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Seguindo Em Frente | Capítulo 21


A seguir

Seguindo em Frente - Capítulo 21 +14


Cena 01 - Ferrovia Abandonada - Manhã


Samuca volta a prestar atenção em seu notebook. De repente, uma pessoa passa atrás dele, mexendo em algumas gavetas, e saindo em seguida.

Samuca continua digitando normalmente, até sentir um cheiro de perfume no ar. Um perfume que lhe é familiar.


Ao som de música instrumental 'Carolina' - Eduardo Queiroz


Instantaneamente uma lágrima cai de seu olho, e ele se arrepia dos pés a cabeça. Samuca se levanta com tudo e olha pra trás.

Miguel se assusta.

Miguel: Que foi, cara ?

Samuca: Quem tava aqui agora ?

Miguel: Aqui aonde ?

Samuca: Atrás de mim! Uma pessoa entrou, mexeu em algo e saiu, mas eu não vi quem era!

Miguel: Eu também não reparei. Deve ter sido algum peão!

Samuca começa a chorar.

Samuca: Não. Não era. Era o Bruno! - Afirma, com a respiração ofegante.

Miguel: Quem é Bruno ?

As lágrimas descem pelo rosto de Samuca, que sente uma forte angústia em seu peito, como há muito tempo não sentia. Ele vai até lá fora e olha em volta. Miguel vai atrás dele. Samuca vê os operários trabalhando ao longe. De onde ele está, dá pra se ter uma visão ampla de todo o campo, e ele não vê sinal de mais ninguém por perto além deles dois.

Samuca: Isso não é possível... Entrou uma pessoa aqui agora! Como pode ter sumido assim ? Você também viu!

Miguel: Eu não vi nada. Eu estava distraído. Mas e daí se tiver entrado alguém ? Porque você tá assim, desse jeito ?

Samuca limpa suas lágrimas, voltando a cair em si.

Samuca: É que... Eu senti um perfume no ar, que me lembrou uma pessoa. Uma pessoa que já partiu! Mas apesar dela já ter partido, às vezes eu sinto a presença dela aqui comigo.

Miguel se surpreende com o que escuta, afinal Samuca nunca foi de falar sobre sua vida.

Samuca: É como se essa pessoa nunca tivesse me deixado.

Miguel: Talvez seja uma forma do seu subconsciente lidar com o luto. E você pode ficar tranquilo, não há mais ninguém aqui com nós. Os demais, estão muito longe pra sair assim, sem ser notado!

Samuca: É. Você tem razão. Acho que foi só uma crise nervosa...

Miguel: Vem, eu vou pegar um copo de água pra você!

Samuca o acompanha, e dá uma última olhada para trás novamente. E aparentemente, não há ninguém por perto. Ele volta a tranquilizar seu coração, enquanto bebe um pouco de água. Miguel o observa, preocupado.


Cena 02 - Casa de Samuca - Sala - Noite


Samuca chega em casa. Ele entra e fecha a porta. Tudo está escuro e aparentemente não há ninguém. O engenheiro acende a luz do abajur, iluminando a sala, e vai até a cozinha, onde dá de cara com Marta sentada na cadeira da mesa, em silêncio.

Samuca: Precisamos conversar.

Marta continua calada.

Samuca: Tudo o que aconteceu ontem, foi desnecessário. Vamos esquecer tudo isso!

Marta se surpreende.

Marta: Hã ? Esquecer ? Tem certeza ?

Samuca: Sim, eu não quero brigar mais. Eu só quero que você dê uma chance de conhecer o Vicente, de ver a pessoa incrível que ele é. Tente enxergar as coisas de outra forma!

Marta sorri, sarcástica. - E eu pensando que você tava querendo mudar de vida.

Samuca: Eu não vou mudar. Eu sou assim, é assim que eu nasci... Eu não posso viver uma vida que não é minha só pra te agradar e agradar aos outros, entende ?

Marta o encara, decepcionada.

Samuca: Não posso desperdiçar a minha vida pensando no que os outros irão falar, enquanto eles vivem e eu vou ficando.

Marta: Só cale a boca. Nada do que você fale... Isso pra mim não tem desculpa. É safadeza! Não é natural!

