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Seguindo em Frente | Capítulo 12


A seguir

Seguindo em Frente - Capítulo 12 +14


Cena 01 - Estrada - Tarde


Vicente: A chuva está aumentando, vou esperar melhorar para ter mais visibilidade e vamos embora daqui.

Samuca: Tanto faz.

Vicente: Ainda está com frio ?

Samuca: Tô de boa. Obrigado, Doutor!

Vicente: E a história se repete. Nós dois aqui, no meio dessa estrada deserta!

Samuca: Como assim ?

Vicente sorri pra ele.

Vicente: Você nunca se perguntou quem te resgatou dessa estrada, quando você bateu o carro?

Samuca: Você ? - Pergunta, confuso.

Vicente ri da cara de espanto dele.

Samuca: Então, você... - Aos poucos, Samuca vai assimilando tudo. Vicente não foi apenas o seu médico, mas também a pessoa que o resgatou naquele lugar isolado.

Vicente: Isso mesmo, eu te resgatei.

Samuca: Eu não sei o que falar! - Diz, envergonhado.

Vicente: Eu tento te falar isso desde a primeira vez que nos vimos, mas você nunca deu oportunidade!

Samuca se sente um idiota.

Vicente: Que foi, tá surpreso ?

Samuca: Eu nunca achei que fosse você. Pensei que tivesse sido um bombeiro, ou algum morador próximo...

Samuca abaixa a cabeça e evita olhar Vicente nos olhos. O barulho da chuva continua lá fora.

Vicente: Quando eu recebi o convite pra esse trabalho, procurei conhecer a região e vim um dia a tarde, conhecer melhor. Estava indo embora quando vi um carro no meio do mato e por impulso parei na hora e confesso que fiquei um pouco nervoso. No hospital eu já vi de tudo, tudo mesmo, mas nunca tinha passado por uma experiência assim.

Samuca volta a olhar pra ele.

Vicente: Quando te vi ali, só pensei em te salvar! Ainda bem que não foi nada grave. E quando você me viu na fábrica, eu realmente estava lá a trabalho. Mas obviamente eu iria aproveitar pra saber como você estava!

Após Vicente terminar de falar, o silêncio paira no ambiente por alguns instantes. Até que Samuca o quebra.

Samuca: Obrigado. Por ter me salvado!

Vicente: Não precisa agradecer. O importante é que tudo correu bem!

Os dois se olham nos olhos. O único barulho que se ouve é o da chuva lá fora, que vai se amenizando.

Vicente: Acho que já dá pra irmos.

Samuca: Tudo bem...

O médico dá a partida e dirige até a cidade. Durante o caminho, os dois ficam em silêncio.

Samuca: Pode me deixar na avenida. De lá eu chamo um uber!

Vicente: Imagina, eu te levo até sua casa! - Diz, dirigindo até lá.

Em pouco tempo eles chegam.

Vicente: Aqui ?

Samuca: Sim. Mais uma vez, obrigado por me resgatar!

Vicente apenas pisca o olho. Eles se despedem a cada um segue para sua casa.


Cena 02 - Casa de Samuca - Noite


Samuca entra e vai direto tomar um banho. A água quente lava o seu corpo nu, enquanto ele fecha os olhos se sentindo um grande idiota. No dia seguinte, enquanto organiza alguns documentos, ele procura sua pasta, fazendo uma grande bagunça na estante da sala.

Maria: O que tanto você procura, Samuca ?

Samuca: Minha pasta! Não acho em lugar nenhum!

Maria: Não ficou na fábrica ?

Samuca: Eu saí com ela ontem. Tenho quase certeza que eu entrei em casa com ela... Vou procurar no meu quarto de novo!

Ao entrar no quarto, ele fica pensativo.

Samuca: Será que... Ficou no carro dele ?

Apesar de não ter certeza, ele fica preocupado pois há documentos importantes nela. Samuca então resolve ligar pra Vicente.

Samuca liga para o RH da construtora e consegue o número do médico.

A secretária avisa que Vicente está atendendo, mas que ele pode passar lá.


Cena 03 - Convento - Tarde


Rosinha anda por um longo corredor acompanhada de algumas freiras. Os raios de sol entram por algumas frestas das longas janelas de vidro, com imagens de anjos.

