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Seguindo em Frente - Capítulo 25 +14
Cena 01 - Apê de Vicente - Sala - Manhã - Ao som de instrumental Otto Dimas - Eduardo Queiroz
Samuca entra em silêncio, com um olhar triste e abatido.
Vicente, que cochilava no sofá, se acorda imediatamente com a chegada dele.
Vicente: Meu amor! O que houve ? Fiquei preocupado. - Diz, indo até Samuca e o abraçando.
Samuca se mantém o tempo todo mudo e com o olhar sério.
Vicente: Fiquei preocupado mesmo, você sumiu. Me deixou sozinho lá na casa do meu tio! Porque você tá assim ? - Pergunta, se aproximando pra dar um beijo nele, mas Samuca vira o rosto.
Vicente: Aconteceu alguma coisa ? Porque você sumiu daquele jeito da festa ? Fiquei um tempão te esperando, só dei uma saída porque o tio Antônio começou a passar mal.
Samuca: Tio Antônio ?
Vicente: Sim. É o meu tio Antônio, marido da tia Helena, minha madrinha.
Samuca se sente em um pesadelo, e sua vontade era acordar o quanto antes. A cada descoberta ficava chocado, não conseguia sequer imaginar o que ia ser a sua vida, com o passado batendo sua porta novamente.
Vicente: O que aconteceu, Samuca ? Porque saiu daquele jeito ? Me responde, aonde você dormiu ? Porque tá todo estranho desse jeito ?
Samuca: Não aconteceu nada, tá tudo bem.
Vicente: Você acha mesmo que consegue me enganar?
Samuca sente um nó na garganta, aquela situação toda era impensável. Em outra situação qualquer já teria explodido, colocado as cartas na mesa, mas agora estava sem reação, sem saber como agir.
Vicente: Alguém fez alguma coisa com você na casa do meu tio ? Te ofendeu ? Quem fez ? Conte-me e vou tirar essa história a limpo!
Samuca se mantém calado.
Vicente: Foi meu tio ? Ele brigou com um convidado, foi com você ?
Samuca: Não, nem conheço o seu tio. Eu só fiquei desanimado porque aquela era a minha melhor roupa e ficou toda manchada. Também tem o meu trabalho que está me dando dor de cabeça ultimamente, aí juntou tudo...
Vicente olha sério pra ele, sem acreditar em suas palavras.
Samuca: Não se preocupe com isso. Já passou!
Vicente: Poxa, queria que você tivesse conhecido meus tios. Você iria adorá-los. Mas não vão faltar oportunidades, agora estou mais próximo a eles do que antes!
Samuca pensa em questionar Vicente sobre seu parentesco com Bruno, mas hesita, ao ver a forma carinhosa com que ele fala de seus tios.
Samuca: Claro. Não faltarão oportunidades.
Vicente abraça seu amor, dando um beijo em sua boca.
Vicente: Fiquei muito preocupado.
Samuca: Dormi em um hotel. Estava muito estressado, não queria estragar sua noite! - Diz, enquanto sua cabeça está a milhão. Sua principal dúvida é se Vicente já conhecia Bruno ou não.
Vicente vira o corpo de Samuca, o mantendo preso em seus braços, ficando de frente a ele, sorrindo.
Vicente: O que vamos fazer hoje ?
Vendo aquele sorriso em volta daquela barba por fazer, Samuca não resiste e apenas o abraça, encostando sua cabeça no peito de Vicente.
Samuca: Me abraça.
Vicente: Oh meu amor, claro que te abraço. Você não tá bem né, eu sabia.
Samuca: Tô bem sim. Só precisava sentir o seu corpo! - Diz, enquanto sente o calor do corpo de seu namorado junto ao seu.
Vicente beija a cabeça dele, apaixonado.
Samuca volta a manter um olhar sério e indecifrável.
Cena 02 - Escritório de Antônio - Rua - Manhã - Ao som de instrumental 'Fantasmas' - Eduardo Queiroz
Com um óculos escuros, Marina para atrás de um poste e lê a placa com o nome de Antônio em frente ao seu escritório principal, no centro da cidade.
Marina: É aqui. No mesmo lugar de antes!
Marina fica observando por alguns minutos até ver Antônio sair com Heitor em direção a um restaurante.
Marina: É agora!
A moça atravessa a calçada e entra no escritório. Ao chegar lá, se depara com a secretária na recepção.
Marina: Bom dia.
Secretária: Bom dia, posso ajudar ?
Marina: Você é secretária do Seu Antônio, né ?
Secretária: Isso mesmo!
