A seguir
Seguindo em Frente - Capítulo 27 +14
Cena 01 - Apê de Vicente - Sala - Manhã - Ao som de Efeito Borboleta instrumental - Tristeza
Samuca escuta Marina contar toda aquela história, sem mover um músculo. Era um misto de choque, surpresa, felicidade, tristeza e vários sentimentos que se misturam em sua mente. Ele fica sentado olhando para o nada, deixando as lágrimas caírem, como se tivesse em transe. Marina se ajoelha até ele, fazendo-se ser notada.
Marina: Samuca, se o Vicente está vivo hoje, foi por causa da morte do Bruno. De uma maneira linda, o Bruno salvou a vida dele!
Samuca: O meu amor está no peito dele, eles nunca me traíram...
Marina segura a foto de Bruno, lendo o texto atrás.
Marina: Eles nunca te traíram, aliás, eles nunca se viram na vida. Isso aqui não é uma declaração de amor, é um agradecimento ao cara que ele nunca conheceu, mas que salvou a vida dele.
Samuca: O Bruno tá vivo! - Diz, rindo e limpando suas lágrimas.
Luan: Não, Samuca, não confunda as coisas. O Bruno morreu, quem está vivo é o Vicente!
Samuca: Ele disse que nunca iria me abandonar, pra que eu sempre confiasse nele e ele cumpriu o que prometeu!
Marina: Meu querido, o Bruno se foi.
Samuca: Eu sei, mas tem um pedacinho dele no Vicente. Os meus dois grandes amores em uma só pessoa. Ele salvou a vida do meu amor, e depois o colocou no meu caminho... E quando um estava morrendo, o outro estava revivendo. Revivendo pra mim, com o mesmo coração! - Afirma, misturando tudo, confuso. Era tanta emoção que ele sente como se o próprio Bruno estivesse vivo.
Marina e Luan se olham, parecendo se preocupar com as palavras do amigo.
Samuca: Eu preciso ver o Vicente, preciso pedir desculpas, abraçá-lo...
Marina: Calma meu querido, você tá muito emocionado, se tranqüilize um pouco.
Samuca: Eu preciso vê-lo, tocar seu peito. Coitadinho, ele deve ter sofrido tanto. Eu fui tão injusto... Eu não sei o que pensar, não sei..- Desabafa, se levantando e andando de um lado para o outro, tentando concentrar suas ideias.
Cena 02 - Casa de Teresa - Sala - Manhã - Ao som de instrumental Escravidão - Eduardo Queiroz
Os raios de luz entram pela cortina. Vicente acorda, sentindo uma dor de cabeça. Ele havia dormido na casa de sua mãe, após ter brigado com Samuca na noite passada. Com algumas olheiras e se sentindo deprimido, o médico se levanta e joga uma água em seu rosto. Ele se olha no espelho por alguns instantes, refletindo. Até que se seca e vai para a sala. Ao chegar lá, se assusta ao ver sua mãe na cozinha preparando o café da manhã.
Vicente: Mãe!!!
Teresa: Oi, meu amor.
Vicente; Mãe que surpresa, você voltou.
Teresa: Cheguei cedinho. Vi que você estava dormindo e não quis te acordar! - Responde, indo até ele e dando um forte abraço. Vicente se aquece no abraço dela, sentindo o cheirinho de sua mãe e matando a saudade.
Vicente: Porque não avisou que vinha hoje ?
Teresa: Queria chegar de mansinho, pegar seu irmão no flagra.
Vicente sorri: - Achou que estávamos fazendo o que aqui ? Transformado a casa numa boate ?
Teresa: Nunca se sabe, né. Quando se tem dois marmanjões nessa idade e solteiros, rs. Mas deixa eu ver você meu querido... - Diz, alisando o rosto dele e se afastando, vendo o filho por inteiro com aquela roupa toda branca.
Teresa: Você tá magro.
Vicente: Você sempre fala isso, mãe.
Teresa: E o Henrique ? Cadê o meu delegado ? E que cara é essa ? Parece triste.
Mesmo feliz em ver sua mãe, Vicente têm no fundo dos olhos uma tristeza, por estar longe de Samuca. Tristeza a qual ele tenta disfarçar.
Vicente: Não estou não mãe. Estou feliz demais por você ter voltado!
Teresa olha em volta.
Teresa: Tenho que dar uma geral por aqui e depois vou à sua casa.
Vicente: Não!!! - Responde, sério, afinal sua mãe não sabe que ele é gay e muito menos que seu namorado está morando em sua casa.
