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Seguindo Em Frente | Capítulo 46 (Última Semana)


A seguir

Seguindo em Frente - Capítulo 46 - ( Última Semana )

+16 ( Contém Violência, Sexo e Linguagem Imprópria )


Cena 01 - Mansão de Mohamed - Suíte Principal - Fim de Tarde - Ao som de Where Is My Mind - Safari Riot


Ayla entra em sua casa em silêncio, e fecha a porta devagar para não fazer barulho.

Ela olha ao redor e caminha a passos lentos até a escada, onde vai subindo calmamente.

O caminho até o seu quarto parece infinito, e a cada vez que se aproxima mais do topo da escada, ela escuta risadas abafadas ficando cada vez mais próximas.

Ao chegar no topo, ela hesita, parando por alguns instantes.

Seu coração bate cada vez mais forte, já prevendo o pior.

Ela toma coragem e respira fundo, seguindo em direção ao seu quarto.

O som de risadas e beijos ficam cada vez mais altos.

Ao chegar na porta, ela fica parada, e passa a mão por toda aquela madeira, sentindo a textura, enquanto desce os dedos até a maçaneta.

Ayla vai abrindo a porta devagar.

Inevitavelmente as lágrimas já escorrem por todo o seu rosto.

A porta se abre por completo, e ela fica ali, parada, diante de uma cena que a deixa totalmente sem reação.

Mohamed está em cima de Rosinha, a beijando, enquanto ela geme excitada.

Os dois rolam pelos cobertores, sob o olhar com uma expressão nauseante de Ayla.

Rosinha nota a presença de Ayla e olha para a porta, dando um pulo de susto ao vê-la.

Ela cobre imediatamente seu corpo com o lençol.

Mohamed: O que foi, meu amor... - Diz, enquanto a beija.

Rosinha o afasta.

Ayla: Meu amor ?

Efeito sonoro grave toca em cena.

Mohamed toma o maior susto ao ouvir a voz de sua esposa, e olha assustado para trás.

Rosinha a encara, pensativa e em silêncio.

Ayla: Eu sabia, eu sabia!!! Por mais que a minha mente dissesse que sim, o meu coração dizia que não, que você jamais me trairia desse jeito... Na minha própria cama!

Mohamed: Calma, meu amor. Não é nada disso do que você tá pensando! - Diz, se levantando e vestido uma calça rapidamente.

Ayla chora, desesperada.

Rosinha revira os olhos e coloca sua camisola calmamente, fazendo uma cara de deboche.

Mohamed: Calma, meu amor! Não é assim como parece, eu juro. Vamos conversar!

Rosinha: É sim, fala pra ela!

Ayla: Eu não posso suportar isso.... - Grita, enquanto chora.

Mohamed: Meu amor...

Ayla: Cale a boca! Traidor, mentiroso! Como vocês puderam me enganar desse jeito ? Eu te coloquei dentro da minha casa, sua vagabunda! Pistoleira!

Rosinha: Olha como fala comigo, sua...

Ayla: Sua o que ? Fala aí se você for mulher! Pega o meu marido e ainda quer estar com a razão ?

Rosinha sorri: - Mas eu sou mulher, querida. Muito mais do que você foi! Ao contrário de você, eu sim soube satisfazer o seu marido. Você devia era me agradecer, isso sim!

Ayla a olha nos olhos, horrorizada com tudo o que escuta.

Pela primeira vez, Rosinha deixa sua máscara cair, mostrando quem é de verdade.

Rosinha: Enquanto você vivia lá, socada em igrejas e shoppings, achando que tinha uma vida e uma família perfeita, eu tava lá fazendo o que você não fazia! Fazendo o seu marido feliz, ensinando pra ele o que uma mulher de verdade faz! Pensa que eu não sei que com você era só papai e mamãe ?

Ayla: CHEGA!

Rosinha: Mas comigo não, meu amor. Eu faço com esse homem coisas e posições que você sequer imagina! Porque no fundo você sabe que você é só uma bostinha. Que ele só tá com você por aparências... E que você não passa de uma gralha insuportável! Olha, viu. O cara tem que ter coragem pra te suportar. Parabéns, Mohamed. Você merece um prêmio!

Mohamed: Chega, Rosa. Sai daqui!

Rosinha: Não saio não, eu nem comecei! Eu sim sou mulher pra você, não essa daí!

Ayla limpa suas lágrimas, com sua tristeza virando raiva.

Rosinha: Ele sempre me desejou. E me teve. Sabe porque ? Porque você é uma fracassada como mulher, nem um filho você teve a capacidade de gerar!

A vilã mal termina de falar e Ayla tasca um forte tapa na cara dela.

Rosinha sai voando pelo ar, esbarrando nas cortinas, nos vasos, em algumas taças, até cair em cima de uma centro de vidro, que se quebra.

Rosinha: Aiii!

Mohamed tenta separar.

Ayla dá um chute nas partes íntimas dele, que cai na cama, gemendo de dor.

Ayla: Com você eu resolvo depois! Agora eu tenho um acerto de contas pra resolver. Eu vou mostrar pra essa vadia se eu sou mulher ou não!

Rosinha sorri, enquanto cospe sangue.

Zoom no rosto das duas, que se encaram em câmera lenta.

Efeito sonoro chocalho de cobra toca em cena.

Suspense no ar.

Rosinha se levanta com dificuldade, se agarrando nas cortinas.

Rosinha: Você vai pagar caro! - Diz, com ódio.

Ayla: Quem vai pagar é você, sua piranha! Você vai se arrepender de um dia ter nascido!

Rosinha olha para Ayla com medo.

Rosinha: Eu vou embora!

Ayla tira sua sandália e joga na cara dela.

Rosinha cospe sangue.

Ayla: Você não vai pra lugar nenhum!

Ayla avança em Rosinha e começa a balançar a cabeça dela com força de um lado para o outro, enquanto dá tapas.

Rosinha: Aaaaiiii! Tá me machucando!

Ayla: Eu te dei teto, comida, dormida e é assim que você paga ? Traindo quem te teve como uma filha, cachorra!

Ayla joga Rosinha contra uma cadeira, que se quebra.

Caida no chão, Rosinha implora por socorro.

Mohamed se levanta e tenta segurar Ayla, que o empurra novamente.

Ayla: NÃO ME SEGURA QUE É PIOR!

Ayla chuta a cara de Rosinha, se abaixa e começa a enforcá-la.

Ayla: Eu vou te matar!

Rosinha: Soc...Socorr... - Balbucia, enquanto sufoca.