Marina: Meu nome é Marina. Eu sou jornalista e estou fazendo uma matéria sobre as empresas varejistas que mais se destacaram nos últimos anos, e claro que não poderia deixar o Seu Antônio de fora após o evento de ontem!
Secretária: Ah, que pena... Mas ele acabou de sair para o almoço.
Marina: Ah, sério ? Poxa. Toda vez que tento vê-lo nunca dá certo. Esse homem é pior que famoso! rs - Diz, enquanto dissimula tentando conseguir informações.
Secretária: Pois é. Ele é bem ocupado mesmo!
Marina: É né. Vida de gente rica assim. Mas me conta, ele tem mais irmãos ? Ou herdeiros...
Secretária: Hi, minha filha. A história é trágica. O único herdeiro direto dele, o filho, morreu em um acidente já faz alguns anos.
Marina: Sério ? Nossa, coitado. Deve ser muito difícil aceitar a perda de um filho tão jovem!
Secretária: Foi mesmo, o Seu Antônio não merecia isso, ele sempre foi um homem excelente, faz tudo que pode pelos funcionários, realmente foi uma injustiça. A esposa também demorou para se recuperar. Logo que o filho morreu, eles foram embora do país.
Marina: Mas deve ter sido bom, pelo menos ajuda a aceitar né ?
Secretária: Verdade, pelo menos ficaram longe por um tempo. E quem tomou conta de tudo enquanto ele ficou fora, foi o sobrinho dele, o Heitor.
Marina: Ah, o sobrinho...
Secretária: O Seu Antônio já ajudava muito as pessoas, mas pra esquecer essa perda ele começou a trabalhar muito e expandiu demais sua loja, hoje virando essa grande rede!
Marina: Por isso mesmo ele não pode faltar na minha matéria!
Secretária: Ele não gosta de expor isso, mas ele ajuda muitas instituições, até mesmo o hospital onde ele perdeu o filho.
Marina escuta a tudo, tentando juntar e conectar todas as informações que tinha e mais o que aquela mulher falava.
Marina: Bom ele deve demorar, então eu passo outra hora. Obrigada por me atender!
Secretária: Imagina! Tudo bem então.
Marina sai de lá pensativa.
Marina: Cada vez mais eu entendo menos!
Cena 03 - Casa de Dona Benedita - Cozinha - Manhã
Dona Benedita serve a mesa.
Dona Benedita: Que bom que você veio me ver, minha neta! Tava com tanta saudade...
Rosinha dá um sorriso.
Rosinha: Pois é. Eu também não consigo ficar longe da senhora.
Dona Benedita: Eu tô sem dinheiro pra comprar a mistura, mas eu fiz pão com ovo. Tá quentinho e com orégano, que eu sei que você gosta. Coma, fiz com amor! - Diz, colocando o pão no prato dela e servindo um copo de café com leite.
Rosinha observa tudo, tentando contêr a cara de nojo.
Rosinha: Obrigada, vó. Mas eu comi antes de vim!
Dona Benedita: Mas eu guardei esse pão pra você, minha neta! Você não gostou ? Você adorava quando era pititica!
Rosinha: Vó, eu vou trazer comida boa pra essa casa. Agora eu tô trabalhando e em breve eu sei que eu vou ganhar muito.
Dona Benedita: Não precisa de muito. Só o essencial pra sobreviver!
Rosinha: Eu sei, eu sei. Eu aprendi tudo isso no convento. Mas eu nunca mais quero passar fome de novo, então... Não faz mal querer ganhar um pouco mais, né ?
Dona Benedita: Você não sabe como me dói ouvir isso. Eu queria ter te dado uma vida boa!
Rosinha: Você fez o que podia. Aqui, eu trouxe algo! - Diz, abrindo sua bolsa.
Ela tira algumas notas de 200 e entrega para sua vó, que se assusta.
Dona Benedita: Valha Minha Nossa Senhora, que tanto de dinheiro é esse menina! Eu nunca vi isso!
Rosinha: É para os seus remédios, eu sei que você parou de tomar porque não podia comprar. E também pra comprar comida boa pra essa casa, pra ter uma alimentação reforçada!
Dona Benedita: Mas menina, é muito dinheiro!
Rosinha: É um adiantando que a minha patroa me deu. Ela gosta de mim, e sabe que eu preciso. Não se preocupe, pode ficar, eu guardei um pouco pra mim!
Dona Benedita começa a chorar, emocionada.
Dona Benedita: Minha Nossa Senhora. Eu não sei nem o que dizer... Eu tenho uma neta de ouro. Uma santa! Eu vou agora mesmo na farmácia!
Rosinha sorri.
Rosinha: Sabe, vó... Se um dia eu fizer algo errado, saiba que foi pra dar uma vida melhor pra nós duas! - Revela, sentindo levemente sua consciência pesar.
