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Seguindo Em Frente | Capítulo 20


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Seguindo em Frente - Capítulo 20 +14


Cena 01 - Hospital - Começo de Tarde - Ao som de Another Love - Tom Odell


Samuca está no jardim que tem no hospital. Está sentado num banco de pedra, olhando o prédio, até que vê Flora surgir em sua frente. Ao lado dela, Vicente anda até ele, em câmera lenta. Segurando em mãos aquela foto. Os dois se encaram olho a olho.

Flora fica brincando perto da fonte, sob os olhares dos dois.

Samuca: Como você tá ? Desculpa aparecer assim, mas não agüentava mais ficar sem te ver.

Vicente o olha em silêncio.

Samuca: Se você ainda puder, me perdoe.

Vicente permanece sem dizer uma única palavra. Seu silêncio deixa Samuca apreensivo. Ele derruba uma lágrima, achando que já era tarde demais.

Samuca: Por favor, fala alguma coisa!

Vigente pega sua mão e a aperta. Os dois se olham em silêncio. Vicente apenas o puxa para um abraço.

Vendo aquela cena, Flora vai até eles e subindo no banco, encaixa seu rosto entre eles, abraçando seus dois tios.

Vicente sente o coração acelerado de Samuca, e o aperta mais forte, o confortando.

Flora: Viu, tio. Eu falei que o tio Vicente gosta de você!

Vicente: Eu gosto muito. E de você também!

Samuca: Eu andei fazendo umas besteiras, por isso eu fiquei triste. Mas agora eu acho que está tudo bem! - Diz, enquanto sorri para seu amado.

Vicente: E se aprontar de novo a gente vai dar palmadas na bunda dele, né ?

Flora: Isso mesmo!

Samuca sorri. - Tá bom, então. Vou andar na linha!

Flora fica observando os dois, até que não se segura e joga a bomba.

Flora: Vocês são namorados ?

Samuca fica sem reação enquanto Vicente fica pálido, espantados com a pergunta da menina, feita de forma tão inocente e natural.

Vicente: Quero ver você se sair dessa!

Samuca: Não, meu amor. Que isso. O tio Vicente é meu amigo. É que... Tipo...

Samuca tenta arrumar uma desculpa, mas não sabe o que dizer. Foi pego de surpresa.

Flora: Tá me enrolando, né tio ?

Vicente: Já sei. Vamos tomar sorvete! Eu só vou arrumar minhas coisas e a gente vai.

Samuca: Não vai te atrapalhar ?

Vicente: Que nada. Eu tava precisando de um tempo mesmo. - Responde, tirando seu jaleco.


Cena 02 - Apê de Vicente - Sala - Tarde - Ao som de Chão de Giz - Zé Ramalho


Após se divertirem tomando sorvete, Samuca leva Flora pra casa e em seguida decide ter um momento a sós com Vicente. Afinal, ainda há pendências a serem resolvidas. Os dois entram no apê de Vicente, e ficam um de frente para o outro. Em silêncio, apenas se admirando com o olhar por alguns instantes.

Vicente: Fiquei com saudade.

Samuca: Eu também.

Samuca pula nos braços dele, que o abraça forte.

Samuca: Me perdoa ?

Vicente: Eu já te perdoei a muito tempo. Eu te amo, e não faz sentido ficar longe de quem a gente ama.

Samuca sorri emocionado e o beija. Um beijo calmo, lento e apaixonado. Aquele beijo é como se os dois precisassem de suas bocas para sobreviver, comprovando o que já sabiam, que não conseguiam mais viver longe um do outro.

Vicente esfrega sua barba no pescoço de Samuca, fazendo ele sorrir, todo arrepiado.

Samuca: Eu sou um bobo. Inseguro, chato, explosivo, desconfiado...

Vicente: É mesmo.

Samuca: Mas é que eu fiquei com tanto medo de te perder, que doeu na minha alma! Eu já perdi uma pessoa antes, eu não queria viver isso de novo. Eu tenho medo de você gostar de um outro alguém, e me abandonar. De você...

Vicente: Sabe qual é o seu problema ? Você fala demais. Pra te parar só te beijando mesmo!

Vicente volta a beijar o seu amor, indo com ele até a cama.

Vicente: Você quer ?

