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SEGUINDO EM FRENTE | CAPÍTULO 08


A seguir

Seguindo em Frente - Capítulo 8 +14


Cena 01 - Recepção do Hospital - Tarde - Ao som de Adágio in G Minor - Tomaso Albinoni


Antônio e Helena aguardam o Dr. Rogério, ansiosos. Samuca chega e se junta até eles, sem a menor cerimônia.

Dr. Rogério chega.

Dr. Rogério: Eu chamei vocês aqui, devido ao estado do paciente Bruno.

Antônio: O que aconteceu com meu filho ?

Helena: Ele acordou ? Podemos vê-lo ?

Dr. Rogério: Veja bem, eu já tinha conversado com vocês sobre a gravidade do caso dele. Esperamos por todos esses dias, sem sucesso, uma reação do quadro dele.

Luan e Marina apertam o ombro de Samuca, em um gesto de força.

Samuca: Fala logo!

Helena: Por favor, Doutor...

Dr. Rogério: Eu lamento ter que dar essa notícia pra vocês, mas nessa manhã confirmamos a morte do paciente Bruno.

Samuca: O que ?! Isso é mentira!

Helena não aguenta e cai no sofá, aos prantos. Antônio se mantém calado, em estado de choque.

Antônio: Meu filho ? Meu menino ? Morto ?

Samuca: Não... Não é verdade! Ele vai se recuperar, vai ficar bom novamente. Eu sei que o acidente foi grave mas ele está sendo bem cuidado, ele...

Dr. Rogério: Eu sei que é um momento difícil, mas... Infelizmente não há mais nada que podemos fazer.

Samuca se ajoelha no chão, chorando descontroladamente e sendo amparado pelos amigos. Marina e Luan também estão visivelmente emocionados, mas buscam forças para se manterem fortes pois Samuca iria precisar deles mais do que nunca.

Marina: Meu amor, tenta se acalmar, por favor...

Samuca: Ele não me deixou, é mentira isso! Eu conversei com Deus e eu senti algo bom! Eu senti que tudo ia ficar bem! Ele não pode ter me deixado.

Marina apenas olhava para o amigo, também chorando, mas não conseguia buscar palavras que pudessem confortar Samuca.

Os dois se abraçam. Luan coloca as duas mãos atrás do pescoço, arrasado.

Antônio: Eu não aceito isso. Eu não aceito! Eu quero meu filho de volta, seus incompetentes! Eu quero o meu filho! - Diz, em um momento de fúria que logo vira desespero.

Antônio: O meu menininho... Tão novo, eu vi ele crescer, cada passo, cada palavra... Nãooo...

En questão de segundos, Antônio vê um flash de sua vida inteira ao lado de Bruno, desde o nascimento dele até o presente momento.

Samuca chora muito, caído no chão, enquanto a enfermeira Sônia tenta dar um calmante pra Helena.

Helena: O nosso filho não... O que a gente fez pra merecer essa desgraça! Antônio, nosso filho! Traz ele de volta, traz...

Heitor: Mas o que houve, Doutor ?

Dr. Rogério: De madrugada o quadro dele se agravou, tentamos alguns procedimentos, mas... Hoje de manhã foi constatada a morte cerebral.

Samuca: Porque com ele... Ele nunca fez mal a ninguém, eu quero ver o meu amor!

Antônio limpa suas lágrimas e dá uma encarada mortal pra Samuca.

Antônio: O seu amor ? Isso é tudo culpa sua, seu desgraçado! Você matou o meu filho!

Samuca se mantém calado, chorando baixinho. Não tem mais forças pra revidar, é como se nada mais na vida importasse pra ele.

Marina: Olha pra ele! Como você pode ser tão insensível, monstro!

Antônio: Insensível ? Você sabe o que é perder um filho ?

Marina: Deus que me perdoe, mas o pior castigo que uma pessoa poderia ter, você acabou de conseguir. Vai carregar essa culpa de ter matado o próprio filho pra sempre!