Dona Benedita: Que besteira, minha neta. Você é pura, não faz nada de errado!
Cena 04 - Apê de Luan - Sala - Manhã - Ao som de Loneliness Tensa - Iuri Cunha
Marina: Foi tudo muito estranho. E ela mencionou o Heitor, mas não mencionou o Vicente. Sendo que os dois são sobrinhos do Antônio! Eu não consigo entender o que está acontecendo.
Luan: Vai ver o Vicente era um sobrinho que ele veio a ter contado há pouco tempo, e não naquela época. Mas na boa, esquece um pouco isso. Você vai acabar enlouquecendo.
Marina: Não, eu preciso ajudar o Samuca. E eu sinto que tô no caminho certo!
Luan: Se você diz...
Marina: Eu fiquei pensando naquilo que você falou ontem...
Luan: O que ?
Marina: Nós não vimos o corpo do Bruno. E se... Não, deixa. Esquece!
Luan: Acho bom esquecer mesmo, isso que você pensou é loucura, é absurdo demais!
Marina: É, eu viajei agora. Você tem razão.
Luan olha pra ela, tentando passar segurança, mas também fica pensando no que Marina ia dizer, mas prefere não colocar mais lenha na fogueira.
Marina: Eu já sei o que eu vou fazer. Eu vou falar com o médico que cuidou do Bruno. Só pra ver se descubro mais alguma coisa!
Luan: Você tem certeza que quer fazer isso ?
Marina: Você sabe como eu sou. Agora quero ir até o fim!
Cena 05 - Casa de Dona Benedita - Sala - Noite
Rosinha: Vó, eu tenho que ir.
Dona Benedita: Não quer mesmo dormir aqui, minha netinha ? Fico tão sozinha nessa casa.
Rosinha: Eu não posso. O meu serviço começa logo cedo... Mas prometo passar mais tempo com você!
Rosinha fica pensativa por alguns instantes.
Dona Benedita: Quer me falar alguma coisa ? Eu notei desde que você chegou.
Rosinha: Sim. Mas eu não sabia como...
Dona Benedita: Lá vem... O que foi ?
Rosinha: Tem um rapaz, empregado do meu patrão que quer te conhecer.
Dona Benedita: Me conhecer ? Mas pra quê ?
Rosinha: Ele está me cortejando. No começo eu não queria, afinal eu sou uma serva do senhor... Tudo o que eu aprendi naquele convento eu vou levar para o túmulo. Mas depois... Depois eu vi que ele é completamente diferente dos homens de hoje em dia. Vó, ele quer algo sério, ele quer que você o conheça!
Dona Benedita: Minha neta, os homens não prestam, você não tem experiência nenhuma nisso! Todos eles parecem diferentes no começo, mas depois...
Rosinha: Eu sei, vó. Mas os meus próprios patrões, que também são pessoas religiosas, me confirmaram que ele é bom bom homem. Sem vícios e apegado a igreja!
Rosinha se aproxima de sua vó e pega em sua mão.
Rosinha: Vó, ele quer nos levar para a fazenda dele esse final de semana. Para que você o conheça primeiramente. E depois, com a sua aprovação, quem sabe não aconteça algo mais dentro do que é certo pela igreja!
Dona Benedita: Fazenda ? Não sei não, viu. O que um homem rico ia querer fazer com você ? Somos pobres!
Rosinha: Ah, vó. Mas eu também tenho o meu valor. Sou ou não sou bonita ?
As duas caem na risada.
Dona Benetida: Mas é claro que é. Olhe, eu só vou porque eu tô vendo o brilho dos seus olhos e porque você foi sincera e honesta comigo! Mas saiba que eu vou observar muito bem observado as intenções desse rapaz. E você vai ficar longe dele o tempo todo, para as pessoas não comentarem e você ficar falada!
Rosinha sorri.
Rosinha: Ai, vó. Eu te amo! - Comemora, a abraçando.
Cena 06 - Casa de Sol e João - Sala - Noite - Ao som de instrumental 'Ação da Vida' - Iuri Cunha
Sol passa o ferro em algumas roupas, mas se sente sonolenta. Ela desliga o aparelho da tomada e o deixa em pé ao lado do paletó de seu marido. Ela vai para o quarto, se preparar para tomar um banho.
João está mexendo em seu notebook na cama.
João: A Marina ainda não chegou ?
Sol: Tá na casa do Luan. Eu vou tomar um banho, o seu uniforme já está passado. Daqui a pouco coloco em sua mochila!
João: Obrigado, amor. Tô morto de cansaço!