Samuca: Sim. Mas hoje eu quero diferente. Eu quero te namorar, fazer amor. Ficar agarradinho com você e não te deixar escapar nunca mais!

Vicente o olha no fundo dos olhos.

Vicente: Você me tem. E é pra sempre!

Os dois voltam a se beijar e Vicente o deita na cama, subindo em cima dele.

Samuca arranha de leve as costas de seu amado, e passa a mão por cima da cicatriz do peitoral dele. Os dois passam aquele resto de tarde se amando e matando a saudade um do outro.


Cena 03 - Casa de Samuca - Sala - Noite - Ao som de instrumental Be Best - Rodolpho Rebuzzi & Mú Carvalho


Vitória entra em casa, jogando sua bolsa no sofá.

Marta: E aí, nada de emprego ?

Vitória: Não. Fiz três entrevistas hoje, mas não senti muita firmeza não... Ai, que dor nas costas. Estou morta!

Marta: Vai tomar um banho pra se refrescar.

Vitória: Tô precisando mesmo. Não quero nem jantar, vou direto é cair na cama. Pede pro Samuca botar a Flora pra dormir!

Marta: Se ele aparecer hoje, né...

Vitória vai para o seu quarto, se preparando para seu banho. Marta volta a preparar o jantar, quando passa o olho em Flora, que está brincando no tapete com suas bonecas. Ela estranha ao notar algo.

Marta: Que boneca é essa ? Parece cara.

Flora: Foi o tio Vicente quem me deu, vó!

Marta: Que tio Vicente o que, menina. Você só tem um tio, e ele se chama Samuca!

Flora: Mas eu gosto do Tio Vicente. Ele me dá presentes e bonecas. E ele gosta muito de mim!

Marta: Esquece isso.

Flora: Vó... O tio Samuca namora com o tio Vicente ?

Ao ouvir aquilo, Marta fica pálida, quase caindo pra trás. Ela não sabe se sentia raiva ou se passava mal.

Marta: NUNCA mais diga isso, ouviu bem ? E se você ver alguma coisa, conte somente a mim!

Flora se assusta com o jeito de sua vó, e agarra a sua boneca, com medo.

Marta se olha no reflexo do vidro do armário, com ódio.

Marta: Não pode ser... De novo não!







Cena 04 - Casa de Samuca - Quarto - Tarde - Ao som de instrumental Dangerous - Rodolpho Rebuzzi & Mú Carvalho


Samuca aparece na cozinha todo arrumando e perfumado. Queria fazer uma surpresa para seu amor no hospital. Ele bebe um copo de chocolate quente, com pressa.

Marta: Você tá aí. Não foi trabalhar hoje ?

Samuca: Fui sim. Mas cheguei cedo. Tenho compromisso pra hoje!

Marta: Ah. Compromisso. Você anda saindo muito ultimamente...

Samuca revira os olhos.

Marta: Parece que nem tem mais casa. Posso saber com quem é que você tanto sai ?

Samuca: Vai começar, mãe ? Um bom dia pra senhora também! - Diz, se retirando.

Marta bate o copo na mesa.

Marta: Mas eu vou descobrir quem é. E é agora! - Dispara, indo até o quarto dele.

Ela entra e acende um abajur, iluminando o ambiente.

Marta olha em volta, analisando o que deve procurar. Ele mexe no guarda roupas e depois em todas as gavetas, até achar uma pasta com fotos de Samuca e Bruno. Mas isso não era novidade, já era de seu conhecimento há anos. Ela fecha a pasta e quando ia guardar em seu lugar, uma foto de Samuca com Vicente cai de dentro dela.

Marta: Mas o que...

Ela se abaixa e pega a foto, colocando-a próximo do abajur, para poder enxergar melhor.

Marta: Então é você!

A câmera se aproxima lentamente da foto de Samuca e Vicente nas mãos dela.

Marta fica em silêncio, com um olhar nada agradável.


Cena 05 - Hospital - Corredor - Tarde - Ao som de instrumental Dangerous - Rodolpho Rebuzzi & Mú Carvalho


Samuca anda pelos corredores do hospital. Aquele lugar não lhe traz boas recordações, mas ele evita ao máximo pensar nisso e se concentra apenas em Vicente. Ele olha para os lados e vê uma enfermeira de costas, e vai até ela.

Samuca: Oi! Boa tarde.

