Seguindo em Frente | Capítulo 37 (Últimas Semanas)

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Seguindo em Frente - Capítulo 37 ( Últimas Semanas )

+16 ( Contém Violência, Sexo e Linguagem Imprópria )

Cena 01 - Escritório de Mirella - Fim de Tarde - Ao som de instrumental 'Otto Dimas' - Eduardo Queiróz

Mirella pega sua bolsa e abre a porta da sua sala, levando o maior susto.

Mirella: Samuca ?

Um efeito sonoro grave toca em cena.

Os dois se encaram em câmera lenta. Zoom no rosto de ambos.

Samuca: Desgraçada, já sei de tudo que você fez com o Vicente, vou acabar com você sua piranha.

Mirella: Saia do meu escritório, vou chamar a polícia.

Samuca a segura pelo braço.

Samuca: Você não vai pra lugar nenhum, sua cachorra!

Mirella: Me larga!

Samuca a empurra pela sala. Mirella quase cai para trás, e esbarra em alguns vasos, que quebram. Ela cai no sofá, assustada. Samuca se aproxima dela e só então vê quem está no canto da sala, parado, os observando.

Samuca: Você ? Então era você esse tempo todo ?

Samuca encara a pessoa, sem acreditar.

Samuca se aproxima e fica frente a frente da pessoa que sempre o prejudicou, mirando bem no fundo de seus olhos.

Mirella os olha, nervosa.

Samuca: Não acredito!!! Você está junto com essa daí ? Por quê ? Eu não entendo. O que fizemos a você ? O que eu, o Bruno e o Vicente fizemos a você ?

Mirella: Você nasceu, isso basta sua bicha!

Samuca nem se importa com os deboches de Mirella e vai andando devagar, se aproximando cada vez mais do seu inimigo.

Um efeito sonoro grave toca quando a câmera revela o rosto de Heitor, olhando assustado para Samuca.

Heitor: Calma Samuca, não é nada do que você está pensando. Eu só vim ajudar você e o Vicente, eu descobri tudo que essa mulher fez, eu...

Samuca: Cale a boca, cale a boca! - Ordena, se tremendo de raiva.

Samuca: Você pensa que sou algum idiota ?

Heitor: Samuca, você está entendendo tudo errado, eu nunca vi essa mulher antes, eu...

Mirella: Ah Heitor, nos poupe né ? Esse viado aí é burro, mas tudo tem limite, a casa caiu.

Heitor: Cala a boca!

Samuca: Responde desgraçado!!! Porque me odeia tanto ?

Heitor: Samuca, o que é isso ? Somos amigos, cara. O Bruno e o Vicente são praticamente irmãos para mim.

Mirella: Aff. Vou vomitar!

Heitor: Quem armou tudo isso foi o tio Antônio!

Mirella: Sim, com a ajuda do coelhinho da páscoa e do papai noel!

Heitor sai da sombra que está, no canto da sala, e se revela inteiramente. Ele toca no ombro de Samuca, falando calmamente, usando todos os métodos possíveis para convencê-lo.

Heitor: Você é inteligente, esperto, acho que podemos resolver essa situação de uma maneira mais vantajosa pra nós dois e ninguém sairá perdendo. Tenho certeza que se você ouvir minha proposta, nós podemos nos dar...

Samuca nem o espera concluir a frase. Ele gruda em seu colarinho e o empurra com tudo na parede.

Samuca: Você acha mesmo que vou fazer qualquer tipo de acordo com gente da sua laia ?

Heitor: Me larga, Samuca...

Samuca: Largar ? Ainda temos muito a conversar ou você acha que vai se safar dessa.

Heitor: Me larga Samuca, eu já cansei dessa brincadeira.

Samuca: Cansou ? Mas ainda nem começamos. Responda!

Samuca empurra Heitor, que cai sobre uma mesa de vidro, que se quebra.

Heitor: O que você pensa que está fazendo, seu viado nojento.

Samuca: Muito bem, Heitor. Tira essa máscara de cordeirinho e mostre o verdadeiro lixo que você é.

Mirella se levanta, indo em direção a porta.

Samuca: E você não dê mais um passo, vagabunda. - Ordena, a segurando.

Mirella: Me larga, você não sabe com quem está se metendo.

Samuca: Você não vai sair daqui não, nós três ainda temos muito pra conversar.

Mirella começa a rir, mostrando todo seu deboche, o irritando ainda mais.

Mirella: Vai fazer o que viadinho ? Foi tão fácil fazer você e o idiota do Vicente de trouxa.

Samuca não suporta as provocações dela e dá a maior bofetada no rosto da loira, que cai ao chão, sentindo a face queimar.

Mirella: Covarde.

Samuca: Acabou a brincadeira!

