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Seguindo em Frente - Capítulo 26 +14
Cena 01 - 10 anos antes - Rua - Manhã
O dia ainda está nascendo e os primeiros raios de sol começam a brilhar. Seguindo aquela rotina há dias, Teresa desce de um ônibus na esquina de sua casa, carregando uma mochila e bolsas, com sua aparência extremamente cansada. Ela caminha de cabeça baixa pela rua, ainda vazia, até ser vista por uma vizinha que logo corre até ela.
Maria: Teresa!
Teresa olha para a conhecida, dando um sorriso discreto.
Maria: Tá chegando agora ?
Teresa: Sim, tenho que resolver umas coisas aqui em casa, fazer uma faxina e depois volto pra lá!
Maria: Deixe que eu te ajudo com essas bolsas. Deve tá pesada! - Fala, pegando as bolsas e a ajudando até chegar na porta de sua casa.
Teresa: Obrigada.
Maria: E seu filho ? Como ele tá ?
Teresa tenta conter o choro e passa a mão nos olhos, impedindo que a lágrima caia.
Maria: Eu te ajudo com essas coisas, tente descansar. Vou fazer um almoço reeforçado pra você! - Diz, tomando as rédeas e entrando na casa da amiga.
Teresa se senta no sofá, com a cabeça baixa.
Maria: Você não pode se abater, se você ficar doente, o que será ? E como ele tá ?
Teresa: Muito mal, a cada dia ele piora um pouco. Falei com o médico essa semana, as esperanças são mínimas! - Responde, sem conseguir mais conter o choro.
Maria: Não fique assim minha querida, ponha nas mãos de Deus.
Teresa: O meu menino, o meu filho querido, estou perdendo ele...
Maria:Não fale assim, cadê a sua fé ?
Teresa: Ela tá sempre comigo, mas é cruel demais ver um filho sofrer!
Maria se senta ao lado da amiga, a amparando.
Maria: O pessoal do grupo de oração que participo passou essa noite numa vigília, rezando por ele.
Teresa se sente emocionada com aquele gesto, sentindo o carinho de todos os seus conhecidos e até mesmo de estranhos.
Maria: Deixa que eu dou um jeito aqui, mulhé. Aproveite e durma, viu. Você precisa estar sempre forte!
Teresa aceita o convite da amiga e dormiu como a muito tempo não fazia, descansando de verdade.
As horas se passam e Teresa acorda já de tarde. A casa está toda arrumada e o almoço no fogão. Sobre a mesa, um bilhete de Maria, se despedindo e desejando melhoras.
Teresa toma um banho e come um pouco, mas recebe uma ligação do hospital pedindo a sua presença, a deixando aflita.
Desesperada, achando que o pior tivesse acontecido, ela pega suas coisas e entra no primeiro táxi que encontra na rua. Em sua cabeça pensa que tinha perdido seu filho e que estavam escondendo isso dela.
Cena 02 - Hospital - Recepção - Tarde
Teresa entra rápido no hospital, e já na recepção é abordada pelo médico que a chama.
Dr. Fernando: Dona Teresa, que bom que chegou.
Teresa: O que aconteceu com meu filho doutor ? Ele tá bem ? Por favor doutor, não me diga que...
Dr. Fernando: Vamos até minha sala.
Teresa não para de fazer perguntas, querendo ver o filho o quanto antes, mas o médico insiste em conversar com ela antes.
Os dois andam por um corredor e entram em uma sala.
Teresa: Cadê ele doutor ? Me fala, o que tá acontecendo ?
Dr. Fernando: Pedi pra chamar a senhora pois o quadro dele se agravou bastante.
Teresa começa a chorar, cada vez mais nervosa.
Dr. Fernando: Nessa tarde ele teve uma convulsão e por sorte ele não estava sozinho no quarto. Conseguimos controlar e optamos não sedá-lo, pois os remédios poderiam fragilizá-lo ainda mais...
Teresa: Mas ele tá vivo ?
Dr. Fernando faz uma pausa, hesitando em falar.
Dr. Fernando: Já havíamos conversado essa semana sobre o quadro dele, mas como não tivemos nenhuma evolução, infelizmente agora só podemos esperar pelo pior.