Antônio parte pra cima de Marina, mas é segurado por Heitor, enquanto Marina é segurada por Luan.

Dr. Rogério: Eu peço que vocês acalmem os ânimos, por mais que o momento seja difícil. Isso aqui é um hospital!

Marina: Eu não podia ouvir tudo aquilo e ficar calada!

Luan olha em volta, procurando Samuca, que sumiu sem ninguém perceber.

Luan: Vamos, Ma.

Antônio os encara com ódio.

Antônio: É bom ir mesmo.

Luan e Marina saem em busca de Samuca.


Cena 02 - Arredores do Hospital - Tarde


Samuca corre, sem rumo, chorando desesperadamente e esbarrando nas pessoas pelos corredores. As pessoas a sua volta apenas o olham, sem entender. Ele corre até parar no estacionamento, e, sem forças, se senta em um degrau.

Samuca: Porque ? Porque isso tá acontecendo ? Porque não me leva no lugar dele! Eu o amo tanto, tanto... O que será de mim... A gente ia ser felizes juntos, já tava tudo certo!

Samuca chora como nunca havia chorado antes em sua vida, sentindo a inimaginável dor da partida.

Ele sente uma mão em seu ombro. É Marina, que se senta ao seu lado, fazendo o amigo deitar a cabeça em seu colo.

Marina: Chora meu amor, chora tudo que tiver vontade.

Samuca chora que nem criança, no colo dela.

Marina também chora muito, e sente sua garganta arder, mas mantém-se em silêncio tentando passar conforto para seu amigo.


Cena 03 - Quarto - Tarde - Ao som de música instrumental 'Escravidão' - Eduardo Queiroz


Dr. Rogério acompanha Antônio e Helena até o quarto onde está Bruno. O caminho até lá parece sem fim.

Ao ver o filho, Antônio e Helena se jogam em cima dele, beijando seu rosto e afagando seus cabelos.

Helena: Oi, meu filho.... A mamãe tá aqui, viu ?

Antônio segura a mão de Bruno, enquanto Helena fica com a cabeça deitada próxima a do filho.

Seu corpo ainda está quente, seu coração ainda bate e sua pulsação é sentida, mas clinicamente ele está morto.

Antônio: Ele tá vivo!

Dr. Rogério: Eu sei que é difícil aceitar, ainda mais vendo seu filho nesse estado.

Anrônio: Eu não aceito isso. Ele está respirando, seu coração ainda bate!

Dr. Rogério: Seu filho está clinicamente morto. Com a confirmação disso, precisamos da autorização da família para desligar os aparelhos.

Antônio: Precisa da minha autorização pra matar o meu filho ?

Dr. Rogério: Seu Antônio, o coração dele irá parar de qualquer maneira. É inútil prolongar esse sofrimento!

Antônio volta a chorar, olhando para o corpo de seu filho, que ainda está corado e parece dormir com uma expressão serena. Em seguida encara Helena, que está abraçada com ele, sem saber o que fazer e negando o óbvio.


Flash Back

"Helena sorri com a notícia do médico. Ela olha para Antônio, emocionada, e ele coloca a mão sob a barriga dela.

Antônio: Eu nem sei o que dizer... Meu amor, você me deu o melhor presente que uma mulher pode dar para um homem!

Os dois se beijam e se abraçam."


"Helena faz toda a força que existe em seu corpo, com Antônio em seu lado apertando sua mão, até que seu bebê nasce.

Helena chora.

Médico: É um meninão!

Helena pega seu filho nos braços, que não chora. Ainda com os olhos fechados, faz uma expressão de riso com o canto da boca.

Helena: Bruno... Vai se chamar Bruno. O nosso filho, Antônio!

Antônio olha para o rostinho de seu filho, emocionado."


"Em um jardim verde e cheio de flores, Antônio ensina Bruno, ainda criança, a andar de bicicleta.

