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Seguindo em Frente - Capítulo 28 +14
Cena 01 - Hospital - Estacionamento - Noite - Ao som de Another Love - Tom Odell
Ele começa a andar, procurando, até vê-lo de longe, saindo do hospital.
Samuca corre o máximo que pode até ele, o alcançando no estacionamento.
Samuca: Vicente!!!
Vicente se vira imediatamente e olha pra Samuca, que sorri, com os olhos brilhando.
Os dois ficam se encarando e Samuca corre para o seu amor, o abraçando com todas as suas forças.
Samuca esparrama seus braços em volta das costas de Vicente, puxando o corpo do médico junto ao seu, sentindo seu coração bater junto ao seu peito. Vicente fica imóvel, sentindo o calor do corpo do seu namorado, seu cheiro.
Samuca: Me perdoa meu amor. Eu te amo, te amo muito. - Declara, emocionado e tremendo, se apertando ainda mais forte no corpo do seu amado.
Vicente não entende aquela reação, mas não diz nada. Apenas levanta os braços e também abraça Samuca.
Samuca levanta o braço direito e com a palma da mão, toca o peito de Vicente, sentindo o coração de Bruno batendo, batendo no peito do homem que ama.
Vicente cobre a mão dele com a sua, forçando ainda mais em seu peito, puxando em seguida e dando um beijo, afastando seus corpos até ficarem de frente um para o outro.
Vicente: Calma, Samuca.
Samuca: Me perdoa, eu sou um idiota, não queria brigar com você.
Vicente: Esquece isso, não fica assim... - Diz, acariciando o rosto de seu namorado, demonstrando todo seu carinho.
Samuca sorri para Vicente, que permanece sério, o puxando de volta para seu peito, o abraçando e acariciando suas costas e sua cabeça. Vicente finaliza esse abraço com um selinho.
Vicente: Vamos pra casa.
Samuca deixa seu carro no estacionamento do hospital e entra no carro de Vicente. Já é noite e aquele estacionamento está deserto, ou pelo menos parece. Vicente dá a partida e vai embora com Samuca, e nem percebem que são observados o tempo todo pelo médico Dr. Gustavo, colega de Vicente. Gustavo sai de trás de uma árvore, depois de ver toda aquela cena, e fica observando o carro partir em silêncio.
Durante o trajeto, os dois ficam o tempo todo em silêncio. Vicente parece prestar atenção no trânsito e Samuca fica pensando em como falar a ele que o coração que estava em seu peito era o do seu primeiro amor.
Vicente: Chegamos. Vamos entrar, na nossa casa!
Samuca entra e fica de frente para o médico, esperando algo, que vem rápido. Vicente o abraça, beijando seu rosto.
Vicente: Ainda bem que está aqui, fiquei muito mal essa noite longe de você!
Samuca dá um beijo bem intenso, segurando seu rosto e acariciando sua barba.
Samuca: Você é o homem da minha vida.
Vicente entrelaça suas mãos com a dele, olhando em seus olhos, sem dizer nada.
Os dois dão um sorriso tímido.
Vicente: Fiquei com muito medo que você não me amasse mais...
Samuca: Bobo, eu jamais vou deixar de te amar, ainda mais agora que...
Vicente: Agora que o que ?
Samuca: Nada. Esquece. Só me beija! - Pede, voltando a beijá-lo. Sentindo seus lábios arranharem naquela barba, enquanto sua língua ia de encontro junto com a do médico. Eles cessam o beijo com vários selinhos, em meio a sorrisos.
Samuca: Me desculpa, mas mexi na suas coisas e vi a foto do Bruno. Várias fotos!
Vicente: Ei, então era isso ? Por isso você tava daquele jeito, distante ?
Samuca: Eu sei que sou impulsivo, que deveria ter falado com você.
Vicente: Tem horas que eu tenho vontade de te botar de bruço e bater igual criança. Você quando pensa bobeira, fica cego e já tira conclusões precipitadas, sofre por coisas que não existem!
Samuca: Eu sou um babaca mesmo, um idiota... Mas tem uma coisa que eu quero te dizer. O Bru...
Samuca ia começar a contar que já conhecia Bruno, mas Vicente não deixa. O médico beija sua boca, seu queixo e morde seu pescoço, não dando alternativa para Samuca, que cede.
Enquanto era beijado, vai despindo Vicente, tirando aquela roupa branca que o deixa ainda mais charmoso, misturado ao seu peito todo peludo.
Vicente: Vai dar banho no seu namoradão ?
Samuca dá um sorriso safado e abaixa a cueca dele, o deixando nu.
Samuca: Nossa, eu nem comecei e já tá assim ?
Os dois se beijam e seguem até o banheiro.
Frente a frente, embaixo daquela água quente, Vicente não consegue parar de beijar Samuca.
Samuca pega um shampu e lava a cabeça do namorado, passando em seguida o sabonete em seu peito. Suas mãos vão deslizando lentamente, até chegar em seu coração, sentindo aquelas batidas, aquela pulsação. Acariciando de leve, com carinho.
Samuca fica emocionado em ter consciência pela primeira vez que estava tocando no coração de Bruno. Ele encosta a cabeça no peito de Vicente, escutando aquelas batidas.
Os dois saem do banho já excitados. Vicente tenta encoxar Samuca, que morde seus lábios, até caírem na cama.
Vicente: Eu quero você.
Samuca: Também te quero muito!
Os dois transam de maneira intensa. Vicente fica por cima de Samuca, o penetrando de frente, beijando sua boca, até os dois atingirem o orgasmo juntos. Olho no olho.