Teresa: Por favor, doutor, salve o meu menino, salve o meu filho...
Dr. Fernando: Tentamos de tudo, mas agora está fora de nossas mãos. Somente um milagre poderá salvá-lo! Mas ele ainda tá resistindo, acredito que pela força dele mesmo.
Teresa começa a chorar compulsivamente, extremamente aflita, sentindo o mundo desmoronar sob sua cabeça.
Dr. Fernando: Eu sei que é uma situação desagradável, mas tente manter um certo controle diante dele. Deixá-lo agitado ou nervoso, só poderá agravar a situação dele.
Teresa: Tudo bem, o senhor tem razão. - Afirma, tentando engolir o choro e limpando suas lágrimas. Ela fica ainda algum tempo sentada, em silêncio, antes de ir para o quarto ver o seu filho.
Cena 03 - Capela do Hospital - Começo de Noite
Totalmente abatida, vai caminhando pelos corredores daquele hospital, até parar de frente com a capela.
Ela não pensa duas vezes antes de entrar e pedir a Deus para interceder junto ao seu filho. Naquela atual situação, o lugar nem importava, mas sim sua fé e sua força para pedir a cura do filho.
Teresa entra, procurando um banco para se sentar. A capela está praticamente vazia e antes mesmo de se ajoelhar, nota a presença de um rapaz da idade do seu filho, próximo ao pequeno altar. De joelhos e rezando em voz alta, ele ora desesperado, enquanto chora.
Samuca: Porque, meu Deus ? Porque está me castigando ? Porque permite que tantas vidas sofram dessa forma ? Eu te imploro! Salve o meu amor!
Samuca não se controla e começa a chorar compulsivamente. No altar, está a estática imagem de nossa senhora, com as mãos voltadas para o céu.
Samuca: Se eu pudesse, eu trocava de lugar com ele! Por favor, salve o Bruno...
Samuca implora de joelhos pela melhora de Bruno, e nem percebe que na fileira ao lado Teresa o observa. Quando nota que estava sendo observado, se recompõe, mas ela se aproxima.
Teresa: Está tudo bem com você meu filho ?
Samuca apenas abaixa a cabeça, chorando baixinho.
Teresa se senta ao seu lado, segurando suas mãos.
Teresa: Não sei o que se passa com você, mas tenha fé, creia, acredite.
Samuca: Só pode ser um castigo...
Teresa: Deus não castiga ninguém...
Samuca: Então porque está fazendo isso com meu amor ? Porque não o salva?
Teresa: Deus tem um plano para cada um de nós, nenhum sofrimento é em vão. Você precisar ter fé. Tudo vai dar certo!
Samuca: A Senhora fala isso porque não está passando pelo que estou passando, não consegue imaginar a dor que estou sentindo.
Teresa: Eu acho que consigo sim. Eu estava em minha casa e o médico nos ligou. Meu filho está internado aqui há meses, seu estado é muito crítico e hoje seu médico nos disse que dificilmente ele passará dessa semana.
Samuca a escuta falar, surpreendido.
Teresa: Ele é apenas um rapaz assim como você, com a vida toda pela frente.
Samuca se sente envergonhado. Aquela mulher estava em uma situação até pior do que a sua mas mantinha-se forte e esperançosa.
Samuca: A senhora não se revolta?
Teresa: Me revoltar ? Eu amo muito meu filho, mas coloquei nas mãos de Deus. Estou rezando com toda minha fé, mas se esse for o destino do meu filho, que Deus esteja com ele.
Samuca: Eu queria ter essa fé...
Teresa: Vamos rezar juntos.
Samuca: Eu não sei se consigo. Não sei se tenho mais fé.
Teresa: Mas tem amor. Vamos ?
Ela estende a mão pra ele. Os dois se ajoelham e começam a rezar. Com os olhos fechados, Samuca clama a Deus por um milagre. Até que ele sente um beijo em sua cabeça e a presença dela sumindo.
Samuca permanece mais um tempo naquela capela, até que vai embora. Em sua cabeça ainda permanecia as palavras daquela mulher, que fizeram suas esperanças serem renovadas.