Bruno: Eu vou cair, papai!

Antônio: Não vai não. O papai tá aqui pra te proteger! Apenas olhe para o chão e pedale como eu te ensinei!"


"Antônio recebe seu filho, ansioso.

Antônio: E aí ? Que cara é essa ? Não passou ?

Bruno: Cara de quem passou no vestibular. Você vai ter um filho médico!

Antônio: Meu filho... Me dá um abraço! Eu sabia, eu sabia!

Os dois se abraçam e pulam de felicidade.

Bruno: Eu quero que você tenha muito orgulho de mim. Sempre!

Antônio: E eu tenho. Você é a maior riqueza da minha vida!"


"Bruno começa a correr, em busca de algum táxi.

Antônio: Volte aqui, moleque! Eu sou o sei pai!

Bruno vira uma esquina, sumindo das vistas de Antônio.

Antônio aperta o passo, mas para em seguida ao ouvir o barulho de uma freada e de uma forte pancada.

Ele se aproxima mais e vê várias pessoas se aglomerando no meio da rua. Antônio anda até elas, as empurrando desesperadamente, como se tivesse prevendo algo. Até seus olhos confirmarem o que ele não queria.

Antônio se ajoelha no chão.

Antônio: Não, não. Meu filho não! BRUNOO!"

FIM DO FLASH BACK


Antônio passa a noite em claro, perdido em suas lembranças, enquanto Helena adormece abraçada ao lado de Bruno.


Cena 04 - Recepção - Noite - Ao som de música instrumental 'Central do Brasil'


Samuca também vira a noite acordado, alternando entre momentos de silêncio total e de choro. Marina não desgruda dele um só momento.

Luan: Vocês não querem ir pra casa ?

Samuca: Eu vou ficar aqui até vê-lo. Ele não irá me impedir!

Marina de afasta um pouco de Samuca e vai conversar com Luan.

Luan: Eu falei com alguns enfermeiros. Ainda não sabem quando irão desligar os aparelhos...

Marina: Eu não posso acreditar nisso. Uma pessoa tão boa, tão especial quanto o Bruno... Ter esse fim. E agora, o que será do Samuca ?

Luan: Nós vamos ajudá-lo a superar isso, não só ele, como você também!

Luan abraça Marina, que pela primeira vez se rende, deixando aquela aparência de forte de lado.

Ela se sente confortável nos braços dele, e assim ficam por longos instantes.


Cena 05 - Ao som de I Way Down we Go - Kaleo - Paisagens - Os dias se passam - Já faz três dias que os médico haviam confirmado a morte cerebral de Bruno, mas a família ainda reluta em aceitar sua morte, mesmo não havendo nenhuma esperança que algo mudasse isso.


Cena 06 - Hospital - Manhã - Ao som de Você não me Ensinou a te Esquecer - Caetano Veloso


A Enfermeira Sônia aproveita a ausência dos pais de Bruno e chama Samuca para se despedir de seu namorado.

Bruno continua como antes. Deitado em uma cama, com um aparelho apitando a todo o momento, mostrando seus batimentos cardíacos. Parece que ele está dormindo, com o rosto tão sereno e tranqüilo.

Samuca já entra chorando e vai se aproximando, tocando em suas mãos, puxando até sua boca e beijando em seguida. Sentindo seus lábios quentes pela última vez.

Samuca: Porque você fez isso comigo ? O que eu vou fazer com todo esse amor e tristeza que está dentro do meu peito ?

Samuca abraça seu amor, enquanto fala algumas palavras desconexas.

Ele se levanta, olhando para o corpo de Bruno, passando os dedos carinhosamente em seu rosto e em seguida voltando a abraçá-lo, agora deitando a cabeça em seu peito.

Samuca ouve o coração de Bruno bater, sentindo seu corpo quente e sua esperança era que ele se levantaria, mas sabia que isso jamais iria acontecer.