Enquanto isso, a câmera vai se aproximando da sala. O ferro agora está deitado e ligado na tomada, em cima do paletó, que vai esquentando demais. Uma fumaça começa a levantar, se espalhando pelo ambiente.
Cena 07 - Apê de Vicente - Sala - Noite - Ao som de instrumental Cruel - Eduardo Queiroz
Samuca chega do trabalho e cai morto de cansaço na cama.
Vicente aparece no quarto: - Oi, meu amor. Muito cansado ?
Samuca: Demais. Não sei se é o serviço que tá ficando cansativo ou eu que tô ficando velho!
Vicente: Mesmo você velho eu vou te amar! - Afirma, se aproximando dele e dando um beijo.
Samuca retribui o beijo e acaricia o peito do seu amor, mas aquela sensação de paz acaba no mesmo instante, ao sentir em seu peito aquela corrente com as duas metades de um coração.
Um efeito sonoro grave toca em cena.
Samuca leva um susto e dá um pulo da cama, olhando para o peito de Vicente.
Vicente coloca sua corrente pra dentro da camisa, enquanto olha pra seu namorado, sorrindo.
Samuca o encara, pálido. Ele não consegue entender aonde Vicente pode ter conseguido a mesma correntinha a qual Bruno foi enterrado junto com ela.
Cena 08 - Casa de Sol e João - Sala - Noite - Ao som de instrumental Tom's Thiller - Iuri Cunha
O fogo se espalha por cima da tábua de passar, atingido chamas altas rapidamente.
Sol toma seu banho tranquilamente.
João termina de fechar alguns e-mais, sonolento, até que sente um cheiro estranho.
João: Mas o que é isso...
De repente, uma fumaça começa a invadir o quarto por debaixo da porta.
João dá um pulo da cama imediatamente.
João: Meu Deus, FOGO! SOL! - Grita, apavorado.
Sol sai do banho, enrolada na toalha e secando seu cabelo, sem entender.
Sol: O que foi, homem ?
João sai do quarto rapidamente e tira seu casaco. Ao chegar na sala, se depara com o fogo em cima da tábua, quase se alastrando para outros locais.
As chamas chegam no teto e queimam vorazmente.
Ele fica paralisado por alguns instantes.
Sol solta um grito de horror ao chegar na sala.
João começa a bater com seu casaco no fogo.
João: Ajuda, ajuda!!!
Sol acorda de seu transe, assustada, e corre em direção a área de serviço.
João consegue aos poucos amenizar as chamas.
Sol sobe as escadas com dificuldade, carregando um balde de água das roupas que estavam de molho. Ela entrega para João, que joga em tudo em cima do fogo. A água escorre pela sala, apagando as chamas de imediato, restando apenas a forte fumaça e neblina pela casa inteira.
Sol começa a tossir, se sentindo mal.
João: Você não desligou o ferro! - Esbreveja.
Sol: Eu desliguei sim, eu... Eu tenho certeza, eu desliguei. Você tem que acreditar em mim!
João a encara, assustado e preocupado pela saúde mental de sua mulher.
Sol: Eu não tô louca, eu desliguei sim!
João a abraça, a confortando, enquanto mantém seu olhar preocupado.
Cena 09 - Ao som de Uma Porta por Vez - Zé Antônio - Paisagens - O Dia Amanhece - As pessoas seguem para suas rotinas diárias
Cena 10 - Hospital - Recepção - Manhã - Ao som de instrumental Drama Silvério - Eduardo Queiroz
Marina e Luan chegam no hospital. Ele fica de canto, observando ela.
Marina: Boa noite. O Doutor Rogério se encontra ?
Recepcionista: Quem ?
Marina: Desculpa. Eu nem me apresentei. Estamos fazendo um trabalho da faculdade, e o Doutor Rogério foi meu médico há alguns anos atrás. Gostaria de poder entrevistá-lo, coisa rápida.
A recepcionista dá risada.
Marina: Disse algo que não devia ?
Recepcionista: O Doutor Rogério ? Desculpe te decepcionar, mas ele não trabalha mais aqui há muito tempo!
Marina: Ah, poxa...
Recepcionista: Mas eu sei quem pode te ajudar.
Marina se anima.
Marina: Sabe ?
Recepcionista: Sim. A enfermeira Sônia era o braço direito dele aqui. Ela deve saber para onde ele foi transferido, se é que isso te ajude!
Marina: Ajuda sim, claro!
Recepcionista: Ela deve estar atendendo, mas vou pedir para chamá-la.
Marina: Certo, muito obrigada!
Alguns poucos minutos, Sônia aparece, toda simpática.
Sônia: Posso ajudar ?
Um efeito sonoro agudo toca.