Apesar da gravidade do estado do filho, Teresa consegue se acalmar. Na verdade amparar aquele rapaz a fez se sentir bem.
Cena 04 - Hospital - Quarto - Noite
Sônia: Olha só quem chegou.
Teresa: Boa noite.
Teresa se aproxima da cama do filho, passando a mão em seus cabelos.
Sônia: Ele andou aprontando essa tarde.
Teresa: Estou sabendo, não posso deixá-lo sozinho mesmo... - Responde, tentando agir de maneira descontraída, pois não queria passar preocupação ao seu filho.
Teresa: Como você tá, meu filho ?
A câmera mostra quem está deitado na cama. Um efeito sonoro grave toca ao revelar o rosto de Vicente, abatido naquela cama de hospital.
Vicente: Não foi dessa vez mãe.
Teresa: Não fale assim filho...
Vicente: Mãe, tá tudo bem. Não precisa fingir pra mim, eu sei que eu vou morrer.
Sônia: Ele fica falado essas bobagens. Foi só o irmão dele sair, que começou a ficar com essas idéias!
Teresa beija a testa do filho, acariciando seu rosto.
Teresa: Você não vai morrer, eu tenho fé em Deus. O Meu Deus é um Deus de milagres! E ele vai te salvar dessa. Eu vou lutar por você até o fim, eu te prometo, Vicente. - Afirma, apertando a mão dele com força.
Os dois se abraçam, emocionados.
Cena 05 - Hospital - Corredor da UTI - Noite
Após sair da capela, Samuca observa Bruno pela janela do quarto.
Ele vê seu amor dormindo profundamente, com vários aparelhos a sua volta.
Samuca se emociona, tocando no vidro, como se tivesse tocando em Bruno.
Samuca: Durma bem meu amor, sonhe comigo. E eu vou sonhar com você, sonhar em como será nossa vida, quando você sair daqui. Eu te amo...
Samuca puxa sua correntinha com a metade de um coração e dá um beijo nela, enquanto vê seu amor de longe, naquela cama.
Sônia o observa de longe, presenciando todo aquele amor e afeto, e o vendo se despedir mais uma vez de Bruno.
Cena 06 - Hospital - Quarto de Vicente - Noite
Henrique entra em silêncio no quarto.
Teresa se anima ao vê-lo.
Teresa: Você chegou! - Diz, o abraçando. Henrique retribui o abraço, angustiado.
Henrique: Como ele tá, mãe ?
Teresa: Voltou a dormir.
Henrique: Mãe, foi horrível. Eu achei que ele fosse nos deixar! - Desabafa, chorando, sendo consolado por sua mãe.
Teresa: Não fique assim meu amor, eu estou rezando muito!
Henrique: Não tá adiantando, não é isso que ele precisa.
Teresa olha séria pra ele: - Nunca mais repita isso, não podemos perder nossa fé!
Henrique: Vai pra casa descansar, eu fico com ele essa noite.
Teresa: Não quero sair daqui.
Vicente: Ei, estou acordado viu! - Diz, se movendo com dificuldade.
Henrique: Te acordei, mano ?
Vicente: Não preciso de babá não, quero que os dois vão embora pra casa!
Henrique: Então tenta me mandar, vai, levanta dessa cama e me manda embora, seu bundão! - Fala, provocando seu irmão na brincadeira.
Vicente: Deixa só eu ficar bom pra você ver!
Os três ficam conversando de maneira descontraída. Apesar da fraqueza, Vicente parece muito feliz por estar ao lado do irmão e da mãe.
Cena 07 - O dia amanhece - Casa de Marina - Quarto - Tarde
Samuca se arruma pra ir tentar ver Bruno, seu ritual de todos os dias.
Marina: Melhor irmos mais tarde, os pais dele acabaram de sair pra ir pra lá. Parece que ligaram pedindo a presença deles.
Samuca: Mas então... Ele acordou!
Samuca abre um sorriso de felicidade diante daquela notícia.
Samuca: Agora mesmo que eu vou pra lá! E ele vai embora comigo.
Marina: Melhor ir com calma, não sabemos o que aconteceu...
Samuca: Calma nada, o meu amor voltou. Despertou!