Samuca: Pois é assim que é e nunca vai mudar. Eu sou um homem que gosta de outro homem, boiola como você gosta de chamar né ? E eu não vou mudar pra te agradar. Lide com isso!

Marta dá um tapa na cara de Samuca, que dá um passo para trás com o impacto. Ele leva a mão ao rosto e em seguida a encara, sentindo não uma dor física, mas uma dor na alma.


Ao som de Movimento de Inverno - Alexandre Guerra


Vitória assiste a cena de longe, com Flora assustada, agarrada atrás de suas pernas.

Marta: Suas malas já estão feitas. Você já é adulto, vá cuidar da sua vida como bem entender.

Samuca se surpreende novamente.

Samuca: Você está me expulsando ?

Marta: Tome teu rumo. Eu já te criei, não tenho mais nenhuma responsabilidade. E tampouco sou obrigada a passar uma vergonha dessa! Um filho como você só pode ser um castigo...

Samuca fica alguns segundos paralisado, sem acreditar no que acabou de ouvir. Ele sai em silêncio até o seu quarto, para buscar suas coisas.

Vitória: Mãe...

Marta: Não. Não diga nada!


Cena 03 - Casa de Samuca - Quarto - Noite


Samuca pega suas malas e dá uma última conferida no quarto. Não havia mais nada seu lá. Ele tenta segurar suas lágrimas mas algumas ainda insistem em cair.

Flora entra no quarto.

Flora: Tio, você vai embora ?

Samuca limpa suas lágrimas e se abaixa até ela, olhando no rosto da sobrinha.

Samuca: Oi, meu amor.

Flora: Não vai embora!

Samuca: O tio vai se mudar sim, mas não é longe, viu!

Flora: Eu não quero! - Diz, o abraçando com força.

Samuca: Não fica assim, minha princesa. É normal a gente se mudar quando cresce. E eu já tô crescido!

Flora: Eu vou falar com a vovó pra te deixar ficar!

Samuca: Não precisa. Porque eu vou sempre vir aqui pra gente matar nossa saudade. E vou te levar pra passear muitas e muitas vezes!

Flora: Mas quem vai me colocar pra dormir agora ? Quem vai brincar comigo ? Eu não quero a mamãe, ela é uma chata!

Samuca se sente mais destruído ainda por dentro ao ouvir isso.

Flora se afasta dele.

Samuca: Meu amor, não fala assim...

Flora se afasta dele e sai correndo, chorando.

Vitória o observa, parada na porta do quarto, terminando de arrumar uma coisa ou outra.

Vitória: Vai mesmo ?

Samuca: Não tenho outra escolha. Mas eu venho pegar a Flora, pra levar e buscar na escola!

Vitória: Acho melhor não. A mãe tem razão.

Samuca: Hã ?

Vitória: Ela é muito pequena, não entende certos assuntos...

Samuca: Até você vai ficar contra mim ? Eu nunca faria nada que fosse prejudicial a ela!

Vitória: Eu nunca me meti nisso aí que você tem de gostar de outros homens, apesar de não concordar. Mas agora tem a minha filha no meio. Eu não quero que ela cresça assim!

Samuca: Escuta só o que eu vou falar... Você pode ser a mãe. Mas eu criei essa menina como se fosse a minha filha. E eu não vou aceitar que você ou qualquer outra pessoa me impeça de vê-la a hora que eu quiser. Senão teremos grandes problemas! - Diz, firmemente, enquanto pega suas malas e sai, deixando sua irmã sozinha no quarto. Ela fica pensativa, em tudo o que acabou de acontecer.


Ao som de Escravidão - Eduardo Queiroz


Samuca arrasta suas malas até a sala. Sua mãe está sentada na cozinha. Ele dá uma última olhada pra ele, que finge não o ver, e em seguida se despede de Flora.

Flora: Não vai...

Samuca: Eu vou voltar, meu amor. Ninguém vai me impedir de ter ver!

Flora o abraça.

Flora: Eu te amo, tio!

Samuca se emociona.

Samuca: Eu também te amo. Muito!

Ele se afasta e a olha por alguns instantes, sorrindo. Após isso, vai até pro carro e guarda suas malas. Ele olha para sua casa, a casa que nasceu e cresceu, e sente uma profunda tristeza em seu peito. Jamais imaginou que acabaria dessa forma. O engenheiro entra em seu carro, respirando fundo.