Em câmera lenta, a enfermeira vai se virando até ele. Era Sônia.

Efeito sonoro grave de chocalho de cobra toca em cena.

Os dois se encaram por alguns instantes. Zoom no rosto dos dois.

Samuca: Eu vim ver o Doutor Vicente...

Sônia: Boa tarde. Eu acho que ele está na enfermaria. O plantão dele está no fim!

Samuca não consegue parar de olhar para aquela mulher, incomodado com algo.

Sônia: Eu acho que te conheço de algum lugar!

Samuca: Eu também acho que sim... Você me tem um rosto muito familiar!

Sônia: Vai ver você já foi atendido por mim.

Samuca: É. Deve ser isso...

Vicente aparece entre os dois.

Vicente: Samuca. Que surpresa!

Sônia: Com licença.

Vicente sorri pra ela, se despedindo, e volta sua atenção para seu namorado.

Vicente: E aí. O que manda ?

Samuca: Vim buscar o meu namorado no trabalho. Não posso ?

Vicente: Claro que pode! Vamos ?

Os dois sorriem um para o outro e sai.

Samuca olha para trás, vendo se vê aquela enfermeira novamente, mas ela não está mais no corredor.

Vicente: Procurando algo ?

Samuca: Não. Besteira! E aí, como foi hoje ? - Pergunta, enquanto se dirigem até a saída.


Cena 06 - Apê de Vicente - Noite


Samuca toma banho com Vicente. Os dois fazem amor embaixo do chuveiro, encostados no vidro do box, que está todo embaçado da água quente.

Vicente passa a mão pelas costas dele, ensaboando e o massageando de leve. Samuca se sente no céu com as mãos dele percorrendo o seu corpo. Ele se vira até o seu amor e o beija, apaixonado.


Samuca e Vicente estão deitados no tapete do quarto, assistindo um filme. Vicente está apenas de cueca, enquanto faz um cafuné na cabeça de Samuca.

Samuca: Assim eu durmo, hein.

Vicente: Dorme não, que o melhor ainda não chegou.

Samuca: O melhor ? E tem coisa melhor do que isso ? Esse momento, aqui com você... Que poderia durar para sempre!

Vicente beija a testa dele.

Vicente: Tudo é bom ao seu lado. Mas, pedi uma pizza pá nóis!

Samuca: Hum, gostei. Falar em comida, eu chega me levanto. Fico com uma fome depois de... Você sabe o que, rs.

Vicente: Bobo!

A campanhia toca.

Vicente: Olha lá. Chegou!

Samuca: Eu atendo. Aproveito e já pego a maior parte!

Vicente: Tu é magro de ruim, né ?

Samuca vai pra sala atender a porta, dando risada. Vicente também se levanta e vai pra cozinha, pegar um refrigerante e separar alguns pratos. Vendo que seu amor está demorando, ele vai atrás.

Vicente: Amor, quem é ? - Pergunta, aparecendo na sala apenas de samba-canção, levando um susto ao olhar para a porta.

Samuca está de cabeça baixa, com sua mãe parada na porta.


Ao som de Tom's Thriller - Iuri Cunha


Marta: Tô atrapalhando alguma coisa ?

Os três se encaram.

Vicente: Dona Marta!

Samuca: O que você está fazendo aqui ?

Marta entra sem a menor cerimônia, olhando o local.

Marta: Então é aqui. É aqui que você passa suas noites. É aqui que rola a safadeza!

Vicente: Dona Marta...

Marta: Cala a boca. Você me irrita! - Esbraveja, o olhando dos pés a cabeça.

Vicente pega uma almofada e coloca na frente de sua cueca, tentando se cobrir. Em seguida ele corre até o quarto, para colocar uma roupa.

Samuca: Mãe, por favor. Sem escândalo!

Marta: Escândalo ? Eu jamais irei fazer um escândalo. Você acha que eu quero que alguém veja o que estou vendo aqui ? Essa pouca vergonha ?

Samuca: Não estamos fazendo nada de errado.

Marta: Eu achei que você tivesse mudado. Depois de tudo o que te aconteceu...

Samuca: O que aconteceu não tem nada a ver com o que eu estou vivendo agora. Eu tenho o direito de tentar seguir em frente!