Samuca se ajeita no peito de Vicente, que permanece deitado, olhando para o teto.
Samuca fica passando a mão em seu peitoral, até chegar em sua cicatriz que fica escondida entre os pêlos.
Samuca: Você nunca me falou sobre ela. Seus pelos escondem, mas ela parece bem profunda.
Vicente se afasta, sentando na cama e ficando sério.
Samuca: Ei, estou aqui contigo, me conte.
Vicente: Não gosto de lembrar desse momento. Foi a pior época da minha vida.
Samuca: Mas agora passou. Você tem a mim!
Vicente: Achei que fosse morrer, Samuca. Que nunca sentiria isso que sinto por você, que nunca experimentaria o que é o amor. Meu coração era fraco, e quando era mais jovem precisei de um transplante. Tive que recusar dois doadores e quando já estava tudo perdido, quando não via mais chances, apareceu esse cara, o Bruno. Eu nunca o conheci, mas devo tudo a ele, ele salvou minha vida!
FLASH BACK
"Depois de horas de cirurgia, os médicos dão a boa notícia a família de Vicente. Enquanto isso, o corpo de Bruno é preparado para o velório.
Antes de sair daquele hospital, Antônio fala pela última vez com Dr. Rogério, que conta a ele sobre o sucesso da cirurgia.
Dr. Rogério: O Senhor não quer vê-lo ?
Antônio: Não, não quero.
Dr. Rogério: Ele está no quarto 22, se recuperando. Ainda enfrentará um processo de adaptação, mas estamos muito confiantes que ele reagirá bem!
Samuca: Nós vamos nos encontrar novamente! Você me deu seu coração e em troca lhe dou o meu.
Samuca retira a corrente que usava onde continha duas metades de um coração, a sua e a de Bruno, que havia colocado junto em seu pescoço.
Samuca coloca aquela corrente no pescoço de Bruno e em seguida lhe deu um selinho.
Samuca: Adeus meu amor!
Ao sair, por pouco não esbarra com Helena, que entra logo após sua saída.
Helena se aproxima do corpo do filho, já vestido, num sono eterno, com o rosto calmo e sereno. Muito emocionada, beija o rosto do filho, o molhando com suas lágrimas.
Helena: Meu filhinho, porque você teve que ir embora na minha frente ? O que será de mim, agora ? - Desabafa, em meio ao choro.
Helena: A mamãe sempre vai te amar, nunca irei esquecê-lo!
Ela fica passando a mão no cabelo do filho, até notar aquele brilho dourado em seu pescoço. Puxando pela gola de sua camisa, trouxe a mão aqueles dois pingentes e sem pensar, tira aquela corrente do pescoço de Bruno, como uma lembrança que guardaria para sempre.
Helena: Adeus, meu menino!
Ao som de Passado e Presente - Alexandre Guerra
Teresa: Bom dia, meu filho.
Vicente está deitado, ainda fraco, mas muito feliz e sorrindo para a família.
Vicente: Deu tudo certo, mãe...
Teresa: Claro que deu, eu sempre acreditei, sempre orei a Deus!
Henrique: Você vai sair logo dessa cama, meu irmão!
Vicente: Quando vou pra casa ?
Dr. Fernando: Calma garoto, você vai ter que se recuperar bem, fazer mais alguns exames e depois... Vida normal!
Teresa: Normal mesmo, doutor ?
Dr. Fernando: Normal, não tem nada que o impedirá de ter uma vida normal. Você ainda está se recuperando, mas hoje você ja é um rapaz saudável!
Vicente: Apesar do desconforto desses pontos, me sinto muito bem.
Henrique: Então trate logo de se levantar dessa cama pra saírmos curtindo por aí!
Vicente: Eu quero ir pra nossa casa. Voltar a trabalhar, ajudar vocês...
Henrique: Assim que se fala!
Vicente: Além de um futuro policial, a senhora vai ter um filho médico também, mãe. Eu vou dar muito orgulho pra vocês... Eu quero ser médico, quero salvar a vida de outras pessoas, igual salvaram a minha!
Dr. Fernando: Ora que boa notícia, pelo visto tenho um futuro colega em minha frente!
Teresa não consegue esconder sua felicidade, a vida agora parece ter um outro sentido, como se tivesse tido uma tempestade muito forte e agora o sol se abria, trazendo prosperidade e alegria para todos.
Menos de um mês depois do enterro de Bruno, Antônio decidiu viajar com a esposa, que passava as noites em claro chorando.
Com a ajuda de um médico psiquiatra, aceitou a idéia de se afastar de tudo que poderia lembrar o filho. Deixou tudo nas mãos de Heitor, que ficou tocando a loja sozinho e passou mais um ano morando no exterior com a esposa.
Quando voltaram, a primeira coisa que Antônio fez foi comprar uma nova casa, mudando-se imediatamente.
Já tinha-se passado alguns anos, para estancar a falta que o filho lhe fazia, Antônio passou a trabalhar como um louco, se tornando um grande empresário e acumulando cada vez mais riquezas.
Alguns anos depois, num domingo chuvoso, Helena está deitada no sofá e Antônio trabalhando em seu escritório, até que a empregada a tira de seus pensamentos.
Helena: Um rapaz, querendo falar comigo?
Empregada: Sim, está na porta, posso mandar entrar ?
Helena: Sim, chame o Antônio, deve ser alguém da loja.
Ao som de instrumental Carolina - Eduardo Queiroz
Helena vai até a porta e vê um jovem, com um papel na mão, olhando para o chão.
