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Seguindo em Frente - Capítulo 7 +14
Cena 01 - Hospital - Quarto de Bruno - Começo de Noite - Música instrumental 'Carolina' - Eduardo Queiroz
Samuca beija a testa de Bruno e acaricia seus cabelos.
Samuca: Que susto você me deu, hein. Eu fiquei te esperando, mas não tem problema. Eu espero pra sempre se for preciso... Se levanta logo daí pra gente poder realizar nossos planos juntos!
Samuca olha para ele, emocionado.
Samuca: Eu sei que você me escuta! - Diz, enquanto acaricia o corpo de Bruno, passando a mão em seu peito, que pulsava. Sentindo o coração dele batendo forte.
Assim como aconteceu com Antônio, Bruno aperta os dedos de Samuca.
Samuca se emociona.
Samuca: Eu sabia! Eu sabia que você podia me ouvir. Eu te amo, meu amor!
Samuca beija a mão de Bruno, chorando de emoção.
Bruno continua segurando os dedos de Samuca.
Samuca: Eu quero que você saiba que eu te amo muito. E nada vai nos impedir de sermos felizes juntos! Lembra que você falava pra eu sempre confiar em você, que você daria um jeito ? Então. Eu acredito em você!
Samuca passa o nariz pela mão de seu amado, sentindo seu cheiro.
Samuca: Tão bom ver seu pulso batendo forte... Meu amor. Não demora pra ficar bom. Senão quem vai cuidar de mim ?
Samuca quase cochila, ali abraçado com Bruno, quando a enfermeira Sônia bate na porta, indicando que é hora de ir embora.
Samuca: Bruno, eu vou ter ir agora, mas prometo que todo dia estarei aqui. E que darei um jeito de te ver! Lembra que você me deu seu coração pra me tranqüilizar ? Então... Faz de conta que eu carrego um pedacinho seu!
Antes de deixar o quarto, Samuca se despede mais uma vez com um beijo na testa de Bruno, enquanto suas lágrimas caem.
Samuca: Eu preciso de você. Você é a minha força, não me abandona não!
Samuca limpa suas lágrimas e lentamente foi soltando seus dedos que estavam presos na mão de Bruno, que parecia não querer soltar.
Samuca: Eu te amo... - Diz, baixinho, enquanto sai.
Ali, deitado naquela cama, uma gota de lágrima escorre por um dos olhos de Bruno, que segue imóvel.
Cena 02 - Corredor - Noite - Ao som de Movimento de Inverno - Alexandre Guerra
Samuca: Eu nunca vou poder agradecer o que você fez por mim hoje!
Sônia: Eu só não sei se será possível mais vezes, mas quando a família estiver ausente, se você estiver por perto eu te ajudarei!
Samuca: Porque você está fazendo isso por mim ? Me ajudando dessa forma ?
Sônia: Olhe pra você. Pra seu estado... Você acha mesmo que eu precisaria de algum outro motivo pra ajudar uma pessoa a ver quem ela ama ?
Samuca abraça novamente aquela enfermeira desconhecida e em seguida deixa o hospital, com o coração mais confortável.
Cena 03 - Dois dias se passam. - Os dias estão escuros e nublado - A rotina de Samuca não muda, e ele praticamente se vê morando no hospital, indo descansar na casa de Marina que lhe dá total apoio. Mais confiante depois de ter visto Bruno, ele resolve fazer uma visita a sua mãe.
Cena 04 - Casa de Marina - Porão - Manhã
Viriato concerta a parede do porão da casa de Marina. Ele percebe que a parede é oca, e ao tirar alguns tijolos que estavam podres, vê um caminho com uma escada velha de madeira que parece dar acesso ao sótão da residência.
Viriato: Que raio de casa velha é essa. Mas se bem, que...
Ele fica em silêncio, pensando em algo. Sempre com seu olhar misterioso. Após alguns segundos de transe ele parece despertar e volta a tampar o buraco com alguns tijolos novos e massa.
Cena 05 - Casa de Marta - Sala - Manhã
Marta: Samuca, por onde andou esse tempo todo ?
Vitória: Você não...
Marta: Fala, onde você esteve ? Que cara inchada é essa ?
Samuca: O Bruno sofreu um acidente. Não viajamos mais, ele está internado!