Flora corre até o portão, segurando a grade, chorando enquanto vê seu tio partir.

Samuca vê pelo retrovisor, sua sobrinha em pé na grade, o vendo embora. As lágrimas escorrem pelo seu rosto, enquanto ele se distancia cada vez mais. Ele dirige sem rumo pela cidade, sem saber que rumo tomar ao certo, extremamente desorientado.


Cena 04 - Beira de Estrada - Noite - Ao som de Luz Vermelha - Eduardo Queiroz


Samuca está com o carro parado em uma estrada deserta e escura, com as portas abertas e os faróis acesos. Ele está sentado no chão, na frente do veículo, com os botões de sua camisa abertos enquanto bebe uma cerveja.

Samuca: Ela é minha filha... Ninguém vai me tirar dela. Ouviu, Dona Marta! Mãe... Se é que eu posso te chamar disso. Hahaha... Mãe. Que piada! - Diz, um pouco bêbado e conversado sozinho palavras desconexas.

Seu telefone toca. Era Vicente, preocupado.

Vicente: Amor ?

Samuca: Que foi ? Não posso beber um pouco ?

Vicente: Onde você tá ? Que voz é essa ? O que aconteceu ?

Samuca: Onde eu tô... Hahaha. A minha MÃE me expulsou de casa. Ela não aceita que eu te ame. Mas não tem problema, o importante é que você faz amor gostoso!

Vicente: Samuca, onde você tá ? Pelo amor de Deus, me responde!

Samuca olha em volta, coçando os olhos.

Samuca: Perto de onde a gente se conheceu. De onde você me resgatou. Porque, quer vim me resgatar de novo, é ? Safadinho.

Vicente: Não sai daí, por favor. Não dirija nesse estado, eu tô indo para aí! - Pede, aflito.

Samuca: Tá bom. Eu te espero. Eu te esperei a vida toda mesmo...

Vicente desliga o celular e em um pulo pega seu carro e vai ao encontro de seu amado. Ao chegar lá, encontra Samuca sentado com a cabeça baixa.

Vicente: Samuca!

Samuca levanta sua cabeça e os dois se olham por alguns instantes.

Vicente sente seu coração apertar ao ver seu amor nesse estado.

Vicente: Levanta daí! - Pede, enquanto fecha as portas do carro dele.

Vicente: Amanhã a gente busca seu carro, vamos. - Afirma, enquanto o levanta e o dirige até o seu veículo.

Samuca: Ir pra onde, eu não tenho mais casa.

Vicente o acomoda em seu carro e coloca o cinto nele.

Vicente: Cadê suas coisas ?

Samuca: Pra que, bebê...

Vicente: Eu não vou perguntar de novo. Cadê suas coisas, Samuca ? Estão no porta malas, né ?

Samuca fica em silêncio, desorientado.

Vicente sai de seu carro e vai até o carro dele, buscando todas as malas e em seguida voltando pro seu veículo.

Vicente: Você ia ficar se entupindo de bebida até quando ? E não ia me procurar ? - Diz, com um olhar firme e bravo.

Samuca: Você tá nervoso ?

Vicente nada responde e dirige até o seu apartamento. Chegando lá, ajuda Samuca, que está um pouco tonto a subir. Ao entrarem, a primeira coisa que Vicente faz é tirar a roupa de Samuca para um banho.

Samuca: Hum, tá querendo a essa hora, é...

Vicente: Samuca, por favor. Eu sei que você ainda está um pouco consciente.

Samuca: Porque você me trouxe até aqui ?


Ao som de The Departure - Max Richter


Vicente: Você tinha que ter me dito. Era a primeira coisa que tinha que ter feito. Me procurado.

Samuca: Eu não... Queria te preocupar, rs.

Vicente: Eu já te falei. Agora os seus problemas são meus problemas também!

Samuca: Me dá um abraço...

Vicente o encara e vê o olhar de tristeza no fundo dos olhos de seu amado. Ele o abraça.

Samuca: Me desculpa...

Vicente: Não fala nada. Eu vou cuidar de você. A partir de agora você mora aqui, essa casa é sua também!