Helena: Posso ajudar ?
Vicente: Dona Helena ?
Helena: Eu mesma.
Vicente: Acho que a senhora não me conhece, ou se conhece, então não se lembra. Meu nome é Vicente, eu recebi o coração do seu filho.
Helena muda sua feição na mesma hora, não sabe dizer se está emocionada ou triste com o que acaba de ouvir.
Vicente: Desculpa aparecer assim sem avisar, mas já faz algum tempo que gostaria de conhecer vocês. Nunca tive a chance de poder agradecer pelo que fizeram por mim. Passaram-se todos esses anos e só agora criei coragem de procurar vocês.
Antônio assiste tudo aquilo há poucos passos, sem saber se aproxima ou se sume dali.
Helena fica em silêncio, deixando Vicente sem graça.
Vicente: Desculpa, eu deveria ter ligado antes, eu vou...
Helena: Não, entre, por favor!
Meio sem jeito, Vicente aceita o convite e entra.
Helena o acomoda, fazendo perguntas pra ele como idade, onde mora, o que gosta, o que faz ou se namora. Vicente responde todas, sempre com um sorriso nos lábios.
Helena: Vamos até a sala de jantar.
Vicente a acompanha, se deparando com uma mesa farta com café, bolo, suco e biscoitos.
Vicente: Não precisava.
Helena: Por favor, sente-se. Vou chamar meu marido.
Helena vai até o escritório, mas Antônio finge estar ocupado.
Antônio: Não posso sair agora.
Helena: Por favor, Antônio. Não faça essa desfeita! É um rapaz muito educado, ele recebeu o coração do nosso filho.
Antônio: Helena, ele não é nosso filho.
Helena: Eu sei muito bem disso. Mas... Não custa nada conhecê-lo! - Afirma, fechando o notebook dele e o olhando sério.
Pressionado pela insistência e com um fundo de curiosidade, Antônio a acompanha até a cozinha.
Todo sorridente e educado, Vicente estende a mão a ele, esperando um aperto, que vem um pouco tímido.
Os três sentam e comem. Helena continua com as perguntas, inclusive sobre a saúde dele.
Vicente: Não vou ao médico com tanta freqüência, até porque não ficou nenhuma seqüela da minha doença.
Helena: Que bom, ficamos muito felizes em saber disso!
Vendo que o assunto está sumindo, Vicente acha melhor dizer o que realmente veio fazer naquela casa.
Ao som de Efeito Borboleta instrumental - Tristeza
Vicente: Então, eu vim aqui porque sentia muita vontade de agradecer vocês e também pra fazer um convite.
Helena: Convite ?
Vicente: Sim, ano que vem eu me formo. Gostaria de convidar vocês para minha formatura. E se não for ser muito invasivo, gostaria que a senhora fosse minha madrinha...
Helena: Obrigada, meu querido. Fico honrada, mas acredito que esse momento pertence a sua mãe!
Vicente: Sim, mas acho que tem espaço pra minha mãe e pra minha madrinha.
Antônio: Você está se formando em que, rapaz ?
Vicente: Em medicina, vou ser médico. - Responde, todo sorridente, orgulhoso de si mesmo.
Helena e Antônio sentem como se fosse um murro no estômago. Vicente não têm a menor idéia da gafe que está cometendo.
Vicente: Depois de tudo que passei, eu vi que esse era meu caminho e realmente eu fiz a escolha certa. Espero poder ajudar muitas pessoas, igual fizeram comigo.
Antônio no mesmo instante se levanta, saindo da mesa e deixando um clima pesado no ar.
Vicente fica sem graça, sem entender o que pode ter feito de errado. Já Helena está muito emocionada, ele tinha a mesma idade do seu filho e se tivesse vivo também estaria se formando em medicina naquela mesma época.
Vicente: Disse algo errado ?
Helena: Claro que não, meu rapaz.
Vicente percebe o clima estranho, mas logo se distrai com a simpatia de Helena, que olha para ele toda encantada.
Antônio entra em seu escritório e foi só fechar a porta que desaba no choro, olhando uma foto de Bruno. Embora não fosse a intenção, Vicente era tudo que o seu filho seria se estivesse vivo, um rapaz educado, cheio de sonhos, saudável e feliz na carreira que escolheu.
Vicente: Obrigado pelo café, mas está na minha hora.
Helena: Imagina, foi um prazer conhecê-lo. Venha sempre quando quiser... - Diz, com um nó na garganta. No fundo ela queria que ele voltasse todos os dias, afinal era como se estivesse vendo o filho falecido em sua frente.
Vicente: Deixe um abraço para o Seu Antônio. Quando o convite estiver pronto, entrego aqui pra vocês, ficarei feliz se aceitarem!
Os dois se despedem e Helena o puxa para um abraço apertado enquanto faz força para segurar suas lágrimas. Ela sente o calor do corpo dele, seu coração batendo forte, e inevitalmente imagens de Bruno vêm em sua mente. Após o rapaz ir embora, ela cai no choro e se senta no sofá.
Antônio: Ele veio aqui pra isso ?
Helena: Pra nos conhecer e nos convidar!
Antônio: Nós não vamos.
Helena: Mas Antônio...
Antônio: Esse assunto está encerrado, você não tem nada que botar pessoas estranhas dentro de nossa casa! - Afirma, olhando firmemente para sua esposa.
Os meses vão se passando e Helena sempre inventa um motivo para ligar para Vicente, conversando pelo telefone, até que ele entrega pessoalmente os convites.