Cena 02 - Mansão de Antônio - Jardim - Fim de Tarde - Ao som de Another Love - Tom Odell


Samuca: Vicente, a muitos anos eu dei essa corrente para o grande amor da minha vida e não veja isso como uma substituição, mas... Acho que foi obra do destino, essa mesma corrente foi parar em seu pescoço e agora eu que lhe ofereço ela.

Vicente o escuta falar, surpreso.

Samuca: Dei uma vez essa corrente ao grande amor da minha vida, meu primeiro amor, e hoje quero repetir esse gesto.

Samuca estende as mãos, oferecendo aquela jóia dourada, com a metade de um coração bem no centro, enquanto Vicente se mantém sério, olhando para ele.

Samuca: Aceite, meu amor!!!

Samuca está com as mãos levantadas, exibindo aquela corrente de ouro no ar, olhando para Vicente com o sorriso de orelha a orelha.

Vicente fica sério, olhando para ele, vendo o reflexo da luz fazer brilhar aquele pingente.

Por um momento fica aquele silêncio no ar e rapidamente o sorriso que Samuca exibe vai se desfazendo.

Samuca está com a melhor das intenções, apesar de estar na casa do seu grande desafeto, está muito feliz em comemorar o aniversário do seu amor e graças a essa felicidade teve a idéia de repetir o gesto que teve há 10 anos atrás, achando que Vicente entenderia aquilo como um gesto de carinho.

Samuca sente que tinha cometido uma gafe enorme e achando que Vicente está se sentindo menosprezado com aquele presente, começa a recuar, abaixando os braços.

Antes mesmo de começar a se desculpar e reverter aquele situação, teve uma grande surpresa.

Vicente abaixa a cabeça diante dele.

Samuca fica sem saber o que pensar, olhando para o médico, encurvado a sua frente.

Vicente: Meu pescoço já está doendo.

Samuca dá um sorriso e erguendo os braços novamente, vai passando delicadamente aquela corrente pelo pescoço do seu namorado.

Vicente levanta a cabeça, ficando com o corpo ereto na frente dele, ainda mantendo o olhar sério, enquanto Samuca é só sorrisos.

Samuca: Por um momento eu achei que...

Vicente: Você fala demais, Samuca!

Vicente o puxa pela cintura, grudando seu peito no dele, falando agora próximo a sua boca.

Vicente: Obrigado pelo presente.

Samuca: Você gostou mesmo ?

Vicente: Vou ser sincero contigo. Se fosse há algum tempo atrás eu acho que não iria reagir muito bem, mas agora me sinto honrado em receber esse seu presente.

Vicente segura o rosto dele e o beija com muito amor, abraçando seu corpo, fazendo seus pingentes se unirem.

Samuca: Eu te amo.

Vicente: Eu sei.

Samuca: Não é assim que fala.

Vicente: Mimado, eu te amo Samuca! Mas o melhor que eu poderia ter ganhado, eu já ganhei.

Samuca: Acho que nossos destinos já estavam escritos desde sempre. Mas vamos voltar lá pra dentro ? Antes que seu tio venha lhe salvar das garras do lobo mau.

Samuca coloca sua corrente para dentro da camisa e ia fazer o mesmo com a de Vicente.

Vicente: O que está fazendo? Nada disso, quero que todos vejam e se alguém perguntar eu digo o que elas significam.

Samuca: Eu com seu coração e você com o meu.

Vicente puxa a corrente de Samuca para fora e antes de voltarem para dentro, dão mais um beijo apaixonado.


Cena 03 - Mansão de Mohamed - Suíte Principal - Noite


Ayla aperta o pescoço de Rosinha com toda força que há em suas mãos.

O rosto da vilã fica roxo, perdendo todo seu fôlego e quase desmaiando.

Ayla a solta.

Rosinha começa a tossir, sufocada.

Ayla: Eu não vou me sujar por tão pouca bosta! Mas isso é só pra você aprender que eu sim sou uma mulher de verdade. Não você. Eu nunca tive culpa por ter sido enganada, já você sim. Você achou mesmo que iria ter cacife pra entrar na elite paulistana dessa forma ? O seu lugar é na sarjeta, vagabunda! E é pra lá que você vai!

Ayla agarra no cabelo de Rosinha e a sai arrastando pela casa, sendo seguidas por Mohamed.

Rosinha grita, tentando se soltar.

Ayla a arrasta para fora de casa.

Os seios da moça saem pra fora da camisola e ficam expostos, com ela tentando escondê-los.

As cortinas das janelas vizinhas balançam, com as pessoas olhando escondidas a confusão.

Algumas saem até a calçada, para presenciarem de perto a algazarra.

Dona Graça sorri ao ver a cena, com Odarina logo atrás.

Dona Graça: Eu falei. Eu falei que isso aí era uma biscate! Mas ninguém me ouviu, deu nisso.

Rosinha: ME SOOOOLTAAAA!

Ayla puxa o cabelo dela com ainda mais força, arrancando alguns tufos.

Sangue escorre pela testa da moça.

Ayla: Pra todos vocês, curiosos, que estão vendo essa cena. Tá vendo essa mulher aqui ? Que veio de um convento e não tinha aonde cair morta. E que eu abriguei em minha casa... Dei emprego, teto, comida... Que confiei e cuidei como uma filha... Ela não passa de uma vagabunda da pior espécie! Seduziu o meu marido mesmo estando noiva de outro!

Rosinha chora, desesperada e se sentindo completamente humilhada.

Ayla: Mas pode ter certeza de uma coisa. A sua vó, que tanto te ama e te vê como uma santa...

Dona Graça: Santa, essa tranqueira aí ? Só se for do pau oco!

Ayla: A sua avó vai saber a pilantra destruidora de lares que você é! E aquele pobre coitado que está iludido com você... Esqueça esse casamento pois ele não vai acontecer. Ele vai saber quem você é de verdade! Você só o vê como uma mina de ouro, mas isso vai acabar!

Mohamed: Ayla, por favor!

Ayla: AGORA FORA DAQUI, ANTES QUE EU TE ARREBENTE AINDA MAIS!

Rosinha se levanta com dificuldade, arrumando sua camisola e tentando esconder seus seios.

Rosinha: Minhas roupas... Minhas malas...

Ayla: Ah, não se preocupe não que vão tudo pro lixo. Nem pra doação serve!

Rosinha olha para os lados, sob os olhares e risadas de todos ao seu redor.

Ela chora, se sentindo completamente humilhada, e anda cambaleando em direção a rua.

Dona Graça sorri, satisfeita.

Mohamed e Ayla se encaram.


Cena 04 - Mansão de Antônio - Quarto - Noite - Ao som de instrumental 'Movimento de Inverno' - Alexandre Guerra


Antônio: Moço bonito ?

Flora: Sim, o Tio Samuca sempre ficava olhando pra ele.

Antônio: É mesmo ?