Samuca volta a segurar Heitor pelo colarinho da camisa, praticamente colando seu rosto ao dele.

Samuca: Porque? Porque fez isso ? Porque me odeia tanto!

Heitor: Me larga.

Samuca: Você acha que vai se dar bem nessa ? Eu vou sair daqui e desmascarar vocês dois, vocês estão acabados!

Heitor se solta de Samuca e totalmente tranqüilo começa a rir, mostrando sua verdadeira face.

Heitor: E você vai fazer o que seu otário ? Você está mais sujo que pau de galinheiro, sua palavra e um monte de merda é a mesma coisa.

Samuca: Porque me odeia tanto ?

Heitor: Faça-me rir, não se ache mais importante do que você realmente é. Nunca fui com sua cara, mas pra mim pouco importava, até o dia que você começou a entrar no meu caminho.

Samuca: Eu nunca lhe fiz nada, você é um louco.

Heitor: Você queria tirar tudo que é meu. Já não bastava aquele imbecil do meu primo no meu caminho e ainda fez o favor de colocar você dentro de nossa casa, na empresa.

Samuca: Dobre a língua pra falar do Bruno.

Heitor: O Bruno felizmente é carta fora do baralho, já virou comida de verme há muito tempo.

Samuca: Agora estou entendendo tudo! Você fez tudo isso por inveja né ? Você sempre quis ser o Bruno. Você é um invejoso, fracassado.

Heitor: Eu ? Inveja de um viado ? Nunca! Eu fiz tudo isso por justiça. Enquanto o imbecil aqui ralava pra ganhar a vida, aquele filhinho de papai vivia em festinhas, tocando aquele violão nojento dele, viajando, fazendo de conta que trabalhava, vivendo como se tivesse na Disney! Eu sim merecia aquela casa, aquele reconhecimento, aquela herança! Não ele.

Samuca: Como você pode ser tão falso ? Tão sórdido.

Heitor: Sabe o que a vida me ensinou ? Me ensinou a ser um sobrevivente. Eu trabalhei tanto pra aquele porco do meu tio, não era justo eu ter só aquele salariozinho de merda. Tem gente que não sabe valorizar o que tem mesmo. O Tio Antônio fazendo o patrimônio dele crescer sem parar e o tolo do meu primo querendo só ser médico, cuidar de doentinho, de pobre. Só de pensar me revira o estômago! Eu que merecia ser filho do Antônio. Eu sempre fui o mais forte, o mais inteligente. EU! Mas a vida até que foi justa, não dá pra reclamar. Ele se foi e eu fiquei.

Samuca: Então foi tudo por dinheiro ? Poder ? Foi você, não foi ? Você que envenenou o Antônio contra mim.

Heitor: Nossa, você é tão inteligente... Quer um 10 ? Foi tão fácil tirar o Bruno do meu caminho, sabe... Contando assim não dá nem pra acreditar.

Samuca olha pra ele, cada vez mais chocado com o que escuta.

Heitor: Quando ele assumiu que era um viadinho, meu tio deu aquele chilique, mas depois a poeira foi abaixando. Você ainda trabalhava de estagiário na loja, já tinha lhe visto de longe por lá, mas não sabia que você e o Bruno eram namoradinhos. Um dia escutei o Antônio e a Helena conversando. Ele disse que tentaria aceitar o filho e estava até te vendo com bons olhos, pois os engenheiros sempre elogiavam seu trabalho. O Bruno nunca quis saber daquela loja, mas quando ele disse que iria pedir ao pai pra deixar você comandar tudo lá eu fiquei louco. Não era justo, eu me matava por aquele lugar e meu priminho querendo colocar o casinho dele lá dentro e o pior, meu tio estava aceitando essa idéia!

Samuca: Eu nunca soube de nada disso. Eu nunca quis nada daquilo. Pelo contrário, o Antônio só me hostilizou e eu que pedi pra sair de lá.

Heitor começa a rir, debochando da ignorância de Samuca.

Heitor: Você é um trouxa mesmo, hein Samuca! EU que coloquei meu tio contra você. EU sou o responsável por ele te odiar tanto.

Samuca: Você o que ? Você joga muito baixo mesmo.

Heitor: Eu diria que sou inteligente, brilhante.

Samuca: Você fez o Antônio pensar que eu não prestava ?

Heitor: Fiz melhor, Samuca. Fiz ele acreditar que você era um marginal, que era um ladrão. Bom, o Bruno já morreu mesmo, então será a minha palavra contra a sua. Para o titio Antônio, você era um viciado em drogas, um traficante.

Samuca: Isso é loucura, eu nunca mexi com essas coisas.

Heitor: Claro, meu tio também não acreditaria, por isso achei interessante ele encontrar cocaína nas coisas do Bruno. E não é que ele encontrou ? Que coisa não é Samuca ?