Antônio permanece duro, não dando abertura a uma aproximação. Helena se apronta toda, mesmo a contra gosto do marido, que se isola em seu escritório.
Helena: Já vou indo, chamei um táxi.
Antônio olha a esposa em traje de festa e a ignora, mas antes mesmo dela sair, ele corre atrás dela.
Antônio: Espera, eu te levo.
Até chegar ao baile, foi em silêncio, imaginando que com seu filho poderia ter sido igual, que poderia estar sentindo uma imensa felicidade. Mesmo após alguns anos de sua morte, a dor parecia insuportável.
Antônio e Helena entram, olhando todas aquelas pessoas, todos felizes.
Helena olha em volta, ansiosa.
Helena: Olha ele ali!
Vicente se anima os vê-los e se aproxima, com um sorrisão no rosto.
Vicente: Dona Helena, que bom que veio. O senhor também Seu Antônio, estou muito feliz.
Helena abraça o novo afilhado, que está num dos dias mais especiais de sua vida.
Vicente: Essa é minha mãe, Teresa, meu irmão Henrique, aquela é a Mirella, uma amiga....
Mirella: Oi, queridos!
Rapidamente Helena se enturma com Teresa enquanto Henrique fala com Antônio, que mesmo parecendo seco, vai se abrindo um pouco mais.
Teresa: É um prazer conhecê-la.
Helena: Seu filho é um doce de pessoa.
Teresa: É o meu orgulho, estudou, passou numa universidade federal e hoje está aqui.
Helena: Meu filho, se estivesse conosco, teria a mesma idade dele, e também estaria se formando agora.
Um silêncio paira no ar. Helena se esforça para não se emocionar, mas Teresa a conforta, segurando em suas mãos.
Mesmo o conhecendo há pouco tempo, Helena se sente honrada por estar participando daquele momento, conseguindo inclusive esquecer a frustração de não poder viver aquilo com o próprio filho.
Vicente: Obrigado, Dona Helena. Não sabe o quanto me fez feliz sua presença aqui hoje!
Helena: Eu que agradeço por ter se lembrado de mim e do meu marido. É uma data muito importante pra você, gostaria de lhe dar algo, mas não sabia muito bem o que.
Vicente: Por favor, não precisa de nada disso.
Helena: Espere, deixe-me continuar. Como te disse, gostaria de lhe dar algo, mas vou dar algo que pra mim tem um valor simbólico muito importante e acho que isso vale mais que qualquer bem de valor alto.
Helena abre sua bolsa, tirando uma caixinha preta, entregando para Vicente, que ao abrir, vê um colar de ouro, com dois pingentes, formando um coração.
Vicente: Nossa... É lindo. Muito obrigado!
Vicente não entende muito bem o significado, mas acha que o coração poderia ser referente ao seu transplante, ou então algo que simbolize algum tipo de afeto ou até mesmo um objeto que era do filho dela, mas pra ele isso não tinha a menor diferença. No mesmo instante coloca aquele colar no pescoço, sorrindo para a madrinha."
FIM DO FLASH BACK
Vicente: E fui tudo isso que aconteceu, se não fosse à bondade da família dele, eu não estaria aqui hoje.
Samuca abraça o namorado, que está emocionado, ao lembrar do passado.
Vicente: Por isso nunca te contei isso, foi um momento muito triste.
Samuca: E te entendo! Mas agora você tem a mim e estarei sempre com você. Tudo que acontecer, estaremos juntos.
Samuca dá um beijo nele, demonstrando todo seu afeto.
Samuca: Agora sorria pra mim, isso tudo já acabou, agora seremos felizes! Mas agora eu preciso te contar. Eu e o....
Vicente: Peraí, meu celular está tocando.
Samuca está ansioso para contar a surpresa para Vicente, mas a cada hora era interrompendo.
Vicente volta, se jogando na cama e puxando Samuca pra perto dele.
Samuca: Quem era ?
Vicente: Ah, a tia Helena. Pediu pra eu passar lá na casa dela. Parece que o tio brigou com um cara lá na loja hoje, ele anda muito nervoso.
Samuca fica tenso.
Vicente: Sabe, Samuca... Na verdade, o Bruno, também era gay. Nunca me meti nesse assunto, mas o Heitor me contou. Parece que o ex dele, não vale nada e fica fazendo da vida do tio Antônio um inferno!
Samuca: Não é bem assim, o...
Vicente: Sabe o que é você nem conhecer uma pessoa e odiá-la ? Pois então. Eu odeio esse cara.
Samuca engole seco.
Vicente: Odeio essa cara, Samuca. Odeio ele por atormentar a madrinha e o tio Antônio! Eu sei que por causa da morte dele eu estou vivo hoje, mas não deixo de sentir raiva por esse cara ter estragado a vida de uma pessoa que eu nunca conheci. - Desabafa, se sentindo indignado e com raiva nos olhos, deixando Samuca acuado e culpado ao mesmo tempo. Ele nem imaginava que estava de frente a esse cara que ele tanto odeia, mas que também ama de paixão.
Samuca: Calma meu amor, acho que não é pra tanto. As coisas não são assim. Esse Heitor pode ter exagerado.