Marta: Seguir em frente ? Assim, desse jeito, se agarrando mais outro macho ? Você quer que a vida te castigue de novo ?

Samuca: Como você tem coragem de dizer isso ?

Marta: Aquele outro lá morreu pelo pecado que vocês cometiam! E mesmo assim você não aprendeu nada com a vida ?

Samuca começa a chorar.

Samuca: Não toque no nome dele. Você não tem o direito de fazer isso, não tem o direito de me culpar!

Marta: Você sabe que é verdade.

Samuca: Você que não sabe o quanto eu sofro dia após dia com isso. Você acha mesmo que ele morreu só pra que eu fosse castigado ? Isso é doentio!

Marta: Que decepção. Eu não achei que eu fosse viver isso de novo! - Diz, olhando para sei filho com cara de nojo.

Marta: Faltou uma boa surra quando você era criança. E você pode ter certeza de uma coisa: De onde seu pai estiver ele sente muita vergonha de você!

Samuca: Para! Para de me torturar desse jeito, para de falar no Bruno, para de falar no meu pai! Você é má! Sempre foi. Só estava melhor de alguns anos pra cá porque viu que eu estava sozinho e infeliz. Mas só foi eu tentar recomeçar que você vem tentar me derrubar, como sempre fez!

Marta: Você é injusto. Essa mulher má aqui que te estendeu a mão em todas as vezes que você estava no fundo do poço. Que se endividou pra pagar os melhores tratamentos pra te tirar daquela depressão que você estava! E tudo isso pra que ? Pra isso aqui. Pra esse lugar! Pra você vir se enfiar dentro de uma casa mas outro macho, na safadeza. Isso me enoja, você não faz ideia do quanto eu fico enjoada!

Samuca abaixa a cabeça, sem conseguir conter as lágrimas, que caem aos montes. Vicente aparece na sala, já vestido.

Marta: Tudo aquilo que você sofreu foi pouco. Ainda tem que sofrer o dobro pra aprender a ser homem!

Vicente: Não fala assim com ele!

Marta: Cala a boca!

Vicente: Cale a boca você. Na minha frente você não o maltrata desse jeito!

Samuca: Você tem vergonha de mim por eu ser assim. No fundo acho que você queria que eu tivesse morrido naquele acidente também, né ? Só nunca teve a coragem pra falar. Mas saiba que você também não é a mãe que eu esperava. E nunca foi!

Vicente: Chega, Samuca!

Marta: O tempo sempre mostra quem as pessoas são de verdade... Mas eu só vou te dar um aviso. Quando as coisas ficarem feias pra você, não corra atrás de mim de novo. Como você sempre fez!

Vicente se atravessa na frente de Samuca.

Vicente: Quanto a isso pode ficar tranquila. Ele tem a mim para protegê-lo. E eu o amo demais!

Marta: Bom saber. E tem mais uma coisa, a minha neta é uma criança. Se vocês querem ficar nisso, não coloquem ela no meio. Eu não vou permitir!

Samuca: Eu amo aquela menina como se fosse a minha filha! E ela já tem nada a ver com isso.

Marta: A partir de hoje você não sai com ela nem no portão de casa mais. Muito menos se for com esse outro viado aí que você arrumou!

Vicente abraça Samuca, que não se sente mais com forças para enfrentar sua mãe.

Vicente: Suma dessa casa. Pessoas que fazem mal a um cara incrível como o Samuca não são bem vindas aqui. E outra coisa, se eu souber que você fez mais algum mal pra ele, nós teremos problemas!

Marta olha para os dois com cara de nojo, e cospe no chão. Em seguida ela sai batendo a porta. Samuca se senta no sofá, ainda processando tudo o que acabou de ouvir.

Vicente: Não fica assim, meu amor. Eu tô aqui!

Samuca se levanta, desorientado.

Samuca: Eu tenho que ir atrás dela, me explicar, eu...

Vicente: Você não vai a lugar nenhum assim. Vocês dois estão de cabeça quente, não vão resolver nada assim! - Aconselha, pegando no rosto dele e o abraçando.

Samuca se rende ao abraço, chorando.

Vicente: Shiii... Não chora. Eu tô aqui. E eu nunca vou te abandonar!

Samuca: Porque tudo tem que ser tão difícil assim ?

Vicente: Eu não sei. Mas temos um ao outro!