Samuca se senta na poltrona totalmente chocado e enojado. Mirella ri em um canto e Heitor ri de outro.

Mirella: Burrinho...

Heitor: Otário!

Samuca olha para os dois com desprezo.

Heitor: Titio, o senhor não deve confrontar o Bruno, não é assim que se lida com um viciado. Não demorou e aquele velho estava comendo na minha mão. O grande empresário Antônio, uma raposa dos negócios... Ficou achando que o filho além de gay, ainda mexia com drogas. Foi tão fácil convencê-lo. A cada discussão com o Bruno, lógico que eu aproveitava e dizia que era por conta das drogas e o idiota caia como um patinho. E ainda pediu pra eu ficar ao lado do Bruno e contar tudo que acontecia. O plano era esse, eu consegui tirar você de lá, o Antônio não tinha mais confiança no filho e cada vez mais passou a me considerar seu braço direito na empresa.

Samuca: Não entendo, nós íamos embora, não queríamos nada daquilo. Só queríamos viver nossa vida e você teria atingido seu objetivo.

Heitor: Pois é, mas aquela bichinha sempre entrava em meu caminho. Apesar de estar na faculdade, o Bruno trabalhava na loja, ele mexia com todo o financeiro e descobriu alguns desfalques.

Samuca: Você roubava seu próprio tio ?

Heitor: Roubava não, digamos que eu apenas me dava um salário justo. Ele já estava desconfiado, mas não tinha provas. Na véspera de vocês fugirem, o Antônio brigou com ele na minha frente, eu fui atrás dele e jurei minha amizade e achei que ele tinha engolido. Na época eu morava com nossa avó e na mesma tarde ele apareceu lá de surpresa e me pegou falando com um amigo, o mesmo que vendeu a droga. Eu disse que ia pagar, que não poderia devolver o bagulho pois o Antônio jogou tudo fora e que estava difícil desviar mais grana da empresa. O Bruno descobriu tudo e tivemos uma briga feia, eu sabia que seria meu fim.

Samuca: Eu me lembro, ele estava estranho nessa noite, mas não quis me contar nada.

Heitor: Eu fiquei apavorado, eu sabia que o Tio Antônio seria implacável e o que é pior, vocês dois iriam sair mais fortalecidos disso tudo. Mas parece que ele desistiu de contar tudo, ele tinha decidido a ir embora com vocês. Mas um dia ele ia voltar e contar tudo. Eu nem fui trabalhar no dia do acidente, mas eu precisava ter certeza se ele tinha contado ou não. Quando vi que estava tudo limpo, ainda aproveitei e contei para meu tio que vocês iriam fugir, quem sabe eu não conseguiria reverter a meu favor. Meu tio ficou uma fera e disse que iria interná-lo, foi quando ele entrou na sala e escutou nossa conversa no telefone.

Samuca: Eu tenho nojo de vocês.

Heitor: Ah, Samuca. Tenho que admitir que sou um cara de sorte. Do inferno eu fui para o céu como um foguete. O idiota não teve tempo de contar essa história pra ninguém e ainda por cima fez o favor de ser atropelado e cair naquele asfalto como uma jaca podre.

Samuca sente as lágrimas caírem, enquanto ouve toda aquela podridão.

Samuca: Você acabou com a vida dele, com a nossa vida.

Heitor: Eu ? Eu não, nunca matei ninguém.

Samuca: Ele morreu por causa de você! Se então fosse essa história toda ele estaria vivo até hoje...

Mirella: Porque você não fez como Romeu e Julieta e não se matou pra ir com ele, Samuca ?

Heitor e Mirella dão risadas, se divertindo com toda aquela história. Samuca se sente impotente, fraco e sem reação.

Heitor: Daí o priminho morreu, mas tudo tem seu lado ruim né ? Tive que ficar com aquela cara de enterro, agüentando aquela chata da tia Helena tendo seus chliques.

Samuca: Você me abraçou no enterro dele. Como você teve coragem de me abraçar estando feliz em saber que o meu amor estava ali, morto. Já não bastava o pai dele nem mesmo deixar entrar no velório e....

Heitor começa a rir feito louco.

Heitor: Meu tio te proibiu de entrar no velório ? Ah, Samuca. O Antônio nem sabia que você estava lá!

Samuca: O que ?!

Heitor: Eu inventei toda aquela história e ainda tive que fazer aquele teatrinho, consolando o viúvo do meu primo. Ai Samuca, ele está num lugar melhor agora, e blá-blá-blá. Ele descansou Samuca. E sabe o melhor de tudo isso ? É que eu estou limpo.

Samuca começa a chorar.

Mirella: Tadinho, já vai chorar ? Quer um lenço ?