Samuca: Mas...

Vicente: Não tem mas. Eu sei que você me entende.

Samuca começa a chorar.

Samuca: Obrigado por cuidar de mim!

Vicente o abraça mais forte ainda, transmitindo segurança.

Vicente: Nunca mais queira resolver as coisas do seu jeito. Agora é do nosso jeito! - Afirma, beijando o rosto dele.

Vicente: Eu vou cuidar de você.

Samuca volta a sorrir.

Samuca: Eu te amo.

Vicente: Eu também te amo.

Os dois vão pro banho, e Vicente entra na água também.

Samuca: Tá fria!

Vicente: É pra curar essa sua ressaca! Mas eu te acompanho no banho também, pra te esquentar! - Diz, o abraçando. Os dois ficam coladinhos, se tornando um, enquanto a água fria percorre seus corpos quentes.

Após o banho, Vicente seca seu amor com todo cuidado.

Vicente: E aí, tá melhor ?

Samuca: Minha cabeça dói um pouco.

Vicente: Vai passar. - Diz, enquanto se afasta um pouco e o olha por inteiro.

Samuca: Que foi ? - Pergunta, envergonhado.

Vicente: Nem acredito que você tá aqui, comigo.

Samuca: Bobo...

Vicente: De que lado da cama você quer dormir ?

Samuca: Você escolhe, ela é sua.

Vicente: Não. Você ainda não aprendeu. Ela é nossa, assim como tudo aqui!

Samuca: Eu ainda tô me acostumando...

Vicente: Então se acostuma logo.

Samuca sorri e se senta na cama, ainda um pouco tímido. Vicente o olha, apaixonado.



Cena 05 - Apê de Vicente - Quarto - Manhã


Samuca acorda. A claridade da luz da manhã entra pelas cortinas cor bege do quarto. Ele se senta na cabeceira, ainda despertando.

Vicente chega com uma bandeja de café da manhã pra ele.

Samuca: O que isso ?

Vicente: Ah, tem de tudo aqui. Um bolinho de fubá, chocolate quente, tem até um morango que saí bem cedo pra comprar na feira.

Samuca: Eu digo, mas porque está me acordando assim ? Com esse mimo todo.

Vicente se senta na cama com ele.

Vicente: Porque você merece. E aí, passou a dor de cabeça ?

Samuca: Tá bem leve. Mas com toda essa comida aqui, impossível não passar por completo!

Os dois dão risadas.

Samuca prova o morango.

Samuca: Tá bem docinho.

Vicente: Então come. Gosto de ver se alimentando. E depois eu tenho uma novidade pra te contar...

Samuca: Que novidade ? Já fala logo!

Vicente: Vamos fazer uma coisa diferente esse final de semana. Já prepara a sua roupa de praia. Marina e Luan também vão!

Samuca: Ah não, não quero sair!

Vicente: Pois você vai. - Impõe, querendo que seu amado de divirta um pouco.


Cena 06 - Casa de Praia - Manhã


Imagens aéreas mostram uma praia do litoral com uma água azul cristalina, com várias ondas se formando. O céu brilha forte no céu. A casa de madeira, a poucos metros da água, é grande e bem aconchegante.

Com um óculos escuros e camisa aberta e florida, Vicente chega com o carro. Samuca se surpreende com a beleza do lugar.

Vicente: Gostou né.

Samuca: Não imaginava que a água estivesse tão bonita assim. Mas o que seu irmão vai dizer ?

Vicente: Eu disse pra ele que estou recebendo um amigo em casa. Ele ficou meio assim, tem um instinto de proteção muito forte, mas se acostuma.

Samuca: Não vai dar pra esconder sobre nós por muito tempo...

Vicente: Não vamos pensar sobre isso agora. Vamos apenas nos divertir!

O caseiro os recebe.

Caseiro: Fizeram uma boa viagem ?

Vicente: Boa não. Ótima! rs. E meu irmão, já chegou ?

Caseiro: Não, só um casal amigo de vocês. Mas saíram agora há pouco!

Samuca: Huuum. Marina e Luan foram aprontar por aí.

Vicente: Porque não fazemos o mesmo ? Vamos!

Os dois nem desfazem a mala e já vão dar uma volta pela orla, caminhar e ver o mar.