Ao final do corredor, sua avó, Dona Benedita, a aguarda, com um sorriso no rosto.

Dona Benedita: Minha netinha... Tão linda! Olha como cresceu! - Diz, apertando a bochecha de sua neta.

Rosinha: Que saudades, vó.

Dona Benedita: Preparada para voltar para esse mundo de pecados ?

Rosinha: Eu aprendi muito aqui. Agora vivo somente pra fazer o bem e agradar o senhor!

Dona Benedita se emociona.

Dona Benedita: Que orgulho! Essa minha neta é uma santa!

As outras freiras se entreolham, com ar de riso com o que ouvem.

Dona: Venha! Eu preparei um galeto bem temperado do jeito que você gosta. E depois vamos procurar um emprego pra você!

Rosinha se despede das freiras, pega sua mala e parte com sua vó.

Ela olha para os prédios, e fecha seus olhos sentindo o calor que vem do sol.

Rosinha: Finalmente livre. Livre... - Diz, com um olhar misterioso.



Cena 04 - Consultório de Vicente - Tarde


Samuca: Boa tarde. Eu sou o rapaz que ligou há algumas horas. Sobre a pasta que eu esqueci com o Doutor Vicente!

Secretária: Ah sim, ele pediu pra você aguardar. Ele está com um paciente mas já fala com você.

Samuca se senta, aguardando. Sua ideia é apenas pegar a pasta e ir embora.

Após um tempo, Vicente abre a porta e se despede do paciente, e em seguida cumprimenta Samuca.

Vicente: Como vai ? - Diz, entregando a pasta para Samuca.

Samuca: Vou bem. Que bom que estava com você! Nem sei o que faria sem esses documentos!

Os dois ficam em silêncio por alguns instantes.

Samuca: Bom, obrigado. Já vou indo.

Vicente: Me espere. Meu turno já acabou, só vou fechar e a gente sai junto!

Os dois saem até a rua.

Samuca: Está escurecendo rápido, né ? - Diz, para tentar quebrar o clima.

Vicente: Verdade. Olha, tem um barzinho muito bom ali na esquina, não quer ir comigo ? Nem almocei hoje! Se você puder, claro.

Samuca: Tudo bem!

Vicente abre um sorriso contente e os dois caminham até o bar. Eles chegam e se acomodam.

Vicente: O que vai querer ?

Samuca: Acho que só um suco mesmo!

Vicente: Eu vou comer um X-Tudo.

Samuca: Não me parece algo tão saudável pra um médico!

Vicente: Ah, de vez em quando não faz mal!

Samuca: Eu gostei do seu consultório. Quanto tempo você é médico ?

Vicente: Eu me formei tarde, há poucos anos. Além do consultório, atuo na emergência do hospital também. É lá que me sinto bem! - Revela, empolgado ao falar de sua profissão.

Samuca: Você sempre quis ser médico ?

Vicente: Nem sempre. Antes eu queria ser policial... Mas aconteceram algumas coisas na minha há alguns anos que me fizeram seguir essa profissão!

Samuca o observa falar, vendo seu entusiasmo.

Vicente: Hoje eu não me vejo fazendo outra coisa!

Samuca: É muito legal! Mas é pra poucos. Não teria coragem, rs.

Vicente: Eu sou clínico geral. E acho gratificante poder cuidar das pessoas!

Samuca ouve tudo isso e é inevitável não se lembrar de Bruno.


FLASH BACK

"Bruno: No que está pensando ?

Samuca: No nosso futuro. Eu tô tão feliz e esperançoso...

Bruno: E o que você vê nesse futuro ?

Samuca: Vejo você todo de branco no hospital. O Doutor Bruno! E eu, sujo de terra, visitando obras. Os dois formados e bem sucedidos!

Bruno: Vai ser exatamente desse jeitinho. Eu médico e você engenheiro."

FIM DO FLASH BACK


Vicente: Tá me ouvindo ?

Samuca acorda de suas lembranças.

Samuca: Oi... Claro!

Vicente: Você ficou meio distante de repente!

Samuca: Não foi nada. Você apenas me lembrou uma pessoa!

Vicente: Eu falo muito, né ?

Samuca: Não, eu gosto de te ouvir suas histórias. O amor que você tem pelas coisas que faz!

Vicente: Mas a história mais empolgante de todas foi no dia que eu salvei um cara no meio do mato.