Samuca: Seu coração bate tão forte... Eu consigo te sentir! E eu sempre vou te amar. Vem me buscar, vem... Eu não vou conseguir continuar sem você.

Samuca volta a acariciar o rosto de Bruno e antes de deixar aquele quarto, se declara pela última vez.

Samuca: Eu vou te amar para sempre, nessa e em todas as vidas que existirem. Vou agradecer a Deus por ter me dado a honra de ter o seu amor!

Aquela declaração é selada com um beijo na testa do seu amado.

Ele sai devagarinho, olhando a cama de Bruno ficando cada vez mais longe, até que se vira e vai embora de vez. Assim como os demais dias, ele vai dormir na casa de Marina, mas por incrível que pareça também recebe apoio de sua família. No dia seguinte, Samuca se certifica que a família de Antônio não está no hospital e vai direto pra lá, acompanhado de Luan e Marina.


Cena 07 - Recepção do Hospital - Manhã


Samuca: Posso vê-lo ?

Sônia faz cara de espanto ao vê-lo.

Sônia: Você chegou agora ?

Samuca: Sim, eu vou ficar o dia todo aqui, até poder vê-lo novamente.

A enfermeira Sônia faz uma cara de tristeza.

Sônia: Meu querido, os aparelhos dele foram desligados essa madrugada. A família autorizou o procedimento...

Samuca fica nervoso.

Samuca: Por quê ?

Marina: Calma, meu amigo.

Samuca: Cadê ele?

Sônia: Está no necrotério, estão preparando o corpo para o velório.

Samuca sai correndo até lá, sendo seguido por Marina e Luan.

Mesmo sendo um local restrito, ele invade e entra.

Diferente do dia anterior, agora estava a frente do seu amor, pálido e sem sinal algum de vida.


Ao som de Você não me Ensinou a te Esquecer - Caetano Veloso


Samuca fica paralisado com o que vê.

Funcionário: Vocês não podem ficar aqui!

Marina: Por favor, ele só está se despedindo!

Vendo a emoção estampada no rosto de Samuca, que está em um estado lastimável, o responsável pelo local se afastou junto com Marina e Luan, mas observando de longe.

Samuca observa de perto Bruno, olhando os traços de seu rosto, sua beleza.

Samuca: Nós vamos nos encontrar novamente! Você me deu seu coração e em troca lhe dou o meu.

Samuca retira a corrente que usava onde continha duas metades de um coração, a sua e a de Bruno, que havia colocado junto em seu pescoço.

Samuca coloca aquela corrente no pescoço de Bruno e em seguida lhe deu um selinho.

Samuca: Adeus meu amor!

Marina se aproxima.

Marina: Vamos ? Eles precisam cuidar dele.

Samuca nada responde, apenas deixa aquele lugar em silêncio.

Samuca anda, até chegar na rua. O sol brilha forte no céu.

Samuca: E agora, pra onde eu vou ?

Marina: Pra minha casa, comer algo, descansar e depois vamos para o velório. Quer dizer, se você quiser ir...

Samuca olha para o nada.


Cena 08 - Casa de Marina - Tarde


Samuca fica sozinho no quarto. Já nem tem mais forças para chorar, o que ele mais fazia era se perguntar como acabar com aquela dor. Para ele não existia nada que pudesse aliviar a dor que sentia em seu peito. Ele se levanta da cama e abre sua mochila. Samuca tira de dentro uma camisa do seu amor, levando ao rosto. Sentindo naquele pedaço de pano o cheiro de Bruno, misturado ao perfume que usava. Ele se deita na cama e fecha os olhos até cair no sono.


Marina: Te acordei ?

Samuca: Acho que cai no sono.

Marina: Está na hora, você quer ir ?

Samuca: Sim...

Samuca se levanta e joga uma água no rosto. Junto com os amigos, eles vão até o local onde Bruno está sendo velado.


Cena 09 - Cemitério - Tarde - Ao som de The Departure - Max Richter


Samuca sente suas pernas ficarem dormentes ao se aproximar da capela.