Flora: Mas eu não gostava que o tio via a foto dele.

Antônio: Não ? Porque ?

Flora: Porque toda vez que ele olhava o moço bonito, ele ficava triste e as vezes até chorava.

Flora olha para a foto de Bruno e fala com Antônio de uma maneira tão inocente, que deixa o grande empresário sem ação.

Flora: Eu não gosto de ver o Tio Samuca triste. Ele é o tio mais legal do mundo. Mas daí apareceu o anjo que é igualzinho o Tio Vicente. O Tio Vicente também é o tio mais legal do mundo, junto com o Tio Samuca.

Antônio: E você deve ser a sobrinha mais legal do mundo.

Flora: Eu sou sim.

Henrique entra no quarto.

Henrique: Tio, a baixinha está perturbando o senhor ?

Antônio: Que nada, estávamos batendo um papão aqui.

Henrique pega a filha e a joga em seu ombro, a fazendo rir, sentando-se ao lado de Vitória.

Flora: Mamãe, estou com fome.

Teresa: Calma, Flora. Vamos esperar seus tios.

Helena: Já mandei servir.

Flora: Mamãe, lá fora tem uma piscina grandona, desse tamanho. - Diz, esticando as mãos no ar.

Flora: A gente pode vir brincar na piscina ?

Vitória: O que é isso filha, que coisa feia.

Antônio: Deixe-a, será minha convidada.

Helena: Vou comprar uma bóia bem bonita pra você, até aprender a nadar.

Flora: Oba!!! Meu irmãozinho também vai poder vir ?

Helena: Irmãozinho ?

Flora: Sim, eu vou pedir pra mamãe e pro papai um irmãozinho pra brincar comigo.

Vitória só falta abrir um buraco no chão e enfiar a cara, enquanto Henrique fica com uma cara de pão amanhecido.

Sônia: Vocês estão namorando ? Que ótima notícia, Henrique!

Helena: Fazem mesmo um lindo casal e com certeza se vier um novo bebê será lindo como a filha de vocês.

Teresa olha para o filho, enquanto Vitória tenta explicar em vão que não é nada daquilo.

Vicente chega com Samuca.

Vicente: Quem está namorando ?

Flora: O papai e a mamãe.

Vicente: Até que enfim você tomou jeito em meu irmão.

Vitória olha de cara feia para a filha que senta no colo do pai, fazendo-se de inocente.

Helena: Vamos jantar ? Vou chamar a Ellen.

Antônio senta na cabeceira da mesa e talvez por premeditação ou não, Samuca fica numa cadeira mais afastada, mas ao lado de Vicente.

O jantar foi bem animado, Helena ficou lembrando de alguns momentos do afilhado, com Henrique tirando sarro do irmão. Sônia e Teresa ficaram conversando enquanto Flora come todos os doces que pode.

Antônio: E como está no hospital, filho ?

Vicente: Lá é bem diferente do consultório, é mais adrenalina né Sônia ? Mas tenho uma novidade. Vou mudar meu consultório.

Helena: Ah é ?

Vicente: Sim tia, eu e o Samuca vamos trabalhar juntos. Já até escolhi uma casa, vamos transformá-la em metade consultório e metade escritório.

Antônio: Mas Vicente, você acha mesmo uma boa idéia ?

No mesmo instante todos param, mas disfarçando seus atos. Samuca sente raiva, mas se controla. Já Helena olha descaradamente para Antônio, como se esperasse uma retratação.

Antônio: Eu digo.... Você já tem seus pacientes, eles já estão acostumados com seu consultório, não acha que é muita mudança ?

Vicente: Ah tio, eu acho que só no começo, mas depois tudo volta ao normal.

Antônio ia insistir, mas Helena é mais rápida, mudando de assunto e distraindo todos.

Após o jantar, todos continuam conversando na sala, com exceção de Antônio e Vicente que vão para o escritório particular dele.


Cena 05 - Mansão de Antônio - Escritório - Noite - Ao som de instrumental 'Movimento de Outono' - Alexandre Guerra


Antônio: Estou muito feliz mesmo de você estar aqui.

Vicente abraça o tio sentando-se ao seu lado no sofá, jogando conversa fora.

Antônio: Estamos vivendo momentos difíceis lá na loja por conta de tudo que o Heitor fez e o pior ainda nem começou, mas sua tia tem sido uma esposa fantástica e tendo você e sua família aqui em nossa casa, ameniza um pouco esse lado ruim.

Vicente: Tio, eu, minha mãe e o Henrique... Nós sempre estaremos ao lado de vocês. Pra mim, o senhor e a tia são como se fossem da nossa família.

Os dois mudam o tom da conversa, agora falando animadamente de coisas do passado, rindo de maneira descontraída.

Vicente: Mas eu fiz o gol, não está impedido coisa nenhuma.

Antônio: Você não entende as regras meu filho, por isso quando o Henrique fala que é melhor de bola que você, eu dou razão.

Vicente: Nada a ver isso, pior o senhor, com aquele uniforme ridículo de juiz, laranja e verde fluorescente. Você pagou o maior mico, pai!

Antônio fica sério no mesmo instante enquanto Vicente ri como um bobo.

Antônio: Do que você me chamou ?

Vicente para de rir, olhando para o tio, se dando conta da gafe que havia cometido.

Vicente: Desculpe tio, saiu assim... Eu.....

Antônio: Você me chamou de pai ? Você não tem idéia do quando estou feliz por ouvir isso de você.

Vicente: Tio Antônio, não foi a intenção, saiu... Eu gosto do senhor como se fosse um pai mesmo.

Antônio: Você já é um homem, adulto, mas deixe-me cuidar de você.

Vicente não diz mais nada, apenas sorri e dá um abraço naquele homem que apesar de não ser seu parente, havia salvado sua vida.

Antônio ainda sente um pouco de culpa por tudo que fez com Bruno e apesar do seu carinho com Vicente ser sincero, sente aquele afeto como um presente, como uma forma de se desculpar dos seus atos do passado.

Enquanto isso na outra sala, havia outra discussão de pai e filho. Henrique pega sua baixinha, aproveitando que todos estão distraídos.

Henrique: Filha, temos que conversar.

Henrique coloca Flora no colo e começa a explicar sobre sua relação com Vitória.

Henrique: Eu e a mamãe somos apenas amigos, você não pode....

Flora: Papai, quero ter uma conversa séria com você.

Henrique: Tudo bem, então fala primeiro.

Flora segura o queixo do pai, olhando em seus olhos, falando como se fosse uma adulta.

Flora: Papai, porque você não namora a mamãe ?

Henrique: Filha, eu...