Heitor: Daí seguimos nossas vidas, o tio Antônio ficou um ano fora, virei praticamente dono de tudo aquilo. Mas meu sossego durou só alguns anos, até que aquele insuportável do Vicente entrou em nossas vidas. O tio e a tia caíram de amores por ele, só porque carregava o coração do viado no peito e ainda por cima também era médico. Aquele jeitinho todo simpático dele, alegre e bonzinho, só me irritava. Olha, eu juro que tentei, mas não achei uma brecha pra acabar com ele. Ele era perfeitinho demais.

Mirella: Até que a linda aqui apareceu.

Heitor: Pois é, demorou mas quando a sorte aparece pra mim, ela vem caprichada. Estava lá no escritório quando essa louca apareceu querendo falar com o Antônio, dizendo que o novo queridinho dele era uma bichona e o que é pior, que estava trepando com você. Hahaha, melhor que isso acho que é só ganhar na mega sena. Eu e a Mirella tínhamos objetivos em comum e a convenci a ficar do meu lado, mas essa vadia me traiu.

Mirella: Heitor, não seja ingrato. Meu interesse era só atrapalhar o casalzinho.

Heitor: Pra mim pouco importava se vocês estavam juntos ou não, mas tive que fazer o Vicente descobrir quem você era.

Ao som de instrumental 'Dimas Operando' - Eduardo Queiroz

Samuca levanta a cabeça, aguardando uma nova bomba a ser descoberta.

Heitor: Isso não era idéia minha, mas tive que fazer por causa da Mirella, pois eu ainda iria precisar dela, daí mandei uma fotinha sua para o doutor. Você gostou de matar a saudade ? Vocês dois na praia, se beijando.

Samuca: Então foi você.

Heitor: Sim, fui eu também que mandei a Mirella se passar pela secretária do Vicente e marcar um encontro com o Antônio no apartamento de vocês. Queria ser uma mosquinha pra ver a cara do velho, quando viu você lá.

Samuca: O que você ganha com isso cara ?

Heitor: O mesmo que ganhei há 10 anos atrás. O Tio Antônio colocou o Vicente no testamento dele. Eu me mato de trabalhar naquela merda e vem esse desgraçado e já quer pegar tudo que é meu.

Samuca: Vocês acham mesmo que irão se safar disso tudo ? Eu vou contar essa história pra quem for preciso eu vou acabar com vocês. Vou colocar vocês dois na cadeia.

Heitor: Acabou ? Agora pra fechar com chave de ouro, porque não dá uma olhada naquelas fotinhas ali.

Samuca pega as fotos que estão no chão, junto com os cacos de vidro da mesa e fica passando uma a uma.

Samuca: O que significa isso ? Eu e dois clientes conversando num bar.

Heitor: São dois bandidos, chefes de uma quadrilha de roubo de cargas.

Samuca: Eu não tenho nada com isso.

Mirella: Ah, tem sim Samuca. Mais do que você pensa. O Henrique é delegado federal e investiga essa quadrilha a tempos. Você nunca se perguntou o porque eu sempre aparecia na casa da sua sogrinha quando você ia lá ? Você é tão distraído, deixava seu celular em qualquer canto. Uma vez você vacilou e deixou desbloqueado... Daí emprestei pra mandar mensagens para eles, informando tudo que o Henrique descobria. Foi através do seu celular e também do computador do Henrique que avisei a eles que a polícia ia surpreendê-los. Imagina se a polícia investigar e descobrir você se encontrando com esses sujeitos e ainda por cima descobrir que você os avisou da investigação que o irmão do seu bofe fazia ? Foi tão fácil, eu sempre rondava o Henrique e sou advogada, tenho contatos com pessoas que você nem imagina.

Heitor: Esse dois me deve grandes favores, aceitaram tirar umas fotinhas com você em troca de uns favores.

Samuca: Pra que tudo isso ? Porque eles aceitariam se expor assim ?

Heitor: Samuca, essas fotos não irão cair na internet, são apenas para mostrar para meu tio e tirar você e o Vicente do meu caminho de vez, pois sei que ele ficará do seu lado contra meu tio, e é esse meu objetivo. Você metido com uma quadrilha de roubo de cargas de materiais de construção, sua irmãzinha trabalhando na loja, você acha que o meu tio vai pensar o que ? Vendo você se aproximar dele.

Só então Samuca consegue entender onde Heitor quer chegar. É um plano todo amarrado, pra mais uma vez fazer Antônio pensar horrores dele.

Heitor: O combinado não era esse mas essa cretina fez o favor de abrir o jogo para o Vicente, me traindo.

Mirella: Você que pensou que iria me usar, mas fui mais rápida.