Marina: Tudo bem ?

Samuca faz que sim com a cabeça.

Marina, Luan e Samuca iam entrando, quando são barrados na porta por Heitor.

Heitor: Eu sinto muito...

Marina: Sai da frente, por favor ?

Luan: Calma, Marina!

Heitor: Eu entendo a dor de vocês. De verdade! E eu nem sei como dizer isso, mas... Foi meu tio quem proibiu a entrada de vocês!

Luan: Quem ele pensa que é! Manda ele vir aqui falar isso. Nós vamos entrar sim!

Luan dá um passo a frente.

Samuca: Deixa... Eu não faço mais questão.

Marina: Ele não pode fazer isso, Samuca!

Samuca: Eu já me despedi dele, não quero vê-lo dentro de um caixão...

Luan: Você tem certeza ?

Samuca: Absoluta.

Samuca sai sozinho e se senta em um banco mais afastado, sendo seguido por Heitor.

Heitor: Cara, eu sinto muito... O Bruno te amava demais, ele sempre falava de ti pra mim! Eu achava um pouco de exagero, sabe, mas depois que te conheci vi que ele tinha razão. Essas últimas semanas passei a te admirar diante de sua força com tudo o que aconteceu!

Samuca olha para Heitor, que se emociona ao falar do primo.

Heitor: Onde o Bruno estiver, ele vai dar forças pra gente seguir em frente! - Diz, em seguida dando um abraço em Samuca. Ele se despede e volta para a capela.

Ao chegar lá, bebe um copo de água, e enquanto os demais choram e rezam, Heitor observa a mão de Bruno, com uma expressão meio assustado com algo que vê. Ele olha para os lados e em seguida volta a olhar para o corpo do primo.


Samuca observa todo o velório de longe, em silêncio. Seus olhos se enchem de lágrimas ao ver o caixão sendo levado até a sepultura, sendo seguido por todos os amigos e familiares.

O sepultamento foi rápido e de longe observou todo procedimento, mas se recusq a ir embora. As pessoas presentes foram cumprimentar Antônio e Helena que estão muito abalados. Aos poucos aquela pequena multidão vai se dispersando.

Luan: Vamos embora ?

Samuca: Podem ir na frente, depois eu vou!

Marina: Samuca, não tem mais nada pra fazer aqui...

Luan percebe que Samuca quer ficar sozinho e faz um sinal pra Marina. Mesmo contra vontade, eles o deixa sozinho.

Samuca caminha até o túmulo da família de Antônio, onde já havia uma placa e uma foto de Bruno. Ele fica admirando o seu sorriso naquela foto e em seguida colocou uma rosa branca sobre o mármore.

Aquele momento era só dele, todas as pessoas já tinham ido embora e ele pode novamente se despedir do seu amor, dessa vez sem pressa e com todo tempo do mundo.



Cena 10 - Os dias se passam - Casa de Marina - Manhã


Samuca ainda está hospedado na casa de Marina, mas sente que é a hora de ir embora.

Marina: Fica aqui!

Samuca: Acho que está na hora.

Marina: Meus pais te adoram, não tá na hora de nada não!

Sanuca: Eu nunca vou poder agradecer tudo o que vocês fizeram. Mas eu tenho que voltar pra casa...

Marina: Se é a sua vontade... Mas eu quero que você se lembre que nenhum sofrimento é pra sempre!

Samuca: Minha vida acabou! Eu não tenho mais motivos pra viver.

Marina se assusta com o tom de voz dele.

Ela tenta convencê-lo de todas as formas para ficá-lo, mas é em vão.

Samuca pega suas malas e retorna para a casa de sua mãe. Ao chegar ninguém toca no assunto, sua irmã Vitória apenas o abraça.

Vitória: Bem vindo de volta!

Sua mãe Marta não faz nenhum comentário, mas o recebe bem.