Flora: Se você não namorar a mamãe, ela vai casar com outra pessoa. Daí nós vamos morar longe e eu vou ter outro papai e eu não quero ter outro papai, pois já tenho você.


Ao som de Movimento de Inverno - Alexandre Guerra


Henrique fica em silêncio e beija sua filha, e refletindo sobre aquela conversa.

Antônio e Vicente saem do escritório, abraçados e rindo enquanto conversam, mas ao ver o namorado, Vicente corre para dar atenção a ele.

Samuca: A conversa lá foi boa hein.

Vicente: Foi sim, depois te conto.

Helena não iria deixar aquela data passar em branco e antes de irem embora chama todos para cantar parabéns.

Henrique: Que lindo, um cavalão desses cantando parabéns.

Teresa: Não ri não, que no seu aniversário vou fazer um bolo igual, ciumento.

Samuca fica mais afastado, mas Vicente faz questão de puxá-lo para ficar ao seu lado, pegando também a sobrinha para apagar as velinhas.

Sônia: Tem que fazer um pedido.

Vicente olha para Samuca e a responde.

Vicente: Meu pedido já foi realizado.

Para um bom entendedor, todos sabiam o que se referia e também para evitar ciumeira geral, Vicente dá o primeiro pedaço de bolo para Flora.

O jantar tinha sido maravilhoso e aos poucos todos começam a ir embora, mas ainda iria ter a última surpresa da noite.

Samuca estende a mão para Antônio, agradecendo pela noite. Antônio fica com os olhos arregalados, mas ao ver Helena e Vicente olhando para ele, aperta as mãos de Samuca.

Há alguns metros dali, escondido atrás de algumas árvores, Heitor assiste toda aquela cena, não só de Samuca e Antônio aparentemente cordiais, mas de todos outros convidados, alegres e felizes.

De imediato se lembra da conversa que teve com Mirella horas antes.


FLASH BACK

"Mirella: Você tanto fez, tanto armou, mas no fim, todos irão viver como uma grande família. Dá até ânsia em pensar, gentarada chata. Enfim, você perdeu meu anjo."

FIM DO FLASH BACK


Heitor: Desgraçados, vocês pensam que eu estou derrotado, não é ? Pensam que sou carta fora do baralho? Vocês todos irão me pagar, seus miseráveis. Vou pegar todos vocês, um por um! - Ameaça, com uma expressão de ódio e inveja.


Cena 06 - Mansão de Mohamed - Sala de Estar - Noite - Ao som de instrumental 'Amores Distantes' - Rodolpho Rebuzzi e André Sperling


Ayla está sentada no sofá, na penumbra. Somente um abajur aceso ao seu lado ilumina o ambiente.

Mohamed desce as escadas, já vestido e com uma mala em mãos.

Mohamed: Meu amor... Eu vou ficar na nossa fazenda de férias até tudo entre nós se resolver!

Ayla, que até então estava quieta, se levanta e anda em direção até ele, soltando um sorriso irônico.

Ayla: Até o que entre nós se resolver ?

Mohamed: O nosso casamento. Eu te amo, isso foi apenas um deslize!

Ayla: Deslize ? Isso é uma piada ? Você é muito cara de pau mesmo! Vinte e dois anos, Mohamed. Vinte e dois anos jogados no lixo, e tudo isso porque ? Por causa de uma vagabundinha barata como aquela ? Não há perdão para traição, Mohamed. Você sabe muito bem disso, nós dois temos as nossas crenças!

Mohamed: Mas... Nós dois vamos passar por cima disso, eu tenho certeza. Eu nunca deixei de te amar! E vamos ficar velhinhos com nossos filhos correndo por essa casa!

Ayla: Que filhos, Mohamed ? Se tem uma verdade no que ela falou, é a de que eu nunca poderei lhe dar filhos! Talvez seja por isso que você tenha deixado se seduzir por ela. Porque no fundo você sabe que ela sim é sadia. Ela sim pode te dar uma família, e por mais que eu tenha vindo de uma família nobre, não há nobreza que seja capaz de reverter isso!

Mohamed: Isso nunca foi empecilho pra nós...

Ayla: Mohamed, eu estou cansada. Por favor, não torne isso mais difícil... Apenas vá. Vá e dê graças a Deus por eu não atirar suas roupas pela janela, que é o que você merecia! Depois acertamos as questões burocráticas da nossa separação.

Mohamed: Não. Eu não vou me separar de você. Eu vou concertar tudo isso, eu te prometo!

Ayla o encara com desprezo.


Cena 07 - Casa de Dona Benedita - Sala - Noite


Dona Benedita abre a porta e se espanta ao ver a neta com o rosto todo sangrando e uma camisola rasgada.

Toda encolhida, ela chora enquanto tenta cobrir suas partes íntimas.

Dona Benedita: Minha neta, pelo amor de Deus!!! O que aconteceu ?

Rosinha: Vó... Liga pro Miguel por favor...

Dona Benedita pega um cobertor e a cobre, a aquecendo.

Dona Benedita: Quer me matar do coração, menina. O que aconteceu!

Rosinha: Eu fui vítima de uma injustiça, minha vó! Eu vou explicar tudo, mas ligue pro Miguel primeiro. O que eu vou falar é muito grave, quero que ele esteja presente!

Cada vez mais assustada, Dona Benedita liga imediatamente para o noivo de sua neta.

Após poucos minutos, Miguel chega todo preocupado e leva o maior susto ao ver sua noiva naquele estado deprimente.

Miguel: Meu Deus... Eu vim correndo, o que aconteceu ?

Rosinha corre e o abraça apertado.

Rosinha: Você me ama, meu amor ?

Miguel: É claro que sim, você tem dúvidas ?

Rosinha: Então precisamos ser mais fortes do que nunca agora!


Cena 08 - Ao som de Paradise - Coldplay

O dia amanhece - Os carros vêm e vão


Cena 09 - Empresa de Mohamed - Manhã


Mohamed chega para trabalhar extremamente abatido e com olheiras.

Mohamed: Bom dia. O Miguel já chegou ?

Secretária: Sabe que não ? Agora que reparei. Ele é sempre o primeiro a chegar!

Mohamed engole seco.

Secretária: Quem já está aí é o Samuca. Chegou há um tempão e está ansioso pra falar com o senhor!


Mohamed entra em sua sala e se depara com Samuca na janela.

Mohamed: Samuca... O que faz aqui tão cedo ?

Samuca o olha da cabeça aos pés, estranhando o estado do seu chefe.

Samuca: Tá tudo bem ?

Mohamed: Vai ficar. Assim espero!

Samuca: Bom, não tenho outro jeito de falar isso, afinal são quase dez anos trabalhando para o senhor!

Mohamed: Não estou gostando desse tom.