Os dois dão um sorriso tímido.

Samuca: Eu queria te falar uma coisa.

Vicente: Não precisa agradecer de novo.

Samuca: Não é isso. Eu queria te pedir desculpas!

Vicente: Desculpa ?

Samuca: Sim. Pelo jeito que te tratei no hospital, na fábrica, na chuva... Eu fui muito mal educado e eu não sou assim! Queria que você me perdoasse.

Vicente: Esquece isso. Foi só um mal entendido!

Samuca: Mas eu me sinto envergonhado!

Vicente abre um sorriso, tranquilizando Samuca.

Vicente: Já passou!

O papo continua, até que Samuca resolve ir embora, mesmo querendo ficar mais.

Os dois caminham até seus carros.

Samuca: Bom, então até semana que vem. Nos vemos na fábrica!

Vicente: Acho que não... Eu encerrei meu trabalho na fábrica essa semana!

Samuca sente uma profunda tristeza com o que ouve, mesmo que não saiba o porque.

Samuca: Sério ?

Vicente: Era só aquelas palestras, mas foi muito bom!

Samuca: Entendo. Bom, então a gente se esbarra por aí...

Vicente: É... - Responde, timidamente.

Os dois se despedem e vão pra casa. A tarde havia sido muito agradável para Samuca, mas acabou de uma forma que ele não gostaria, e um sentimento de tristeza invade seu peito. Vicente havia feito muito bem a ele, embora lembrasse muito o jeito de Bruno.

Os dias se passam e o final de semana de Samuca foi péssimo. Agora que Vicente não estava mais na fábrica, ele sentia um sentimento de vazio, como se tivesse perdido o encanto por aquele trabalho. Todos os dias acordava pra trabalhar como se fosse obrigado.

Já fazia um tempo que Samuca não via Vicente. Além do descontentamento com o trabalho, ainda estava se sentindo deprimido. Nos últimos dias as lembranças com Bruno estavam muito fortes. Em uma tarde, ele se pega olhando uma foto de seu amor.

Samuca: Meu amor, estou tão cansado de ser forte. Me dá forças pra acalmar essa saudade que eu sinto!

Ele abraça a foto e se deita com ela até adormecer.


Cena 05 - Casa de Marina - Quarto - Tarde


Marina está deitada no peito de Luan, que faz cafuné no cabelo dela.

Marina: Às vezes eu fico pensando. O Samuca foi muito forte de ter perdido o Bruno. Porque eu no lugar dele não sei se aguentaria te perder!

Luan: É diferente. E isso não vai acontecer! Nós ainda vamos viver muita coisa juntos.

Marina sorri.

Luan: Vai... Como você quer que seja a nossa casinha ?

Marina: Ai, eu amo decorar tuudo! O que não vai faltar é abajur e uns quadros assim bem dark. Ah, e também um cachorro, um gato e um peixe. Não, quer dizer, dois de cada, pra eles não se sentirem sozinhos!

Luan sorri.

Luan: Você é muito besta! Eu tô falando da casa em si. Sabe, não é de hoje eu junto um dinheiro. Eu quero comprar uma boa casa pra gente! Mas tipo, boa mesmo!

Marina: Hum, gostei! Arrumei logo um macho rico!

Os dois dão risadas.

Luan: Rico não. Mas focado sim!

Marina: Já que perguntou, é meu sonho uma banheira de hidromassagem. Pra dar um cochilo enquanto relaxa naquela água quentinha... Ah, e um mictório no banheiro também, porque o meu vaso você não vai usar. Homem suja demais!

Luan: Ah é, é ? E aquele monte de calcinha pendurada no registro do chuveiro ali no seu banheiro é o que, hein ?

Marina dá risada.

Marina: É diferente, bebê. Minhas calcinhas exalam morango!

Luan: Verdade ? Deixa eu conferir então!

Os dois de beijam, entre risos e abraços.

Luan: Eu quero te tirar logo dessa casa.

Marina: Porque ?

Luan: Eu não gosto muito daqui. Sei lá, é uma casa meio estranha!

Marina olha em volta.

Luan: Você nunca sentiu nada de diferente aqui ?

Marina: É uma casa velha... Mas sim. As vezes eu tenho medo de ficar sozinha. Sei lá, me sinto observada! Mas deve ser só impressão. Afinal, eu sempre fui muito corajosa.