Samuca vai pro quarto e volta com uma bolsa com roupas de Bruno.
Samuca: Eu deixei tudo pronto pra esse dia, porque eu sabia que chegaria! Eu vou levar algumas roupas, ele não deve ter nada pra vestir lá!
Luan: Você não acha que está se precipitando ?
Samuca: Eu tenho certeza. Ele voltou pra nós. Pra mim!
Luan estaciona o carro e os três descem.
Em um canto mais afastado da recepção, Antônio e Helena aguardam o Dr. Rogério, ansiosos. Samuca chega e se junta até eles, sem a menor cerimônia.
Dr. Rogério chega.
Dr. Rogério: Eu chamei vocês aqui, devido ao estado do paciente Bruno.
Antônio: O que aconteceu com meu filho ?
Helena: Ele acordou ? Podemos vê-lo ?
Dr. Rogério: Veja bem, eu já tinha conversado com vocês sobre a gravidade do caso dele. Esperamos por todos esses dias, sem sucesso, uma reação do quadro dele.
Dr. Rogério: Eu lamento ter que dar essa notícia pra vocês, mas nessa manhã confirmamos a morte do paciente Bruno.
Samuca: O que ?! Isso é mentira!
Helena não aguenta e cai no sofá, aos prantos. Antônio se mantém calado, em estado de choque.
Antônio: Meu filho ? Meu menino ? Morto ?
Samuca: Não... Não é verdade! Ele vai se recuperar, vai ficar bom novamente. Eu sei que o acidente foi grave mas ele está sendo bem cuidado, ele...
Dr. Rogério: Eu sei que é um momento difícil, mas... Infelizmente não há mais nada que podemos fazer.
Samuca se ajoelha no chão, chorando descontroladamente e sendo amparado pelos amigos. Marina e Luan também estavam visivelmente emocionados, mas buscavam forças para se manterem fortes pois Samuca iria precisar deles mais do que nunca.
Marina: Meu amor, tenta se acalmar, por favor...
Samuca: Ele não me deixou, é mentira isso! Eu conversei com Deus e eu senti algo bom! Eu senti que tudo ia ficar bem! Ele não pode ter me deixado.
Marina apenas olha para o amigo, também chorando, mas não consegue buscar palavras que posssm confortar Samuca.
Os dois se abraçam. Luan coloca as duas mãos atrás do pescoço, arrasado.
Antônio: Eu não aceito isso. Eu não aceito! Eu quero meu filho de volta, seus incompetentes! Eu quero o meu filho! - Diz, em um momento de fúria que logo vira desespero.
Antônio: O meu menininho... Tão novo, eu vi ele crescer, cada passo, cada palavra... Nãooo...
Helena: O nosso filho não... O que a gente fez pra merecer essa desgraça! Antônio, nosso filho! Traz ele de volta, traz...
Heitor: Mas o que houve, Doutor ?
Dr. Rogério: De madrugada o quadro dele se agravou, tentamos alguns procedimentos, mas... Hoje de manhã foi constatada a morte cerebral.
Samuca sai correndo daquela sala, indo para fora do hospital, sem rumo. Ele corre até parar no estacionamento, e, sem forças, se senta em um degrau.
Samuca: Porque ? Porque isso tá acontecendo ? Porque não me leva no lugar dele! Eu o amo tanto, tanto... O que será de mim... A gente ia ser felizes juntos, já tava tudo certo!
Samuca chora como nunca havia chorado antes em sua vida, sentindo a inimaginável dor da partida.
Ele sente uma mão em seu ombro. Era Marina, que se senta ao lado dele, fazendo o amigo deitar a cabeça em seu colo.
Marina: Chora meu amor, chora tudo que tiver vontade.
Samuca chorava que nem criança, no colo de Marina.
Marina também chorava muito, e sentia sua garganta arder, mas mantinha-se em silêncio tentando passar conforto para seu amigo.
Cena 08 - Hospital - Quarto de Vicente - Tarde - Ao som de instrumental Carolina - Eduardo Queiroz
Abalada por tudo o que acabou de presenciar em relação a morte de Bruno, Sônia entra no quarto de Vicente para verificar seu paciente.