Vicente: Não foi o Heitor que me contou, foi a própria tia Helena! Ela disse que o filho se meteu com amizades erradas e acabou fazendo escolhas ruins. Perguntei ao Heitor e ele disse que esse assunto era proibido naquela casa. Disse que o primo se apaixonou por um cara, mas o pai nunca aceitou e daí foi só ladeira abaixo. E ninguém comenta sobre isso, pois o tio Antônio não gosta de falar da sexualidade do filho. Eu respeitei até porque não tenho nada a ver com isso, mas hoje fico pensando... E quando eu apresentar você como meu namorado ? Eu acho que eles até reagiriam bem, afinal você é um príncipe encantado. Eles iriam te adorar! - Diz, mudando a feição, sorrindo enquanto fala, mas Samuca parece sentir náuseas, não consegue acreditar que tinha entrado numa situação como aquela. Parecia estar entrando cada vez mais fundo em um buraco sem fim e não havia nada que pudesse fazer para mudar isso.
Vicente: Mas vamos parar de falar dos outros, vamos namorar mais um pouquinho.
Samuca parece tonto, queria contar tudo, mas depois de levar aquele golpe, ficou sem reação.
Vicente começa a beijá-lo, o distraindo, não dando chances para conversa.
Samuca se sente culpado, mas seu medo de magoar o amado é tanto que nem se dá conta que enquanto mais adiava essa história, mais poderia ser pior.
Vicente se aconchega no peito de Samuca, acariciando o bico do seu peito.
Vicente: Tá quietinho amor.
Samuca: Só estou curtindo você, é tão bom ter você em meus braços...
Vicente beija o peito dele.
Samuca: Vicente...
Vicente: Oi, amor.
Samuca: Aconteça o que acontecer, saiba que sempre te amei e sempre vou te amar.
Vicente se levanta olhando nos olhos de Samuca.
Vicente: Porque está falando isso?
Samuca: Por nada, só senti vontade de dizer.
Vicente: Certeza ?
Samuca: Sim, absoluta.
Vicente: Vem aqui. - Chama, se levantando e trocando as posições com Samuca, o puxando para seu peito.
Vicente: É disso que você esta precisando, de colo.
Samuca abraça o peito de Vicente, sentindo aqueles pelos em seu rosto, ficando assim até cair no sono.
Cena 02 - Casa de Marina - Manhã
Marina desce para tomar seu café da manhã.
João está fazendo um café, acompanhado de Viriato que está sentado à mesa, contando sobre a decoração que fez no jardim.
Marina: Oi Viriato. Bom dia, pai. A mãe não levantou ainda ?
João: Não. Ela ainda está muito abalada com tudo o que aconteceu...
Marina: Eu vi. Por pouco não queima a casa toda!
João para e olha pra sua filha.
João: Eu estou muito preocupado com a sua mãe. Ultimamente ela anda tendo atitudes fora do normal!
Marina: Deve ser o estresse, sei lá...
João: Estresse de que ? Ela não passa estresse nenhum. Sempre fomos muito unidos!
Marina: E o que pode ser então ? Você acha que ela pode estar ficando louca ?
João fica calado, pensativo.
João: Apenas vamos cuidar dela. E evitar que o pior aconteça!
Viriato se mantém em silêncio, olhando de canto.
Cena 03 - Casa de Dona Benedita - Manhã
Rosinha vai terminando de se arrumar para seu grande encontro com Miguel. Ela coloca um vestido vermelho simples, faz tranças no cabelo e os prende com um laço azul.
Dona Benedita pega seu terço e sua bolsa, e se admira ao ver a filha pronta.
Rosinha: Como estou ?
Dona Benedita: Você está linda, minha neta... Mas só agora me dei conta de que você cresceu e já é uma mulher. Uma menina mulher!
Rosinha sorri, sempre com sua expressão meiga e angelical.
Dona Benedita pega nas mãos dela. - Promete pra mim, minha netinha. Promete que não vai deixar se iludir nem se deixar levar pelas luxúrias da vida. Nem vai se entregar pra esse rapaz antes do casamento!
Rosinha: Que isso, vó. Assim até me ofende, eu acabei de conhecê-lo! E tudo o que eu aprendi naquele convento eu vou levar para o caixão. Jamais me deixarei seduzir pelos pecados da carne!
Dona Benedita: Assim fico mais aliviada.
Rosinha: Que bom. Vamos!
Dona Benedita: Espera aí, vou pegar o dinheiro da passagem!
Rosinha sorri. - Que passagem o que, vó.
Dona Benedita: Ué, não vamos de ônibus ? E é melhor se apressar que esse horário vai cheio!
Rosinha: Ele mandou um uber nos buscar. Já tá lá embaixo esperando pelo que eu tô vendo aqui!
Dona Benedita: Mandou um o que, menina ?
Rosinha: Um uber.
Dona Benedita: Que peste é isso ?
Rosinha: É tipo um táxi, mas os serviços são solicitados por um aplicativo!
Dona Benedita: Apricativo ? Uma vez eu comi um doce lá no norte que tinha um nome parecido. Vocês jovens viu, são cheios das invenções!
Rosinha dá risada. As duas saem e entram no carro.
Dona Benedita fica tensa.
Rosinha: Que foi, vó.
Dona Benedita: Eu não conheço esse homem. E se ele sequestrar a gente! Ave Maria, não quero nem pensar! - Sussurra, enquanto se benze.
Rosinha: Para com isso, vó. É só um táxi!
Cena 04 - Apê de Vicente - Manhã
Samuca acorda e percebe que Vicente já não está mais na cama. Ele se levanta e se depara com um bilhete no guarda roupas.
"Fui na casa dos meus tio mas não demoro. Te amo, Vicente.''
Samuca retira aquele bilhete do guarda roupas e fica olhando para aquele papel por alguns segundos, pensativo.