As duas se encaram por alguns segundos em câmera lenta.
Marina: Me ajudar... Claro, sim. É que na verdade estou fazendo uma pesquisa e procurei o Doutor Rogério, mas ele foi transferido. Aí me indicaram a senhora que era próximo a ele!
Sônia: Trabalhei muito com o Dr. Rogério. Você é estudante ? Se eu puder ajudá-la, será um prazer.
Marina: Na verdade eu quero saber sobre um paciente dele que morreu há 10 anos atrás, vítima de um atropelamento. Ele se chamava Bruno.
Sônia muda completamente sua feição, ficando com o olhar pesado.
Sônia: Bruno ?
Marina: Tudo bem ? A senhora parece que ficou nervosa.
Sônia: Infelizmente não vou poder te ajudar, tenha um bom dia.
Marina: Espere, vou jogar limpo com a senhora, eu não sou estudante coisa nenhuma.
Sônia: Eu tenho que voltar ao meu trabalho.
Marina: Meu amigo era namorado dele, o Samuca. Eu queria saber....
Sônia: Samuca ? Você o conhece ?
Marina: Você o conhece ?
Sônia: Aquele garoto era tão apaixonado, mas a família do outro era tão intransigente...
Marina: Você trabalha com o Dr. Vicente nesse hospital?
Sônia: Espere, você tá me deixando confusa. O Vicente sabe que o Bruno e o Samuca eram namorados ?
Malu faz uma cara de desentendida, na verdade era ela que estava ficando mais confusa ainda.
Marina: Pera aí... O que está acontecendo aqui ? Porque o Vicente nunca disse a verdade para o Samuca. Aí tem coisa... o que o Seu Antônio está tramando?
Sônia: Você não sabe o que tá dizendo....
Marina: Eu só quero entender tudo isso. Porque o Vicente nunca apareceu quando o Bruno estava aqui? Porque só procurou o Samuca agora? Depois de tanto tempo que o Bruno morreu. É muita coincidência que tenha sido por acaso!
Sônia: O que você sabe sobre isso ?
Marina: Nosso amigo Bruno foi atropelado e depois de alguns dias veio a falecer e agora...
Sônia a interrompe, sorrindo.
Sônia: Calma aí, é só isso que vocês sabem ?
Marina: Porque? Tem alguma outra coisa que deveríamos saber ?
Sônia: Bom, vem comigo, pelo visto nossa conversa será longa... - Afirma, olhando para os lados e a chamando para uma sala afastada. Marina fica com receio, mas corajosa que é, acaba indo.
Marina: Se importa se meu noivo for comigo ? - Pergunta, fazendo sinal para Luan ir junto.
Sônia: Claro que não. Venham!
Cena 11 - Apê de Vicente - Quarto - Manhã - Ao som de instrumental Fantasmas - Eduardo Queiroz
Vicente entra em seu carro e o tira da garagem, se preparando para ir para mais um dia de trabalho em sua clínica. Na janela do apartamento, no canto da cortina, está Samuca o observando com um olhar sério. Ele se vira e olha o quarto ao seu redor, como se procurasse algo.
Samuca vai até o guarda roupa e começa a mexer nas coisas de Vicente, abrindo suas gavetas e revirando tudo, mas não acha nada.
Samuca: Tem que ter alguma coisa aqui... É impossível você não saber sobre mim e o Bruno, já que são primos! Mas o que exatamente eu tô procurando aqui ? - Pensa.
Samuca se encosta na parede, refletindo, até que vê uma caixa em cima do guarda roupa. Ele fica paralisado olhando pra ela por alguns instantes, até que desperta e resolve agir: Ele afasta a cama pra perto do guarda roupa, e em seguida sobe na cama pra poder alcançar. O jovem tira a caixa lá de cima e passa a mão por ela, curioso.
Samuca: O que tem aqui... - Se pergunta, enquanto a abre ansioso. Ele vê alguns documentos na parte de cima, alguns arquivos do hospital até chegar no fundo, puxando várias fotos.
Um efeito sonoro grave toca assim que a câmera mostra o que ele vê.
Para sua surpresa, veio em sua mão várias fotos de Bruno, fotos que nem ele mesmo tinha e que sequer tinha visto algum dia.
Samuca: Mas o que significa isso ?
Samuca olha cada uma delas, até virá-las, e em uma tinha uma mensagem atrás. Ele começa a ler enquanto seus olhos começam a encharcar, deixando as lágrimas caírem.
Samuca: Por quê ? Por quê ? Isso não pode ser verdade... Vocês dois me traíram!
Samuca começa a chorar compulsivamente e vira aquela caixa no chão, com ódio.
Samuca: Traidores!