Heitor: Mas imprevistos acontecem, vou sair dessa história do mesmo jeito que entrei, limpo. Pra mim eu queria era mais que você e o Vicente viajassem mesmo e nunca mais voltassem. Até arranjei um cargo para a tola da sua irmã no Rio, ela disse que você é louco pela filha dela, daí pensei, quem sabe o Samuca não vai junto e leva o imbecil do Vicente também. Bom, acho que é isso, não devo ter esquecido nada. Ah, e nem tente fazer nenhuma gracinha, pois vou mentir quantas vezes for preciso, você não pode provar nada.

Samuca: Será que não? O Antônio iria adorar ler algumas coisas que o Bruno andou escrevendo.

Um efeito sonoro grave toca em cena.

Heitor arregala os olhos, ficando pálido. Mesmo dizendo nas entrelinhas, Samuca se refere aos cadernos que Ellen mencionou.

Heitor: Do que está falando ?

Mirella: Vamos embora, já cansei por hoje.

Heitor: Se você quiser, que fique aí chorando. Eu já cansei desse assumto. O que você tem que fazer agora é enfiar esse rabinho entre as pernas e sumir do mapa... Pra não acabar igual meu priminho, mas até que seria uma boa pra você, pelo menos o Bruninho está sendo comido, mas pelas baratas.

Ao som de Toxic - 2WEI

Heitor e Mirella começam a rir, humilhando ainda mais Samuca, que calmamente limpa as lágrimas dos olhos e se levanta, ficando de frente do seu maior inimigo.

Heitor: O que você quer ? Não se aproxime de mim ou eu acabo com você.

Samuca vai se aproximando devagar, ignorando os apelos de Heitor, que dá passos para trás.

Heitor: Se você tocar em mim eu te mato seu viado desgraçado!

Samuca fica cara a cara com Heitor, podendo até sentir sua respiração, prestes a descarregar toda sua raiva. Samuca dá uma cabeçada em Heitor, o fazendo urrar de dor.

Heitor: Ai!!! Meu nariz.

Heitor leva a mão ao rosto, ficando apavorado ao ver o sangue em seus dedos. Mirella corre para a porta mas Samuca é mais rápido e a puxa pelo cabelo, a jogando no chão com toda sua força.

Mirella se levanta: - Seu cretino, você me machucou!

Samuca: Ainda nem comecei.

Samuca enfia outra tapa na cara dela, a jogando no chão novamente.

Mirella limpa o sangue de sua boca.

Mirella: Covarde, porque não bate em alguém do seu tamanho.

Samuca: Você tem toda razão.

Samuca se vira para Heitor e como um leão prestes a atacar, voa para cima dele.

Samuca: Acho bom você ser bem mais forte que a viado aqui.

Heitor nem tem tempo de reagir, levando outro soco no rosto, caindo sobe um armário, levando tudo ao chão.

Samuca o segura pela camisa, desferindo outro murro, mas agora em seu estômago.

Heitor tosse, agoniado.

Samuca: Eu vou matar você seu desgraçado, filho de uma puta!

Mirella: Larga ele, vou chamar a polícia.

Samuca: Aproveite e chame o IML também, daqui vocês irão sair direto para o cemitério!

Samuca segura a cabeça de Heitor e a esfrega contra os cacos de vidro da mesa, cortando o rosto dele por inteiro.

Mirella: AHHHH! - Grita, assustada. Ela corre, mas Samuca se levanta e vai atrás dela.

Samuca: Você não vai escapar sua piranha.

Mirella o encara com medo e Samuca dá um forte murro no olho dela, fazendo-a cair contra a parede.

Heitor se revira pelo chão, com o rosto todo sangrando e cheio de vidro enfiado em sua face.

Samuca: Eu não acabei com você ainda!

Reunindo todas suas forças, Samuca esmurrou o olho esquerdo de Heitor.

Samuca: Esse é pelo Vicente.

Agora foi uma certeira no queixo.

Samuca: Agora o resto é meu.

Samuca começa socar Heitor, que se debate, tentando se defender e gritando por ajuda.

Possuído pelo ódio ele só para quando sente um golpe na cabeça, amolecendo o corpo até cair no chão.

Heitor: Que demora, ele quase me matou.

Mirella: Anda, vamos sair daqui.

Mirella o ajuda a se levantar. Ambos tontos de tanto apanhar. Heitor fica de pé e cospe sangue. Ele pega suas coisas enquanto Mirella corre para seu carro.

Mirella: Acho que é hora de você fazer uma viagem garota, até a poeira baixar!

Heitor foge pelos fundos.

Vicente para seu carro como um louco, correndo desesperado. Ele sai do veículo e entra no escritório, se assustando ao ver tudo quebrado. Mas se assusta mais ainda ao ver Samuca caído no chão, com a cabeça sangrando.