Luan: De qualquer forma, você merece mais do que isso! - Diz, dando um selinho em sua noiva.

A porta do quarto está entreaberta. Uma silhueta preta mostra que algo ou alguém parece observar os dois.


Cena 06 - Ao som de Não sei Dançar - Marina Lima - Paisagens aéreas de São Paulo - Shopping - Tarde


Samuca passeia com Flora pelo shopping enquanto ela toma um sorvete de casquinha.

Flora: Não esqueceu da minha boneca não, né tio ?

Samuca: Claro que não. Eu vou te dar a melhor boneca de todas!

Os dois olham a vitrine de algumas lojas planejando o que irão comprar, até que um colega de trabalho aborda Samuca. Embora não queira falar de trabalho naquele momento, ele dá atenção ao rapaz por educação, enquanto segura a mão da sobrinha. Impaciente, Flora quer logo sair dali. Ela começa a querer soltar a mão de Samuca, que dividia sua atenção entre ela e o rapaz. Aos poucos, ele acaba soltando a mão dela e deixando a garota ver a vitrine de uma loja, mas ficando o tempo todo de olho nela.

Flora se distrai e vai se afastando cada vez mais. Em uma fração de segundos ela está sozinha e perdida. Ela vai caminhando sem rumo, procurando Samuca, até chegar no estacionamento.

Flora começa a chorar, com medo.

Flora: Tio ?

Ela vê um homem de costas, do outro lado da calçada. Achando que é Samuca, Flora sai correndo no meio da rua, sem se importar com os carros.

Ela vai em direção ao homem, sem perceber um carro vindo em sua direção.


No shopping, Samuca continua conversando com o rapaz.

Rapaz: Foi um prazer lhe reencontrar!

Samuca: Digo o mesmo. Qualquer coisa passa lá na construtora!

Os dois se despedem e Samuca volta sua atenção para a sobrinha, mas não a vê. Ele olha em todas as direções, a procurando.

Samuca: Flora!

No mesmo instante, um desespero toma conta dele.

Samuca: Cadê você, Flora!

Ele anda de um lado para o outro, olhando todas as pessoas que vêm e vão. Desesperado, Samuca aborda algumas pessoas mostrando uma foto de Flora em seu celular, mas ninguém diz tê-la visto.

Os olhos de Samuca ficam vermelhos e ardem. Ele vê um segurança e corre até ele.

Samuca: Por favor, me ajude. A minha sobrinha sumiu!

O segurança leva Samuca até uma sala, enquanto se comunica com outros seguranças pelo rádio. Eles pegam informações e uma foto de Flora.

Samuca: O que eu fiz, Meu Deus! Por causa de um segundo... - Se culpa, nervoso.

Ele se senta em uma cadeira, aguardando, e abaixa a cabeça, chorando baixinho. A agonia que sente é tanta que suas mãos tremem.

Segurança: Tem certeza ? Ok.

Samuca se levanta, agitado. - O que foi ?

Segurança: Me acompanhe, por favor!

Samuca: Mas o que aconteceu ?

Segurança: Vamos até a outra sala. É aqui perto!

Samuca segue o segurança, sem entender nada. Seu coração parece que vai sair pela boca.


Ao som de Another Love - ( Lukas Gadelha Cover )


Ao chegarem, o segurança abre a porta. Samuca sente que um peso havia saído de suas costas e se ajoelha, emocionado.

Samuca: Flora!

Flora corre até ele, que a abraça e a beija.

Samuca: Meu amor, não faz mais isso comigo! - Diz, enquanto deixa algumas lágrimas caírem.

Samuca volta a olhar pra ela, beijando seu rosto.

Samuca: Nunca iria me perdoar se alguma coisa acontecesse com você!

Flora: Não chora, tio!

Samuca: Graças a Deus você está bem!

Flora: Eu tô bem, tio. O anjo me salvou!

Samuca sorri: - Anjo ?

Só então Samuca se dá conta do que está acontecendo. Ao levantar a cabeça, olhando mais adiante, seu anjo está em pé no fundo da sala, sorrindo pra ele.


Imagem de Samuca congela em um efeito alaranjado.


Continua.


Se encerra no refrão de Another Love - ( Lukas Gadelha Cover )


2023 - DNA

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