Os meses vão se passando. Samuca não liga mais pra sua aparência e deixa a barba e o cabelo crescer. Ele fica o tempo todo dentro do quarto, não estuda e nem trabalha mais. Completamente isolado, ele não se lamentava com ninguém, mas por muitas noites quando estava sozinho no seu quarto, suas crises de choro eram inevitáveis.

Nem mesmo Marina e Luan conseguiam mais alegrar o amigo.

Toda vez que a saudade apertava demais, Samuca ia até o cemitério e ali ficava horas, em frente a foto de Bruno, pensando no nada. Apenas em silêncio, totalmente imóvel.

Foi em uma dessas visitas que teve uma surpresa.

Ellen: Samuca!

Samuca imediatamente olha pra trás, vendo, vendo uma linda moça de óculos escuros, com um sorriso pra ele.

Samuca: Eu te conheço ?

Ellen: Você não, mas eu sim! Meu nome é Ellen, prazer!

Samuca: Quem é você ?

Ellen: Eu era amiga do Bruno.

Ela coloca algumas flores sobre o túmulo e por alguns segundos ficou em silêncio, olhando para a foto de Bruno.

Ellen: Eu moro em Portugal. Fiquei muito triste quando soube do que aconteceu e só agora que estou tendo a chance de homenageá-lo.

Samuca: Bom, eu já estava indo.

Ellen: Eu te acompanho!

Samuca estranha.

Samuca: Nunca fomos apresentados!

Ellen: Eu sempre conversava com o Bruno pela internet. Nossa amizade continuou mesmo após eu ter ido embora! E ele não tinha outro assunto a não ser você.

Samuca se emociona.

Samuca: Ele falava de mim ?

Ellen: Demais! Mas agora eu preciso ir embora. Samuca, foi um prazer te conhecer, apesar das circunstâncias. Vou embora do país essa semana, mas caso precise de algo, não pense duas vezes em me ligar.

Samuca pega o cartão daquela moça e em seguida vai pra casa.

Conforme o tempo passava, a rotina de Samuca não mudava. Quando não ficava o dia todo trancado no quarto, saia pra andar sem rumo pela cidade ou ia até o cemitério visitar o túmulo de Bruno. Vezes ou outra tinha alguma discussão com a mãe, que cobrava que o rapaz reagisse e voltasse a estudar e trabalhar. Mas apesar de tudo isso, algo tinha mudado, sua tristeza ao invés de diminuir estava cada vez maior.

Samuca estava constantemente sonhando com seu amor, e sempre acordava chorando. Afastou-se completamente dos amigos, não atendia mais as ligações de Marina e quando ela ia até sua casa, mal falava com a amiga.

Sua dor aumentou de tal maneira que o fazia ficar sufocado. Certa noite, em um ato de descontrole total, sai de casa sem rumo pela cidade.


Cena 11 - Ponte - Noite - Ao som de The Departure - Max Richter


Samuca não tem mais forças para chorar. Ele fica andando por uma avenida, vendo as luzes e os carros passarem. Quando estava caminhando por cima de uma ponte, parou no ponto mais alto e ficou observando a cidade, sentindo aquele vento frio batendo em seu rosto.

Samuca se aproxima do parapeito e começou a observar os carros passando lá em baixo na pista.

Suas mãos tremem muito e suas pernas pareciam estar dormentes. Suas tentativas de acalmar a profunda tristeza que sentia já haviam se esgotado.

Samuca: Você me abandonou... Você prometeu que nunca ia me abandonar. Você mentiu pra mim... Mentiroso. Mas não tem problema, eu vou ao seu encontro! - Afirma, sorrindo e fora de si.

Prestes a tomar um ato extremo, Samuca se aproxima ainda mais do parapeito e fecha os olhos. Ele cai.


Imagem de Samuca congela em um efeito preto e branco.


Continua.


Se encerra em Preciso me Encontrar - Cartola


2023 - DNA

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