Samuca: Você vai me odiar quando souber de tudo... Eu não acredito que o Antônio vai atrapalhar minha felicidade mais uma vez. Eu não posso deixar isso acontecer... - Afirma, com um olhar enigmático.
Samuca vai até a janela e fica observado o tempo lá fora.
Samuca: Mas agora eu tenho outra coisa pra resolver. Você vai ter que me explicar direitinho o que estava fazendo com aquele cara, Vitória! - Pensa alto, com um olhar de ódio que poucas vezes sentiu antes.
Cena 05 - Fazenda de Miguel - Manhã
Dona Benedita e Rosinha descem do carro, na porteira de uma fazenda. Ao redor, algumas vacas pastam no gado, em um enorme campo.
Há tantas mangueiras que até se perde de vista.
O cheiro de frutas, terra molhada e natureza invade seu nariz.
O sol brilha forte no céu.
Os olhos de Rosinha brilham.
Rosinha: Meu Deus. Que lugar lindo, vó!
Dona Benedita: Nossa. Esse rapaz deve ser rico mesmo, pra ter uma propriedade desse tamanho!
Ao longe, Miguel as vê e se aproxima.
Os raios de sol ilumina seu rosto sorridente.
Miguel: Oi, Rosa. E a senhora deve ser a avó dela, não é mesmo ?
Dona Benedita: Benedita. Então você é o cara que tá arrastando asa pra minha neta ?
Miguel: Sua neta é a mulher mais especial e pura que eu já conheci nessa vida. E eu sou um homem honrado e honesto, a altura dela! E eu trouxe a senhora até aqui, em minha casa, para provar que as minhas intenções são sérias. E que eu posso dar uma vida confortável pra ela!
Rosinha sorri, interessada.
Dona Benedita: É, mas ela não quer vida confortável não. Quer dizer, isso tá em segundo plano. Ela precisa é de um homem religioso, de modos e apoiador da moral e dos bons costumes. Que seja fiel a Deus primeiramente!
Miguel: Eu posso te garantir que eu sou tudo isso! Eu não falto a igreja uma semana sequer. A minha família é católica, e eu sirvo desde que me entendo por gente. Eu te garanto, eu sou um bom homem!
Dona Benedita: Isso veremos!
Rosinha: Vó!
Dona Benedita: O que é, menina. Eu tenho que garantir que você estará em boas mãos!
Miguel: Perdoem a minha falta de educação. Vamos entrando, eu mandei servir um almoço especial para nós!
Dona Benedita: Eu tava mesmo com fome.
Rosinha fica constrangida.
Miguel sorri. - Pra lá é o rio, e logo ali atrás da casa do caseiro tem um açude. Eu sou formado em engenharia, mas nem exerço direito essa função. O Seu Mohamed me paga mais só para ser o seu braço direito em sua empresa... E quando não estou lá, eu importo frutas, peixes e mel. Eu tenho um bom retorno com isso, essa fazenda não é tão grande mas tem de tudo!
Rosinha fica cada vez mais empolgada, mas tenta disfarçar.
Os três andam até a cozinha e se sentam.
Na mesa, há algumas panelas com arroz, feijão de corda, frango assado, salada, um pudim e um bolo.
Miguel: Podem ficar a vontade que aqui não tem pantim não! Eu mandei matar um galeto especialmente pra essa ocasião. Espero que gostem do tempero!
Faminta, Dona Benedita se serve.
Dona Benedita: Nossa, fazia tempo que eu não via tanta comida assim na minha frente. Quero logo o peito.
Rosinha: Vó, que isso!
Dona Benedita: Que é, menina. Vai, coloque logo o seu. Ponha muito feijão que você tá muito magra!
Rosinha sorri, constrangida.
Miguel a encara, apaixonado.
Cena 06 - Rua - Manhã
Marta anda com Flora até a feira.
Flora: Ai, Vó. Eu odeio ir pra feira. O sol tá muito quente e eu quero água!
Marta: Se aquieta, menina! Quando chegar lá eu te dou uma tapioca.
Flora: Eu não quero tapioca. Eu quero ir pra casa brincar com minhas bonecas! O tio Samuca falou que eu tenho que ir só para os lugares que eu gosto!
Marta se irrita.
Marta: O tio Samuca, né ? Não escute tudo que ele diz. Ele não é exemplo pra ninguém. E ande rápido, ainda tenho que fazer o almoço.
Flora caminha de mãos dadas com a avó, mas só foi Marta encontrar um conhecido na rua e a menina se solta, correndo em direção a rua.
Mesmo de longe, Flora reconhece e totalmente inocente, sai correndo pela praça, atravessando a rua, até parar em frente a uma lanchonete, com várias mesas na calçada.
Com seu jeito sapeca, sobe em uma cadeira e tapa com suas mãozinhas os olhos daquele homem.
Flora: Adivinha quem é ?
Henrique fica assustado mas logo relaxa, ao sentir aqueles dedinhos delicados e o cheirinho de neném em seu rosto.
Henrique: Hummmm, uma princesinha, mas com esse cheirinho vou morder essa mãozinha!
Flora começa a rir, sendo puxada para o colo de Henrique, que a reconhece no mesmo instante.
Henrique: E aí menina bonita, se lembrou de mim ?
Flora: Eu lembrei.
Os dois começam a conversar, sendo interrompidos por Marta, que chega toda agitada.
Marta: Menina, quer me matar do coração ? Não posso piscar um minuto e você já apronta. Desculpe pelo incômodo.
Flora: Vó, ele é meu amigo.
Marta: Essa menina é cheia de história.
Henrique: Ela é minha amiga sim, não é ?