Sônia: Boa tarde. Como tem se sentido ? - Pergunta, arrumando seu travesseiro.
Vicente: Como sempre. Cadê minha mãe?
Sônia: Tá tomando um café com seu irmão!
Vicente: A senhora parece triste.
Sônia: Eu? Imagina, é impressão sua.
Vicente: Eu vou morrer não é ?
Sônia: Não fale assim.
Vicente: A cada dia eu me sinto mais fraco, com mais dores... No fundo eu sei que não tem mais nada a ser feito.
Sônia: Na medicina tudo é possível, você está aqui agora porque você quer viver, por mais que os médicos possam dizer o contrário.
Vicente: Eu lamento nunca ter tido um pai. Lamento morrer e nunca ter amado ninguém e nunca ninguém ter me amado. Ninguém merece morrer sem conhecer o amor...
Sônia acaricia o rosto dele.
Sônia: A vida ainda vai te dar todos esses presentes.
Vicente: Eu sempre sonhei em ter alguém. E eu nunca vou poder experimentar esse sentimento, tenho tanto amor dentro de mim, mas ninguém pra poder dar. Só gostaria de sentir nem que fosse por um minuto a sensação de ser amado por alguém.
Sônia: Você vai enfrentar tudo isso e terá todos seus sonhos realizados! Acredite.
Vicente: Obrigado por tudo, obrigado pela maneira carinhosa que sempre me tratou.
Sônia sorri pra ele e pega em sua mão.
Henrique chega com um café na mão.
Sônia: Bom, vou deixar vocês a sós. Com licença! - Diz, se retirando.
Henrique: Que cara é essa, maninho ?
Vicente: Temos que ser sinceros. Eu não tenho muito tempo, e não adianta você me falar o contrário. Eu estou morrendo, Henrique. E eu quero que você cuide da mamãe, e de você!
Lágrimas começam a escorrer pelo rosto de Henrique.
Henrique: Para de falar assim!
Vicente: Você foi o melhor irmão do mundo. Eu te amo!
Henrique cai no choro e abraça seu irmão com força, como se ele fosse escapar a qualquer momento, deixando suas lágrimas molharem seu rosto.
Vicente: Eu me sinto cansado. Acho que quero dormir um pouco...
Henrique: Por favor Vicente, não nos deixe! Não faça isso com a gente, eu te amo, meu irmão! - Implora, colocando sua cabeça no peito do irmão, chorando como uma criança e sendo consolado por ele.
Parada na porta, Teresa cai no choro ao presenciar aquela cena entre seus dois filhos. Ela sai e os deixa sozinhos. Já não sabe mais o que fazer, todas as chances de salvar o filho já haviam sido esgotadas.
Ao andar pelo corredor, meio sem rumo e se segurando nas paredes, Teresa dá de cada com o Doutor Fernando.
Dr. Fernando: Teresa! Ainda bem que te encontrei. Podemos conversar ?
Um pouco aérea, Teresa o segue, indo até sua sala, onde Dr. Rogério também estava. E lá os três ficam, conversando a portas fechadas por longos minutos. Pelo vidro da janela, se nota que Teresa começa a chorar completamente com uma notícia que recebe, e se ajoelha no chão sendo amparada pelos dois doutores.
Cena 09 - Hospital - Quarto de Vicente - Tarde
Henrique está deitado com a cabeça ao lado do seu irmão, agora os dois em silêncio, até levar um susto com a chegada repentina da mãe, que parecia muito afobada.
Henrique se levanta, assustado.
Henrique: O que foi, mãe ?
Teresa: É um milagre, um milagre! - Diz, sorrindo, com os olhos cheio de lágrimas, mas dessa vez de felicidade.
Vicente: O que aconteceu, mãe ?
Teresa: Meu filho, conseguimos um doador!
Henrique: O que ?
Teresa: Conseguiram um coração, você vai poder fazer o seu transplante. Você vai receber um coração novo!
Já muito debilitado, Vicente começa a sorrir, sentindo uma ponta de esperança.
Cena 10 - Hospital - Quarto de Bruno - Tarde
Dr. Rogério acompanha Antônio e Helena até o quarto onde está Bruno. O caminho até lá parecia sem fim.