Samuca se senta na beira das águas e fica olhando o mar, enquanto Vicente sai para comprar algo. Ele olha os banhistas de longe, se divertindo enquanto nadam e surfam, e se lembra da última vez em que veio a praia.


FLASH BACK

"Bruno e Samuca ficam aquele restinho de tarde brincando no mar, jogando água um no outro e se empurrando, sem deixar faltar alguma ou outra mão boba, beijos e carícias.

Bruno: Já tá quase escurecendo. Se eu pudesse eu pausava esse momento e ficaria o resto da vida aqui com você.

Os dois se encaram, um de frente para o outro e quase cobertos pela água azul escura, restando apenas o nariz e os olhos de ambos para fora da água.

Samuca: Como você descobriu esse lugar ? Tá tão vazio aqui. Nem parece real!

Bruno: Nunca revelarei meus segredos! Mas uma vez eu te disse que teríamos uma praia só para nós!

Samuca: Misterioso esse meu futuro marido!

Bruno mantém um olhar misterioso e ao mesmo tempo excitante para ele.

Samuca: Tô ficando com frio.

Bruno: Deixe que eu te esquento!

Samuca: Acho que aceito a proposta!"

FIM DO FLASH BACK


Samuca dá um pequeno sorriso, se lembrando de cada detalhe, de cada expressão do rosto de Bruno. Inclusive de seu sorriso de canto que era sua marca registrada. Se lembrando de como havia sido feliz naquela tarde.

Vicente chega atrás dele.

Vicente: Posso saber no que está pensando ?

Samuca: Fui longe agora!

Vicente: Pois não vá longe não, porque eu tô bem aqui!

Samuca sorri, e evita falar de Bruno para ele, pois esse assunto poderia o deixar entristecido.

Samuca: A Flora ia adorar esse lugar.

Vicente se senta com ele e o abraça.

Vicente: Não se preocupa. A gente vai resolver isso!

Vicente: Vamos entrar ?

Samuca: Agora ?

Vicente: E porque não, em um calor desses!

Samuca: Pode ir. Eu não gosto muito... Prefiro ficar só te observando!

Vicente tira sua camisa, exibindo seu peitoral peludo.

Vicente: Não sabe o que vai perder! - Provoca, correndo até as águas.

Samuca sorri, admirando a felicidade de seu amado.

Vicente nadava e brincava que nem uma criança, feliz e livre de qualquer problema. Aquele doutor, que salvava vidas e tomava decisões difíceis, naquele momento era só um menino se divertindo com as águas do mar.

Vicente se levanta e vai saindo da água, com os olhos semi abertos por causa do sol forte, passando a mão no cabelo e dando uma ajeitada em sua sunga. Ele a abaixa um pouco, conferindo seu bronzeado, e em seguida olha para Samuca, que o admira de longe.

Samuca sorri com as provocações dele.

Vicente vai se aproximando cada vez mais de Samuca, que desfaz o sorriso em seu rosto ao notar algo. Vicente sorri olhando para ele, mas a única coisa que chama a atenção de Samuca é aquele brilho dourado entre o peitoral peludo dele, refletindo com o sol.

Vicente: Acho que esqueci de passar o protetor!

Samuca nem escuta o que ele fala, com o olhar fixo em seu peitoral.

Frente a frente com Vicente, ele alisa seu peito com as pontas dos dedos, até sentir aquele metal em sua mão, segurando na palma da mão aquelas duas metades de um coração. No mesmo instante sua cabeça viaja novamente há 10 anos atrás, quando esteve na praia pela última vez com Bruno.


FLASH BACK

"Samuca: Ah, eu estava quase me esquecendo!

Samuca se levanta e pega algo na gaveta da cômoda.

Bruno: O que foi?

Samuca: Eu tenho uma coisinha pra ti... Pra você nunca se esquecer de mim!

Bruno sorri, tentando desvendar o que é.

Samuca abre uma caixinha, exibindo duas correntes com um pingente em formato de coração.

Samuca: É um coração, mas está dividido em dois.

Bruno olha, fascinado, ouvindo seu amor falar.

Samuca: São duas metades, um é meu coração e o outro é o seu. Eu fico com o seu, e você com o meu, daí quando estivermos juntos, eles se formam em um só."