Samuca: Eu e o Vicente vamos nos casar, e construir uma vida juntos como o senhor já sabe.

Mohamed: Sei.

Samuca: E agora preciso me desligar da empresa. Iremos ter um consultório em conjunto, eu para minhas obras de engenharia e ele como médico! Tá, é algo inusitado, mas que decidimos juntos.

Mohamed: Mas você é o melhor funcionário que eu já tive nessa empresa!

Samuca: Ah, para. O Miguel também é muito competente. Eu tenho certeza que ele ocuparia muito bem o meu cargo!

Mohamed dá um sorriso amarelo.

Mohamed: É. Tenho certeza que ocuparia...


Cena 10 - Apê de Vicente - Noite - Ao som de Take a Moment to Breathe - Normal The Kid


O quarto está na penumbra, iluminado apenas pela luz da lua que vem da janela. A câmera vai se aproximando lentamente da cama, onde Samuca e Vicente se beijam. Os dois sem roupas, cobertos apenas por um fino lençol.

Vicente passa a mão pela correntinha de Samuca e fica de frente a ele, olhando em seus olhos.

Vicente: Samuca...

Samuca: Oi.

Vicente: Obrigado por ter me feito o homem mais feliz desse mundo.

Agora é a vez de Samuca passar a mão no pingente do peito de Vicente, completando a frase dita por ele.

Samuca: Te fiz feliz e vou fazer sempre.

Vicente sorri e levanta a cabeça dele, beijando seu pescoço e subindo pro queixo.

Os dois fizeram amor de maneira calma, com muitos beijos e carinhos, até saciarem seus desejos e caírem no sono.

Já é manhã, quando Samuca acorda todo assustado, suado e se revirando na cama.

Samuca: Vicente ?

Vicente: Oi amor, estou no banheiro.

Vicente entra no quarto e vê Samuca tenso, com o olhar abatido.

Vicente: O que foi ?

Samuca: Não sei, acordei com uma sensação ruim.

Vicente: Ei, você teve um pesadelo.

Samuca: Não sei.

Vicente: Samuca, fique em casa hoje. Você tá trabalhando demais.

Vicente abraça seu amor, fazendo com que Samuca relaxe um pouco mais.

Vicente: Vem, vamos tomar café. Tava esperando você acordar!


Os dois estão na cozinha quando o celular de Vicente toca.

Vicente: Oi, mano. Como é que é ? Hoje ? Eu vou até lá, o tio deve estar arrasado. Beleza! - Fala, desligando em seguida.

Samuca: O que foi ?

Vicente: Meu irmão ligou, saiu o mandato de prisão do Heitor e pra toda quadrilha dele. A polícia vai estourar alguns galpões e inevitavelmente meu tio vai entrar nesse escândalo. Eu acho que vou lá pra loja, a imprensa vai cair matando em cima desse assunto.

Sem saber o porquê, Samuca continua se sentindo tenso e com um mal pressentimento.







Cena 11 - Apartamento de Mirella - Suíte - Manhã - Ao som de instrumental 'Otto Dimas' - Eduardo Queiróz


Mirella: Alô, sou eu. Eu estou no meu apartamento, não consegui o que queria ainda. Eu não vou querer mais aquele escritório, já deixei tudo com minha secretária e você passa lá e pega todos os meus casos pra você. Já tenho meu futuro garantido, só preciso descobrir a senha das contas pra onde o Heitor mandou o dinheiro que roubou do tio. Por isso estou hospedando aquele cretino em minha casa. Bom, até nunca mais, quem sabe nos vemos algum dia. - Diz, se despedindo de um amigo também advogado e quando se vira, dá de cara com Heitor, que tinha escutado toda sua conversa no telefone.

Mirella: Heitor!!! Chegou agora ? Faz tempo que esta aí ?

Heitor: Tempo suficiente. Vagabunda!

Sem muita paciência, Mirella não faz questão de manter seu teatro, deixando sua máscara cair de vez.

Heitor: Você queria me roubar sua vadia ?

Mirella: Você achou o que ? Que lhe tirei daquela clínica e lhe dei um teto porque sou uma mulher boa ? Se enxerga babaca, você pra mim é só um bilhete premiado, meu passaporte pra sair desse país.

Heitor se mantém calmo e indo até a loira, pega uma faca que está em sua cintura, deixando Mirella assustada.

Mirella: O que você vai fazer ? Para com isso, Heitor!

Passando a lâmina na face de Mirella, Heitor mostra todo seu desequilíbrio.

Heitor: Imagina essa sua carinha toda retalhada.

Mirella: Por favor, nós podemos entrar em um acordo.

Heitor: Acordo com você ? Desculpa, mas o cretino aqui tem alguns milhões pra gastar, já você.....

Heitor dá um tapa no rosto de Mirella, a fazendo cair no chão.

Heitor: Eu sempre soube que você era uma vadia, mas me trair ? Me usar ? Se fosse você eu correria, a polícia já está na nossa cola. Adeus, vadia.

Mirella solta um grito, desesperada e se sentindo perdida, vendo seus planos escorrerem pelo ralo.


Cena 12 - Casa de Dona Benedita - Sala - Manhã - Ao som de Toxic - 2WEI


Dona Benedita atente a porta.

Miguel aguarda no sofá junto a Rosinha, que se mantém tensa. Ambos com uma expressão séria.

Ayla entra na casa e fica parada em um canto.

Dona Benedita, Miguel e Rosinha a encara.

Ayla: Bom, eu vou direto ao ponto. Sem rodeios! Eu marquei esse encontro aqui hoje, com vocês porque...

Rosinha a olha com ódio.

Ayla: Porque essa mulher que está sentada aí com vocês, que vocês sempre a colocaram lá em cima, que a veem como uma santa... Não passa de uma prostituta barata!

Miguel olha para Rosinha.

Ayla: Ela entrou na minha casa e foi recebida não como uma funcionária, mas como uma filha, uma amiga... E ela deitou com o meu marido na minha própria cama!!! Vai saber há quanto tempos eles faziam isso bem debaixo do meu nariz...

Rosinha começa a chorar.

Dona Benedita se mantém em silêncio.

Ayla: E eu vim aqui não só por isso. Eu vim aqui porque eu EXIGO que vocês jogam essa vagabunda na rua. A rua que é o lugar dessa rata leprosa! Debaixo de uma ponte, pedindo esmolas, isso sim é o que você merece sua meretriz!

Miguel se levanta.

Miguel: CHEGA! Não fale assim de minha noiva.

Ayla: O que ? Você escutou o que eu acabei de falar ? Ela te traiu, ela deitou com o seu próprio chefe!

Dona Benedita se aproxima de sua neta e pega em sua mão.