Cena 12 - Apartamento de Miguel - Ao som de O Carpinteiro - Nattan & Elias Monkbel
Miguel está deitado em sua cama, olhando para o teto e pensando em Rosinha.
FLASH BACK
"Rosinha está varrendo a varanda da mansão, quando Miguel chega em seu carro.
Ela o vê saindo do veículo, com um buquê de flores em mãos.
Miguel caminha até ela, sério.
A fraca luz que vem do sol entre as nuvens ilumina seus rostos.
Rosinha: Você...
Miguel: Eu trouxe essas rosas pra você.
Rosinha pega aquele buquê de rosas vermelhas, sorrindo.
Miguel: As mulheres de hoje em dia achariam antiquado, mas você... Você é diferente.
Rosinha: São lindas...
Rosinha olha em volta.
Rosinha: Eu não sei se posso aceitar. Alguém pode nos ver!
Miguel: Calma. Não estamos fazendo nada demais. Eu só vim de ter, tava morrendo de saudade. Saudade de você, do seu sorriso...
Rosinha sorri, enquanto cheira uma das rosas e olha pra ele com o canto do olho.
Rosinha: Obrigada. Eu adorei, ninguém nunca tinha sido tão legal assim comigo antes!
Miguel passa a mão no rosto dela, fascinado com a beleza da moça."
FIM DO FLASH BACK
Miguel: De onde você saiu, moça bonita... - Pensa, apaixonado.
Miguel: Eu vou te conquistar. E te levar ao altar! - Promete a si mesmo, confiante.
Cena 13 - Hospital - Sala - Manhã
Marina e Luan escutam Sônia falar, incrédulos.
Marina: Eu te falei. Eu não estava ficando louca!
Luan: Mas como fizeram isso ?
Sônia: Eu não sei como agir, estou tentando falar com o Vicente, mas nunca consigo. Por favor falem com o Samuca!
Marina: O Samuca já sofreu tanto e agora isso ?
Sônia: Eu sei, eu acompanhei de perto o sofrimento dele, mas o Vicente também sofreu muito, tanto quanto ele.
Marina e Luan ainda estavam sem reação com o que haviam acabado de descobrir. Jamais imaginavam que fosse algo tão grave assim.
Marina: Nunca que eu imaginaria uma coisa dessas. Como conseguiram fazer isso?
Sônia: A família do Bruno estava a par de tudo, e resolveu isso.
Marina: Quem mais sabe disso ?
Sônia: Sinceramente não sei, mas se o Samuca ainda não sabe, não irá demorar pra descobrir toda a verdade, se é que já não sabe.
Luan: O que vamos fazer, Marina ?
Sônia: Por favor, contem a ele antes que ele descubra de uma maneira torta e tome decisões erradas!
Marina: Eu vou resolver isso. Eu vou contar ao Samuca!
Sônia: E o Vicente ?
Marina: Ele não podia ter escondido isso.
Sônia: Ele não escondeu, ele nem tem idéia de tudo isso que te contei!
Marina: Enfim, obrigada por tudo. Agora iremos fazer o certo. Encerrar isso de uma vez por todas! - Afirma, olhando sério para Luan. Sônia se mostra tensa.
Cena 14 - Lanchonete - Manhã - Ao som de instrumental Dimas Curando - Eduardo Queiroz
Heitor: Vitória ?
Vitória olha para cima, vendo Heitor em pé a sua frente.
Heitor: Confesso que foi uma surpresa receber seu telefonema.
Vitória: Saiba que pra mim é um desprazer estar diante de você, depois de tudo que você fez.
Heitor: Então porque me chamou ?
Vitória: Só estou me submetendo a isso, pois preciso de um emprego pra sustentar a minha filha!
Heitor se senta de frente a ela, ouvindo ela falar.
Naquele mesmo lugar, do outro lado da rua, Ellen os observa.
Ela tira seus óculos escuros, sem acreditar.
Efeito sonoro de chocalho de cobra toca em cena.
Ellen: Olha só, esses dois juntos!!! Muito interessante.
Cena 15 - Apê de Vicente - Quarto - Manhã - Ao som de instrumental 'Carolina' - Eduardo Queiroz
Samuca segura as fotos de Bruno, acariciando o rosto do seu primeiro amor. Seus sentimentos se misturam; Raiva, saudade, paixão e ciúmes.
Samuca: Porque você me traiu meu amor ? Eu sempre fui leal com você... Você era tudo pra mim.
Em seguida, Samuca olha pra uma foto de Vicente na parede, tendo o mesmo sentimento.