FIM DO FLASH BACK


Vicente: O que foi, meu amor ?

Samuca continua olhando fixo para aquela correntinha no pescoço dele, passando os dedos entre os dois corações.

Samuca: Onde conseguiu isso ?

Vicente: O que ? Essa corrente ? É bonita, né ? - Responde, olhando pra ele com um olhar misterioso.

Vicente: Faz tempo que eu tenho. Estava guardada, mas resolvi usar essa semana!

Samuca: Quem te deu isso ?

Vicente: Ganhei faz alguns anos, de uma pessoa muito especial.

Samuca: Essa é uma corrente muito especial, que se dá a um namorado...

Vicente: Sério ? Pra mim era uma correntinha comum. - Responde, sorrindo.

Samuca: Essa correntinha é igual... A que eu comprei para o meu...

Vicente o interrompe.

Vicente: Para o seu ex ? Nem continue. É melhor eu entrar.

Samuca: Espera, é que...

Vicente: Como você acha que eu me sinto toda vez que você fala nele ? Parece que ele foi o maior amor de todos da sua vida e eu sou só uma consolação!

Samuca: Não é isso. Eu só me lembrei por causa da correntinha. Ela marcou a última viagem que a gente tinha tido...

Vicente: Será que um dia você vai me amar como amou ele ?

Samuca: Nunca mais repita isso, eu te amo Vicente. Eu te amo demais, e Deus te colocou em minha vida quando tudo parecia perdido porque tinha que ser você! Você é o meu salvador. Nunca duvide disso.

Vicente sente vontade de perguntar quem ele amou mais dos dois, mas se cala, com medo da resposta.

Samuca: Eu só me lembrei por causa da corrente, seu bobo.

Vicente acaba cedendo e relaxa mais. Os dois ficam bem próximos, mas evitam se beijar por ter algumas pessoas ao longe.

Samuca: Vamos conhecer a casa ?

Vicente sorri pra ele, mais confiante. - Vamos!

Os dois andam até a casa, mas Samuca não consegue parar de pensar em como ele pode ter conseguido aquele correntinha, embora tente disfarçar.


Cena 08 - Casa de Praia - Varanda - Tarde


Marina e Luan os espera na varanda.

Marina: Onde estavam ?

Vicente: Fomos conhecer o local. E vocês ?

Marina: Não queiram saber! - Fala, com um olhar malicioso.

Luan: O mesmo que vocês. Estávamos caminhando pela orla, nada demais, rs.

Vicente: Meu irmão chegou ?

Luan: Não sabemos quem é, mas não. Só tem a gente aqui!

Os quatro ficam conversando na varanda enquanto Vicente prepara o churrasco.

Marina e Samuca o obseva.

Marina: Ele parece hétero, com essa camisa jogada no ombro e assando churrasco, hahaha.

Samuca sorri. - É verdade.

Um carro chega próximo a eles, estacionando em seguida. Henrique desce do veículo e tira seus óculos escuros. Vicente sorri ao ver seu irmão.

Henrique: Cheguei tarde ?

Vicente o abraça.

Vicente: Chegou na hora certa.

O policial Alves, fiel amigo de Henrique também desce do carro, junto a sua esposa Luiza, cumprimentando a todos.

Vicente apresenta seu irmão para todos, orgulhoso de ter um irmão policial.

Vicente: Achei que você fosse trazer mais gente. A casa é grande!

Henrique: Mas eu trouxe!

Vicente faz uma cara de surpresa ao ver carro chegando e parando logo atrás do carro de Henrique.

Todos ficam olhando pra ver quem é, mas não imaginavam que a surpresa fosse tão desagradável assim.

Mirella desce do carro, toda arrumada e maquiada, olhando os amigos de Vicente dos pés a cabeça.

Henrique sorri. Vicente quase tem um treco ao vê-la. Samuca fecha a cara na mesma hora, sem acreditar. Luan fica constrangido e Marina faz uma cara de ódio. Alves fica sem entender o climão.

Mirella faz uma cara de nojo enquanto os encara.


Imagem de Henrique congela em um efeito amarelado.


Continua.


Se encerra em Shape of You - Ed Sheeran


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