Marta: Temos que ir.
Henrique: Eu dou um carona pra vocês. - Diz, mostrando a viatura.
Marta: O Sr. é policial ?
Henrique: Delegado de polícia.
Marta aceita a carona e Flora fica eufórica ao andar numa viatura de polícia.
Flora: Tio, acende a luizinha em cima do carro.
Henrique: Acendo sim, mas daqui de dentro não dá pra ver.
Flora: Tio, liga o barulho.
Marta: Flora, por favor.
Henrique entra em uma rua mais deserta e para atender aos pedidos da garota, liga a sirene, puxando inclusive o rádio comunicador pra ela falar.
Marta já estava começando a se arrepender de ter aceito o convite, mas a neta estava vibrando.
Marta: Mas afinal de onde você conhece minha neta ? Você é amigo da minha filha ?
Henrique: Ela é sobrinha do meu irmão, o Alexandre.
Marta fecha a cara na mesma hora.
Marta: Pode nos deixar na próxima esquina.
Henrique: Não se preocupe, eu deixo vocês em casa ou aonde vocês forem...
Marta: Por favor, não quero que os conhecidos nos vejam chegando em um carro da polícia, imagina o que irão pensar, que vergonha.
Flora: Ah, vóo!
Henrique: Se deseja assim.
Flora: A vó é cheia de vergonha.
Henrique se despede de Flora, dando tapas em sua mão e apertando seu nariz de leve.
Henrique: Tchau, menina bonita.
Flora: Tchau, tio.
Marta agradece secamente e puxa a neta pelas mãos, que fica olhando pra trás, sorrindo para Henrique.
Cena 07 - Casa de Marina - Sala - Tarde
Luan chega na casa de sua namorada, mas se espanta ao ver Hanna sentada no sofá no maior papo com Marina. Apesar de se conhecerem a pouco tempo, as duas conversam e dão risadas na maior intimidade.
Marina: Luan. Você tá aí.
Hanna o olha nos olhos.
Os dois se encaram.
Hanna: Oi, Luan.
Luan engole seco.
Marina: Eu tava aqui conversando com a vizinha nova. Ela sempre teve um jeito meio sério, nunca imaginei que ela fosse tão divertida!
Hanna: Imagina, rs. Eu sou divertida, Luan ? - Pergunta, sempre o olhando no olho.
Luan: Eu só passei pra ver como você tava. Não quero atrapalhar.
Marina: Não atrapalha. Você é meu namorado!
Hanna: É, Luan. Você é namorado dela. Imagina, senta aí também.
Com medo de dar algum passo em falso por conta do nervosismo, Luan acaba se sentando.
Marina: Eu ia no apê do Vicente ver como o Samuca está. Mas a Hanna chegou e ficamos conversando.
Hanna não tira os olhos de Luan um só minuto.
Marina: Ela tava me contando que saiu com um cara e agora ele tá sendo o maior babaca e tá fingindo que nada aconteceu.
Luan fica tenso.
Hanna: Mas eu vou superar. Apesar que eu gosto dele!
Marina: Eu não sei como você consegue contar tudo isso com esse sorriso no rosto. Pois se fosse eu, minha filha. Do jeito que eu sou, eu mandava ele tomar bem tomado naquele lugar. Não tenho paciência com homem não... - Diz, se levantando e indo até Luan.
Marina: Ainda bem que já encontrei o meu. - Fala, dando um selinho nos lábios de Luan, que a abraça.
Hanna não perde seu sorriso irônico e continua olhando para Luan com um olhar ameaçador, como se fosse atacar a qualquer momento.
Cena 08 - Apê de Vicente - Cozinha - Fim de Tarde
Samuca lava uma louça, distraído, quando se assusta ao ter seu corpo abraçado por trás.
Samuca: Vicente ?
Vicente: Oi, desculpa não almoçar contigo hoje, mas meus tios me prenderam. Depois dei uma passadinha na casa da minha mãe, ela de novo insistindo pra vim aqui. Parece que está prevendo alguma coisa, rs.
Samuca: Será ? Bom, mas não esquenta com isso.
Vicente: Não da mais pra esconder, Samuca. Eu vou contar pra minha mãe sobre nós dois.
Samuca: Tem certeza ?
Vicente: Tenho. Quero fazer isso antes que ela apareça aqui qualquer dia de surpresa. Só estou meio receoso, nunca imaginei falar isso com minha mãe.
Samuca: Eu te entendo, já passei por isso. E ainda passo, né...
Vicente: Só tenho medo que ela me renegue, que coloque a religião e tudo que ela sempre acreditou acima de tudo.
Samuca abraça o namorado, beijando seus lábios.
Samuca: Tô aqui viu. Eu te amo, vai dar tudo certo!
Vicente: Já era hora, né ? Mesmo tempo medo, não aguento mais viver uma vida escondido. Eu não sou nenhum criminoso, quero contar pra todo mundo que eu te amo e que estou contigo!
Samuca sorri e os dois se abraçam. Vicente passa o restante da tarde inquieto e angustiado, pensando se o que está prestes a fazer é realmente o certo naquele momento ou não. Assim as horas vão se passando, até que a noite chega. Não aguentando mais, Vicente resolve dar um basta naquela situação. Ele pega sua carteira e sua chave e vai até a porta.
Samuca se assusta: - Onde você vai ?
Vicente: Vou falar com minha mãe.
Samuca: Espera mais um pouco, você tá de cabeça quente. Isso nem são horas!
Vicente: Não consigo, eu preciso resolver isso de uma vez por todas, mesmo que dê tudo errado.