Sua mãe e sua irmã fazem uma série de perguntas, mas Samuca tenta ser o mais breve possível. Só queria tomar um banho e pegar alguns pertences. Quando estava saindo, sua mãe o aborda.
Marta: Pra onde você vai ?
Samuca: Pra casa da Marina e depois pro hospital!
Marta: Samuca, eu sei que não é a hora, mas... Eu acho que tudo isso que tá acontecendo, é um sinal!
Samuca: Sinal de que ?
Marta: De que nunca daria certo. Porque não é o correto! Deus escreve certo por linhas tortas.
Samuca olha para o rosto de sua mãe. Destruído por dentro, ele pensa em responder, mas desiste. Simplesmente pega suas coisas e vai embora, deixando-a sozinha no cômodo.
Marta o vê indo, e no fundo fica triste por ele.
Cena 06 - Ao som de Central do Brasil - Antônio Pinto
O dia amanhece - Imagens aéreas de São Paulo - As pessoas vêm e vão em suas rotinas
Cena 07 - Hospital - Sala de Rogério - Manhã - Ao som de The Departure - Max Richter
Antônio: Já faz dias que meu filho está nesse estado e não progride. Não me esconda, doutor! O que está acontecendo ?
Dr. Rogério: A situação dele é muito grave. Fizemos tudo que está a nosso alcance, mas ele não reage...
Antônio: Faça mais! Eu pago, eu te dou o dinheiro que você quiser! Eu posso pagar qualquer tipo de tratamento, até fora do país!
Dr. Rogério: Acho que o seu dinheiro não serve pra absolutamente nada nesse momento. Não existe tratamento pra um estado vegetativo. Pra uma melhora, só depende dele mesmo!
Antônio se sente cada vez mais aflito.
Dr. Rogério: Eu te chamei aqui pra te deixar claro alguns pontos. Se ele melhorar, existe uma grande possibilidade de adquirir algumas seqüela!
Antônio engole seco.
Dr. Rogério: Não temos como saber quais, até que ele acorde! O senhor precisa estar preparado.
Antônio: Eu só quero que ele viva. Por favor, Doutor. Não o deixe morrer!
Dr. Rogério: Isso também é uma possibilidade. Assim como é uma possibilidade ele escapar dessa 100% ileso!
O médico continua falando, mas Antônio não o escuta mais. O desespero toma conta de uma alma, do seu ser. Jamais pensou que passaria por tanta angústia e sofrimento como o que está passando. Ele sai da sala andando devagar, desorientado e sem forças, e se escora em uma parede. Totalmente abatido e nem de longe lembra o homem forte e elegante que era até poucos dias atrás.
Samuca o observa de longe, aflito, pois sabia que o médico havia dito algo e ele queria saber o que é. Mesmo sabendo que seria hostilizado, Samuca se aproxima de Antônio. Era a única maneira de ter notícias de Bruno.
Samuca: Como ele está ? O que o médico disse ?
Antônio continua em silêncio, olhando para o nada.
Samuca: Por favor...
Sem olhar pra ele, Antônio o responde.
Antônio: Estou perdendo o meu filho...
Samuca: Não. Ele vai sair dessa! - Samuca toca no ombro do sogro, que permanece imóvel.
Pela primeira vez os dois têm um contato sem brigas e ofensas, mas o clima é quebrado por Heitor que chega exaltado.
Heitor: Por favor, não atormente o meu tio!
Samuca: Eu não...
Antônio parece voltar a consciência.
Antônio: Por favor, vai embora. Respeite a nossa dor!
Samuca: Sua dor também é minha!
Antônio nem discute, apenas pega suas coisas e sai, sendo seguido pelo sobrinho.
Samuca os olha indo embora, e afrouxa o botão de sua camisa, sufocado.
Cena 08 - As horas se passam - Recepção do Hospital - Noite
Antônio sai com Helena. Samuca os vê indo embora pelo vidro da janela.
A enfermeira Sônia aparece atrás dele.
Sônia: Achei que não viria hoje!
Samuca: Eu nunca deixaria de vir.
Sônia: Vamos ?
Cena 09 - Hospital - Quarto de Bruno - Noite - Ao som de Living in the Shadows - Matthew Perryman Jones
Samuca se aproxima do rosto de Bruno, beijando sua testa e acariciando seus cabelos, tal qual a última vez. Ele segura a mão do amado.