Ao ver o filho, Antônio e Helena se jogaram em cima dele, beijando seu rosto e afagando seus cabelos.
Helena: Oi, meu filho.... A mamãe tá aqui, viu ?
Antônio segura a mão de Bruno, enquanto Helena fica com a cabeça deitada próxima a do filho.
Seu corpo ainda está quente, seu coração ainda batia e sua pulsação era sentida, mas clinicamente ele estava morto.
Antônio: Ele tá vivo!
Dr. Rogério: Eu sei que é difícil aceitar, ainda mais vendo seu filho nesse estado.
Anrônio: Eu não aceito isso. Ele está respirando, seu coração ainda bate!
Dr. Rogério: Seu filho está clinicamente morto. Com a confirmação disso, precisamos da autorização da família para desligar os aparelhos.
Antônio: Precisa da minha autorização pra matar o meu filho ?
Dr. Rogério: Seu Antônio, o coração dele irá parar de qualquer maneira. É inútil prolongar esse sofrimento!
Antônio volta a chorar, olhando para o corpo de seu filho, que ainda estava corado e parecia dormir com uma expressão serena.
Cena 11 - Hospital - Porta de Entrada - Noite
Antônio e Helena decidem ir em casa trocarem de roupa, quando Dr. Rogério e Dr. Fernando os chama para sua sala.
Antônio estranha, mas os segue sem questionar. Afinal, não há mais nada que possa piorar naquele dia. Ao entrarem na sala, Antônio fica chocado com o que ouve.
Antônio: O que ? Não vou aceitar isso nunca.
Dr. Rogério: Fizemos alguns exames e é compatível com outro paciente que está aqui no hospital.
Antônio: Não vou aceitar que abram meu filho, não vou deixar que mutilem ele! Será que vocês não entendem minha dor ?
Dr. Fernando: O Senhor tem todo direito de recusar, mas veja bem, esse garoto já teve que recusar dois transplantes nos últimos meses pela não compatibilidade com os doadores. Ele tá desenganado, pode morrer a qualquer momento e o coração do seu filho é compatível. Está nas suas mãos salvar uma vida!
Antônio: Não, já disse que não e por favor não me incomodem mais com isso.
Dr. Rogério: Os aparelhos do Bruno serão desligados, por favor pense bem.
Dr. Rogério e Dr. Fernando se entreolham, desapontados.
Cena 12 - Hospital - Quarto de Vicente - Noite
Henrique não para de fazer planos de coisas que irão fazer juntos quando saíssem daquele hospital, deixando Vicente feliz, ao ver aquela alegria.
Henrique: Cadê minha mãe ?
Sônia: O Dr. Fernando a chamou. Devem estar falando sobre a sua cirurgia e enquanto isso trate de se acalmar, você está muito agitado!
Vicente sorri, com dificuldade: - Pode deixar!
Cena 13 - Hospital - Sala do Dr. Rogério - Noite - Ao som de Instrumental Escravidão - Eduardo Queiroz
Teresa: O que ?
Dr. Fernando: Infelizmente o pai do rapaz não aceitou a doação.
Teresa: O que ? Não aceitou ? Chegamos até aqui pra nada ? Tem que ter algum jeito!
Dr. Fernando: Infelizmente não tem nada que possamos fazer!
Teresa: E meu filho vai morrer ? Eu quero falar com essa família!
Dr. Rogério: Isso não é o procedimento padrão.
Desesperada, Teresa chora e tenta argumentar de todas as formas, mas é tudo em vão. Até porque essa decisão não depende dos médicos.
Ela volta arrasada para o quarto, não sabia como dar uma notícia dessas ao filho. Isso seria o golpe final em sua saúde.
Henrique e Vicente conversam animados.
Vicente: Mãe, dá um jeito no seu filho aqui! Ele não para de falar besteira.
Henrique: Vem aqui Dona Teresa, depois do transplante vamos aproveitar mais a vida e a senhora vai entrar nessa também!