Samuca: Eu não queria nada disso. Essas brigas... Eu só queria o direito de poder ser feliz em paz! E quem mais devia me acolher são os primeiros a me derrubar.

Vicente: Eu sei. Mas vamos enfrentar tudo que tiver que enfrentar juntos! - Afirma, entrelaçando sua mão com a mão dele.

Samuca: Eu tenho tanto medo de te perder. Eu já perdi o Bruno, e com isso se foi metade de mim. Se eu perder você... Aí eu não aguento!

Vicente: Isso não vai acontecer. Eu prometo! - Afirma, beijando as mãos dele, o confortando. Em seguida Vicente passa seus dedos no rosto de Samuca, limpando suas lágrimas.

Os dois se olham no fundo dos olhos, e o Vicente beija a testa dele, com carinho.

Vicente: Tô ouvido uma buzina. Acho que a pizza chegou, hein...

Samuca: Não, não quero comer nada.

Vicente: Vai comer sim, bonito. Vamos... - Ordena, o puxando até a porta.


Cena 07 - Apê de Vicente - Quarto - Manhã - Ao som de Haggard - Eppur Si Muove


Samuca acorda e não vê Vicente ao seu lado na cama, que está arrumada. Nem mesmo o seu cheiro está presente no lençol. Ele estranha e se levanta, procurando-o pela casa, que está vazia.

Samuca: Vicente ? Pra onde você foi ? - Pergunta, com uma sensação ruim.

Ainda de pijama, ele sai do apartamento e desce as escadas, indo para o estacionamento. O carro de seu amado não está lá.

Samuca: Pra onde você foi, meu amor. Você não me disse nada... - Se pergunta, indo para a rua. Ele olha ao redor, e se encolhe, com frio. O dia está nublado e sem vida, com um vento gelado beijando o ar.

Samuca anda pela rua, que está cheia de pessoas indo e vindo, em suas rotinas. Mais cheia do que o normal.

Samuca: Vicente ? Meu amor. Cadê você ? - Pergunta, aflito.

Ele pega seu celular e tenta ligar pra seu namorado, nas não acha seu número, nem seu chat. Aflito, ele abre sua galeria de fotos, mas não acha nenhuma foto de Vicente. Era como se ele nunca tivesse existido. Samuca se arrepia dos pés a cabeça, já começando a chorar.

Samuca: Mas o que... O que está acontecendo ? Cadê você, meu amor ? Você prometeu! Você prometeu que nunca ia me abandonar! - Fala a si mesmo, em prantos.

Ele anda devagar, em meio a multidão, chorando, até que vê Mirella sentada numa praça. Ele não pensa duas vezes e vai até ela.

Samuca: Cadê o Vicente! Você sabe onde ele tá ? Ele sumiu, eu não consigo falar com ele!

Mirella: Desculpa, cadê quem ?

Samuca: O Vicente! Você sabe dele ?

Mirella: Quem é você ? E quem é Vicente ? - Pergunta, sem entender.

Samuca se desespera.

Samuca: Você tá louca! Isso não tá acontecendo! Só pode ser um sonho. Eu quero acordar! - Grita, já sem ar.

Samuca: VICENTE!!!


Samuca acorda gritando, todo suado e tossindo, sufocado.

Deitado ao seu lado, Vicente acorda assustado e o abraça.

Vicente: O que foi, meu amor ?

Samuca agarra ele e o abraça desesperado, sentindo seu cheiro e seu calor.

Samuca: Você tá aqui!

Vicente: É claro que eu tô! Calma, foi só um sonho.

Samuca: Me abraça mais forte! - Pede, chorando e com o coração acelerado.

Samuca: Eu sonhei que você não existia. A gente nunca se conhecia e eu te procurava e não te achava. Foi horrível!

Vicente o aperta forte.

Vicente: Eu tô aqui! Foi só um pesadelo, meu amor.

Vicente pega a mão dele e coloca em seu peito.

Vicente: Olha meu coração. Viu só, eu existo. E sou seu namorado! - Diz, com uma voz serena e calma, acalmando seu amor.

Samuca: Desculpa...

Vicente: Não tem o que se desculpar. Eu te amo, e não vou deixar nada de ruim acontecer com você!

Samuca: Te amo! - Declara, o beijando. Um beijo triste e com gosto de choro. Vicente finaliza o beijo com um abraço.