Dona Benedita: Minha neta JAMAIS faria isso. Ela me contou toda a verdade.

Ayla: Verdade ?

Rosinha continua chorando, compulsivamente.

Miguel: A pobrezinha estava no banho quando aquele homem entrou lá e tentou seduzí-la. Ele a forçou, a chantageou. Falou que me colocava na rua se ela não deitasse com ele... Ela cedeu as chantagens somente pra me proteger!

Ayla começa a rir, incrédula.

Ayla: O que ? Mas não é possível... Vocês estão loucos!

Dona Benedita: O verdadeiro mal caráter dessa história toda é o seu marido. E pode ter certeza que isso não vai ficar barato.

Ayla derruba algumas lágrimas, completamente chocada.

Ayla: Olha... Você é uma atriz de primeira. Conseguiu enganar direitinho a esses pobres coitados! Mas uma coisa eu te garanto... Assim como a verdade veio até mim uma vez, ela irá até eles... Porque pode tardar, mas a verdade SEMPRE aparece!

Rosinha abraça Miguel, fingindo nervosismo.

Miguel: Já falou tudo o que tinha pra falar ? Agora pode ir. Olha o estado que você deixou a minha noiva bem no dia do nosso casamento!

Efeito sonoro grave toca em cena.

Ayla olha para ele imediatamente, espantada.

Ayla: Ca-casamento ?

Miguel: A traição que o seu marido tentou causar de nada adiantou. Eu e a Rosa iremos nos casar hoje mesmo, essa tarde. E seremos felizes para sempre!

Ayla encara Rosinha, que dá um leve sorriso discreto.

Zoom no rosto das duas.

Ayla: Eu... Eu tô chocada. Eu vou embora, eu não tenho mais estômago pra tanta podridão!

Dona Benedita: É melhor você ir mesmo. A sua presença aqui não é bem vinda!

Antes de cruzar a porta, Ayla olha pela última vez para Miguel, que mantém um olhar sério.

Ela nota algo de estranho em seu olhar, mas em seguida se vira novamente e vai embora.

Rosinha: Que bom, meu amor. Que bom que não vamos deixar isso acabar com o nosso casamento! - Afirma, o beijando.

Miguel se mantém parado o tempo todo, enquanto ela o beija.


Cena 13 - Casa de Marta - Sala - Manhã - Ao som de instrumental 'Otto Dimas' - Eduardo Queiróz


Flora está vendo TV quando sai gritando feito uma louca, chamando pela mãe e pela avó.

Flora: Mãe!!! O papai tá na televisão.

Vitória: O que ?

Flora: Corre mãe, vem ver.

Vitória e Marta vão para a sala, no momento que mostra a foto de Henrique, informando ser o delegado responsável pela prisão de uma quadrilha.

Vitória: Vou lá pra loja, devem estar precisando de mim.

Marta: Você esqueceu que sua filha tem teatro na escolinha hoje ?

Vitória: Não mãe, liga pro Samuca e vocês vão com ela na frente e eu encontro vocês lá.


Teresa também assiste a reportagem, aflita e tentando ligar para os filhos. Na TV, a repórter informa que tinha acontecido uma chacina em um galpão, com uma quadrilha, mostrando vários carros de polícia e ambulâncias.

Vicente: Calma mãe, estou indo pra loja do Tio Antônio, também não consigo falar com o Henrique.

Teresa: Será que ele tá ferido, Vicente ? Estou desesperada.

Vicente: Fique calma, ele deve estar muito ocupado, por isso não atende.


Samuca também assiste a TV, supreso com as notícias. Ele olha para o lado, pensativo.


Enquanto isso na loja de Antônio, o telefone não para de tocar e algumas equipes de reportagem fazem alvoroço na entrada.

Antônio: Não deixe ninguém entrar, não estou pra ninguém.

Secretária: Sim, seu Antônio!


Cena 14 - Hotel - Tarde


Heitor já tinha comprado suas passagens, mas muda seus planos ao ver sua foto na televisão.

Heitor: Mas que merda! Preciso me esconder. Aqui não é seguro...

Ele abre seu laptop e vê que sua situação é pior do que imaginava. Ao tentar acessar suas contas bancárias, descobre que todas estão bloqueadas.

Heitor: Não, não!!!


Cena 15 - Supermercado - Tarde - Ao som de instrumental 'Dangerous' - Rodolpho Rebuzzi e Mú Carvalho


O Policial Alves chega as câmeras de segurança do supermercado onde Hanna diz ter passado na tarde do desaparecimento de Luan.

Após robibinar o vídeo várias e várias vezes, ele chega a conclusão de que ela mentiu e que não esteve lá durante aquela tarde.

Policial Alves: Te peguei, espertinha. Você vai ter que me explicar direitinho essa história, mas atrás das grades por falso testemunho! - Afirma a si mesmo, irritado.


Cena 16 - Casa de Dona Benedita - Quarto - Tarde - Ao som de instrumental 'Be Best' - Rodolpho Rebuzzi e Mú Carvalho


Rosinha está vestida de noiva, em frente a um velho espelho da modesta casa de sua avó.

Finalmente o dia que tanto sonhou havia chego.

Ela passa a mão pelo tecido nobre do vestido, e em seguida alisa a sua barriga.

Um sorriso se forma em seu rosto.

Dona Benedita entra no quarto.

Rosinha: Finalmente. Finalmente, minha vó... Eu vou me casar!

Dona Benedita: Você está linda!

Rosinha: Tentaram me derrubar, inventaram mentiras sobre mim... Mas o meu amor com o Miguel é maior que tudo, e nada conseguiu destruir isso!

Dona Benedita se aproxima de sua neta.

Dona Benedita: Meu amor... Eu sou sua avó. E estarei com você sempre, você sabe disso...

Rosinha: Claro que sei.

Dona Benedita: Você quer me contar alguma coisa ?

Rosinha: Está duvidando de mim, vó ? Não estou te reconhecendo.

Dona Benedita: Não, é que...

Rosinha: A minha palavra é a única coisa de valor que eu tenho. É a minha verdade!

Dona Benedita: Eu acredito em você, minha neta. Você é uma santa, a minha joia rara. Eu sei que jamais me decepcionaria contigo! Até porque se isso acontecesse eu acho que morreria do coração.

Rosinha fica séria.

Dona Benedita: Mas é que... Não sei. Amanheci com o coração apertado hoje! Uma sensação estranha.

Rosinha: Deve ser nervoso. Eu também estou assim, afinal é o meu casamento! E nada pode dar errado!


Cena 17 - Fazenda de Miguel - Suíte - Tarde


Miguel está pronto para o seu casamento, com terno, gravata, calça e sapato social.

Parado no canto de seu quarto, ele olha um porta retrato de Rosinha.