Teresa sente seu coração cortar, vendo a felicidade dos filhos e sabendo que tudo estava como antes. Não teve coragem de contar toda a verdade para Vicente, pois seria crueldade demais com ele. Teresa resolve sair do quarto, deixando os irmãos acreditarem que terão um final feliz.
Cena 14 - Hospital - Manhã - Ao som de Você não me Ensinou a te Esquecer - Caetano Veloso
Antônio volta ao Hospital. Os aparelhos de Bruno seriam desligados mas ele insistia em manter o filho “vivo”.
Enquanto isso, a Enfermeira Sônia aproveita a ausência dos pais de dele e chama Samuca para se despedir de seu namorado.
Bruno continua como antes. Deitado em uma cama, com um aparelho apitando a todo o momento, mostrando seus batimentos cardíacos. Parecia que ele estava dormindo, com o rosto tão sereno e tranqüilo.
Samuca já entra chorando e vai se aproximando, tocando em suas mãos, puxando até sua boca e beijando em seguida. Sentindo seus lábios quentes pela última vez.
Samuca: Porque você fez isso comigo ? O que eu vou fazer com todo esse amor e tristeza que está dentro do meu peito ?
Samuca abraça seu amor, enquanto fala algumas palavras desconexas.
Ele se levanta, olhando para o corpo de Bruno, passando os dedos carinhosamente em seu rosto e em seguida voltando a abraçá-lo, agora deitando a cabeça em seu peito.
Samuca ouve o coração de Bruno bater, sentindo seu corpo quente e sua esperança era que ele se levantaria, mas sabia que isso jamais iria acontecer.
Samuca: Seu coração bate tão forte... Eu consigo te sentir! E eu sempre vou te amar. Vem me buscar, vem... Eu não vou conseguir continuar sem você.
Samuca volta a acariciar o rosto de Bruno e antes de deixar aquele quarto, se declarou pela última vez.
Samuca: Eu vou te amar para sempre, nessa e em todas as vidas que existirem. Vou agradecer a Deus por ter me dado a honra de ter o seu amor!
Aquela declaração foi selada com um beijo na testa do seu amado.
Ele sai devagarinho, olhando a cama de Bruno ficando cada vez mais longe, até que se vira e vai embora de vez.
Cena 15 - Hospital - Corredor - Manhã - Ao som de instrumental Amores Distantes - Rodolpho Rebuzzi e André Sperling
Teresa: Seu Antônio!
Antônio olha para trás, tentando reconhecer aquela estranha.
Teresa: Não nos conhecemos, mas fiquei sabendo da perda do seu filho. Meus sentimentos!
Antônio fica parado, em silêncio, a escutando falar.
Teresa: Meu filho está internado nesse hospital, ele precisa de um coração para viver...
Antônio percebe no mesmo instante onde ela iria chegar e não deixa a conversa continuar.
Antônio: Por favor, eu acabei de perder meu filho...
Teresa: E eu vou perder o meu se o senhor não autorizar essa doação!
Antônio: Por favor, respeite a minha dor.
Teresa: Eu respeito, e em nome dessa dor que eu já estou sentindo é que eu lhe peço, suplico. Permita essa doação. Eu não tenho dinheiro, não tenho nada pra lhe dar em troca, mas faço o que for preciso para salvar o meu filho.
Antônio olha em volta, sorrindo ironicamente.
Antônio: Tirem essa mulher daqui.
Teresa se joga nos pés de Antônio, segurando em suas pernas, chorando e se humilhando na frente de todos, mas é em vão.
Teresa: Meu filho é um rapaz cheio de sonhos, tem uma vida toda pela frente, ajude a salvá-lo.
Alguns médicos a tiram do chão, enquanto Antônio tenta se esquivar.
Henrique aparece, assustado.
Henrique: Mãe, o que houve!
Teresa: Perdemos meu filho, não conseguimos, eu fracassei, não tem mais nada que eu possa fazer pelo seu irmão!
Henrique abraça a mãe, que chora sem parar, enquanto Antônio se afastava, olhando os dois de longe.
Teresa vai para o quarto do filho, que está dormindo. Vicente está dormindo sereno, porém com o rosto abatido e extremamente magro pela doença. Aflita, Teresa sabe que ele irá acordar a qualquer momento e não teria como esconder dele que não teria mais a doação.
