luan: Eu preciso que você fique calmo.

Samuca: Não fico! Ele está atrasado há horas e não atende o telefone. Foi o trânsito ? O que aconteceu ?

Samuca insiste em ter uma resposta, mas Luan está abatido, como se quisesse dizer algo.

Luan: Venha comigo!

Samuca: Pra onde ? Eu não posso, estou esperando o Bruno! Ele tá atrasado, mas não tem problema, a gente pega o próximo ônibus! Eu... A gente... Ele prometeu que...

Luan o interrompe.

Luan: Você precisa ser forte!

Samuca: Forte porque ? O que está acontecendo ?

Samuca começa a chorar, sentindo uma forte angústia.

Samuca: Ele não vai vir ? Ele me abandonou, é isso ?

Luan abaixa a cabeça, tentando se controlar, mas começa a chorar também.

Luan: Aconteceu algo... Ele não vai vim, Samuca.


Cena 02 - Casa de Luan - Tarde - Um dia antes - Tarde


Samuca: Estava contando as horas pra te ver!

Samuca e Bruno se beijam.

Samuca: Acabei de entregar os documentos pra Marina. Ela vai resolver algumas questões da faculdade pra mim.

Bruno: Que bom. E melhor ainda, é que o Luan não vai passar essa noite em casa. Temos tudo isso todinho pra nós!

Samuca sorri.

Samuca: Eu estou muito ansioso. Só falta um dia pra nossa felicidade estar completa! Nada mais nos separa. Mas você que parece meio triste...

Bruno: Ah, o de sempre. Minha casa, meu pai... Hoje no café ele me humilhou muito, parece que faz questão disso! Ele não lembra nem de longe aquele homem que era no passado. Não éramos apenas pai e filho, e sim amigos! Companheiros... Como as pessoas podem mudar tanto, até mesmo quem a gente ama!

Samuca: Não se preocupe mais com isso. A nossa vida agora será outra.

Bruno: É isso. Machuca um pouco, mas vai passar!

Samuca: Mas é só isso mesmo ? Parece que outra coisa está te incomodando...

Bruno resolve esconder outra coisa que aconteceu para não pesar ainda mais o ambiente, ao menos por enquanto.

Bruno: Vamos deixar isso pra lá, depois conversamos. Agora eu quero mesmo é te curtir. Vamos aproveitar nossa última noite nessa cidade!

Samuca esquece de suas preocupações por um instante e o beija.


Ao som de Living in the Shadows - Matthew Perryman Jones


Os dois vão para o quarto, se pegando pelo caminho, aos risos.

Samuca joga Bruno na cama e tira sua camisa, em câmera lenta.

Bruno: Vai fazer um strip tease pra mim ?

Samuca: Melhor!

Bruno senta na cama, puxando Samuca pra um beijo, ao mesmo tempo em que têm suas roupas arrancadas.

Bruno vira Samuca de bruços, beijando as costas dele com a língua até chegar até a bunda, onde dá algumas mordidas. Samuca se vira até ele e os dois se beijam com amor.


A luz da lua entra pela janela. Samuca está nu, deitado com o rosto no peito de Bruno, escutando seu coração e brincando com o pingente que havia lhe dado durante a viagem à praia.

Bruno: No que está pensando ?

Samuca: No nosso futuro. Eu tô tão feliz e esperançoso...

Bruno: E o que você vê nesse futuro ?

Samuca: Vejo você todo de branco no hospital. O Doutor Bruno! E eu, sujo de terra, visitando obras. Os dois formados e bem sucedidos!

Bruno: Vai ser exatamente desse jeitinho. Eu médico e você engenheiro. Mas me conta mais, eu adoro te ver falar...

Samuca: Filhos. Quero filhos! Uma família!

Bruno: Meu amor! Mal posso esperar pra chegar amanhã.

Samuca: Vamos ser felizes, né ?

Bruno: Claro que vamos. Confia em mim! Eu vou ajeitar as coisas. Ah, lembrei de algo!

Bruno se levanta e retira seu pingente com a metade do coração do seu pescoço.

Samuca: Você não quer mais ?

Bruno: Claro que quero, é apenas pra você se lembrar de mim. Faz de conta que está levando meu coração junto com você! Amanhã começamos uma nova fase. E aconteça o que acontecer, eu sempre vou te amar!

Samuca sorri pra ele, e os dois se deitam agarrados, até adormecerem. Ao acordarem, tomaram um demorado banho quente e acertaram os detalhes para a viagem de mais tarde.

Bruno: Vou me despedir de minha mãe e pegar umas coisas.

Samuca: A gente se encontra na rodoviária então.

Bruno já está saindo, mas Samuca vai atrás.

Samuca: Espera.

Bruno: O que foi ?

Samuca não diz nada e apenas dá um beijo intenso e demorado em Bruno, segurando seu rosto.

Bruno: Fica tranquilo. Mais tarde estaremos juntos pra sempre, só nós dois! - Diz, com um enorme sorriso estampado no rosto. Em seguida, dá costas para Samuca, partindo.

Samuca: Vai com Deus...






Cena 03 - Casa de Samuca - Sala - Manhã - Ao som de The Departure - Max Richter


Samuca entra no quarto de Marta, que ainda dorme, e dá um beijo na testa dela. Em seguida, pega suas malas e se despede de Vitória. Já Bruno aproveita pra se despedir de sua mãe. Ele pega suas coisas e se despede de Helena, sem contar que está indo embora.

Helena: Não vai nem tomar um café ?