Samuca: O que está acontecendo, meu amor... Eu estou aqui esperando por você!
Diferente do outro dia, dessa vez Bruno não aperta a mão de Samuca.
Samuca: Um dia ainda vamos rir disso tudo. Você vai ver! Você ainda vai rir do meu desespero. E se você sair dessa, eu prometo que te deixo ter quantos cachorros você quiser! - Promete, sorrindo.
Samuca: Aperta meu dedo, que nem aquele dia!
Bruno segue estático.
Samuca derrama algumas lágrimas, sentindo que Bruno está diferente. Vendo que seu pedido não é atendido, passa a mão no peito do seu amado, sentindo seu coração pulsar. E pulsa bem fraquinho.
Samuca chora: - Eu te prometo, nós vamos sair daqui juntos e seremos felizes! Meu amorzinho... Eu ainda vou ver aquele seu sorriso de canto que eu tanto amo! - Afirma, se despedindo se seu amado e saindo da UTI. Foi só Samuca sair, que, com muita dificuldade, Bruno mexe um de seus dedos.
Cena 10 - Hospital - Recepção
Samuca está indo embora, quando se depara com Dr. Rogério. Sem pensar duas vezes, pergunta sobre a saúde de Bruno, e após muita insistência e vendo a preocupação do rapaz, o Doutor se compadece e abre o jogo.
Samuca: Então quer dizer que... Ele nunca vai acordar ? E se acordar, vai ser com seqüelas ?
Dr. Rogério: Temos que estar preparado pra tudo. Mas também não descartamos a chance de que ele desperte a qualquer momento como se nada tivesse acontecido, sem apresentar nenhuma seqüela.
Samuca: É isso que vai acontecer. Eu tenho certeza, o Bruno nunca se deu por vencido por nada nessa vida. - Diz, tentando manter uma certa esperança, tentando acreditar que todo aquele sofrimento terá um final feliz.
Cena 11 - Capela do Hospital - Noite - Ao som de Adágio in G Minor - Tomaso Albinoni
Samuca está indo embora, quando passa em frente à capela do hospital, que está quase vazia. Ele resolve entrar e se ajoelha em um banco mais afastado, olhando para o altar.
Samuca: Porque, meu Deus ? Porque está me castigando ? Porque permite que tantas vidas sofram dessa forma ? Eu te imploro! Salve o meu amor!
Samuca não se controla e começa a chorar compulsivamente. No altar, está a estática imagem de nossa senhora, com as mãos voltadas para o céu.
Samuca: Se eu pudesse, eu trocava de lugar com ele! Por favor, salve o Bruno...
Samuca implora de joelhos pela melhora de Bruno, e nem percebe que na fileira ao lado uma mulher o observa. Quando nota que estava sendo observado, se recompõe, mas aquela estranha se aproxima.
Teresa: Está tudo bem com você meu filho ?
Samuca apenas abaixa a cabeça, chorando baixinho.
Teresa se senta ao seu lado, segurando suas mãos.
Teresa: Não sei o que se passa com você, mas tenha fé, creia, acredite.
Samuca: Só pode ser um castigo...
Teresa: Deus não castiga ninguém...
Samuca: Então porque esta fazendo isso com meu amor ? Porque não o salva?
Teresa: Deus tem um plano para cada um de nós, nenhum sofrimento é em vão. Você precisa ter fé. Tudo vai dar certo!
Samuca: A senhora fala isso porque não está passando pelo que estou passando, não consegue imaginar a dor que estou sentindo.
Teresa: Eu acho que consigo sim. Eu estava em minha casa e o médico nos ligou. Meu filho está internado aqui há meses, seu estado é muito crítico e hoje seu médico nos disse que dificilmente ele passará dessa semana.
Samuca a escuta falar, surpreendido.
Teresa: Ele é apenas um rapaz assim como você, com a vida toda pela frente.
Samuca se sente envergonhado. Aquela mulher está em uma situação até pior do que a sua mas mantém-se forte e esperançosa.
Samuca: A senhora não se revolta ?