A pouca luz do dia que vem de fora ilumina o ambiente, através das cortinas de coloração clara.

Ele passa o dedo pelo rosto de Rosinha naquela imagem, pensativo.

Motorista: Tudo certo, patrão ? Quando quiser ir, estarei no carro esperando!


Cena 18 - Casa de Marta - Sala - Tarde - Ao som de instrumental 'Dangerous' - Rodolpho Rebuzzi e Mú Carvalho


Samuca chega e é recebido por Flora, que o abraça aflita.

Samuca: Oi, meu amor.

Flora: Tio, o papai levou tiro ?

Samuca: Não, ele tá bem, só foi pegar um monte de bandido.

Flora: O papai é um herói.

Samuca: É sim. Veste essa roupinha, que esta quase na hora de você ir assistir o teatro na escola.

Flora: Será que ele vai casar com a mamãe ?

Samuca: Acho que vai sim, daí você terá uma família bem bonita.

Flora: E você vai casa com o Tio Vicente ?

Samuca começa a rir, fazendo com que toda aquela tensão se transforme em um momento de descontração.

Samuca: Eu e o Tio Vicente vamos casar sim e você será a daminha de honra.

Flora: Oba!!! Mas como vocês vão ter neném ? Vai ficar na sua barriga ?

Samuca: Ah, não sei. Mas nós vamos dar um priminho pra você sim.

Marta, que estava em outro cômodo entra e ficou escutando parte da conversa, inicia uma discussão com o filho.

Marta: Você não tem jeito, Samuca. Ela é uma criança e você fica conversando esse tipo de coisa com ela ?

Samuca: Calma mãe, na tem maldade nenhuma.

Flora: É, vó.

Marta: Que você queira viver nessa pouca vergonha, fazer essas indecências, o problema é seu, mas aqui na minha casa, com minha neta não!

Samuca: Que indecência tem em falar da pessoa que nós amamos ?

Marta: Você é uma aberração, seu pai deveria estar vivo pra lhe dar uma surra, quem sabe assim você criava vergonha nessa sua cara!

Samuca Pois eu já acho que ele preferiu morrer do que agüentar uma mulher como você.

Flora: Para vó, não briguem.

Marta: Ele preferiu morrer do que ver um filho veadinho, envergonhando a gente. Você e sua irmã só me deram desgosto. Fico imaginando o que as pessoas não falam de nós, pelas costas!!!

Samuca: Que se dane as pessoas. Você vive batendo na boca que faz isso, aquilo, vai todo domingo na igreja, mas consegue transformar sua casa num inferno.

Marta: Se aqui é um inferno então pega suas coisas e suma daqui.

Samuca: Pode ter certeza, nunca mais coloco meus pés nessa casa. E é bom você ter guardado um bom dinheiro, pois quando tiver velha, não vou querer nem saber de você.

Flora sai do quarto chorando, enquanto os dois brigam.

Marta: Não espero nada de você mesmo. Dei tudo a você, casa, roupa, comida, brinquedos, festas e essa é a minha paga.

Samuca: Bens materiais. Você deu tudo, mas eu só queria uma única coisa e isso você não deu. Eu nunca fui o filho que você quis, mas você também nunca foi a mãe que eu sonhei. Sabe mãe, sinto inveja do Vicente. Quando vejo o carinho que a Dona Teresa trata ele e o Henrique, fico com uma inveja.

Marta: Eu não faço nada por você ? Seu ingrato. Quer ir embora, então vá, mas quando tiver em cima de um viaduto querendo se atirar, daí não lembre da mamãe não.

Samuca fica com os olhos vermelhos, segurando as lágrimas.

Marta: Quando aquele outro morreu, quem lhe deu a mão foi eu, foi sua família e você não aprendeu com o castigo que teve.

Samuca: Você acha que o Bruno morreu pra que eu fosse castigado ?

Marta: Se acontecer de novo, com esse outro sem vergonha que está com você, não venha me procurar.

Samuca: Tá jogando praga mãe ?

Marta: Vai embora, Samuca. É a vida que você escolheu pra você!

Samuca nem têm mais forças para brigar, sua mãe tinha pego pesado demais com ele, mexendo em suas cicatrizes mais profundas.

Marta também está muito nervosa, suas mãos tremem, deixando cair algumas lágrimas.

Samuca vai embora rapidamente.

Flora: Cadê o tio ?

Marta: Foi embora.

Flora: Porque vocês brigaram ?

Marta: Coisa de adulto. Vamos logo, sua mãe vai nos encontrar na escola!

Já está escurecendo quando Marta e Flora saem de casa, nem percebendo que são seguidas por uma pessoa.


Cena 19 - Mansão de Mohamed - Suíte - Tarde


Ayla está sentada no chão, ao lado de sua cama, chorando baixinho.

Algumas fotos rasgadas de Mohamed estão espalhadas pelo tapete.

Seu telefone começa a tocar, mas ela não atende.

Até que as ligações se intensificam cada vez mais.

Irritada, ela pega seu celular e se espanta ao ver o nome no visor.

Ayla: Você ? Mas o que quer comigo ? - Pergunta-se, intrigada.

Ayla: Alô ? Achei que já tivéssemos dito tudo um para o outro.

De repente, ela franze a testa com algo que escuta do outro lado da linha.

Ayla: Você vai o que ? - Pergunta, assustada.


Cena 20 - Loja de Antônio - Final de Tarde - Ao som de instrumental 'Dangerous' - Rodolpho Rebuzzi e Mú Carvalho


Heitor está de saída, era questão de horas até a polícia colocar as mãos nele. Vendo que todo seu dinheiro sumiu, ele vai para a loja do tio, tirar satisfação com ele. Já não há mais nenhuma equipe de reportagem por ali e usando uma porta dos fundos, entra sem ser visto.

Enquanto isso, em seu escritório, Antônio conversa com Vicente.

Antônio: Anos de trabalho jogado no lixo!

Vicente: Não fale assim, tio.

Antônio: Você já leu o que estão dizendo sobre nós na internet ? Os julgamentos já começaram, nosso nome está na lama. Meu filho, eu quero levantar essa empresa, quero lhe dar tudo.

Vicente: Não, tio.

Antônio: Vicente, você é como um filho pra mim. Já falei com a Helena e nós dois morrendo, tudo que nós temos será seu.

Vicente: Não faço questão de nada disso!

Antônio: Eu quero dar a você tudo que não pude dar ao Bruno, seja dinheiro, bens e também meu amor.

Vicente se levanta, indo até Antônio, lhe abraçando.

A empresa já está vazia e sem que eles percebam, Heitor escuta toda aquela conversa por trás da porta, sentindo muita inveja de Vicente.