Vicente: Samuca!

Vicente se abaixa, virando o corpo do seu amor para cima, se assustando com o ferimento.

Vicente: Meu amor, o que fizeram com você.

Vicente o deita no sofá e começa a medir sua pulsação, tateando todo seu corpo.

Vicente: Eu vou cuidar de você! - Promete, pegando o seu amor no colo e levando até o carro, indo direto para o Hospital.

Cena 02 - Escritório de Antônio - Noite - Ao som de instrumental 'Otto Dimas' - Eduardo Queiróz

Antônio olha para aquela tela, vendo as fotos daquele rapaz de cabelos ruivos na beira de uma praia.

Antônio: Mas que palhaçada é essa ?

Rafael: Um de seus sócios estava de viagem em Pernambuco. Ele tirou essa foto, porque achou esse homem muito parecido com o seu filho!

Antônio: Olhe aqui, Rafael. O meu filho está morto, entendeu ? Morto. O coração dele bate no peito do meu sobrinho!

Rafael: Eu sei, Seu Antônio, desculpe...

Antônio: Eu quero que o meu luto eterno seja respeitado. Eu não irei mais tolerar esses trotes!

Rafael: Desculpe-me. Eu vou comunicar ao seu sócio que esqueça essa história e que foi apenas um mal entendido!

Antônio: Eu acho bom. - Afirma, se retirando.

Rafael olha para aquela imagem, intrigado.

Cena 03 - Casa de Marina - Sala - Noite

Luan olha com desprezo para Marina, que chora em sua frente.

Marina: Por favor, Luan. Não me olha assim...

Luan: E você quer que eu te olhe como ? Você me traiu! Você não presta!

Marina: Não fala assim...

Luan: Eu falo porque é a verdade. Você só me enganou esse tempo todo, desde que nos conhecemos! Você sabe muito bem tudo o que você fez. Eu, todo trouxa, querendo me casar, ter filhos, te dar uma vida boa... E você só dizia que não era o momento certo. Mas pra te trair o momento foi bem oportuno né ?

Marina: Eu não te traí!

Luan: Ah, não ? E engravidou como então ? Me conta! - Diz, ironicamente.

Marina: Eu não sei, eu... Você tem que acreditar em mim. Aquela casa é estranha, acontecem coisas... Eu não sei como isso foi acontecer, eu não fiquei com ninguém. Eu juro pelo que há de mais sagrado!

Luan: Para, para de mentiras! Você é uma farsa, Marina. Pra todo mundo você é boa, mas pra mim... Eu estou cansado de ser feito de otário! - Responde, virando as costas.

Marina: Espera, pra onde você vai ?

Luan: Eu não tenho mais nada pra fazer aqui. A nossa história terminou, Marina. Vou te deixar livre com suas escolhas.

Marina: Você não pode me abandonar no momento que eu mais preciso de você!

Luan sorri - No momento que você mais precisa de um trouxa pra bancar esse filho que você carrega aí dentro né ? Porque o pai com certeza não deve tá querendo assumir pra você tá fazendo esse teatrinho aqui comigo. Você é uma vagabunda! - Dispara, olhando firme nos olhos dela.

Marina: Luan... Você nunca falou assim comigo!

Luan: Ninguém engravida sozinha, Marina. Isso não existe! Você me traiu, e agora tá tentando me fazer de trouxa, você é uma piranha. Uma vagabunda barata da pior espécie!

Marina ergue sua mão mas Luan a segura.

Luan: Eu já fui muito humilhado. Na minha cara você não bate! - Responde, empurrando a mão dela.

Luan: Eu tô com nojo de você, nojo! - Fala, com os olhos cheios de lágrimas e saindo rapidamente em seguida.

Marina também começa a chorar, aflita.

Luan sai com tudo até seu carro, sob os olhares do jardineiro Viriato, que poda a grama. Viriato o observa entrar no carro, transtornado, e sem entender o porquê do rapaz estar assim.

Viriato: Parece que só desgraça acontece nessa família! - Sussurra, com um leve sorriso no rosto, enquanto volta a fazer o seu trabalho.

Cena 04 - Hospital - Noite

Samuca recebe os cuidados necessários e fora as escoriações da briga, não tinha acontecido nada de mais grave.

Ainda desacordado, Vicente limpa seu rosto, limpando seus machucados com carinho.

Sônia: Precisa de ajuda ? Meu plantão já está acabando, mas se quiser posso lhe ajudar.

Vicente: Obrigado, Sônia. Mas eu mesmo quero cuidar dele.

Sônia sai, preocupada com os dois.

Samuca acorda com dor na cabeça e um parecia um pouco confuso, mas logo volta a dormir com a medicação que Vicente lhe passa para aliviar as dores.