Samuca: Eu estava tão bem sozinho, porque você entrou na minha vida, Vicente ? Porque eu tenho que reviver tudo isso ? Não é justo... O que eu fiz pra merecer uma traição dos dois amores da minha vida ?
Samuca limpa suas lágrimas, tentando tirar aquela decepção de dentro do seu peito, mas sente que seu chão havia se aberto, engolindo tudo que ele sempre acreditou ser verdade, levando embora a certeza de um dia ter sido amado por Bruno e por Vicente.
Samuca se levanta e sai sem rumo, se sentindo sufocado.
Cena 16 - Mansão de Antônio - Quarto - Manhã
Vicente está no quarto de Bruno, olhando as fotos dele na parede, até ser surpreendido por Helena.
Helena: O almoço será servido.
Vicente: Desculpa, é que deu vontade de entrar aqui. Às vezes bate uma saudade dele...
Helena: Tudo bem meu filho, você pode entrar aqui quantas vezes quiser!
Vicente sorri, em agradecimento.
Helena: Sabe... Você e o Bruno são tão parecidos, se ele tivesse conosco aqui, hoje vocês poderiam ser amigos, até trabalharem juntos!
Vicente: Seria uma honra! - Afirma, a abraçando.
Antônio entra no quarto.
Antônio: Então é aqui que vocês estão ? Estou azul de fome!
Helena: Calma querido, o Vicente tem vindo tão pouco aqui, só estamos colocando os assuntos em dia!
Antônio: Claro... Fico muito feliz com você aqui!
Vicente: Obrigado. Eu amo muito vocês! - Responde, emocionado.
Enquanto isso, a câmera se aproxima lentamente do quadro de Bruno na parede. Aquela imagem estática e com um sorriso no rosto, parecia observar os três juntos ali naquele quarto. De repente, uma corrente de ar frio entra pela janela.
Helena se aproxima para fechar.
Helena: Acho que vai cair uma chuva, hein!
Cena 17 - Rua - Tarde - Ao som de Não sei Dançar - Marina Lima
Samuca anda por uma ponte com grande movimento de carros. Chorando, ele se escora na proteção, vendo as águas geladas se movimentando lá embaixo. Deixando suas lágrimas caírem e se misturarem com aquela água sem fim, tal como sua tristeza.
FLASH BACK
"A luz da lua entra pela janela. Samuca está nu, deitado com o rosto no peito de Bruno, escutando seu coração e brincando com o pingente que havia lhe dado durante a viagem à praia.
Bruno: No que está pensando ?
Samuca: No nosso futuro. Eu tô tão feliz e esperançoso...
Bruno: E o que você vê nesse futuro ?
Samuca: Vejo você todo de branco no hospital. O Doutor Bruno! E eu, sujo de terra, visitando obras. Os dois formados e bem sucedidos!
Bruno: Vai ser exatamente desse jeitinho. Eu médico e você engenheiro. Mas me conta mais, eu adoro te ver falar...
Samuca: Filhos. Quero filhos! Uma família!
Bruno: Meu parceiro! Mal posso esperar pra chegar amanhã.
Samuca: Vamos ser felizes, né ?
Bruno: Claro que vamos. Confia em mim! Eu vou ajeitar as coisas."
"Vicente: Eu não sei como fazer isso, nunca fui bom com essas coisas... Eu achei que eu pudesse controlar o que eu sentia aqui dentro. Mas pouco a pouco isso foi crescendo em meu peito, até que não conseguia mais lutar contra.
Samuca: Vicente...
Vicente: Só me escuta!
Os dois estão frente a frente, e Vicente aos poucos vai se aproximando.
Vicente: Eu te amo, Samuca.
Samuca o encara nos olhos, hipnotizado pelo calor que vem do corpo dele.
Os dois se aproximam cada vez mais, até seus lábios se chocarem, transformando-se em um lindo beijo apaixonado.
Seus corpos estão colados, um sentindo o calor do corpo do outro, enquanto suas línguas se entrelaçam."
FIM DO FLASH BACK
Samuca: Porque ? Porque, Meu Deus ? Eu não merecia isso! Meus dois amores... Me traíram bem debaixo do meu nariz! Eu não vou suportar essa dor de novo! - Desabafa, chorando compulsivamente.
Samuca passa o dia fora, andando e pensando em sua vida, e nem nota a noite chegando.
Cena 18 - Apê de Vicente - Sala - Noite
Samuca entra no quarto e se depara com Vicente o esperando na mesa da cozinha.
Vicente: Posso saber o que está acontecendo ?
Samuca: Agora não estou com cabeça....
Vicente: Peraí, você chega a essa hora e é só isso que tem a me dizer ? Já é a segunda vez que você some sem mais nem menos! Eu tenho o direito de saber o que está acontecendo!