Cena 08 - Ferrovia abandonada - Manhã


Samuca chega para encarar mais um dia de trabalho. Ele se olha no retrovisor do carro, dando um tapa de leve em seu rosto, tentando disfarçar sua cara de choro e olheiras. Ele tira o cinto e sai do carro, observando o local.

Era uma ferrovia antiga, afastada de tudo, com um campo enorme que não se via nem o final ao redor, e mais ao longe um açude. Ele respira fundo, sentindo o cheiro de terra molhada.

Samuca: Que raio de lugar é esse...

De repente, seu celular toca. Ele se anima ao ver que é Vicente.

Vicente: Oi, meu amor. Como cê tá ?

Samuca: Tô indo, né... Como tem que ser.

Vicente: Tem certeza que foi uma boa ideia você ir trabalhar hoje ?

Samuca: Creio que sim. Só o trabalho pra me fazer esquecer tudo isso, pelo menos me mantenho ocupado.

Vicente: Só não vai se esquecer de mim, hein ? rs.

Samuca sorri. - Isso nunca!

Vicente: E aí, chegou bem ?

Samuca: Sim. Me mandaram pra um lugar aqui bem afastado, aonde a prefeitura está estudando construir umas casas populares. Mas é até bonito...

Vicente: Huuum. E mais tarde, o que vai fazer ?

Samuca: Não dá pra adiar, né. Tenho que voltar pra casa e enfrentar a fera. Só faço isso pela minha sobrinha, porque por mim eu nem voltava lá!

Vicente: Qualquer coisa você tem a mim, viu. Não se esqueça.

Samuca: Que bom ouvir isso. Fico tão seguro...

Vicente: Bom, vou deixar você trabalhar. Te amo.

Samuca: Te amo, meu amorzinho. Beijo!

Samuca desliga o celular com um sorriso no rosto.

Samuca: Só você pra me fazer sorrir... - Pensa alto.

Em seguida, ele pega seus óculos escuros e os coloca, indo até uma construção abandonada próximo dali que está servindo de base para o escritório. Imagens aéreas o mostra andando até lá, ao mesmo tempo que exibe às belezas pouco exploradas do lugar.


Samuca chega no escritório improvisado, mas não tira seu óculos nem por um segundo. Não queria mostrar seu rosto inchado. Ele trabalha em silêncio, mexendo em seu notebook, enquanto Miguel envia alguns relatórios para o e-mail da prefeitura.

Lá fora, Mohamed estuda a área com alguns engenheiros.

Miguel nota o jeito calado de Samuca.

Miguel: O-oi! Tá tudo bem aí ?

Samuca: Hã ? Ah, sim. Só tô concentrado.

Miguel: Tomou um soco no olho, foi ?

Samuca: Não. Que isso, rs. Esse óculos é só porque estou bem sensível a essa claridade toda. Não dormi direito.

Miguel: Problemas no paraíso ?

Samuca: É. Acho que sim...

Miguel: Sabe que pode contar comigo, né ?

Samuca sorri. - Valeu!

Samuca volta a prestar atenção em seu notebook, mas com o coração apertado pensando em como será quando voltar pra casa mais tarde.

De repente, uma pessoa passa atrás dele, mexendo em algumas gavetas, e saindo em seguida.

Samuca continua digitando normalmente, até sentir um cheiro de perfume no ar. Um perfume que lhe é familiar.


Ao som de música instrumental 'Carolina' - Eduardo Queiroz


Instantaneamente uma lágrima cai de seu olho, e ele se arrepia dos pés a cabeça. Samuca se levanta com tudo e olha pra trás.

Miguel se assusta.

Miguel: Que foi, cara ?

Samuca: Quem tava aqui agora ?

Miguel: Aqui aonde ?

Samuca: Atrás de mim! Uma pessoa entrou, mexeu em algo e saiu, mas eu não vi quem era!

Miguel: Eu também não reparei. Deve ter sido algum peão!

Samuca começa a chorar.

Samuca: Não. Não era. Era o Bruno! - Afirma, com a respiração ofegante.

Miguel o encara, sem entender.


Imagem de Samuca congela em um efeito avermelhado.


Continua.


Se encerra no refrão de Comunicação Falhou - Mari Fernandez feat Nattan


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