Teresa estranha sua reação.
Vicente: Quer dizer, depois você vai mãe, não precisa se preocupar.
Henrique abre a porta sem acreditar.
Henrique: Tava fazendo a ronda aqui perto e não acreditei quando vi aquele carro parado ali na frente. Eu tive que vim conferir com meus próprios olhos! Mãe...
Henrique vai até ela e a enche de beijos e abraços.
Teresa: Filho, que saudade... Que coisa boa estar aqui com meus dois orgulhos. E parabéns meu filho, pelo cargo, eu sabia que você conseguiria!
Henrique: Obrigado, mãe.
Vicente: Viu, Dona Teresa. Agora a senhora tem um médico só pra você e um policial pra te proteger.
Teresa: Meu dois amores.
Cena 03 - Apê de Vicente - Sala - Manhã - Ao som de instrumental Carolina - Eduardo Queiroz
Após a saída de Luan e Marina, Samuca fica martelando em sua cabeça tudo o que escutou. Ele desfaz sua mala e guarda as fotos de Bruno, e em seguida toca nas coisas de Vicente, sentindo seu cheiro em suas roupas.
Samuca: Eu preciso te encontrar, meu amor.
Samuca se lembra de Bruno, enquanto olha a foto de Vicente ao lado da cama.
FLASH BACK
"Samuca: Vamos ser felizes, né ?
Bruno: Claro que vamos. Confia em mim! Eu vou ajeitar as coisas. Ah, lembrei de algo!
Bruno se levanta e retira seu pingente com a metade do coração do seu pescoço.
Samuca: Você não quer mais ?
Bruno: Claro que quero, é apenas pra você se lembrar de mim. Faz de conta que está levando meu coração junto com você! Amanhã começamos uma nova fase. E aconteça o que acontecer, eu sempre vou te amar!"
"Vicente vai se aproximando cada vez mais de Samuca, que desfaz o sorriso em seu rosto ao notar algo. Vicente sorri olhando para ele, mas a única coisa que chama a atenção de Samuca é aquela correntinha entre o peitoral peludo dele, refletindo com o sol."
FIM DO FLASH BACK
Samuca não sabe como explicar, mas pra ele não resta dúvidas que era o mesmo colar que comprou para ele e Bruno há dez anos atrás.
Samuca pega as chaves do carro e sai apressado para rua, querendo encontrar Vicente o quanto antes.
Ele dirige acima da velocidade e vai até o consultório de seu namorado, mas ao chegar lá se depara com tudo fechado. Samuca resolve então ir até o hospital.
Ao chegar lá vai logo abordando uma enfermeira, nervoso.
Samuca: Bom dia. O Dr. Vicente está ?
Enfermeira: Acho que ele só vem a tarde.
Samuca: Obrigado. Achei que ele tivesse aqui já! - Reponde, agradecendo.
Samuca: Eu preciso te encontrar, meu amor. Aonde você foi!
Samuca olha para seu celular e pensa em ligar, mas não queria pegá-lo de surpresa. Ele resolve voltar e esperar no apartamento. Mas, ao entrar no carro, vê algo que faz sua raiva subir.
De longe, vê um outdoor com o nome da loja do Antônio, que sorri na imagem. Na hora ele pensa em tudo que aconteceu, em tudo que esse homem fez para separá-lo de Bruno e por ter escondido a doação do coração dele.
Agindo por impulso, Samuca muda o caminho e segue direto para a loja matriz de Antônio, com a certeza de que o encontrará lá.
Cena 04 - Loja de Antônio - Manhã - Ao som de instrumental Dangerous - Rodolpho Rebuzzi e Mú Carvalho
Samuca entra na loja e finge estar olhando alguns produtos, e vai andando disfarçadamente até uma porta que está entreaberta. Ele entra devagar e sobe uma escada, até chegar em uma sala que está com a porta fechada.
Samuca se aproxima e para em frente, colocando as mãos de leve na madeira, sentindo a textura daquela porta. Em seguida ele encosta seu ouvido, e percebe alguns sons e risos vindo lá de dentro. Sem pensar direito, ele mete a mão na maçaneta e invade a sala, levando um grande susto com o que vê.
Samuca: Vitória ?
Vitória: Samuca!!! O que faz aqui ? - Pergunta, assustada.
Antônio: Mas como ousa entrar aqui!
Samuca fica paralisado ao ver sua irmã lá. Ele a encara, e ela desvia o rosto, visivelmente sem graça.
Samuca: O que você tá fazendo aqui com esse homem ?