Bruno: Eu tenho uma coisa muito importante pra fazer. Mas eu volto, pela senhora. Beijo!

Ele dá um beijo na testa dela e um abraço, e em seguida vai embora.

Helena: Não demore. Vou te esperar pro jantar!

Na frente de casa, já tem um carro lhe esperando. Ele passa na casa de Marina e se despede de sua amiga, e pega suas malas que estão lá. Já a caminho da rodoviária, Bruno pensa no rumo que está dando em sua vida, enquanto vê as árvores e os prédios passando rapidamente pela janela do carro. O céu e as nuvens parecem mais baixos que o normal, naquela manhã fria. Pensativo, Bruno sente que falta algo pra virar de vez essa página e começar uma nova etapa. Ele pede para o motorista mudar o caminho e vai até a loja de seu pai. Nem que fosse para um último adeus.


Cena 04 - Loja de Antônio - Manhã - Ao som de Escravidão - Eduardo Queiroz


Bruno anda devagar até a sala de seu pai. A loja está vazia e não tem nenhum funcionário, pois ainda é muito cedo. Alguns reflexos da luz do dia insistem em entrar pelas frestas da cortina fechada. Já a luz fraca do corredor pouco ilumina o rosto de Bruno. A passos lentos, ele se sente nervoso.

Bruno para em frente à porta, que está entreaberta. Ele escuta uma conversa de seu pai com alguém ao telefone.

Antônio: Como isso estava acontecendo debaixo do meu nariz e eu não percebi ? Obrigado por ter me avisado. Vou tomar uma atitude agora mesmo! - Diz, desligando o telefone.

Antônio: Se o Bruno tá pensando que vai jogar a vida dele fora por causa daquele sodomita, tá muito enganado! Hoje eu acabo com isso de uma vez por todas!

Bruno entra na sala.

Bruno: É mesmo ? E o que você irá fazer ?

Antônio se assusta com a presença dele.

Antônio: Você está fazendo a maior burrada da sua vida. Abandonando sua família!

Bruno: Eu quis conviver em paz, pai... Mas você me odeia. Me desculpa se eu não fui o filho que você sonhou! - Diz, com os olhos cheios de lágrimas.

Antônio: Você não sabe o que você tá falando, você tá confuso. É só uma fase, eu posso te levar pra um lugar onde eles podem te fazer bem!

Bruno: Ah, agora você quer me internar ? Meu Deus... Eu nunca imaginei isso!

Antônio: Me escuta, é só uma fase!

Bruno: Não é fase! Eu sou gay, pai. Gay! Viado, sodomita. Como você preferir!

Antônio: Cala a boca...

Bruno: E se isso te ofende, é mais um motivo pra eu ir embora. Eu só vim me despedir porque eu ainda tinha alguma esperança, mas pelo visto foi um erro. O homem que eu amo está me esperando. Adeus!

Bruno se vira e sai, com pressa.

Antônio: Eu não vou deixar. Eu não vou deixar!

Antônio larga tudo e vai atrás dele.

Bruno percebe seu pai vindo e corre, mas não vê mais o táxi que o aguardava lá fora.

Bruno: Merda!

Bruno sente um pressentimento ruim e sai correndo na rua, achando que seu pai pode fazer algo para impedi-lo de ir embora.

Antônio anda apressado atrás dele.

Antônio: Ainda não terminamos!

Bruno: Me deixa em paz!

Bruno entra em uma praça cheia e acha que despistou seu pai, mas se surpreende ao vê-lo na sua frente.

Bruno: Pai!

Antônio: Eu não vou deixar você fazer isso!

Bruno: Pena que isso não depende de você, eu sou maior de idade e dono do meu próprio nariz! Eu achei que você me amasse. Você era o meu ídolo, o meu herói! Mas hoje vejo o quanto você me odeia!

Antônio: Não fale assim, meu filho...

Bruno: Não me chama de filho!

Antônio: Eu só quero o seu bem... Vamos voltar e conversar. Quem sabe você desiste dessa ideia de ir embora com aquele marginal!

Bruno olha com decepção para seu pai.

Bruno: Você não sabe de nada! Adeus.

Bruno vira as costas e começa a correr, em busca de algum táxi.

Antônio: Volte aqui, moleque! Eu sou o sei pai!

Bruno vira uma esquina, sumindo das vistas de Antônio.

Antônio aperta o passo, mas para em seguida ao ouvir o barulho de uma freada e de uma forte pancada.


Ao som de Adágio in G Minor - Tomaso Albinoni


Antônio fica paralisado por alguns segundos, e sente uma grande adrenalina tomar conta de seu peito.

Antônio: Bruno ? - Balbucia, quase sem voz.

Ele corre o máximo que pode até virar a esquina, em busca de seu filho. Começa uma forte tempestade. Logo ele vê um carro parado no meio da rua, com a lataria toda amassada e o vidro quebrado. Ele se aproxima mais e vê várias pessoas se aglomerando no meio da rua. Antônio anda até elas, as empurrando desesperadamente, como se tivesse prevendo algo. Até seus olhos confirmarem o que ele não queria.

Antônio se ajoelha no chão.

Antônio: Não, não. Meu filho não! BRUNOO!


Imagem de Antônio congela em um efeito preto e branco, ficando fixo na tela por longos segundos.


Continua.


Encerramento em silêncio.


2023 - DNA

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1 Comment


Odair Rodrigues
Odair Rodrigues
May 18, 2023

As emoções ficam mais intensas a cada capítulo, sempre deixando no leitor o gosto de quero mais.

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