Samuca: Não venha me cobrar nada Vicente. Eu não fiz nada de errado.
Vicente: Então porque você tá chegando a essa hora em casa ? Onde você tava ? Seja sincero comigo!
Samuca se irrita: – Eu sempre fui sincero com você, quanto a isso você não precisa se preocupar. Mas e você ? Também foi sincero comigo ?
Vicente: Do que está falando ?
Samuca: Me responde!!!
Vicente: Não tente inverter as cosias Samuca, você não me ama mais não é ? - Pergunta, com a voz trêmula.
Vicente: Se não quer mais nada comigo, seja homem e me fale.
Samuca: Você que deveria ter agido assim comigo.
Vicente soca a parede, nervoso e sem entender entender as atitudes dele.
Vicente: Porra, Samuca! Se é assim, tudo bem. Eu vou sair, porque a última coisa que eu quero é brigar com você! - Dispara, pegando a chave do carro e saindo em seguida.
Samuca fica sozinho no apartamento e começa a chorar, tentando entender como seu namoro tinha chegado numa situação daquelas.
Vicente dirige sem rumo, em meio a uma chuva que cai e chorando enquanto dirige.
Cena 19 - Ao som de instrumental Starry Night - Jordan Critz - Paisagens - O dia amanhece
Cena 20 - Apê de Vicente - Quarto - Manhã - Ao som de Winds of Capadocia - Alexandre de Faria
Samuca acorda cedo e começa a arrumar suas malas, decidido a ir pra um hotel.
Do lado de fora do apartamento, Marina e Luan chegam de carro.
Luan: Espero que o Vicente esteja aí!
Marina: Vamos ver.
Luan: Tem certeza que é a coisa certa a se fazer ?
Marina: Temos que contar tudo pro Samuca. Ele merece saber a verdade, antes que saiba de uma forma torta!
Os dois descem do carro e entram.
Luan se mostra nervoso.
Luan: Como será que ele irá reagir... Olha o que o destino fez. O Vicente odeia o Samuca!
Marina: Você está enganado, o Vicente ama o Samuca, essa é verdade que prevalecerá!
No quarto, enquanto arruma suas cosias, Samuca vê novamente aquela caixa no guarda-roupa e novamente volta a abrí-la, vendo as fotos de Bruno, que Vicente tinha.
Mas diferente da outra vez, agora ele lê os papéis que estão em cima e rapidamente sua atenção redobra, folheando aquelas folhas com maior atenção.
Samuca: Perai... Eu não entendo.
A campanhia toca. Ainda segurando a caixa, Samuca vai abrir a porta dando de cara com Marina e Luan.
Marina: E aí, podemos entrar ?
Samuca se surpreende com a visita dos dois aquela hora.
Luan: Que malas são essas ? Vai viajar ?
Samuca: Eu vou embora, o Vicente me traiu. Ele e o Bruno!
Marina: Calma, Samuca...
Samuca: Olha só o que encontrei, olhe essas fotos. Olhe essa declaração!!!
Samuca mostra uma foto de Bruno com um texto atrás, escrito por Vicente.
Marina: Samuca, você está tirando conclusões precipitadas. Essa história é muito mais complexa do que você pensa.
Samuca: Eles me traíram Marina, o Bruno me traiu com o próprio primo. Até uma corrente igual eu a que dei a ele, ele deu para o Vicente! Porque eles fizeram isso comigo ? - Se questiona, revoltado.
Luan: Ontem fomos ao hospital e falamos com a enfermeira Sônia, você se lembra dela?
Samuca: O que ?
Marina: Essa enfermeira que trabalha com o Vicente é a mesma que deixava você entrar para visitar o Bruno na UTI.
Samuca: Meu Deus... É ela!!! Eu sabia que a conhecia de algum lugar. Mas porque vocês estão me falando isso ? O que tá acontecendo aqui ?
Marina: Nós fomos atrás de uma coisa e acabamos descobrindo outra que nem imaginávamos. Na verdade o pai do Bruno fez tudo debaixo dos nossos olhos. Estávamos tão focados no que tinha acontecido, que nem percebemos isso.
Samuca: O que está acontecendo Marina, o que vocês descobriram ? Tem a ver com o Bruno ? Com o Vicente ?
Marina: Vocês três vão estar ligados pra sempre. Eu vou te contar toda a verdade, tudo o que eu descobri!
Samuca: Como assim ? O que descobriu ? Afinal, que mistério todo é esse?
Marina e Luan se entreolham. Samuca os encara, ansioso.
Imagem de Samuca congela em um efeito preto e branco.
Continua.
Se encerra no refrão de I Way Down We Go - Kaleo
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