Cena 05 - Apartamento de Luan - Sacada - Noite - Ao som de Comunicação Falhou - Mari Fernandez feat Nattan

Luan está escorado na sacada, com a cabeça baixa, enquanto segura um copo de cerveja.

Perdido em seus pensamentos, ele se lembra do dia em que conheceu Marina, há dez anos atrás.

FLASH BACK

"Samuca: O povo aqui é animado, hein ?

Marina faz pouco caso.

Marina: Nem percebi.

Samuca: Se anima aí, vai!

Samuca olha em volta.

Samuca: Cadê o Bruno ?

Marina olha para algo atrás dele.

Bruno chega abraçado com um rapaz muito bonito, forte e tatuado.

Samuca e Marina encaram os dois, espantados.

Bruno: Esse é meu amigo Luan. A baladinha é dele!

Luan cumprimenta os dois.

Desanimada, Marina mal responde.

A festa continua rolando. Luan não para de olhar para Marina um só segundo, até que toma coragem e se aproxima dela.

Luan: Oi!

Marina continua calada, bebendo uma cerveja.

Luan: O Bruno me falou muito sobre você!

Marina: Sério ? Ele devia estar sem assunto então! - Fala, ironicamente.

Luan: Sua bebida acabou... Posso te oferecer outra ?

Marina: Pode.

Luan sorri e sai, voltando em seguida com um copo na mão.

Luan: Aqui!

Marina: Obrigada, não quero!

Luan fica sem entender: Mas você falou que eu podia oferecer!

Marina: Eu falei que você poderia. Mas daí eu aceitar já tem uma grande diferença! - Dispara, saindo e o deixando sozinho.

Luan a olha indo embora, e bebe um gole da própria batida que trouxe.

Luan: Adoro mulher difícil. Essa vai ser minha! - Diz, sorrindo."

FIM DO FLASH BACK

Luan: Porque ? Porque você me traiu desse jeito, Marina ? O tanto que nos amávamos. Quando foi que você se tornou essa pessoa ? - Pergunta-se angustiado.

Luan: Eu te amo tanto!

Cena 06 - Apê de Vicente - Quarto - Noite - Ao som de Another Love - Lukas Gadelha Cover

Já é madrugada quando volta Samuca volta a despertar, dessa vez mais lúcido, olhando assustado para os lados, até dar de cara com Vicente.

Samuca: Onde estou?

Vicente: Em casa, na nossa casa.

Samuca: Parece que um trator passou por cima de mim.

Vicente: Como você está, meu amor ?

Samuca leva a mão a cabeça e em seguida passa pelos curativos que Vicente fez, olhando para o médico.

Samuca: Aquele canalha, eu vou matar aquele desgraçado. Ele fez tanta maldade com a gente, nunca na minha vida pensei escutar tanta podridão como aquela.

Vicente: Por favor, fique calmo, eu vou resolver essa história.

Vicente se aproxima de Samuca, que fica olhando em seus olhos.

Samuca: Vicente, você disse que não me amava mais, isso é mentira não é ?

Vicente: Claro que é mentira Samuca. Eu te amo mais que minha própria vida até.

Samuca: Então porque fez aquilo ?

Vicente: Eu só queria lhe proteger, justamente pra evitar isso que acabou de acontecer. Mas eu te amo, nunca duvide do meu amor.

Samuca: Eu nunca duvidei. Me desculpe também.

Vicente: Não tenho nada para desculpar.

Samuca: Me desculpe por eu ter dito que você não merecia o coração do Bruno, eu estava com raiva e queria lhe ferir.

Vicente: Eu sei, eu entendo você. Mas da próxima vez que for me dar um murro, pega mais leve, ficou doendo.

Vicente começa a rir, fazendo Samuca rir também.

Samuca: Me dá um abraço.

Os dois se abraçam, em silêncio. Apenas curtindo o calor do corpo um do outro.

Durante a madrugada Samuca acorda algumas vezes, lembrando-se do ocorrido e chorando em silêncio, sendo abraçado por Vicente, que percebe tudo, apertando seu corpo ainda mais forte em seu peito, dando-lhe conforto.

Cena 07 - Casa de Teresa - Sala - Manhã

No dia seguinte, Vicente vai até a casa da mãe e conta todo o ocorrido, mas omitindo a estória de Henrique, com receio que o irmão atrapalhe seus planos.

Teresa: Meu Deus, que rapaz horrível, e ainda por cima convivendo com eles naquela casa. Coitado do Antônio e da Helena. E quem diria a Mirella metida nisso, ela cresceu nessa rua, a tia sempre lhe deu uma ótima educação.

Vicente: Eu vou contar tudo ao Tio Antônio!