Antônio falava para Vicente tudo que Heitor sempre esperou ouvir do tio.

Vicente: Tio, ou melhor, pai, estamos juntos nessa. Nós somos uma grande família e juntos vamos superar isso!

Antônio: Aquele desgraçado do Heitor jogou meu nome na sarjeta, mas uma coisa ele nunca irá conseguir tirar, que é meu afeto por você.

Antes que Vicente saia da sala, Heitor corre para a rua, entrando em seu carro e chorando com uma criança.

Heitor: Porque não sou eu ? Porque eu sempre fico de lado ? Velho nojento, sempre estive ao seu lado e você preferiu esse boiola!


Antônio não quis ir embora com Vicente, preferindo ficar refletindo sozinho. Vicente ainda está no prédio quando recebe uma ligação de Samuca.

Vicente: Calma amor, fale devagar.

Samuca: Onde você tá, Vicente ?

Vicente: Estou na loja do meu tio, mas o que houve ?

Samuca: Briguei com minha mãe, ela me disse coisas horríveis!

Vicente: Não fique assim, vai pra casa, daqui a pouco estarei lá.

Samuca: Quero ver você, Vicente.

Vicente: Mas já estou indo embora, não ligue pra coisas que ela fala, você sabe como ela é.

Samuca: Eu estou indo pra aí, vamos juntos embora.

Vicente tentou fazer Samuca mudar de idéia, mas vê que não é nenhuma loucura dele. Pela sua voz do outro lado da linha ele consegue perceber que seu amor não está bem.

Vicente: Tudo bem, eu te espero, mas fique calmo.

Samuca: Vicente, eu te amo. Te amo muito mesmo.

Vicente: Eu também te amo muito meu amor, vai ficar tudo bem e depois vamos pra nossa casa e vou cuidar de você. Você confia em mim ?

No mesmo instante Samuca se lembra de Bruno, que sempre dizia essa mesma frase.

Vicente repetiu a pergunta até que Samuca respondesse.

Samuca: Eu confio.

Vicente sorri e desliga, esperando Samuca na porta da empresa.

Ele olha ao redor e coloca a mão no bolso, com um vento frio passando por seu corpo.


Cena 21 - Escola - Fim de Tarde - Ao som de instrumental 'Ação da Vida' - Iuri Cunha


Flora está brincando no pátio do colégio com outras crianças enquanto Marta se distraia, tentando falar com Vitória no celular.

Flora se afasta um pouco até ser abordada por um linda mulher loira.

Mirella: Olá, lembra de mim ?

Efeito sonoro de chocalho de cobra toca em cena.

Mirella mantém o sorriso no rosto.

Flora: Oi.

Mirella: Ainda bem que te encontrei.

Flora: Você veio ver o teatro também ?

Mirella: Não, vim a pedido do seu tio.

Flora: Eu não gosto de você.

Mirella: Que pena, eu vim a pedido do Tio Samuca. Ele tá passando muito mal e pediu pra vim te pegar.

Flora: O que aconteceu com o tio ?

Flora fica agitada, pois há horas atrás já havia presenciado uma briga da avó com o tio e agora aparece aquela mulher dizendo que ele está passando mal.

Mirella: Ele precisa muito de você. Ele tá passando muito mal. Vem com a tia, vem!!!

Mirella estica os braços, disposta a levar seus planos até as últimas conseqüências.

Mirella: Vamos ?

Flora fica olhando pra ela, sem ter a mínima idéia do risco que corre.


Cena 22 - Igreja - Fim de Tarde


Miguel aguarda no altar.

Diferente de todas as outras vezes, em que ele está sempre alegre, sorridente e brincalhão, agora ele está sério e com uma postura ereta.

Ele olha para as pessoas ao redor, que estão sentadas esperando a cerimônia começar, e em seguida olha para Dona Benedita, que olha para frente ansiosa.

Dona Graça chega com Odarina, de penetra, e se escondem nos últimos assentos.

Dona Graça: Mas eu não perco o casamento desse corno é por nada nessa vida!

Odarina: Que casamento, querida ? Vejo apenas um funeral essa noite! - Afirma, ironicamente e com um olhar místico.


Do lado de fora da igreja, Rosinha desce do carro, com uma expressão de sorriso no rosto.

Ela para em frente a igreja e mantém o sue queixo empinado.

Rosinha: A minha hora chegou. Vai com tudo, garota, que isso é só o começo!


Ao som de Marcha Nupcial - Felix Mendelssohn


Rosinha entra na igreja, acompanhada do pai de Miguel.

Com um longo vestido branco e um fino véu cobrindo o seu rosto, ela sorri sem parar, sem conseguir contêr a emoção.

Em suas mãos, um farto buquê de rosas brancas e perfumadas.

Em câmera lenta, ela vai se aproximando do altar.

Miguel a encara, sem esboçar qualquer tipo de reação.

Dona Benedita limpa suas lágrimas, emocionada.

Rosinha chega até Miguel e o olha nos olhos, sorrindo.

Ele continua sério, deixando-a intrigada.


Cena 23 - Rua - Fim de Tarde - Ao som de Winds Of Capadócia - Alexandre de Faria


Heitor ainda está no fim da rua, com o carro estacionado, morrendo de ódio, chorando em meio aos surtos de raiva.

Vicente sai do prédio, indo para um estacionamento que fica em frente.

O trânsito naquela rua é bem intenso e olhando os carros passarem, fica esperando uma oportunidade para atravessar a rua.

Samuca desce do táxi e logo avista o seu namorado, ainda na porta da loja, olhando para os lados.

Heitor está com a cabeça no volante e quando a levanta disposto a ir embora, vê Vicente a vários metros de distância, atravessando a rua.

Guiado pelo ódio, Heitor liga seu carro, acelerando com tudo, indo para cima de Vicente.

Samuca, que está do outro lado da rua, fica em pânico ao ver aquele veículo em alta velocidade indo à direção do seu amor. Ele não acredita no que vê: Como há 10 anos atrás, o passado se repete no presente.

Samuca: VICENTE!!! - Grita em vão, pois ele não escuta.

Ele olha para o carro, e em seguida para Vicente.

Heitor sorri.

Antônio também está saindo do prédio e corre para a rua quando escuta o barulho de uma freada.

Só dá tempo de se ver o corpo caindo no chão e os gritos de pânico do outro lado da rua.

Antônio: NÃO, NÃO!!!


Imagem de Antônio congela em um efeito avermelhado.


Continua.


Se encerra no refrão de I Way Down We Go - Kaleo


2023 - DNA

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1 Comment


Odair Rodrigues
Odair Rodrigues
Aug 22, 2023

Ayla e Rosinha, um barraco a la Walcyr Carrasco 😂

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