Teresa: Me revoltar ? Eu amo muito meu filho, mas coloquei nas mãos de Deus. Estou rezando com toda minha fé, mas se esse for o destino do meu filho, que Deus esteja com ele.
Samuca: Eu queria ter essa fé...
Teresa: Vamos rezar juntos.
Samuca: Eu não sei se consigo. Não sei se tenho mais fé.
Teresa: Mas tem amor. Vamos ?
Ela estende a mão pra ele. Os dois se ajoelham e começam a rezar. Com os olhos fechados, Samuca clama a Deus por um milagre. Até que ele sente um beijo em sua cabeça e a presença daquela mulher sumindo.
Samuca permanece mais um tempo naquela capela, até que vai embora. Em sua cabeça ainda permanece as palavras daquela mulher, que fizeram suas esperanças serem renovadas.
Cena 12 - Casa de Marina - Sala - Manhã
Samuca se levanta após ter tido uma noite de sono mais tranquila.
Marina: Bom dia, dormiu bem ?
Samuca: Dormi sim.
Marina: Quais os planos pra hoje ?
Samuca: O que você quiser. Tenho a manhã toda só pra ti!
Marina prepara um almoço especial e logo eles tiveram a companhia de Luan, que aparece de surpresa.
Marina: Visita a essa hora ?
Luan: Qual é, vai negar um prato de comida ? - Diz, entrando na cozinha sem a menor cerimônia e abrindo a tampa das panelas.
Luan: O cheiro tá bom!
Samuca: Senta aí!
Os três ficam conversando de maneira descontraída, até que a tarde chega e Samuca se arruma pra ir tentar ver Bruno, seu ritual de todos os dias.
Marina: Espera, vamos com você!
Samuca: Então vamos.
Marina: Pera aí, vou ligar pra empregada do Seu Antônio. Eu tenho amizade com ela, ela me diz tudo, rs. Só pra não ter risco de você dar de cara com ele lá.
Samuca: Você pensa em tudo!
Marina faz a ligação e obtém as informações que queria.
Samuca: E aí ?
Marina: Melhor irmos mais tarde, os pais dele acabaram de sair pra ir pra lá. Parece que ligaram pedindo a presença deles.
Samuca: Mas então... Ele acordou!
Samuca abre um sorriso de felicidade diante daquela notícia.
Samuca: Agora mesmo que eu vou pra lá! E ele vai embora comigo.
Marina: Melhor ir com calma, não sabemos o que aconteceu...
Samuca: Calma nada, o meu amor voltou. Despertou!
Samuca vai pro quarto e volta com uma bolsa com roupas de Bruno.
Samuca: Eu deixei tudo pronto pra esse dia, porque eu sabia que chegaria! Eu vou levar algumas roupas, ele não deve ter nada pra vestir lá!
Luan: Você não acha que está se precipitando ?
Samuca: Eu tenho certeza. Ele voltou pra nós. Pra mim!
Marina e Luan queriam ter essa certeza, mas manteram-se com os pés no chão. Os três seguiram para o hospital no mesmo instante.
Cena 13 - Hospital - Tarde
Luan estaciona o carro e os três descem.
Samuca: Os pais deles chegaram, olha o carro dele ali. Vamos logo!
Em um canto mais afastado da recepção, Antônio e Helena aguardam o Dr. Rogério, ansiosos. Samuca chega e se junta até eles, sem a menor cerimônia.
Dr. Rogério chega.
Dr. Rogério: Eu chamei vocês aqui, devido ao estado do paciente Bruno.
Antônio: O que aconteceu com meu filho ?
Helena: Ele acordou ? Podemos vê-lo ?
Dr. Rogério: Veja bem, eu já tinha conversado com vocês sobre a gravidade do caso dele. Esperamos por todos esses dias, sem sucesso, uma reação do quadro dele.
Luan e Marina apertam o ombro de Samuca, em um gesto de força.
Samuca: Fala logo!
Helena: Por favor, Doutor...
Dr. Rogério: Eu lamento ter que dar essa notícia pra vocês, mas nessa manhã confirmamos a morte do paciente Bruno.
Samuca: O que ?!
Imagem de Samuca, Luan e Marina congela em um efeito efeito preto e branco.
Continua.
Se encerra no refrão de Você não me Ensinou a te Esquecer - Caetano Veloso
2023 - DNA
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