Teresa: Mas hoje não, Vicente. A Helena nos convidou para a festa de aniversário dele, acho que não é a melhor hora.

Vicente: Ah é ? Pra mim não teria hora melhor, vou botar fogo naquela festa.

Teresa o encara, preocupada.

Cena 08 - Ao som de Take a Moment to Breathe - Normal the Kid

Paisagens - Anoitece

Cena 09 - Mansão de Mohamed - Suíte - Noite - Ao som de Cold World - Macy Gray

Mohamed chega após mais um dia de trabalho e entra em seu quarto, distraído. Ele coloca sua mala em cima da escrivaninha e se surpreende ao ver o quarto mais escuro, com luzes de led vermelho pelas paredes.

Mohamed: Mas o que é isso ? - Pergunta-se.

Ayla surge só de camisola e vai até o seu marido, o beijando.

Ayla: Gostou da surpresa, meu bem ?

Mohamed sorri para sua esposa, e vê pétalas de rosas pela cama.

Mohamed: Nossa, você me deixou até sem palavras! Porque tudo isso ?

Ayla: Eu estou feliz. Eu irei para Petrópolis esse final de semana, irei em um encontrinho com minhas amigas que irão chegar da Turquia! Vai ser tão bom revê-las, lembra que eu te disse que elas iriam chegar ? Então.

Mohamed: Que bom, meu amor. Fico contente por você, por nós estarmos resgatando nossas raízes.

Ayla: Eu me sinto tão sozinha nessa casa, se não fosse a companhia da Rosa eu já teria enlouquecido!

Mohamed: Eu tenho culpa nisso. Mas prometo ser mais presente, prometo te fazer feliz!

Ayla: Você já me faz. Mas pode me fazer mais ainda essa noite!

Os dois se olham nos olhos.

Mohamed a beija com vontade, enquanto ela corresponde aos seus beijos.

Os dois caem na cama, ele estando por cima, enquanto não desgrudam seus lábios um só minuto.

Enquanto a beija, Mohamed vai abrindo a camisola de sua mulher.

Sob o reflexo daquelas luzes vermelhas, eles se amam como se não houvesse amanhã.

Cena 10 - Apê de Vicente - Quarto - Noite

Vicente se arruma e mesmo a contra gosto aceita que Samuca vá também, com a condição de não entrar na casa.

Ao chegar, Samuca fica esperando no carro.

Samuca: Você tem certeza ?

Vicente: É hora do show! - Afirma, descendo do veículo. Ele entra e vê alguns convidados se divertindo no jardim.

No quarto, Helena entra para chamar Antônio.

Helena: Vamos descer querido, todos os nossos amigos estão aqui.

Antônio: Você sabe que odeio festas de aniversário pra mim, você convidou o Vicente ? Meu maior presente seria a presença dele.

Teresa: Avisei a Teresa e pedi para chamá-lo, não consegui falar com ele.

Antônio se sente ansioso.

Ao som de instrumental 'Winds of Capadocia' - Alexandre de Faria

Vicente fica escondido, a espreita pelos cantos pois sabe que Heitor está na casa e quer pegá-lo de surpresa. Um pouco afastado, ele vê o irmão e Vitória, aparentemente discutindo, mas seu foco é outro.

Ellen aparece atrás dele.

Ellen: Vicente! O que faz aqui ? Como está o Samuca ?

Vicente: Você sempre soube que era aquele canalha do Heitor, não é ?

Ellen: Sim, mas por favor, não conte nada a ninguém.

Vicente: Porque ?

Ellen: Confie em mim, não diga nada a ninguém. Por favor, eu lhe peço.

Vicente a deixa sozinha e vai até a mansão, entrando por trás. Ellen o observa indo, preocupada.

Vicente sobe as escadas e dá uma checada geral na casa, nem se importando mais de ser visto. Andando em silêncio e com uma cara séria, ele entra no quarto de hóspedes, mas nem sinal de Heitor. Até mesmo no quarto de Helena e Antônio ele entra. Em banheiro por banheiro.

Vicente: Cadê você, desgraçado!!!

De repente, ele se lembra de um local que não olhou.

Vicente: Espera aí, não pode ser... Mas é muita cara de pau!

Vicente imediatamente segue para o quarto onde os tios guardam as coisas de Bruno e mete a mão na maçaneta, entrando com tudo.

Heitor dá um pulo de susto ao notar a presença dele.

Heitor: Vicente!!!

Vicente: Você não achou que escaparia de mim não é ? Agora é a hora do nosso acerto de contas.

Os dois se encaram. Heitor começa a suar frio, se tremendo de medo.

Imagem de Vicente congela em um efeito avermelhado.

Continua...

Se encerra no refrão de Tem Cabaré essa Noite - Nivaldo Marques & Nattan

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