Vitória: Calma, Samuca. Não é nada do que tá pensando. Eu posso explicar!
Antônio: Saia já daqui, marginal!
Samuca: Não estou pensando em nada, eu estou vendo! Eu nunca pensei...
Vitória fica cada vez mais nervosa e começa a gaguejar.
Samuca: Com você eu resolvo depois, eu vim aqui falar com esse cara!
Vitória sai, trêmula. Antônio e Samuca ficam sozinhos.
Samuca: Porque escondeu isso ?
Antônio: Isso o que ? Do que tá falando ? Tá doidão é, gazela ? Tá com abstinência de pó ?
Samuca: Essas ofensas não me atingem mais. Eu só quero saber porque não me disse que doou o coração do Bruno para outra pessoa! Por isso não me deixou entrar no velório dele, não é ? Pra que não ouvisse ninguém comentar nada.
Antônio: Do que tá falando ?
Samuca: Porque você tão cruel comigo ?
Antônio: Vai embora daqui. Não se aproxime da minha família! - Responde, nervoso. No fundo, Antônio começa a temer que de alguma forma Samuca procure Vicente e tente se aproximar, mas mal sabia ele que os dois são apaixonados um pelo outro.
Alguns funcionários entram na sala.
Antônio: Chamem a polícia!
Samuca: Não será necessário. Agora eu já sei de toda a verdade. E eu te garanto, que isso tudo só tá começado... Você vai pagar caro por tudo o que me fez!
Samuca se aproxima dele, ficando a poucos centímetros de seu rosto.
Samuca: Você ainda vai se ajoelhar aos meus pés, implorando por compaixão, que nem eu me ajoelhei um dia. E sabe o que eu vou fazer ? Te empurrar com o pé, que nem você fez comigo, lembra ? Toda a dor que você me causou eu irei te causar da forma mais cruel possível!
Antônio se treme de ódio, e receio por Vicente.
Samuca: E eu não faço isso por ser uma pessoa ruim. Eu faço por justiça! Me aguarde, Doutor Antônio. Todo-Poderoso. Sua hora vai chegar! - Dispara.
Os dois se encaram olho no olho, com um ódio mútuo e mortal.
Samuca vira as costas e se retira.
Antônio desafrouxa sua gravata, se sentindo sufocado.
Antônio: Vamos ver quem vai pedir compaixão primeiro...
Cena 05 - Casa de Teresa - Cozinha - Tarde
Vicente almoça com sua mãe e seu irmão. Os dois conversam e se divertem, matando a saudade como há muito tempo não faziam. Distraído, Vicente fica brincando com a correntinha que está em seu pescoço. Em sua cabeça só vem a imagem de Samuca e a saudade que sente dele. Vicente fica alisando seu peito, até sentir a cicatriz de sua cirurgia.
Cena 06 - Hospital - Centro Cirúrgico - Dez Anos Antes
Vicente é levado para o centro cirúrgico e os médicos dão início a operação, que mobiliza muitas pessoas e dura várias horas.
Muito religiosa, Teresa fica o tempo todo de joelhos, segurando sua bíblia e orando, enquanto Henrique anda de um lado para o outro, aflito, sem ter respostas.
Mesmo sentindo uma dor dilaceradora, Antônio faz questão de cuidar do velório do filho, que após ter seu coração retirado, é encaminhado para o necrotério do hospital.
O dia já tinha amanhecido e Samuca ainda está dormindo na casa de Marina e ao acordar resolve ir logo para o hospital. Certificando-se que ninguém da família de Antônio está lá, ele vai logo atrás de Sônia para conseguir ver Bruno.
Samuca: Posso vê-lo ?
Sônia faz cara de espanto ao vê-lo.
Sônia: Você chegou agora ?
Samuca: Sim, eu vou ficar o dia todo aqui, até poder vê-lo novamente.
A enfermeira Sônia faz uma cara de tristeza.
Sônia: Meu querido, os aparelhos dele foram desligados essa madrugada. A família autorizou o procedimento...
Samuca fica nervoso.
Samuca: Por quê ?
Sônia ia falar sobre o transplante, mas Samuca começa a se alterar, não a deixando concluir a frase.
Marina: Calma, meu amigo.
Samuca: Cadê ele?
Sônia: Está no necrotério, estão preparando o corpo para o velório.
Samuca sai correndo até lá, sendo seguido por Marina e Luan.
Mesmo sendo um local restrito, ele invade e entra.
Diferente do dia anterior, agora estava a frente do seu amor, pálido e sem sinal algum de vida.