Cena 16 - Hospital - Quarto de Bruno - Manhã
Helena fica ao lado da cama de Bruno. Eles ainda relutam em desligar os aparelhos, mesmo não tendo a menor chance de mudar aquele quadro.
Antônio e Heitor estão em um canto, resolvendo questões burocráticas.
Heitor: Como o Senhor vai fazer ?
Antônio: Eu mesmo vou cuidar de tudo, eu vou cuidar do velório dele sozinho.
Helena: Se eu tivesse uma chance que fosse de te salvar meu filho, eu daria minha vida em troca! - Diz, entre lágrimas, abraçada com o corpo de seu filho sentindo o calor que vem dele. Antônio olha para a esposa, e ao mesmo tempo lembra de Teresa.
Cena 17 - Hospital - Quarto de Vicente - Manhã - Ao som de instrumental Amores Distantes - Rodolpho Rebuzzi e André Sperling
Vicente: Oi, mãe!
Teresa: Estava esperando você acordar. Eu preciso conversar com você!
Vicente: Tá tudo bem mãe, vai dar tudo certo na cirurgia!
Henrique vira o rosto, tentando esconder o choro.
Vicente: O que está acontecendo ?
Teresa fica séria e antes mesmo de dizer algo, Vicente começa a tossir e revirar os olhos, tremendo as mãos.
Henrique sai como um louco chamando um médico e rapidamente o quarto foi invadido por alguns enfermeiros que começam a medicá-lo.
Dr. Rogério conversa com Antônio até que Sônia entra aflita pedindo sua ajuda.
Sônia: Doutor, precisamos de ajuda, o paciente do Dr. Fernando está passando muito mal, estão levando ele pra UTI, acho que ele não vai resistir!
Dr. Rogério sai correndo da sala, sendo seguido por Antônio, que de longe vê os médicos levando Vicente, com Teresa e Henrique ao seu lado desesperados.
Ele sai e entra no banheiro. Chorando muito, se lembra de Bruno, do quanto amava o filho, se culpando das inúmeras vezes que brigou com ele.
Antônio bate na pia e limpa suas lágrimas, resolvendo dar um basta nessa situação toda. Ele sai apressado e invade a sala dos médicos, desesperado.
Antônio: Por favor doutor, eu aceito, eu permito que doem o coração do meu filho. Por favor, não deixe que aquele garoto morra diante dos nossos olhos!
Dr. Rogério: Seu Antônio, o senhor tem certeza ?
Antônio: Toda certeza desse mundo, salve a vida daquele rapaz. Faça o coração do meu filho bater no peito daquele garoto! - Pede, emocionado.
Os médicos correm contra o tempo.
Dr. Fernando imediatamente contata outros médicos, enquanto a sala de cirurgia é preparada. No estado que Vicente está, eles decidem não perder mais nenhum minuto.
Henrique e Teresa ficaram eufóricos com a notícia. Ainda consciente, mas muito debilitado, Vicente é levado até a sala de cirurgia, sendo seguido pela mãe e pelo irmão.
Teresa segura sua mão e em câmera lenta é surpreendida quando dá de cara com Antônio e Helena, passando pelo corredor, indo embora. Um efeito sonoro grave toca quando eles se cruzam. Zoom no rosto de Teresa e de Antônio.
No mesmo instante ela para, fazendo com que os médicos também pare com a maca.
Teresa: Obrigada, obrigado por tudo.
Antônio nada responde, apenas olha com compaixão para aquela mãe.
Vicente está muito fraco mas levanta o braço, estendendo até Antônio.
Vicente: Obrigado.
Antônio: Tente ficar calmo, seja forte, vai tudo certo.
Vendo que o rapaz ainda está com o braço estendido, Antônio segura sua mão, enquanto Vicente fala através da máscara que usa na boca.
Vicente: Obrigado por salvar a minha vida...
Imagem de Vicente congela em um efeito azulado.
Continua...
Se encerra no refrão de Believer - Imagine Dragons
Elenco de Apoio
Policial Alves
Dr. Fernando
Maria
2023 - DNA
A cada capítulo uma nova emoção.