Samuca se sente angustiado ao ver seu amor desde jeito, e por um minuto até esquece de seus problemas.
Samuca: Eu vou com você!
Vicente: Não precisa, quero falar sozinho com ela.
Samuca: Eu sei, mas fico no carro esperando, ouvindo uma música. Se acontecer o pior, quero estar ao seu lado. Mas eu tenho a certeza que ela irá te entender, ela quase te perdeu uma vez, não vai querer te perder de novo. Mas se não for assim, quero estar do seu lado, meu amor.
Vicente se emociona com o gesto dele e os dois partem para a casa de Teresa.
Pouco tempo depois eles chegam. Vicente se despede de Samuca com um beijo e sai, deixando seu namorado esperando no carro.
Cena 09 - Casa de Teresa - Sala - Noite - Ao som de Movimento de Outono - Alexandre Guerra
Teresa se assusta com a presença do filho aquela hora.
Teresa: Oi, meu filho. Aconteceu alguma coisa ?
Vicente: Nada demais. Só um aperto na garganta. Senti que precisava te ver!
Teresa: Oh, meu filho. Se senta aí, eu tô fazendo a jantinha. Fica aqui pra comer comigo!
Vicente se senta em uma cadeira da mesa e fica observando sua mãe cozinhar, conversando algumas amenidades, falando de coisas que passaram juntos, sobre trabalho, família e etc.
A hora passa rápido e Teresa termina o jantar. Vicente a encara, tentando criar coragem e esperando uma melhor hora, mas sabia que não teria uma melhor hora, pois é um assunto delicado demais pra ele. Já não agüentando mais, resolve falar com o coração, soltando tudo que vêm em sua cabeça.
Vicente: Mãe....
Teresa percebe a aflição de seu filho, afinal o conhece melhor do que ninguém.
Teresa: Quer me contar alguma coisa ?
Vicente: Eu nem sei como começar.
Teresa: É sempre melhor do começo!
Vicente: Mãe, antes de mais nada quero que saiba que eu te amo muito e que independente de tudo, você é a melhor mãe do mundo. E na verdade nunca imaginei que contaria isso pra alguém, ainda mais pra senhora.
Teresa se senta no sofá, olhando séria para o filho.
Vicente: É tão difícil pra mim. Eu juro que não queria isso, até tentei ser diferente. Mas não foi minha culpa. Eu nunca quis te magoar, nem ao Henrique...
Teresa se levanta e se senta ao lado do filho, segurando em suas mãos, sem dizer nada. Vicente aperta os dedos da mãe e começa a falar, sem olhar nos olhos dela.
Vicente: Depois que tudo aquilo aconteceu, que eu quase morri, me senti ainda mais culpado, com mais medo de magoar vocês. - Diz, fazendo uma pausa antes de continuar.
Vicente: Mãe, eu nunca vou ser como o Henrique... Eu nunca vou ser o filho que a senhora esperou. Eu nunca vou casar, ter uma namorada. - Afirma, derramando as primeiras lágrimas.
Vicente: Eu juro que não queria que fosse dessa forma... Mas eu não posso mudar o inevitável. Quando eu era criança eu já me sentia diferente, não sabia explicar e depois fui crescendo, e dando conta do que eu realmente era, mas sempre tive medo que alguém descobrisse pois eu sentia que estava fazendo algo errado.
Teresa abaixa a cabeça, pensativa, e volta a olhar para seu filho, ainda em silêncio e sem demonstrar qualquer reação.
Vicente: Mãe, eu...
Vicente respira fundo, dando uma pausa e em seguida volta a falar.
Vicente: Eu sou gay.
Teresa tira suas mãos sobre as do filho, se afastando, enquanto Vicente levanta o rosto. Ele vê o olhar sério da mãe, e espera por uma resposta dela.
Cena 10 - Fazenda de Miguel - Varanda - Noite - Ao som de O Carpinteiro - Nattan & Elias Monkbel
Rosinha está na varanda olhando as estrelas. Ela sente a brisa fria daquela noite gelada e silenciosa, e se distrai olhando as várias árvores em volta.
Miguel chega atrás dela.
Rosinha: Ai que susto!
Miguel: Não ficamos nem dois segundos afatados e eu já fiquei morrendo de saudade!
Rosinha: Onde está minha vó ?
Miguel: Está olhando alguns vasos antigos com a empregada. Acho que ela nem deu falta de nós!
Rosinha: É melhor eu entrar, não fica bem e...
Miguel a segura pelo braço.
Miguel: Espera. Eu quero te falar uma coisa.
Rosinha o encara.
Miguel: Se antes tinha o mínimo de dúvida, agora não há mais. Não agora depois desse encontro.
Rosinha: Miguel, eu...
Miguel: Rosa, você é a mulher da minha vida. É tudo o que sempre busquei por toda a minha vida! Eu sei que a gente se conhece há pouco tempo, mas eu não preciso esperar por mais um ou dois anos pra constatar o óbvio. Eu te amo! Eu te amo, Rosa. - Declara, olhando no fundo dos olhos dela.
Rosinha se arrepia dos pés a cabeça.
Miguel: Você quer ser a minha mulher ? - Pergunta, olhando sério pra ela e esperando uma resposta, ansioso.
A câmera vai se aproximando lentamente do rosto de Rosinha, enquanto o vento balança seus cabelos.
Imagem de Rosinha congela em um efeito arroxeado.
Continua...
Se encerra no refrão de Tem Cabaré essa Noite - Nivaldo Marques e Nattan
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