Ao som de Você não me Ensinou a te Esquecer - Caetano Veloso
Samuca fica paralisado com o que vê.
Funcionário: Vocês não podem ficar aqui!
Marina: Por favor, ele só está se despedindo!
Vendo a emoção estampada no rosto de Samuca, que estava em um estado lastimável, o responsável pelo local se afastou junto com Marina e Luan, mas observando de longe.
Samuca observa de perto Bruno, olhando os traços de seu rosto, sua beleza.
Samuca: Nós vamos nos encontrar novamente! Você me deu seu coração e em troca lhe dou o meu.
Samuca retira a corrente que usava onde continha duas metades de um coração, a sua e a de Bruno, que havia colocado junto em seu pescoço.
Samuca coloca aquela corrente no pescoço de Bruno e em seguida lhe deu um selinho.
Samuca: Adeus meu amor!
A cirurgia de Vicente foi um sucesso e lembrando de toda essa história, Vicente deixa uma lágrima cair de seus olhos, passando a mão em seu peito, sentido seu coração bater.
Antes que a mãe e seu irmão percebam sua tristeza, ele se levanta e se apronta para ir para mais um dia de trabalho no hospital.
Cena 07 - Rua - Tarde
Nervoso após o embate com Antônio, Samuca sente como se todas as suas feridas do passado tivessem sido reabertas.
Chorando enquanto guia o carro, ele fica pensando no rumo que sua vida estava dando e a surpresa que o destino lhe reservou.
Antes de voltar a procurar Vicente, Samuca vai até o cemitério onde Bruno está sepultado. Ele anda por aqueles corredores e centenas de túmulos, até parar de frente com o do seu amor.
Samuca coloca uma rosa sobre o mármore e fica olhando para o sorriso de Bruno, naquela foto no centro do túmulo.
Inevitavelmente, suas lágrimas caem no mesmo instante, lembrando do seu primeiro amor.
Samuca: Obrigado minha vida, você estará sempre comigo. - Diz, passando a mão pela pequena foto dele.
Ele fecha os olhos, em silêncio, sentindo em seu peito algo que não conseguia explicar, mas algo que era muito bom.
Em seguida, Samuca vai para o hospital, sorrindo em meio as lágrimas, não vendo a hora de encontrar seu amado. Ele vê o carro de Vicente no estacionamento e corre para encontrá-lo, dando de cara com Sônia tomando um café.
Samuca a reconhece no mesmo instante e não diz nada, apenas a abraça, sendo correspondido.
Samuca: Agora eu lembro de você. E eu só posso te agradecer por tudo o que você fez!
Sônia: Não tem do que, meu querido. Eu fiz apenas o que o meu coração pediu!
Samuca se afasta.
Samuca: Cadê ele...
Ao som de Another Love - Tom Odell
Sônia pega nas mãos de Samuca e aperta.
Sônia: Tá lá dentro. Vai atrás dele! Vá até a sua felicidade!
Samuca sorri e entra, indo para a emergência, que naquela noite está tumultuada e logo vê o seu amor de longe.
Vicente conversa com um senhor enquanto o examina, sempre sorrindo. Samuca fica de longe observando, rindo discretamente, olhando sua feição, vendo o quanto aquele uniforme branco o deixa charmoso. E assim fica por alguns minutos, admirando seu jeito doce e carinhoso.
Enquanto olha para seu doutor, se lembra do último sonho que teve com Bruno, agora tudo fazia sentido.
FLASH BACK
"Samuca: Eu não quero que você vá.
Bruno: Você precisa. Só assim um novo caminho vai se abrir pra ti. Um anjo está em seu caminho, e você vai ser feliz novamente!
Samuca não entende o que ele quis dizer.
Bruno sorri pra ele, e mesmo sem os dois se tocarem, Samuca se sente abraçado."
FIM DO FLASH BACK
Samuca: Eu sei meu amor, obrigado. Obrigado! - Diz para si mesmo, em voz alta.
Samuca acorda daquele transe e não vê mais Vicente. Ele começa a andar, procurando, até vê-lo de longe, saindo do hospital.
Samuca corre o máximo que pode até ele, o alcançando no estacionamento.
Samuca: Vicente!!!
Vicente se vira imediatamente e olha pra Samuca, que sorri, com os olhos brilhando.
Os dois ficam se encarando e Samuca corre para o seu amado, o abraçando com todas as suas forças.
Imagem de Vicente e Samuca congela em um efeito esverdeado.
Continua...
Se encerra no refrão de Another Love - Tom Odell
2023 - DNA
Комментарии